domingo, 18 de maio de 2014

IV O NOVO TESTAMENTO :


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IV O Novo Testamento:
as origens das comunidades



1.      O IMPÉRIO ROMANO E A PALESTINA...............................................................01

2.      OBSERVAÇÕES SOBRE OS EVANGELHOS....................................................... 09

3.      EVANGELHO DE MARCOS......................................................................................17

4.       EVANGELHO DE MATEUS......................................................................................25

5. AS OBRAS DE LUCAS..................................................................................................37

6. A IGREJA MÃE DE JERUSALÉM.............................................................................43

7. O GRUPO DOS HELENISTAS.....................................................................................45

8. SAUL, CHAMADO PAULO..........................................................................................47

9. VIAGEM PARA A EUROPA........................................................................................49

10. PAULO VOLTA PARA EUROPA..............................................................................51

11. ROMA A CAPITAL DO IMPÉRIO............................................................................54

12. AS IGREJAS NA ÁSIA MENOR................................................................................59

13. O EVANGELHO DE JOÃO.........................................................................................63

14. O APOCALIPSE............................................................................................................79

Que o leitor compreenda!” Mc 13,14

LITERATURA USADA:
Ribla n◦ 22- Cristianismo Originário 30 -70 d.C
Ribla nº 29 – Cristianismo Extrapalestino 35 – 138 d.C. Ribla n 20 - Paulo de Tarso 
Frederik F. Bruce, - Basiswissen Neues Testament
Pinchas Lapide: Paulus – Zwischen Damaskus und Qumram
Klaus Wengst Pax Romana. Ohlig: Fundammentalchristologie, Kösel1986.
Boyarin: Die jüdischen Evangelien, Ergon Verlag Würzburg
Uma introdução à Bíblia Ildfo Bohn Gass Paulus 2005



Ligação do primeiro Testamento com o (secundo) Novo Testamento


    O primeiro Testamento encerrou com o profeta Malaquias, suas últimas palavras foram: “E eu vos enviarei o profeta Elias antes que chegue o dia do Senhor, grande e terrível: ele reconciliará pais com filhos, filhos com pais, e assim “não virei eu para exterminar a terra.” (Ml. 3, 23).

O Novo Testamento começa com a formação das comunidades, primeiro na Palestina  helenista. O extremo Oriente fora do Império na Ásia não estava presente.
As comunidades transmitem as narrações sobre Jesus, celebram o batismo e a ceia do Senhor em memória dele e pronunciam a presença dele: Vinde Senhor Jesus! A prática deles é o serviço fraterno e os apóstolos estão em serviço do Evangelho.
           
1.     O IMPÉRIO ROMANO E A PALESTINA

1.1.PAZ E HARMONIA


            A partir de 770 a.C. colonizadores gregos povoaram a Itália com a cultura grega.
            Conforme a uma lenda Roma foi fundada por Romulus e Remus, filhos de Mars e da filha de um rei. No início aconteceu um fratricídio: Romulus matou Remus, Roma foi uma colônia de criminosos, roubaram até mulheres. Com o tempo cercaram a cidade de sete colinas e conquistaram os arredores, chamados Latium. Os romanos foram agricultores. A riqueza do país foi a pecuária (pecus), de lá pecúnia “dinheiro”. Existe uma conexão entre dives = ricos e divus = divino. 
            O imperador foi juiz supremo, sacerdote e beligerante, mantinha o poder absoluto como o “pater famílias”, houve a classe dos patrícios, plebeus e clientes. O poder do pai abrange o direito sobre vida e morte da mulher, das crianças, dos clientes. Casar significa introduzir para a maternidade (matrimônio), quer dizer a mulher serve para a criação. Só tinham escribas, poeta é uma palavra grega.
            Fides (fé) e piedade significam lealdade a um pacto cumprindo os compromissos. Os Romanos não gostaram do comercio e da corrupção.
            Os Romanos seguiram os Gregos no poder e assumiram a cultura e a filosofia deles. Apesar disso a religião Romana guarda sua propriedade, especialmente na África do Norte. No início não existiam deuses, em vez tinham poderes superiores. O divino aparacia  aos Romanos como “Numen ou Fatum”, um poder superior que coloca o direito. Numen vem da palavra “inclinar se”. Religião significa re-ligar-se à justiça dos deuses.  Piedoso é aquele que cumpre a justiça divina. Devoção (pietas) é a virtude pricipal, é salvação, a harmonia com a ordem divina, desgraça ou nefasto é a destruição da harmonia.. As núminas foram personalizadas: As divindades mais importantes são Jupiter e Mars, Mars é o deus da guerra e da agricultura, de lá o nome do mês de Março. (Ohlig p, 147 s)
Encontramos uma estrutura hierárquica, quando é um único que domina os outros. O único desejo é a salvação do príncipe, com isso tem salvação de todos.O imperador é um deus, tudo depende dele.”Tu, Cesar, podes afirmar ousadamente que tudo aquilo, que se subordina à tua fidelidade eà tua proteção, está em segurança”. O Cesar Augusto é “como deus na terra”.
Domiciano (81 – 96) foi chamado “Dominus et Deus noster”.
Os Romanos achavam que foi a melhor época e a mais feliz da história do universo. “Nós devíamos ser gratos por já termos 40 anos de paz”.
            O César Augusto (31 a.C.- 14 d.C.) foi elogiado como o salvador de todo o gênero humano, que pôs fim a guerra e organizou a paz, é “o dia do nascimento de Deus”, mas esta paz foi conseguida no campo de batalha: “Guerra , Vitória e Paz”. Nas moedas de Trajano a Deusa “Paz” coloca o pé em cima da cerviz de um vencido.
            Os Imperadores encheram a Itália de sangue e cadáveres. Germanico no ano 44 d.C. mandou devastar completamente à fogo e à espada de 50 milhas, nem sexo, nem idade valia, tudo foi arrasado.
            “Tu romano, pensa em governar os povos com o poder das ordens, impor a lei, a paz, poupar os subjugados e derrotar os rebeldes”.

            O culto ao Imperador Romano na Ásia menor:
            A Ásia menor foi berço e centro do culto ao imperador. A ideologia do império culmina na paz dos deuses, no imperador: “Senhor e Deus”. Para as comunidades é o diabo que busca a quem devorar. O Apocalipse conta a  derrota do Império Romano e mostra um mundo novo.

            O imperador Augusto 29 a.C. concordou na edificação de uma estátua sua para ser venerada, o culto a Augusto era o mais antigo culto imperial romano na Ásia. Tibério (14-37 d.C.) não aceitou honras divinas, Calígula (37-41) exigiu ser tratado como um deus. Nem Cláudio (41-54) nem Nero (54-68) foram oficialmente aceitos entre os deuses, enquanto na vida. Vespasiano (69-79) retomou as formas do culto do imperador, somente um imperador divinizado após a morte tornava-se um dos deuses do império. Domiciano (81-96) exigiu ser chamado “Senhor e Deus”. O culto ao imperador não só era celebrado nos templos, mas também em outros espaços públicos. Era uma expressão de lealdade ao império. Entre os anos 1 d.C. até 150 mais de 140 templos foram construídos na Ásia menor. 

1.2.A CONQUISTA DA PALESTINA 

Os Romanos deram a região antiga do reine de Israel/Judá o nome Palestina, derivada de Filisteus.

            Dos anos 168 a.C. - 135 d.C. tinham na Palestina 6l revoltas, começando com a luta dos Macabeus contra o Império dos Gregos e terminando com as revoltas contra o Império Romano.
Após consolidar o poder no Ocidente Roma começou a expansão no Oriente. No ano 63 a.C. Pompeu anexou ao Império Romano o reino do Ponto, no norte da Anatólia e estabeleceu uma nova ordem na Ásia Menor de acordo com os critérios romanos. Em 64 a.C em Antioquia Pompeu rebaixa a Síria a província romana. Ele aproveitava da disputa entre o poder real e a função do sumo sacerdote em Jerusalém e em 63 tomou Jerusalém. Otaviano emergiu como governante em 31 a.C. recebeu o título Augusto 27 a.C. e pôs fim à guerra no Império Romano (Pax Augusta). Morreu 14 d.C. Seu sucessor é Tiberius até 37 d.C.
            Os Romanos exerceram seu domínio de forma direta pelos procuradores ou indiretamente através de reis vassalos como Herodes Magno. A presença Romana acentuou a prática clientela: o Império é o patrão e as elites econômicas e políticas locais são clientes constrangidos.  A relação do patronato gerou uma acirrada competição entre as principais cidades de Ásia menor. Cada cidade queria conseguir as honras e privilégios imperais construindo templos e monumentos.

Informação sobre Galileia:
Foi uma área montanhosa no norte, e fértil no sul. 80 km N/S e 40-45 km E/O. No norte o povo vivia em grutas e cavernas.
O lago da Galileia fica 212 metros abaixo do nível do mar, 50-80 m de profundidade, 21 km N/S, 13 km E/O. Tinha muitos pescadores, os peixes eram vendidos até em Roma.  
Diferentes das cidades da Galileia onde se concentravam os colonos romanos, funcionários helenizados e comerciantes, a população nativa era rural, concentrada em pequenas aldeias, de 50 a 200 famílias com poucas distâncias umas das outras. Reuniram-se nas sinagogas aos sábados. É provável que nesses encontros se mantivesse a viva memória dos profetas do Norte.
         Na Galiléia, a sociedade agrária vivia essencialmente da semeadura (trigo) e do gado (cabrito, ovelhas).  90% da população eram camponeses. A produção na Palestina era cerca de 278 000 toneladas de cereais.
Herodes retinha 20% em impostos. O sistema do templo (sacerdotes) retinha 30%. O Império Romano cobrava em torno de 10% em tributos. Os arrendatários pagavam 33% em rendas. E os camponeses ficavam com uns 13% para sobreviver. O recenseamento foi uma exploração cruel.
Roma impôs novamente um pesado tributo. Na sua presença tornou-se mais agudo o processo de concentração das terras. Isso aumenta a pobreza no campo e a riqueza na cidade. O povo começa a perceber que é “Tomado e governado por outros”. Não é casual que o sintoma “Estar possuído pelo Demônio” seja uma sensação frequente. Flávio Joséfo informa: “Roubar é a prática comum deste povo, pois não há outro jeito para eles viverem: eles não têm cidades que sejam deles, nem possuem terra, mas só uns buracos, onde vivem com seus animais”.

Sobre enfermidade: No judaísmo todos os aspectos da vida humana eram avaliados em relação com seu criador. “O judaísmo acreditava firmemente na determinação do querer de Deus, que é o único que governa de maneira soberana o mundo”. Por isso encontram-se afirmações como: “vinde e voltemos ao Senhor. Ele nos despedaçou, mas também nos sanará; feriu-nos, mas também nos curará.” (Os. 6,1)
A enfermidade é entendida como estar de costas para Deus. Igualmente no mundo helenístico-romano a saúde corporal é entendida como um estado de “pureza“; “Os doentes não são aceitos no convívio da comunidade. São excluídos de cargos e lugares públicos. Ficam sem assistência social e médica (já bem precária). São obrigados a mendigar para prover a sua penúria e fome. Assim, são vistos caídos pelo caminho (Mc 10,46) nas portas dos lugares públicos (Jo 5,3), fora dos povoados (Lc 17,12), perto do templo (At. 3,2). São tidos como escória e vergonha da sociedade. Não têm lar nem futuro. São mortos prematuros.”          

A realidade é que a falta de alimento e de higiene nos grupos menos favorecidos da sociedade trazia como conseqüência que, além de passar fome, os mendigos em sua maior parte estavam enfermos. Os enfermos eram considerados possessos, portanto, impuros, porque haviam cometido algum pecado e Deus os havia castigado. “No tempo de Jesus acreditava-se que o mundo era habitado por uma enorme população sobrenatural: deuses, anjos, demônios, espíritos da morte...”     ( Ribla 57, p. 123 e 125)

Lactancius descreve a prática de um recenseamento Romano:
“Os cobradores de impostos Romanos apareceram em qualquer lugar e tumultuaram tudo. Os lotes foram medidos, cada videira e árvore de frutas contadas. Cada cabeça de gado registrada e cada pessoa contada. O pessoal do campo e da cidade foi reunido na cidade. A praça pública estava lotada pelas famílias, cada uma aparecia com parentes e crianças. Podia-se ouvir o grito dos interrogados com torturas e pancadas. Aproveitou-se a rivalidade entre pai e filho, homem – mulher, as pessoas foram torturadas até que depuseram contra si mesmo. Uma propriedade sujeita aos impostos foi registrada mesmo sem existir, não respeitaram idade e nem estado de saúde”.

Em Jerusalém o verdadeiro líder judeu foi Antípater de Iduméia, ele corre para o Egito com três mil soldados para ajudar César contra os Ptolomeus. César concedeu aos judeus privilégios: isenção de impostos e liberdade religiosa. Os judeus podiam viver conforme as próprias leis, com poder judiciário próprio.
A disputa pelo poder em Jerusalém contínua: o filho de Antípater, Herodes, foge para o Egito e depois viaja para Roma. O Senado romano designa Herodes rei de Judá que foi entronizado 37 a.C. em Jerusalém, com a força romana, Herodes fez um banho de sangue na cidade. Herodes manda matar 45 Saduceus que se opuseram e mandou afogar o sumo sacerdote. Seu reino abrangeu Judéia, Iduméia, Samaria, Galiléia, Pereia e Basã.  Ele construiu Cesaréia, um porto artificial com uma estátua em honra de Cesar. Conseguiu amizade de César Augusto, assinou a pena de morte de sua esposa amada Mariamne, mais tarde mandou matar os dois filhos dela por causa de conspiração. Assim ele exerceu o direito do “pater de casa” sobre sua mulher e seus filhos.
 Herodes limpou a Galiléia do bandidismo. Galiléia estava cheia de bandidos e ladrões. Herodes foi um grande construtor: reformou o templo, fundou o porto Cesaréia, a cidade Samaria, ginásios, praças, templos e teatros.  Jesus nasceu 6 a.C. em Belém, Herodes deixou matar  os  meninos de Belêm  temendo um usurpador, morreu 4 a.C.Foi um rei brutal (Mt 1, 16ss).
             Filipe, um filho de Herodes Magno, tetrarca do antigo Basã, Gaulanitide, Traconitide (Lc 3,1) fundou a cidade de Cesarea de Filipe. Lá Herodes Magno tinha colocado também uma estátua de Augusto. A região dele foi habitada por gentios.
           

ANOS DE TERROR E VIOLÊNCIA 4 a.C – 6 d.C

O filho de Herodes, Arquelau, sucedeu o pai na Judéia 4 a.C. até 10 d.C. Ele foi pior do que o pai (Mt 2,22), apresentando-se ao povo na Páscoa no ano 4 a.C. com um massacre de 3.000 pessoas. José fugiu de Arquelau e morou em Nazaré (Mt 2,22).Em seguida, quase simultaneamente explodia uma revolta em todo país. Judas Galileu excitou o povo para uma rebelião e repreendeu aqueles que pagaram tributos aos Romanos e que aceitaram homens como “Senhores ao lado de Deus”. Varo, o general romano, destruiu Séforis, capital da Galiléia, a uns 7 km de Nazaré, e vendia a população à escravidão.
Jerusalém escapou da destruição, pois seus habitantes se distanciaram da revolta e abriram as portas da cidade para receber Varo. Mas o interior da Judéia foi vasculhado, 2.000 rebeldes foram presos e o general mandou crucificá-los todos ao redor de Jerusalém.  Nesta época Jesus estava saindo da infância e entrando na adolescência (Lc. 2,52).
Arquelau, destituído pelo Imperador Augusto, foi banido para Gália (França). Judéia recebeu um procurador Romano e se tornou província romana.

OS TEMPOS DE JESUS 6 d.C - 39 d.C

Herodes Antipas, (filho de Herodes Magno), foi tetrarca da Galiléia e Peréia,fundou sua capital na margem do lago de Galileia entre 18 – 20 d.C. dando o nome Tiberíades em honra do Cesar Tibério. Assim em toda Ásia Menor e Síria se mostrou a lealdade a Roma, foi aquele que mandou matar João Batista.
            Diferentes das cidades da Galileia onde se concentravam os colonos romanos, funcionários helenizados e comerciantes, a população nativa era predominante rural, concentrada em pequenas aldeias, de 50 a 200 famílias com poucas distâncias umas das outras. Reuniram-se nas  sinagogas aos sábados. É provável que nesses encontros eles lembrassem a viva memória dos profetas do Norte.
            Recentes escavações em Séforis (destruída por Varos) mostram um anfiteatro com 5.000 vagas, onde certamente se falava a língua grega. José um “tecton” (arqui-teto) que significa pedreiro ou carpinteiro, poderia  ter trabalhado lá junto com Jesus. Mais tarde Jesus chama os fariseus “hipócritas” é o nome grego para um ator no teatro, e compara a sua geração com crianças que fazem teatro na praça tocando flauta e fazendo lamentações (Mt. 11,16). Será que Jesus entendia um pouco da língua grega? Em Nazaré Jesus amadurece como profeta.

 Os diferentes correntes no Judaísmo:
 Os Fariseus: são os “Separados”, os puros, que praticam minuciosamente a lei. No tempo de Jesus valiam muitas leis: 365 proibições e 248 prescrições. Quem interpreta estas leis são os professores das leis. Como eles Jesus interpreta a Torá do seu jeito. Os fariseus no tempo de Jesus não são tão hostis como parece. O povo maldito não conhece a lei (Jo. 7,49).
Os Zelotas: o movimento dos Zelotas tem sua origem no zelo pela lei, entre os discípulos de Jesus se encontram Zelotas como Pedro, Tiago, João e Simão o Zelota. Os Zelotas formam o partido militarista que esperam um Messias guerreiro que vai liderar a revolta contra a Roma. Mais tarde os Zelotas radicais se chamam Sicários, com a espada curvada escondida na roupa, Judas Iscariotes pode significar Judas o Sicário. Estes radicais também se chamam de “Kannaim”. Os Zelotas incitaram o povo para que não pagassem os tributos.
Os Saduceus: são famílias sacerdotais influentes em Jerusalém, querem manter seu poder, são contra os movimentos populares com sua esperança na ressurreição.
O Sinédrio: composto de 70 pessoas podia decretar a pena de morte, mas não executar. Eles tinham autoridade sobre o templo e a lei e uma polícia própria no templo. O sumo sacerdote foi presidente do Sinédrio.
Os Essênios formam um grupo piedoso que se retirou no deserto (ARABA) esperando um Messias pacifico. O centro deles foi Damasco, o Qumram de hoje, onde foram descobertos muitos rolos da Bíblia e escritos dos Essênios. Eles evitam prazeres, não valorizam o matrimônio, muitos praticam o celibato, exercem extrema pobreza. O óleo faz impuro. Eles têm tudo em comum, e não fazem nada sem autorização dos líderes exceto a misericórdia. Porque não aparecem no Novo Testamento? Conforme Mt. 26,6 Jesus está na casa de Simão, o leproso, (Zarua), sendo que ninguém poderia entrar na casa de um leproso. Por isso podemos corrigir e ler: Simão, o Essênio (Zanua). Jesus repreende as atitudes deles. Em Mc. 14,13 os discípulos devem encontrar o homem carregando água. Isto em geral as mulheres fazem. Por isso este homem pode ser um essênio celibatário, onde Jesus celebra a Páscoa.

 PÔNCIO PILATOS 27 d.C. - 37 d.C.

Desde o início Pilatos tinha diferenças com os judeus. Quando ele quis introduzir a imagem do César, os judeus ficaram deitados no chão cinco dias e noites pedindo para retirar as “signas”. Pilatos os ameaçou de matá-los, mas eles estavam prontos para serem mortos. Pilatos retirou as signas.
Pegou o dinheiro do tesouro para construir um aqueduto, mandou matar os Galileus enquanto ofereciam sacrifícios (Lc. 13,1). Durante os 10 anos como procurador deixou crucificar 3.000 judeus, e deixou prender um tal Jesus Barrabás junto com os rebeldes que tinham cometido um assassinato na revolta (Mc. 15,7 e Mt. 27,16). Conforme João 18,12 a coorte romana (600 até 800 soldados) com seu comandante e as guardas do templo prenderam Jesus.
Jesus, declarado Rei dos Judeus por Pilatos, sem sentença de morte foi crucificado junto com dois rebeldes.
A pena da morte na cruz:
             Segundo o estudo feito por Martin Hengel sobre a crucificação no mundo antigo e a loucura da mensagem na cruz:
            - A crucificação era e permanecia um castigo político militar. Enquanto entre os persas e os cartagineses era aplicada principalmente aos altos oficiais e mandatários, como aos rebeldes, entre aos romanos era imposta, sobretudo às classes sociais baixas, ou seja, aos escravos, aos criminosos violentos e aos elementos revoltosos nas províncias rebeldes, certamente na Judéia... O principal motivo para usá-la era a sua eficácia supostamente alta como meio dissuasivo. Evidentemente era executada em lugar público.  O crucificado era visto como criminoso que recebia um castigo justo e necessário... Costumava ser praticada junto com outras formas de tortura, dando pelo menos algumas bordoadas no condenado... Por causa da exposição pública da vitima desnuda em um lugar proeminente – numa encruzilhada, no teatro, numa colina, no lugar onde foi cometido o crime – a crucificação representava também a sua humilhação absoluta...
 A crucificação tornava-se ainda pior pelo fato de que suas vitimas freqüentemente ficavam sem sepultura. Era uma imagem estereotipada dizer que o crucificado servia de comida para os animais selvagens e as aves de rapina. Desta maneira sua humilhação se fez completa.
     

   RUMO À ANIQUILAÇÃO 37 d.C – 70 d.C

Herodes Agripa I (41-44) foi neto de Herodes Magno, viveu por muito tempo em Roma, conhecia a família de César em Roma e ajudou na nomeação de Cláudio como César. Por isso foi nomeado rei de Judá. Pouco tempo antes Calígula tinha decidido de impor o culto do imperador a todos os povos, no ano 39 deu ordem expressa de introduzir a estátua do Imperador no templo de Jerusalém. Quando Petrônio veio com duas legiões (12.000 soldados), 10.000 camponeses se reuniram diante do palácio em Ptolomaida para protestar. O mesmo aconteceu em Tiberíades. Petrônio perguntou: “Vocês querem a guerra?” Os Judeus responderam: “Nós não queremos guerra, preferimos morrer em vez de ver transgredida a nossa lei”.

Eles jogaram-se no chão, esticaram o pescoço e disseram que estavam prontos para serem mortos, fizeram isso durante quarenta dias, não trabalharam  no campo, enquanto conforme à época deviam semear. Graças à intervenção de Herodes Agripa a execução do decreto foi adiada.
 Herodes eliminou à espada Tiago, irmão de João (At 11,27). Em pouco tempo ele tinha um reino como Herodes Magno. Morreu em 44 d.C.

Cláudio colocou o filho dele Agripa II no trono judaico com o direito sobre a religião judaica como sumo sacerdote. Agripa II se chamou “Amigo de César”, se comportou como um romano e foi membro da nobreza romana. Às vezes ele conseguiu acalmar a raiva dos Zelotas contra Roma.
Neste período tinham várias rebeliões, uma dessas se deu em 52. Começou com um assassinato de um Galileu que passava pela Samaria. Não havendo justiça os Galileu persuadiram as massas judaicas a recorrer às armas e diziam: “A escravidão é amarga, mas quando lhe são acrescentadas insolências é intolerável”. No ano 66 o procurador Flocos tentou pegar o tesouro do templo, e deixou crucificar cidadãos judeus. Os Zelotas invadiram o castelo Antônia e mataram os Romanos. Um grupo de Zelotas conquistou Massadá ao lado do mar morto e marchou para Jerusalém ocupando uma parte da cidade. Eles acharam Deus ao seu lado (Dan 9,24-27).
Eliasar, comandante do templo, fez a proposta não mais oferecer sacrifícios pelos pagãos, o que significava uma ofensa contra o imperador romano. O legato da Síria com 40.000 soldados não conseguiu conquistar Jerusalém e devia fugir.
Quem mandou em Jerusalém foram os Zelotas e os Sicários que derrotaram o partido da paz com o sumo sacerdote Ananias. No ano 62 o sumo sacerdote Ananias tinha condenado Tiago, o irmão do Jesus, que estava na frente da comunidade em Jerusalém, a ser apedrejado com outros cristãos.
 Os Zelotas incendiaram os arquivos onde constavam as dívidas da população e mataram milhares de soldados romanos.
Durante 3 anos  de 67 até 70 os revolucionários controlaram a cidade de Jerusalém. Vespasiano lutou na Galiléia, Peréia e Judá. Em junho de 69 tinha conquistado toda a Palestina e bloqueou a Jerusalém. Mas sendo nomeado César entregou a conquista da cidade a seu filho Tito.

A aniquilação de Jerusalém:  70 d.C. Titos, o filho do Vespasiano, começou a conquista, com quatro legiões (uma legião tinha 6.000 soldados, 12 cavaleiros e tropas auxiliares). De 5 de julho até 10 de Agosto o templo foi destruído, mais de 10.000 de judeus perderam a vida. Um resto se retirou no castelo de Massadá e resistiu até 73. Quando os romanos entraram no castelo, só encontraram cadáveres: houve um suicídio coletivo.
Para escapar da aniquilação Jochanan Ben Sakkai foi carregado num caixão para fora da cidade, ele se encontrou com Vespasiano, saudou-o como imperador, como “César” e anunciou a destruição de Jerusalém. Depois pediu a Vespasiano a formação de uma escola em Jâmnia, onde se dará a origem ao “Judaísmo formativo”. A tradição fala de um encontro em Jâmnia por volta do ano 90, que foi decisivo para a posterior identidade do judaísmo.
 Atribuí-se a esse “Sínodo” o cânone da Bíblia hebraica, a TANAK: Torá, Nabim e Ketubim. O judaísmo formativo fixou certas regras, manifestando-se nelas a exclusão das comunidades judeu-cristãs: “Nenhuma esperança reste aos renegados e o poder irresistível os faça desaparecer. E os nazarenos (os judeus chamam os cristãos nazarenos) e os minim (dissidentes) pereçam instantaneamente. Sejam apagados do livro da vida e não sejam inscritos como justos”.

Ainda a chama da revolução não tinha se apagada. Em 131 aparece um Bar-Kochba, saudado como salvador de Israel. De novo os romanos destruíram tudo em 135. O nome Judá desaparece, a terra foi chamada Palestina. Sob a pena de morte nenhum judeu não podia mais entrar na cidade, todos os costumes dos judeus foram proibidos. Jerusalém recebe o nome Aelia Capitolina.

                O JUDAÍSMO FORMATIVO NA DIÁSPORA


Destruído o templo e eliminada a função sacerdotal os saduceus, o eixo do poder sacerdotal, desapareceram junto com o templo e os sacrifícios sem deixar rastros. Os fariseus ficaram a única expressão coerente do judaísmo, não mais como expressão política, mas como escola de piedade.
Começa a divisão trágica entre Judeus e Cristãos. Isto deu origem ao anti-judaísmo na igreja, que já aparece no Novo Testamento, veja Jo 8. e Mt 23.
A grande pergunta dos sobreviventes de Jerusalém foi a seguinte: Porque a destruição do templo e da cidade? Eles responderam: foi a nossa infidelidade a Torah, Jerusalém foi destruída porque estava cheia de ódio. Agora: como ganhamos agora a expiação dos nossos pecados, se não tem mais sacerdotes nem templo nem sacrifícios? Os Rabinos responderam: Ler a Ta-Na-K (Ta-Tora, Nabim–Profetas, Ketubim–Escritos), celebrar nas sinagogas o Sábado, sentar-se na mesa familiar e praticar o amor e a misericórdia. Os sobreviventes podiam tomar como exemplo a rica vivência da gente na diáspora como mostra o livro de Tobit.
Nos anos 200 foi escrito a Mischna, um comentário da Bíblia, nos anos 450 o Talmud Palestinense nos anos 500 foi composto o Talmud Babilônico, que tem a maior autoridade para os judeus. A santidade significa a separação do mundo, pureza e santidade são a mesma coisa.
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OS JUDEUS (am) e OS NÃO – JUDEUS (goim) na história
     
Nos anos 200 foi escrito a Mischna, o início da tradição oral da Tora, equiparado à Tora escrita. Já Mateus escreveu, que os escribas e os fariseus estão sentados na cátedra de Moisés (Mt 23,2).  Nos anos 450 foi escrito o Talmud Palestinense, nos anos 500 foi composto o Talmud Babilônico, que tem a maior autoridade para os judeus. As explicações dos rabinos da Tora na história foram aceitas como revelação divina.
Em geral o título para Deus é o ETERNO, aquele que é, que era, que vem. Os rabinos ensinam, que a SCHECHINA, a dimensão feminina de Deus, acompanha os filhos de Israel no exílio para os consolar. Em vez dos sacrifícios cotidianos do templo a gente reza três vezes por dia (veja Ro 12, 1)

Cada menino foi circuncidado no oitavo dia. Com treze anos o menino é maior (Bar Mizwa) e obrigado a cumprir a Tora, oral ou escrito que tem o mesmo valor..
As leis da pureza são as mais importantes, elas têm nada a ver com a moral. Elas servem para separar os judeus dos não-judeus e criam uma judiaria (gueto). A santidade significa a separação do mundo, pureza e santidade são a mesma coisa.
 O judaísmo fica hostil a cada outra religião mesma coisa como  o anti- judaísmo da igreja. O Sábado é mais importante de todas as festas. Os rabinos até proibiram o contato com ferramentas de trabalho. Tudo precisa parar e não pode mudar nada. Se precisa fazer uma coisa proibida no Sábado, a gente chama um não-judeu (¨Sabbat-goi¨) para fazer (em Israel e EUA).
O judaísmo ortodoxo tem o monopólio sobre todas as leis e reformas que surgiram durante os tempos, p.e.  o movimento dos  chassidim na Polônia não entrou no judaísmo oficial.. O maior antijudaismo foi o holocausto dos  judeus  pelos Nazistas de Alemanha.


(Baruch Rabinowitz: Ein Jesus fürJuden und Christen.  2009 Publik Forum)



 1.3  A corrente da Gnose (conhecimento) do Oriente:

Desde o primeiro século aparecem correntes gnósticas no Império. Foi descoberta a diferença radical do EU humano do mundo, do cosmo. O mundo não é só estranho, é o inferno. Precisa se libertar deste cosmo, largar o corpo como parte do cosmo e o verdadeiro EU, um faísco preexistente  sobe e volta na sua pátria. A alma, anima, vem dos deuses e vai para os deuses. A salvação é a libertação do finito para o infinito para participar da divindade. A mediação da salvação acontece na troca do finito, temporal para infinito, eterna.
Origem: A corrente gnóstica se encontra no Iraque (manda), no Egito, na Índia e China, e na Sírio-palestina nos tempos do cristianismo primitivo, já no fim do 1. século, onde o Evangelho foi escrito. A Gnose e a filosofia grega têm influência no judaísmo tardio com a sua apocalíptica. Surgem várias teorias “teológicas” e alguns grupos começam também a querer reler o evento “Jesus de Nazaré” com os conceitos gnósticos, Jesus é o intermediário entre a humanidade e a divindade.
 Foi descoberta a diferença radical do EU humano do mundo, do cosmo. O mundo não é só estranho, é o inferno. O Evangelho de João quer dar uma resposta a esta corrente.
A experiência da vida: Para a Gnose existe um dualismo radical entre a Divindade e o Cosmo ou mundo: No pensamento grego o cosmos era a ordem no universo, a ordem suprema. Na Gnose o cosmos é desordem, mau, ruim, hostil, significa escuridão e morte, inferno. O Divino está absolutamente fora do mundo.
O mundo é obra ruim de potências inferiores, é uma prisão, preso por sete esferas que não deixam a alma passar. Na Gnose se argumenta: A criação não pode ser a obra de um Deus perfeito, porque o mundo é imperfeito e mal. Entre o divino e humano existem entidades como um demiurgo, um arquiteto, que criou o mundo, depois demônios, anjos, potestades. O dualismo se exprime em luz – escuridão, verdade – mentira, liberdade – escravidão. Na Bíblia a criação é obra boa de Deus.
A alma é representante do mundo, por isso não tem confiança no outro.  A pessoa está em inimizade com o mundo, despreza todas as relações com os outros. Pela ignorância surgem escassez e sofrimento.
Os gnósticos perguntam: como EU posso me salvar deste mundo ruim? Dentro do ser humano se esconde um espírito, é uma faísca da parte divina, que entrou no ser humano, ignorante, dormindo, esperando a libertação.
  O verdadeiro EU, a faísca preexistente  sobe e volta na sua pátria pelo conhecimento. A alma (anima) veio dos deuses e vai para os deuses.
A salvação deste mundo ruim acontece pelo conhecimento, pela sabedoria e educação para participar do divino. Uma morte que salva não tem sentido.  Precisa se libertar deste cosmo, largar o corpo como parte do cosmo. Quem tem conhecimento desrespeita e rejeita este mundo. “A salvação perfeita é o conhecimento da grandeza inefável”. 
 Só pelo conhecimento o EU pode voltar para o Divino escapando da morte. Importante é o conhecimento do caminho, para que no final a faísca possa reunir-se de novo com o divino. A salvação é a libertação do mundo finito para o mundo infinito para participar da divindade. Pelo conhecimento o EU se une com o ente divino, consegue a perfeição.
Na Gnose e nas religiões do extremo Oriente  não se encontram um Deus pessoal como em Israel onde Javé se revela e fala, um TU, por isso se fala na Gnose da grandeza inefável.

Flavio Josefo descreve no seu livro ¨História da guerra judaica¨  após a caída de
Jerusalém no ano 70 d.C. como o exército Romano encontrava um suicídio coletivo na bastião de Massada,. Os sitiados tinham matado suas mulheres e crianças e si mesmos, uma lei que o judaísmo não conhece.
Àqueles que no início não quiseram matar seus parentes por causa da compaixão o líder Eleazar deu uma fervorosa palestra:
¨ Não a morte, a vida é uma desgraça para os homens. Pois a morte dá liberdade às almas e abre o acesso ao lugar puro, onde não há  mais sofrimento. Enquanto a alma está presa no corpo mortal, ela deve ser na verdade morta,  pois a ligação do divino com o mortal é contra a natureza. Mas só quando ela está livre do peso que puxa para a terra ela chega á verdadeira pátria, que fica invisível aos olhos humanos como Deus. A prova disso é o sono, quando a alma imperturbada do corpo goza do supremo repouso.
 Olhemos para os Indianos (no extremo oriente), estudiosos na filosofia: Esses homens nobres suportam a vida de má vontade como um serviço necessário devido à natureza e apressam-se a desligar a alma do corpo. Desejando o estado da imortalidade anunciam aos outros que querem sair deste mundo. Ninguém os impede, todos os  louvam e dão mensagens aos concidadãos eternos.¨ (Reclam, Leipzig 1994 p. 496)

Os gnósticos cristãos: Eles entendiam Jesus como salvador que revela o conhecimento de Deus à humanidade. Ele teria descido in forma humana. No entanto, não era verdadeiro homem. Não teria passado pelo sofrimento e pela morte.
 Afastaram-se de um Cristo encarnado na condição humana. Transformaram o Evangelho do reino em uma religião que não representa nenhum perigo às estruturas deste mundo. (Gass  Nr 8 p.95)

A passagem do cristianismo judaico para o cristianismo helenístico começa já cedo, antes de Paulo. Conceitos apocalípticos como Filho do homem, Messias, Reino de Deus desaparecem, em vez são usados títulos como Filho de Deus, Senhor, Kyrios, vida eterna.
Exemplos para isso o hino na carta aos Filipenses (2,6-11): Jesus, de forma de Deus, se rebaixou. Foi exaltado. Paulo já encontrou este hino. Provavelmente ele acrescentou a cruz que resume toda a atividade de Jesus. Outro exemplo é o Evangelho de João. Muitos conceitos no Evgl. de João  aludem às ideias da Gnose.

          2. Observações sobre os Evangelhos

2.1.) Os Evangelhos judaicos. A história do Cristo judeu.
     Daniel Boyarin: Ergon VerlagWürzburg  2015 Band 12

Os cristãos pensam que o título ¨Filho de Deus¨ significa a sua divindade, enquanto o título ¨Filho do homem¨ sua humanidade. Filho do homem aparece mais vezes do que Filho de Deus. O título ¨ Filho do homem¨ designa Jesus como parte de Deus, enquanto ¨Filho de Deus¨ designa Jesus como Rei – Messias.
Daniel Boyarin defende a tese que os Evangelhos e mesmo as cartas de Paulo pertencem a religião de Israel no primeiro século d.C. Muitos judeus esperavam um Messias divino, os Evangelistas partilharam esta convicção e reconheceram em Jesus este Filho do homem..

No livre de Daniel, escrita em torno de 161 a.C. aparecem duas figuras divinas:¨Eu via, quando tronos foram instalados e um Ancião se assentou...eis que com as nuvens do céu vinha um como Filho do homem¨ (Dn 7,9-13). Este Filho do homem é divino, aparece na figura humana,  é mais jovem do que o Ancião, vai ser entronizado.Tudo é uma teofania. O que se promete aqui, vai se cumprir em Jesus.
Quando Marcos escreve seu Evangelho devia ser conhecido este título. Jesus perdoa os pecados de um paralítico. Para os escribas Jesus blasfema se faz deus.  (Mc 2,7) Mas Jesus também tem  autoridade plena (exusia) , entregada pelo ancião.Em Mc 2,28 ele é Senhor do Sábado. Quando Jesus se identifica com o Filho do homem que virá, o sumo sacerdote disse: Ele blasfemou (Mc 14,61-64; Mt  26,64-65). Tudo indica, que os lideres do povo entendiam este título com divino.
1.O Filho do Homem em 1. Henoc e 4. Esdras: O livro de Heno data do 3. Sec.a.C. até 1. Sec.d.C. A história de um Filho de Homem foi conhecido entre os judeus antes da vinda de Jesus. Nos discursos das imagens, escritos no  mesmo tempo de Marcos,  Henoc  vê um Filho do Homem  que tem a justiça. Ele faz parte de Deus, já foi escolhido antes da criação. Existiam duas tradições: uma a ascendência de um ser humano e uma a descendência do divino. No discurso de Henoc se ligam as duas, uma síntese da descida (Teofania) e da subida  (Apoteose).  
No 4. Esdras, se fundamentando no Daniel, este homem é divino como JHWH. Aparece um conflito entre tais judeus que reconheceram uma figura divina ao lado daquele que está sentado no trono e outros que destacaram o monoteísmo. 
                                                                   
            2.O que é proibido na Torá, o que faz impuro na tradição dos fariseus:
No cap.7 de Marcos  Jesus não anula estas regras. Mas os fariseus, seguindo novas tradições radicais, aumentaram a lei da pureza exigindo lavar as mãos antes de comer.  Jesus defende a Torá e declara todos os alimentos puros, mas não toca a Torá que fala dos alimentos proibidos.

3.O Cristo sofredor como Midrash segundo Daniel
Que o Messias deve sofrer os rabinos aprenderam pela combinação de vários textos bíblicos. Tais narrativas se chamam Midrash.
 Em Mc 8,38 Pedro confessa Jesus como Messias. Jesus responde que o Filho do homem deve sofrer. O Messias é o Filho do homem conforme Dn 7,25 e deve sofrer.  Marcos  fala do sofrimento do Filho do homem, em 14,62 da sua elevação. Temos uma alusão a Isaías 53, 1-12; onde o servo  de Deus será rejeitado e exaltado.  

2.2.  O EVANGELHO RADICAL DE <Q>: “Ditos de Jesus”


Os estudiosos falam de uma fonte ”Q” no cristianismo primitivo na Galileia. A fonte Q será utilizada por Mateus e Lucas. É opinião comum, que Q provém da Galileia, uma coleção de ditos de Jesus. Q é um texto escrito em grego e de um lugar perto do Lago de Genesaré, passou por várias edições. Q ficou marcada por uma visão quase apocalíptica que esperava um “Filho do homem”, também conhecido como “O que vem” e tem conflito com um grupo “esta geração”.
O templo em Jerusalém não figura no discurso, nem fala do sacrifício ou pureza. Não é muito discutido o tema da Torá ou a questão da lei, Não pesa no discurso a LXX “como está escrito”.
Não há presença dos títulos cristológicos: “Cristo” não aparece, não se encontra “Salvador”, senhor aparece num sentido comum, não “O Senhor”, o ser “filho de Deus” não é um privilegio de Jesus. Onde se fala “O que vem”, serve para definir o horizonte próximo do juízo e julgamento, uma visão quase apocalíptica. A linguagem de Q é “esta geração”. Virá a ira de Deus Mais importante a figura do “filho do homem”, como figura de “o que vem”.  Não se faz referência à morte e ressurreição de Jesus como no Evgl. de Marcos.  Não há muitas parábolas.
O “reino de Deus” não é orientado para o futuro, mas procura articular uma opção alternativa no presente: O reino pertence aos pobres (bem-aventuranças em Lc), o reino é o objetivo da busca, é um reino onde Deus desempenha um papel importante, “venha o teu reino”, “vosso pai sabe o que necessitais (Lc 12,22-34). O projeto social é a busca de uma nova ordem, de um novo povo, busca-se uma renovação da comunidade e da família como no Mc 10, 28-30. Os itinerantes deixaram casa, irmãos, pai, filhos... Mas nas novas comunidades eles encontram novas casas, irmãos, mas com perseguições. O papel do pai perde-se para sempre, simbolizando o fim da família patriarcal! Não se preocupa tanto com os dominadores, nem com o templo.
Jesus não apareceu como rabi, mas como representante da sabedoria, que procura libertar o povo da sabedoria legalista e opressora dos escribas. 
É uma sabedoria popular, humana, cotidiana, familiar..                                                                       (Ribla 22 Cristianismos originários)

             2.3)  O EVANGELHO DE TOMÉ


O documento mais parecido com Q é o Evangelho extra-canônico de Tomé, conhecido desde a antiguidade e recuperado em 1945 com o descobrimento da “Biblioteca Gnóstica” de Nag Hamadé. São 114 ditos, atribuídos a Jesus, provavelmente escritos entre 50 e 70 d.C.
            Parece que o Evangelho de Tomé nos dá a tradição mais antiga dos ditos e das parábolas de Jesus. A comparação com os sinóticos nos deu a evidência, que as parábolas de Jesus não eram alegorias, mas histórias completas em si mesmas, a alegoria e apocalíptica é secundária.

2.4)  Uma releitura do Evangelho na Coréia do Sul

O professor Ahn Byung-Mu  estudou a exegese na Alemanha em busca do Jesus real, ele é um dos pais da Minjung (pronunciado <Mindschung>). No livro ´Jesus of Galiléia´ ele demonstra que a Minjung  (ochlos) está ligado a Jesus, o Filho humano. Sua teologia surgiu na prisão.
     Minjung é povo sofrido e perseguido pela ditadura, são os trabalhadores e agricultores, a mulher, professores demitidos, os presos políticos, vítimas do sistema da violência e do pecado estrutural. Foi a Minjung indefesa que resistiu durante a história às invasões estrangeiras e à ditadura nos anos setenta. A Minjung estava pronta assumir sofrimentos por causa da libertação. Os sofrimentos da Minjung e de Jesus são idênticos. A Minjung não é um bastidor para Jesus, um comparsa parra destacar o sucesso de Jesus, a Minjung mesma age, iniciadora das ações de Jesus. Jesus é a incorporação da Minjung.
            Existe uma palavra, que surgiu da história dos sofrimentos da Minjung: ´´Han´´, para Ahn um sentimento da vida oprimida, um ´patein´, se fala hoje da ´empatia´. Chung ´Han´ significa raiva, rancor, amargura, desgosto, mas também energia para a luta. Pessoas,  vítimas da injustiça e do homicídio, se transformam em espíritos vageando em busca da restituição da justiça. Hahn destaca que as mulheres discriminadas são símbolos de Han. Han da Minjung ocupa um lugar central na teologia da libertação.
            Hahn liga o ´acontecimento´ de Jesus com a experiência dos sofrimentos da Minjung, do ochlos, da multidão. Na vida, morte e ressurreição de Jesus está incluída a multidão que segue Jesus. Para derrubar a cerca entre cristãos e não-cristãos precisamos nos identificar com aqueles que sofrem.
            A narração é o modo para publicar e conservar os acontecimentos de Jesus e da Minjung. O boato, o rumor pertence ao este estilo da narração, surge em tempos da perseguição, quando a palavra livre e verdadeira está  proibida. Os contos dos sinais e da paixão de Jesus pertencem ao estilo de rumor.

2.5. Títulos para Jesus

            Na fonte ¨Q¨ não há presença dos títulos cristológicos: “Cristo” não aparece, não se encontra “Salvador”, senhor aparece num sentido comum, não “O Senhor”, o ser “filho de Deus” próximo do juízo e julgamento, uma visão quase apocalíptica. Mais importante a figura do “filho do homem, o que vem¨, uma figura futura,que já está presente.

           a.)   Jesus, o Filho de Deus:
  Para os judeus o Filho de Deus é o filho de David (S 2), para os cristãos é um título divino  Paulo aos Romanos (1,3-4): ¨Concerne ao seu Filho, oriundo, secundo a carne, da estirpe de David, estabelecido, secundo o Espírito Santo, Filho de Deus com poder, por sua ressurreição de entre os mortos¨..
 O Evangelho de Marcos começa com Jesus Cristo, Filho de Deus: (Mc 1,1) No batismo Jesus foi chamada;: ¨Tu és o meu Filho bem-amado¨ (Mc 1,10). Na tentação Satanás pergunta: Se tu és o filho de Deus... No monte da transfiguração:: “Este é meu filho bem amado. Ouvi-o!” (Mc 9,7). O Pai entregou tudo ao Filho: Como antigamente precisava ouvir a voz de Javé precisa agora ouvir a voz do Filho. O Evangelho de Marcos (15,39) termina com a profissão do centurião: ¨Este homem era Filho de Deus¨.
Pedro depois a ressurreição Pedro chama Jesus: ¨Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo¨ (Mt 16,16)
b) Jesus: Senhor e Messias: líder do povo
David chamou o rei Saul ¨o messias do Senhor¨ (1 Sm 24,7). David mesmo se identifica como servo e canta ¨que salvas teu servo David (Sl 144 (143),10). Zacarias profetizou que o Deus de Israel ¨suscitou uma força de salvação na família de David, seu servo¨(Lc 1,69). Confere. a disputa de Jesus sobre o Messias como filho de David (Mt 22,41-45; Mc 12,35-37, Lc 20,41-44;
 O título ¨Messias¨ é fundamentalmente pascal e está ligada à ressurreição de Jesus: ¨Com certeza, portanto, saiba a toda casa de Israel que Senhor e Messias fez Deus a este Jesus que vós crucificastes¨ (At 2,36).
Os títulos de Messias no prólogo de Lucas antecipam o futuro pascal (Lc 1,32) trono de David, 2,11; 2,25 Simeão; 2,29). Os demônios ¨sabiam que ele era o Messias¨ (4,41), mas são calados antes de falaram. Quando Simão Pedro fala que Jesus é o Messias, Jesus o repreende e fala que o filho do homem deve sofrer (Mc 8,27-33)
( J.Severino Croatto Ribla 44 (Lucas) p.161-163)

c) Jesus, o profeta de Nazaré chamado da massa perdida
Marcos: Jesus proclamava o Evangelho de Deus na Galileia, o Reine de Deus se aproximou (Mc 1,14). Os parentes já diziam: Ele é louco, perdeu o juízo. Os escribas de Jerusalém: Ele tem Beelzebul em si (Mc 3,21-23)  Jesus ensinava, mas o conteúdo do ensinamento só se revela (8,31). Jesus é um Rabi. ¨Um profeta é só desprezado em sua pátria (Mc 6,4). Quando o nome de Jesus se tornou famoso alguns diziam: “É um profeta semelhante a um dos nossos profetas” (Mc 6,15). No caminho Jesus pergunta: ¨Quem sou eu, no dizer dos homens?¨ A resposta: João Batista, Elias ou um dos profetas (Mc 8,28).
Jesus, acusado ser blasfemador (Mc 14,64; e Mt 26, 65).  Diante do Sinédrio: ¨Banca o profeta¨(Mc 14, 65)
Mateus: O profeta de Nazaré (Mt 21,11) No Evangelho de Mateus Jesus é um Rabi que dá instruções aos discípulos contra o ensinamento dos escribas com a rigorosidade da lei. Jesus não dissolve a lei, mas cumpre a justiça de Deus (Mt 5,1-7,29;).
.Na entrada de Jesus em Jerusalém a cidade ficou abalada perguntando: ”Quem é?” Mas as massas proclamam: “Ele é o profeta de Nazaré ¨ (Mt 21,11), para os sacerdotes, porém, este homem é um falso profeta, um impostor veja Zacarias 13,2-6.), Quando Jesus expulsou os vendedores do Templo (Mt 21,23-27), os sacerdotes e os anciãos do povo questionam a autoridade de Jesus, ele não pode ordenar (Dt 18,18), isto pertence aos sacerdotes. Agora os sacerdotes querem prender Jesus, tiveram medo das massas, pois elas consideravam Jesus como profeta (Mt 21,46).
Lucas: “O Espírito do Senhor está sobre mim¨  O terceiro Evangelho apresenta um Jesus profeta atuante. Na sinagoga de Nazaré Lucas introduz Jesus citando Isaias III: “O Espírito do Senhor está sobre mim porque me conferiu a unção para anunciar a boa nova aos empobrecidos” “(4,16), Lucas toma os profetas Elias e Eliseu como modelo para Jesus (1Rs 19,16). Jesus, o trabalhador da periferia, Quando Jesus despertou um jovem de Naim todos falaram: “Um grande profeta se ergueu no meio de nós e Deus visitou o seu povo” (Lc 7,16).  “Não é possível que um profeta pereça fora de Jerusalém! Jerusalém, Jerusalém, tu que matas os profetas¨  (Lc 13,33-35).

          d) O Filho do homem:
Jesus fala de si nos Evangelhos só na terceira pessoa: o Filho do homem - da humanidade. um título que ocorre 70 vezes nos sinóticos, 12 vezes em Jo e só em At 7,56  e no Ap 1,13; e 14,14.
Os filhos de Adão: O ser humano Adam foi tirado do humo, da adama (Gn 2,7), um jogo de palavras no hebraico ¨adam / adama¨ e no latino ¨homo / húmus e no português ¨homem e humo¨, pó, terra. Adão não designa uma pessoa individual, mas coletiva, significa a humanidade, a humanidade caída, fraca, nu. ¨Da terra o Senhor criou o homem e a ela o faz de novo tornar¨. (Sr 17,1) Eclesiastes (Cohélet) reflete sobre o filho de Adão 3,18.19.21; 12,7). Também a palavra ´humilde´ deriva de humo, terra, pó.  Por isso ser humilde e não ser como deuses.
          ¨Quem é o filho da humanidade¨? (Sl 8,5; 80 (79),18; Sl 143(144). Os filhos do homem são os descendentes de Adão e designam toda a humanidade da terra, este termo aparece bastante nos Escritos do Judaísmo exilio / pós-exílio. (cf.  Is 56,2; Jr 49,18;  Dt 32,8; Dn 3,82; Sr 40,1; 17,1; 17,30;)  Na genealogia de Lucas Jesus é filho de Adão, filho de Deus 3,38;  
Ezequiel é chamado: Filho do homem: ¨Em face da Glória, ele não passa de um ínfimo e derrisório filho do homem (TEB Introdução Ez 2,1).
 Daniel viu  uma aparição divina:  um ancião e “com as nuvens do céu vinha um como Filho do homem” (7,13) literalmente “Filho da humanidade” (TEB), quer dizer: aparecem duas pessoas divinas, a segunda  na figura humana que está em oposição às bestas, aos Impérios, que surgem de terra, do mar, símbolo da morte, que são os impérios que se comportam desumanos. Já em torno de 160 a.C. houve a ideia de dois deuses, um ancião e um jovem, um binitarismo.
    Daniel Boyarin: Os Evangelhos judaicos. A história do Cristo judeu.


Adão e Cristo: Nos  primeiros escritos do NT não existia o termo Filho do homem,  Porém Paulo compara o Cristo com Adão:: “O primeiro ser humano, Adão, foi um ser animal dotado de vida, o último Adão é um ser espiritual que dá a vida” (1 Cor 15,45).

O ‘Filho do homem’ aparece nos Evangelhos quando Jesus  na condição humana  destaca sua autoridade plena que vem do Pai quee consiste em perdoar pecados na terra (Mc 2,10;), ele é Senhor do Sábado (Mc 2,28).
Jesus ensinava os discípulos três vezes: que era necessário que o Filho humano fosse rejeitado pelos anciãos, sacerdotes e escribas, que fosse morto e três dias depois ressuscitasse (Mc 8,27-33; 9,31; 10,33). Era necessário significa: a lei rigorosa dos sacerdotes e o poder dos impérios não conhecem compaixão, são os sistemas desumanos no mundo inteiro.
O Filho humano como servo: “Pois o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate para muitos” (Mc 10,45 e Jo 13, 13-16). Cumpriu-se o que o Segundo Isaias predisse de um ‘servo sofredor’ (Is 53):“Transpassado por causa de nossas revoltas, esmagado por nossos crimes. .Foi maltratado, mas livremente humilhou-se e não abriu a boca. Javé quis a seu esmagado pelos sofrimentos” (e não: Javé quis esmagá-lo). Is. 52,11- 53,12;
O Filho do homem no Evangelho de João: Contrário às declarações dos primeiros discípulos Jesus declara: ¨Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem (Jo 1,51).O filho exerce o julgamento, porque é o filho do homem (Jo 5,27). Comer  a carne do Filho humano e beber seu sangue (Jo 6,57). O Filho do homem subira para onde estava antes... (Jo 6,62). O Evangelho não fala da paixão e ressurreição de Jesus, fala da descida e subida: Quando tiverdes elevado o Filho do homem, conhecereis que ´Eu sou´ (Jo 8,28) Jesus pergunta o cego curado: Crês no Filho do homem? (Jo 9,35)
 ¨É chagada a hora em que o Filho do homem deve ser glorificado¨ (Jo 12,23;13,31).
 Para Caifás Jesus, este indivíduo, é um malfeitor. Pilatos apresenta este homem (18,30) como rei dos judeus: “Eis o homem” (19,5).

d) Jesus, o cordeiro de Deus 
No início do Evangelho de João os primeiros discípulos titularam Jesus ¨Rabi, Messias, o filho de José de Nazaré, o filho de Deus, o rei de Israel¨ (Jo 1,20- 51). o Batista apresenta Jesus: Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Jesus nunca foi sacerdote, foi a vítima deles. Ele seguiu a tradição profética (D) e desmascara a hipocrisia dos escribas da lei que seguiram tradições humanas e deixaram de lado as palavras de Deus, (Mc 7,1-23).
Conseqüentemente Jesus enfrentava a oposição do sacerdócio e deve morrer. Caifás:  é melhor “um só homem morra pelo povo e que não pereça a nação inteira” (Jo 11,50). Caifás transportou o debate para o plano político; sejam quais foram os motivos religiosos, o fato é que Jesus provoca perturbações; convém, pois, eliminá-lo para assegurar a tranqüilidade da ordem pública (TEB)”. Este homem, este indivíduo, como “malfeitor” foi entregue ao Pilatos.
            No Apocalipse aparece ao lado do trono um cordeiro, que parecia imolado porque “foste imolado, e redimiste para Deus, por teu sangue, homens de toda tribo, língua, povo e nação, Deles fizeste, para nosso Deus um reino de sacerdotes, e reinarão sobre a terra”. (Ap 5,6-10).


               2.6) A ação de Jesus

a)       O profeta anuncia o reino à massa danada em Galileia
Jesus, sendo mesmo um trabalhador, anuncia aos que vivem na sombra da morte, aos que são  gentios, aos que são aflitos  a boa notícia: Deles é o reino de Deus.

b)      O Filho do homem ensina os discípulos no caminho:
Jesus toma o caminho para Jerusalém, sabendo que um profeta não será aceito na sua pátria. Ele ensina os seguidores o caminho da vida.     Lucas esta caminhada é tão importante, que ele dedica 10 capítulos a ida a Jerusalém: 9,51-19,28
.
c)      Resiste aos poderosos em Jerusalém
Ele enfrenta o poder religioso, os sacerdotes com a lei e o poder político com as tropas e armas, Ele resiste com a sua própria vida. Eles podem matar o profeta, mas se a semente morre, dará muitos frutos, Jesus vence o poder pelo amor.

2.7) Povo (laos),  massa excluída (ochlos):

      O povo de Deus (laós) contra as nações (gojim) na Bíblia:

Javé tinha prometido às doze tribos de Israel, escravos no Egito, fazer deles seu povo:.“Javé disse: “Eu vi, enxerguei a opressão de meu povo no Egito.(Ex 3, 7-8)
Oséias, em torno de 750 a.C. acusou Israel que rompeu a aliança: ”O nome do terceiro filho será: “Lo-ami”: Não-meu povo (1,8). Mas Javé firmará uma aliança e noivará: Direi a Lo-Ami “Tu és meu povo” e ele dirá: “Meu Deus” (2,25).
Jeremias (31,31;) e Ezequiel (Ez 36,28; 37,27) no tempo do exílio afirmam que Javé renovará a aliança: “Sereis para mim um povo e eu serei para vós Deus”. A aliança foi fundamental para a fé de Israel.
Os sacerdotes sadoquitas no tempo dos Persas não podiam mais falar do povo de Israel, porque não existia mais o estado.  Em vez falam dos filhos de Israel, que são dispersos no mundo inteiro.
     Marcos usa só uma vez “povo” Mc 14,2: Os sacerdotes querem prender Jesus: “Não em plena festa por receio de que haja tumulto entre o povo (laos)¨.
Mateus usa também uma vez ¨povo¨: “Todo o povo (laós) respondeu: Caia o seu sangue     sobre nós e sobre nossos filhos” (Mt 27,25). Aqui Mateus usa o título solene da promessa de Deus: “Meu povo” (Os 2,25; Ex 3,7; Jr 31,31: “Tornar-me-ei seu Deus, eles se tornarão meu povo” (Hb  8,10;). Veja At 5,28.
A 1. carta de Pedro (2,9-10) se dirige aos estrangeiros, fora do povo (demos) no Império Romano, fora da casa (paroikos): Eles são excluídos do Império: “Vós, porem, sois a raça eleita, a comunidade sacerdotal, a nação santa, o povo que Deus conquistou para si... Vós que outrora não éreis seu povo, mas agora sois o povo de Deus” (Os 1,6.9. 2,13).
Paulo usa o mesmo título “meu povo” para judeus e nações (Rm 9,25): “Aquele que não era o meu povo, eu o chamarei Meu Povo,”. Os gentios são inseridos no povo de Israel: “Foste enxertada entre os ramos restantes da oliveira. É a raiz que te sustenta” (Rm 11, 17-18).
No Apocalipse na queda da grande prostituta Roma usa-se o título ´meu povo´: “Saí desta cidade, ó meu povo” (Ap 18,4), lembra Ex 3,7: ”Vi a miséria do meu povo”. O povo saiu do Egito. Na Nova Jerusalém se cumpre a grande promessa de Javé: “Eles serão seu povo e ele será o Deus que está com eles” (Ap 21,3; cf. Ez 37,27;).

A massa excluída (óchlos) em grego, turba em latino,  multidão em português:

Aparece a palavra grega ‘ochlos’ 174 vezes no NT. Em espanhol a turba é uma aglomeração agressiva. O português conhece as palavras “conturbar, perturbar-se”, “turbulência”. 
Em geral se traduz óchlos por multidão (pletos) é uma grande conglomeração indefinida de gente: Lucas fala uma vez de uma grande multidão de povo de Judeia e Jerusalém (Lc 6,17).

            Porém, o termo ‘ochlos’ não designa uma quantidade indefinida de pessoas, mas a massa fora do povo organizado, plebe, ordinário, indecente, marginalizado, ser de moléstia, massa excluída, sobra, ‘Ochlos’ é a massa dos empobrecidos, sem lideres, desorganizados, excluídos da sociedade religiosa e política, a gente sem voz, sem vez, sem dignidade e direito.
 Ochlos descreve a situação econômica, política cultural e religiosa desta massa, típico para a literatura apocalíptica que encontramos na fonte Q e no Evgl. de Marcos. Movimentos apocalípticos nascem em situações de desintegração, perseguição, opressão e exclusão. (Paulo Richard em “Apocalipse” (p.49). “Eu vi: era uma imensa massa (ochlos). Eles vêm da grande tribulação” (Ap 7,9-14). A massa popular anônima, sem importância política e cultural.

A exclusão religiosa: Em Jerusalém a massa estava dividida a respeito de Jesus, alguns acreditaram que Jesus é o profeta, outros por causa da expectativa messiânica estavam desorientados (Jo 7,40-44).
 Os fariseus em Jo 7,49 declaram: “Apenas há este “óchlos”, essa massa que não conhece a lei, essa gente maldita”. No pós-exílio a prática religiosa consistia na observância da Lei: quem não observou a lei, mesmo inconsciente, era pecador. Esta gente está excluída do templo, do Santo, tem demônio. Jesus tem compaixão com eles,.    
            Esta massa maldita encontra-se na rua, nas estradas, no campo, ao lado do mar de Galileia, na casa, no trabalho, mas não na sinagoga, a multidão é excluída do templo, do Santo, é impura e pecador, tem demônio, não observa a Lei.
            Esta massa excluída, sofrida, excluída segue Jesus: ”Uma grande massa excluída vinda de Galileia o seguiu”: Mc 3,7-12; Mt 4,25; 5,1; 9,35; Lc 6,17-19; 10,2; Jo 6,1;.7,40-52; Ela segue-o para escutar a palavra dele, uma palavra libertadora. Mais: ´Quem faz a vontade de Deus  (a massa excluída sentado em redor dele), esse é meu irmão, minha irmã, minha mãe´ (3,35),  ´´Jesus viu muita turba (óchlos). Ele foi tomado de compaixão por eles, porque eram como ovelhas sem pastor´´. (6,34) Os líderes políticos nem têm compaixão com esta massa danada, nem cuidam deles. “Jesus mandá-los estenderem-se por mesas” quer dizer fazer grupos, e organizar-se para depois partilhar o pão com eles.
Nas bem-aventurados em Mt (5,1) lemos:  Jesus vendo muitas massas excluídas  (ochlous) ensina os discípulos quem é bem-aventurado, certamente a massa em redor dele: os pobres abatidos no espírito, aos amansados, aflitos e fomentos, os misericordiosos, perseguidos, puros de coração.
Lucas (6,17-26) agrava com o ´Ai` aos ricos:Agora Jesus fala de uma grande massa excluída (ochlos) de discípulos (de Galileia) e de uma grande multidão do povo (laos) de Judéia, Tiro e Sídon (de fora) Felizes vós, os pobres, o Reino de Deus é vosso (da multidão e dos discípulos). Justamente os malditos são felizes. Mas “Ai” dos ricos.

Os doentes fazem parte da massa: A enfermidade é entendida como estar de costas para Deus. Igualmente no mundo helenístico-romano a saúde corporal é entendida como um estado de “pureza“; “Os doentes não são aceitos no convívio da comunidade. São excluídos de cargos e lugares públicos. Ficam sem assistência social e médica (já bem precária). São obrigados a mendigar para prover a sua penúria e fome. Assim, são vistos caídos pelo caminho (Mc 10,46), nas portas dos lugares públicos (Jo 5,3), fora dos povoados (Lc 17,12). São tidos como escória e vergonha da sociedade. Não têm lar nem futuro. São mortos prematuros.” Os enfermos eram considerados possessos, portanto, impuros, porque haviam cometido algum pecado e Deus os havia castigado. (Uma mulher com hemorragias aproximou se de Jesus  Mc 5,25). Ribla 57, p.123 e 125.

 Os gentios, as nações, povos ´goim´, (não-judeus): Mateus especialmente dirige seu Evangelho aos povos, às nações, diferenciando os judeus dos gentios. Jesus veio para a: ´Galileia das nações¨ (Mt cita Isaias 8,23-9,1. Em geral as traduções traduzem os gentios por os pagãos, um termo que só aparece no IV século d.C. que significava os camponeses for de Roma, que não ouviram  do Evangelho..
Os estrangeiros, as gentes, nações são automaticamente ochlos, massa excluída do povo eleito, Jesus dirige se a eles. Por isso a partilha do pão com a multidão, desta vez têm 7 pães: pois já faz três dias que permanecem com Jesus e não tem nada o que comer (Mc 8,1), a mulher com a sua fé (5,34;). O centurião. A mulher estrangeira, cachorrinha (Mc 7,24) tem fé.

             O Reino de Deus é da massa excluída: Diante desta massa Jesus ensina os discípulos: quem são os chamados?: “Felizes os pobres, abatidos no espírito (Is 57,15; 66,2), deles é o reino dos céus” Feliz quem tem misericórdia com eles (Mt 5).  O reino é dos pequenos, dos excluídos da sociedade “Vinde a mim, vós que estais cansados sob o peso do fardo”, (Mt 11, 25-30). O peso do fardo é a lei dos sacerdotes e escribas!
A massa marginalizada e os discípulos são chamados a seguir o Filho humano na perseguição (Mc 8,34), tomar o jugo dele, ser perseguido. A massa bem experimentou esta exclusão e sofrimento, já está carregando a cruz.


                           3. O EVANGELHO DE MARCOS

Tem sido comum pensar que o Evangelho de Marcos foi escrito em Roma entre 66-70. Menciona-se um João Marcus nos Atos 12,12 e 15,37, também 1 Pedro 5,13. Portanto pensa-se cada vez mais, que o texto original foi escrito na Síria Palestina. Durante muito tempo a Exegese,(interpretação da Bíblia,) ignorou a Galileia como o berço do cristianismo, só uma leitura reducionista dos Atos e de Paulo pôs a origem do cristianismo em Jerusalém e nas cidades helenistas. A valorização do documento Q e do Evangelho de Marcos e sua localização histórica na Galileia e no Sul da Síria antes do ano 70 renovaram o estudo das origens do cristianismo, dos “radicais itinerantes”. (Ribla 22) Galileia é o lugar do Evangelho que está contraposta a Jerusalém com o templo, sacerdote e lei.. Temos diante de nós um movimento contra est a tradição. Nenhum grupo recebe tanta crítica como os escribas.  
Não por meio de profissões, hinos ou títulos, mas por meio de uma narração Marcos criou um Evangelho. É uma narração subversiva a partir dos vencidos e não dos vencedores na história. Jesus, o homem de conflito, está ao lado da multidão oprimida e perseguida e opta pela vida como exigência do Reino do Pai. Não é um simples relatório, mas uma narração teológica, que convida para o seguimento na perseguição do Império. Devemos realizar que a multidão na Galileia sofre de  opressão, de fome e doenças.
            Finalmente existe uma polemica contra o grupo dos “Doze” e contra a família de Jesus. Todos vão para o lixo, fugiram abandonando Jesus (14,50). A polêmica, sutil e aguda, se dirige contra a liderança em Jerusalém.
No inicio do Evangelho o reino de Deus se aproximou (1,15). Como entrar no reino? (9,1; 47 e 10,14 e 10, 23-25). Marcos destaca que são praticas bastante simples. No final só se espera o reino (15, 42).
 O Evangelho é uma tentativa de linear os diversos Cristianismos sob uma só luz que é a sombra da Cruz. É o Evangelho cristão.
 É um texto “apocalíptico” se fala muito “de uma vez”, não usa o passado, mas o presente histórico. “O Filho do homem”, sentado a direita do Todo Poderoso (14, 62) refere-se a Daniel.
O “deve” (8,31; 9,11; 13,10) reflete um processo sócio-político, necessário e inevitável e certamente convulsivo, pelo qual se alcança outra realidade nova.
Resta de mencionar que o testamento de Jesus e o mandamento da missão universal acontecem na Galileia (Mt 28,16-20). O que fazem agora estes galileus em Jerusalém? Nos Atos são claramente classificados como homens de Galileia At 1,11. Em At 24, 5 Paulo é apresentado pelo Sumo Sacerdote Ananias como “um dos lideres da seita dos nazarenos”. (Os judeus e os muçulmanos chamam os cristãos de “nazarenos”).
(Carlos Bravo Gallardo: Jesus, hombre em conflito, Sal Terrae 1986 , Santander) 

                     I Início do Evangelho de Jesus, o Cristo, Filho de Deus!


  João Batista pregava: Preparai o caminho do Senhor. Todos se perguntavam: não seria João o Messias (Lc 3,15 e Jo 1,20). Os chefes de Jerusalém buscavam desde o tempo dos Macabeus um Messias Rei, João não avisa um rei poderoso, mostrando para Jesus  diz: Eis o cordeiro de Deus, a vítima do poder.
 João batiza com água e Jesus batizará com a Espírita Santa (Jo 1,29-34). O  Evgl. de João  não conta  um batismo de Jesus. Só os discípulos de Jesus batizam (Jo 4,2).
   João não mexe com as sandálias de Jesus (Dt 25,9), porque Jesus é o noivo da igreja. A pomba é símbolo do amor.

 a)  Uma voz chama Jesus: Meu Filho

Deus escolhe um trabalhador e não os sacerdotes, os inteligentes, os grandes de Jerusalém. 
       Primeiro Jesus vê: os céus se lascam como um tecido e ele viu o Espírito como pomba descendo sobre Ele. A pomba foi símbolo da Deusa do amor. Na morte de Jesus vai se lascar o véu do templo.
        Segundo Jesus ouve: “Tu és o Meu Filho amado, aprova-me escolher-te”. A visão de Isaias 42,1 se cumpre: “Eis o meu servo, ele é o meu escolhido

         b) A tentação de Jesus, Filho de Deus:
                Marcos 1,12-13; Mateus 4, 1-11; Lc 4,,1-13;

Jesus conduzido pelo Espírito ao deserto. O deserto foi o lugar, onde o povo duvidou na caminhada e não confiou na promessa de Javé. Mais: tinha sua cabeça dura, seguia seus desejos, tentou e provou Javé.
 Do mesmo modo Jesus, conduzido pelo Espírito enfrenta as expectativas por um messias do povo e dos lideres religiosos e políticos. No Mt e Lc o tentador  pergunta: ¨Se és o filho de Deus... ¨
Cristo ou Messias e Filho de Deus são títulos para Jesus ressuscitado, descente de David veja Atos 2,29-36: “Deus o fez Senhor e Cristo” (Rm 1,2). Marcos começa : ´´Início do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus´´. No batismo Jesus é chamado ¨Filho de Deus¨.


c)      Escutem o que ele diz
No monte saiu de novo uma voz: ¨Este é o meu filho amado. Escutem o que ele diz¨. Agora fala o Filho mesmo, não mais o Pai. O Filho revela, como é o Pai.(Mc 9,7)

d)      Este homem era mesmo Filho de Deus!
             Finalmente o oficial do exército romano proclama Jesus como Filho de Deus (Mc 15,39; Mt 27,54)
 

II Pratica de Jesus pelo reino de Deus em Galileia (1,21- 5,43):





A proclamação do Reino de Deus se manifesta na prática de Jesus que liberta. Marcos guarda certamente narrações daqueles que foram libertados. Jesus abre os olhos, ouvidos, faz andar, agir, se levantar.


São dois grupos de cinco ações, os primeiros na Galileia no ambiente dos judeus, os segundos no estrangeiro, na Dekapolis (10 cidades gregas) fora da Galileia, entre os povos. 


           1, Cafarnaum, 1,21-39; enlace: leproso 1,40-45;

     2.Controversas 2,1-3,5; enlace: planejamento matar Jesus: 3,3,6-7ª

     3.Respostas a Jesus: 3,7b-35, enlace: proteção de Jesus 4,1-2ª

     4.Parábolas 4,2b-34; enlace: tempestade 4,35-41

     5.Morte e vida 5,1-43


1.                  Cafarnaum (1,21-28) A sinagoga é o lugar dos escribas, para eles o cumprimento da lei garanta a santidade. Aparece um homem, possuído por um demônio na sinagoga deles. Possuído por um demônio significa ser preso na consciência pela ideologia da lei dos sacerdotes e escribas. Jesus tem autoridade, ele proclama as palavras de Deus (Dt 18,18), que são vida. Jesus é  “o Santo”, uma expressão central da lei dos sacerdotes (Lv 19). O homem exclamou: “Que há entre nós e ti”?  Fala-se de nós no plural, o possuído representa a massa danada, (Os espíritos impuros gritavam: ¨Tu és o Filho de Deus 3,11) possuída pelo sistema dominante da sinagoga dos escribas que possuem a lei. Jesus o Santo de Deus (1,23-28) Ele veio para destruir o sistema impuro, o código da impureza (Lv 13 e 14)?  Ele liberta as pessoas alienadas pelas leis dos sacerdotais para devolver a eles sua auto-estima, Sua autonomia: tirar o veredicto da impureza, que exclui. Jesus só manda silênc
           Aparece a primeira mulher: a sogra do Simão na casa de Simão e André, ela serve Jesus 1,29-31;  Cura de doentes e expulsão de endemoninhados 1,32-39
.           Enlace: Cura de um leproso (1,40-45) Em comparação com os dez leprosos no Lc 17,11-19 que ficaram à distância por causa da lei da impureza, o leproso com muita coragem se aproxima de Jesus e o tocou. Curado, ele não vai para os sacerdotes, mas se torna profeta e proclama a notícia. Agora Jesus, sofrendo o mesmo destino do leproso, não pode entrar nas cidades.
2.      Controvérsias 2,1-3,5:  Jesus estava em casa. O paralítico não só era doente, pior: na opinião daquela época e dos escribas o doente era pecador. Quem pode perdoar a não ser Deus só? O Filho humano tem a autoridade  (não poder) 2,1-12
           Agora Jesus come com os pecadores, escolhe o cobrador Levi. Os fariseus criticam a prática dos discípulos. Enquanto o esposo estiver com eles, os discípulos não podem jejuar.  Espigas no Sábado 2,13-28. Jesus não chama os justos, e sim pecadores. O Sábado foi feito para o homem (Dt. 5, 12-15). O Filho do homem é senhor até do Sábado.

           Um homem com a mão paralisada: no Sábado não podia fazer nada, a gente ficou paralisada.  Jesus faz agir, fazer o bem.(3,1-5)

            Enlace: Fariseus e Herodianos querem fazer Jesus perecer 3,6-7a);

3.         Respostas diante de Jesus 3,7b-35
              Uma grande massa (ochlos, outra tradição fala multidão plaetos)) segue Jesus (3,7b). Os espíritos impuros gritam: ´´Tu és o Filho de Deus´´! (3,11), contrário aos parentes e escribas.   Chamado dos Doze (3,13-19;). 
                        Cresce a oposição contra Jesus. As pessoas da sua parentela vieram para detê-lo dizendo: Ele perdeu o juízo. Os escribas: Ele tem Beelzebul em si (Mc 3,21-30); Blasfêmia contra o Espírito: ´´Tudo será perdoado aos filhos dos homens, os pecados e as blasfêmias. Mas se alguém blasfema contra o Espírito Santo, fica para sempre sem perdão¨  A 1. Carta de João (5,16;) fala de um pecado que conduz à  (secunda) morte.

                     A verdadeira família de Jesus é a massa excluída que faz a vontade do Pai 3,31-35.
                     Enlace: A massa excluída em redor de Jesus, sentado num barco.

4. Parábolas 4,2b-34

           Parábolas sobre o Reino, tiradas da vida cotidiana do agricultor, da semente e de mostarda, que foi uma daninha (4,1-9 e 26-34): O semeador semeia a ´palavra´ (4,14). Jesus dizia a ´palavra´ (4,33 8,32; 9,10;). A essência das parábolas: ter esperança por que o reino cresce apesar dos obstáculos; mesmo a mostarda ocupa tudo. Jesus anuncia a palavra, à medida que eram capazes de compreender. Dentro das parábolas temos uma explicação das parábolas para a comunidade cristã que especifica a parábola para os ouvintes e moraliza: 4,10-25.

            Enlace: Tudo culmina na tempestade no mar: passando para outra margem, para terreno desconhecido, para a Decápole, os discípulos têm medo (4,35-41).

5..      Morte ou vida: 5,1-43
            Chegaram à Gerasa no Sul, 50 km distante do lago de Galiléia, uma região de dez cidades gregas com outra cultura, onde se criam, por exemplo, porcos: o nome do possuído, que mora em túmulos, é Legião “somos numerosos” (cf. 1,23-28), uma alusão ao exército Romano com legiões (uma tinha 6 mil homens), o sistema político do Império Romano, 5,1-20; Os espíritos impuros podem ir para os porcos
          À beira-mar: A filha de Jairo, que morreu com 12 anos, e a mulher sofrendo de hemorragias 12 anos. Não se - menciona a impureza, mas a fé que salva. Ela fala toda a verdade 5,22-43; parecem pessoas da classe mais elevada.
          Enlace: Jesus passa por sua pátria Nazaré, o nome do seu pai falta. Jesus, o profeta, rejeitado na sua própria pátria.¨Donde lhe vem isto?¨ Que sabedoria, a ponto de se realizarem até dinámica  (em grego, milagres em português), forças imensas.

            Jesus mesmo não pretendeu para si um título, mas o trabalhador da periferia se identifica indiretamente com os profetas, que são desprezados na sua pátria. “Carpinteiro é um operário que trabalha com madeira, com pedra ou metal” (TEB). Falta de fé (6,1-6a).



III Pão, conflito com o centro 6,6b-8,21

1.      Missão 6,6b-31a
Enlace:6,31b-33; volta dos apóstolos
2.      Pão 6,34-56
Enlace: Assédio dos fariseus e escribas 7,1-4;
3.      Pureza: 7,5-7,23;
Enlace: Retiro em terra estranha: 7,24;
4.      Pão7,25-8,21
Enlace: O cego de Betsaida: 8,22-26 

       1.   Missão a: 6,6b-12:  Agora Jesus envia os discípulos, os Doze .Missão b: 6,14-16: Quando o nome de Jesus se tornou famoso alguns diziam: “É um profeta semelhante a um dos nossos profetas”.Agrava-se a situação. Missão b´(6,17-29): Herodes matou João. Missão a: 6,30-31ª.  Volta dos Doze.  

         Enlace: 6,31b-33 O povo em necessidade

        2. Pão 6,34-56 Jesus, tomado de compaixão partilha do pão com a massa excluída sem pastores. Nem os lideres religiosos, nem os políticos dominantes, aqui representados por Herodes, cuidam do rebanho. O Ressuscitado, o verdadeiro pastor, anda sobre a água (6,1-56).

Enlace: 7,1-4: Assédio do centro 

       3.Pureza 7,5-23; Os discípulos não observam a tradição. “Abandonais o mandamento de Deus e vos apegais à tradição dos homens. O que sai do homem, isto é que torna o homem impuro”. Jesus recorre às dez palavras contra as leis.

        Enlace 7,24: Jesus se retira para o território de Tiro, perto do Mar Mediterrâneo.

         4 .A vida dos Não-judeus,7,25-8,21.

     A fé de uma mulher de siro-fenícia: Jesus se sabe só enviado para os perdidos de Israel, a mulher concorda: é verdade. Mas os cachorros, os gentios, também comem as migalhas dos filhos. Jesus se converte 7,25-30;

     Cura de um surdo mudo: a situação é em terra dos gentios (TEB) 7,31-37;

     Pão partilhado, também em terra estrangeira com a multidão, os sete pães simbolizam as setenta nações. Dalmanuta, localidade desconhecida (8,1-9).

     Um sinal negado aos fariseus, cegueira também dos discípulos 8,11- 21.

     Enlace: O cego de Betsaida 8,22-26;

IV Crise de Galileia 8,27-38; 

1.      Pergunta sobre identidade 8,27-29

2.      Ordem de silêncio 8,30;

3.      Expectativas messiânicas 8,31- 32ª

4.      Crise e seguimento  8,32b-38

5.      Enlace 9,9-10; pergunta dos discípulos 

Jesus partiu com os discípulos para uns 50 km no Norte de Galileia, onde se encontram as nascentes do rio Jordão, ao pé do Monte Hermon 3.000 m de altura. No pico sempre tem neve, à tarde se formam nuvens. Jesus tinha se despedido de Galileia e faz agora um resumo da sua atividade, quer saber o que o povo acha.

Pergunta: O que dizem as pessoas que eu sou? Os homens falam certo: Jesus é um profeta como Moises, como Elias, como Jeremias, ele é o profeta.

Precisamos lembrar que a palavra de Deus, anunciada pelos profetas, estava no pós-exílio na mão do sumo sacerdote, ele manda e ordena sobre a Tenda ou Templo (Ex 25,22).  O sumo sacerdote (Ex 28,36) é consagrado a Javé. O título “o povo consagrado a Javé” (Jr 2,2-3 e Dt 7,6) passou a ser monopólio do sumo sacerdote. O sumo sacerdote será o único ungido (Ex 29,7) e substituirá a dinastia de Davi no poder. Os sacerdotes do Templo têm o monopólio da profecia, eles não admitem contradições ou critica. Do campo só surgem os falsos profetas. Por isso: “Expulsarei também da terra os profetas... seu próprio pai e sua mãe o traspassarão” (Zc 13,2-6).

Pergunta: E os discípulos, quem dizem que eu sou?        
Desde os tempos antigos os judeus esperavam um Messias (Cristo = Ungido), David foi ungido como um rei por Samuel e Javé prometeu que o trono de David será sólido para sempre.  No tempo de Jesus o desejo de um Messias Rei guerreio foi muito forte.   Pedro responde em nome dos discípulos: Tu és o Messias.  Os discípulos querem também um Messias com poder, que eliminará o jugo dos Romanos.

 Primeiro anúncio: ”O filho humano deve sofrer muito, ser rejeitado pelos chefes de sacerdotes e doutores da lei, deve ser morto (não se fala por quem), e ressuscitar depois de três dias (Mc 8,31).                       

O seguimento: Jesus convoca a massa danada e os discípulos a tomar a cruz Mc 8,34-38. Esta massa já sabe o que é sofrimento: exclusão e rejeição.  Sempre o seguimento foi interpretado, que a pessoa deve se mortificar a si mesmo, eu sou nada, precisa si castigar a si mesmo.

  Jesus esclarece e disse a Pedro: Você pensa as coisas dos homens, não de Deus. Renunciar significa: não mais os pensamentos, desejos, aspirações do mundo, mas de Deus, do Evangelho, do reino.

           Enlace: O que significa: ressurgir dentre os mortos.



   V Transfiguração 9,2-8  

Jesus subiu com Pedro, João e Tiago uma montanha alta, provavelmente o Monte Hermon: acontece uma grande mudança com Jesus: uma transfiguração: suas vestes tornaram - se resplandecentes como a neve - no monte -, ao seu lado estão Moisés e Elijas, o representante  dos profetas. Não tinha túmulo deles. Jesus defende a tradição deuteronomista, quer dizer dos profetas contrario do culto e a lei dos sacerdotes. Os dois confirmam a decisão de Jesus, ser rejeitado em Jerusalém pelos sumos sacerdotes e ser entregue ao Império Romano, mas ressuscitar.

            Uma voz da nuvem alerta “Este é o meu Filho amado. Escutem o que ele diz.” Deus não fala  mais, agora o Filho fala (ver Mt 11,25-27 e Lc 10,21-22). Nas ¨Falas de Moisés¨ Javé coloca suas palavras na boca do profeta, agora o Filho de Deus é o sujeito que fala , mas ele é o filho humano que fala por sua rejeição e ressurreição. Precisa escutá-lo. Enquanto isso, os discípulos dormem ou sonham suas próprias pretensões.

          Enlace  9,9-10  Mas os discípulos perguntam ¨o que Jesus entendia por ¨ressurgir dentre os mortos¨. Elias ressurgiu em João Batista (9,13), João ressurgiu em Jesus (6,14-16), o poder de João atua em Jesus. Jesus ressurgirá nos discípulos: o poder dele, a Espírita Santa, atuará neles.



VI Preparação dos discípulos 9,11-10,45; 

1.      Pergunta a respeito de Eliias 9,11-13;

2.      Cura de um rapaz possesso 9,14-29;

3.      Secundo anúncio da paixão 9,30-32 Atravessando Galileia Jesus ensinava os discípulos: “O Filho do homem vai ser entregue na mão dos homens, e eles o matarão...”

4.       O que significa tomar a cruz e seguir Jesus na vida cotidiana? No caminho os discípulos discutem quem é o major. Jesus: Se alguém quer ser o primeiro (luta pelo poder), deverá ser o último 9,33-35;

5.       Jesus pega uma criança da rua, abandonada sem nenhum poder e se  identifica com ela. Até nas crianças se mostra o pai, que não está com os grandes. Não dar escândalo aos pequenos. 9,36-37;

6.      Quem não está contra nós 9,38-39

 Enlace: Jesus vai para o território de Judá 10,1;

  1.  A pergunta sobre divorcio mostra a dominação do homem sobre a mulher. Jesus toma uma postura contrária ao machismo, o homem e a mulher são iguais. 10.2-12;

2. Finalmente, para entrar no reino de Deus, deve ser como uma criança.  10, 13-16;

  3         O reino de Deus contra a riqueza 10,17-27;

  4.       Instrução sobre pobreza e o reino 10,28-31;

  5.       Terceiro anúncio: Tomando os Doze: “O Filho do homem vai ser entregue aos chefes dos sacerdotes e aos doutores da lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios novamente...” Só Marcos fala que os sacerdotes condenam Jesus à morte, 10, 32-34. 

   6.       Os discípulos não entendem, brigam pelo poder. Jesus destaca a sua missão: o Filho Human veio para servir como um escravo, e para dar a sua vida como o resgate em favor de muitos. Jesus assumiu o papel do Servo de Javé.10,35-45;

           Enlace: No caminho o cego Bartimeu vê e segue Jesus 10. 46–52.



                           EM JERUSALÉM:

VII A  JULGAMENTO DE JESUS SOBRE O CENTRO

VII B  O CENTRO CONDENA JESUS


VII A. Confrontação com o centro 11,1-15,41; 

1.      Ações proféticas de Jesus 11,1-26:
Entrada em Jerusalém:11,1-11: Muita gente exclamava: ¨Hosana! Bendito seja em nome do Senhor aquele que vem!:¨
Depois cada Evangelho concretiza: Bendito seja o reino que vem¨ (Mc 11,10)
Hosana ao filho de David! (Mt 21,9) O rei, paz no céu (Lc 19, 38) Jerusalém não terá paz.  O rei de Israel (Jo 12,13). Pilatos: Rei dos judeus.

A entrada em Jerusalém concretiza as falas do profeta Zacarias II: Não como Alexandre Grande, que conquistou o mundo com poder e cavalos, Jesus entra num jumentinho. Muitos diziam:“Bendito aquele que vem em nome do Senhor, bendito seja o reino que vem, o reino de David, nosso pai”. Expectativa deles: Jesus vai restabelecer o reino de David, de Israel contra a ocupação dos Romanos (At 1,6). Jesus volta para a Betânia, não fica na cidade.
            A figueira estéril 11,12-14 Sinal de advertência para os sacerdotes: “Nunca mais alguém coma de teus frutos” (11,14)

  No templo 11,15-19; Expulsão dos vendedores no átrio dos gentios, o templo uma caverna de bandidos, mas não uma casa de oração para todas as nações. Veja Jr 7 e 26. Jesus expulsa os vendedores e cambistas, fizeram da casa de Deus uma caverna de bandidos.  O judaísmo procurava segurança na lei e daí considerava a ofensa contra a lei, mesmo por inadvertência ou descuido, como pecado (Lv 4,2). O pecado gerava uma desordem, que exigia a reparação através de sacrifícios ou ritos de absolvição. Os sacerdotes procuravam como Jesus perecer, porém temiam a massa, Jesus sai da cidade.
De manha a figueira seca. Para quem tem fé, tudo é possível, pode perdoar  (11,15-26).
Enlace: 11,27 Jesus ia e vinha no templo.



2.      Controvérsias com o centro 11,28-12,34;
 A autoridade dos profetas só vem de Deus e não da descendência  sacerdotal (11,27-33).                                                                                                              
Contra os sacerdotes: a vinha será confiada a outros, fica aberto quem são os outros. Medo dos sacerdotes diante da massa (ochlos) 12,1-12.                                                          
Imposto, um tema quente dos fariseus, o denário com a imagem do Cesar. Mexer com esta imagem seria idolatria. Devolver a Deus significa devolver o que é do povo de Deus (12,13-17).
Sobre a ressurreição: Os Saduceus querem segurar seu poder, ressurreição é insurreição contra o poder. Jesus recorre ao Deus vivo dos pais (12,18-27).
 O primeiro mandamento (palavra) é  amar.  Por isso o Escriba não está longe do reino,  (12,28-34).
Enlace: 12,34c-35a; Jesus ensinava no templo.

3.      Correções e denúncias: 12,35b-13,2

O centro até os discípulos esperam um messias poderoso como David. Como os escribas podem dizer que o Messias é o filho de David? O próprio David chama-o Senhor. Uma crítica à figura do Messias. Uma grande massa escuta Jesus com prazer. (12,35-37).
 Cuidado dos escribas, que devoram os bens das viúvas (12,38-40).
 Cena final no templo será uma viúva, o verdadeiro exemplo da fé: a viúva tira tudo da sua miséria (12,41-44).
Jesus se retirava do Templo. ¨Não ficara pedra sobre pedra¨( 13,1-2)
Enlace: pergunta sobre o fim do Templo 13,3-4. 

4.Um discurso apocalíptico 13,5-37

           Frente às conflitos histórico: discernimento 13,5-23: Naquele tempo várias gerações esperavam o fim do mundo. O Evangelho usa esta expectativa apocalíptica. Jesus se retirava do Templo e agora está sentado no monte das Oliveiras. Cuidado dos falsos profetas, o verdadeiro profeta vai ser perseguido. Cuidado de quem instala “o Abominável Devastador”, uma linguagem típico apocalíptico, que não expressa um tempo histórico, mas simbólico. Em qualquer tempo a atitude dos discípulos atentos será a vigilância.

            Frente ao chegado à vinda do O Filho do homem: esperança virá rodeado de nuvens e reunirá seus eleitos (Mc 13,24-31).

           Frente ao presente: vigilância 13,33-37;


         VII B  O CENTRO CONDENA JESUS

            Juízo dos poderosos sobre Jesus

                  Os sumos Sacerdotes e escribas procuravam prender Jesus (14,1-2), porem têm medo do povo (laos), os fariseus não aparecem.

  Jesus em Betânia na casa de Simão, o leproso (14,3-9), não pode ser o leproso Zarua. Já a entrada na casa de um leproso fez impuro, precisa corrigir e falar do Zanua, que significa um Essénio. Alguns criticam a desperdício do perfume, podem ser Essênios, que praticam uma pobreza extrema.

           Judas foi ter com os sacerdotes para entregar Jesus, não se fala da traição, mas sim da entrega. (14,10).Jesus disse: “Melhor fora para este homem não ter nascido”.

           A refeição pascal 14,12-30: um homem carregando uma bilha de água. Carregando água foi a tarefa das mulheres, neste caso pode ser um Essénio solteiro, não casado. “Tomai”: Cada convida tomava diretamente e com a mão seu alimento no prato comum. “O sangue da aliança, derramado em prol do muitos” é a mesma de Ex 24,8.

            No monte das Oliveiras Jesus disse: ¨Todos vós ides cair (14,26-31) Mas, depois de ressuscitado, preceder-vos-ei na Galileia¨. . 

          No Getsêmani  Jesus reza (14,32- 42): ainda pode fugir: “Não o que eu quero, mas o que tu queres”  Sobrevém Judas com um bando armado de espadas, soldados romanos, e paus, guardas do templo, Judas dá um beijo (14,43-52).

Jesus perante do Sinédrio (14,53-65): A primeira acusação é mais  pesada: a destruição deste santuário. Do mesmo jeito Jeremias (26) foi condenado à morte. Secunda acusação: “És tu o Messias, o Filho de Deus?” (veja 1,1). Não foi uma blasfêmia, Jesus não pronunciou o nome de Deus. “Todos o condenaram como digno de morte” (14,64). (Mateus 26,66 é menos explícito, só diz: “Ele merece a morte”, Lucas 22,71 não menciona este veredicto.)

 Jesus perante Pilatos (15,1-15): Logo de manhã deliberaram em conselho e entregaram Jesus a Pilatos, que pergunta: Tu és o Rei dos Judeus? “Tu o dizes” (15,2).

 Aparece agora a massa excluída pede como costume a liberação de alguém na Páscoa. Barrabás foi a cabeça de um motim contra o imperador romano Os sacerdotes incitaram a massa a pedir Barrabás. Barrabás representa o grupo violento dos Sicários em Jerusalém que querem guerra contra Roma.

Na crucificação (15,16-47) os transeuntes insultavam Jesus como destruidor do Santuário (15,29). O véu do santuário rasgou-se em duas partes (15,38), é o sinal de que acabou o culto do Sacerdócio no templo. O centurião romano confessou: “Este homem era Filho de Deus”. Jesus já foi proclamado Filho de Deus no início do Evgl.. As mulheres olhavam, à distância. (15,40).

            As mulheres foram ao sepulcro:

              Um Jovem avisa que precisa buscar Jesus em Galileia: Jesus tinha falado: ¨Mas depois de ressuscitado, preceder-vos-ei na  Galileia¨ (14,28). Por medo falaram nada a ninguém. (16,1-8). Precisa de novo voltar ao início do Evangelho que começou em Galileia.

            Apêndice: 16,9-20: Aparições de Jesus. A tradição manuscrita é muito incerta.


                                                   

O Evangelho de Mateus


¨Existe consenso, atualmente, que o Evangelho de Mateus foi escrito na cidade de Antioquia nos anos 80 d.C. Seu autor seria um escriba judeu-cristão, helenista... (Antioquia era a terceira major cidade do Império Romano).
No ano 70 Jerusalém foi arrasada pela guerra judaica contra Roma. O único grupo que se salvou foi os dos fariseus... Estes rabinos fariseus fundaram a Academia ou Sinédrio de Jâmnia ou Jaíne, nasceu aqui o chamado judaísmo rabínico que se apresentou como a única reconstrução autêntica e legítima da tradição de Israel depois da crise do ano 70...
O movimento de Jesus...procurou reconstruir a tradição de  Israel de uma forma alternativa e diferente do judaísmo farisaico. Jesus era o Messias e Filho de Deus...os cristãos de Antioquia entraram em conflito com as sinagogas e chegaram a sofrer uma aberta perseguição. Neste clima nasceu o Evangelho de Mateus¨. ( Ribla 27 p.
Mateus  se refere ao Evangelho de Marcos e à fonte ¨Q¨
Sua intenção é mostrar a passagem de Israel (am) para os povos (gojim).
O Evangelho termina com a missão para  todas as nações, sejam judeus ou gentios (28,16-20).

1.     Prefácio: O nascimento de Jesus em Belém


No prefácio Mateus, contando a infância de Jesus, coloca seu tema do Evangelho: a aliança que comecou com Abrão.
Nas genealogias,que são um tema dos escritos sacerdotais, contam-se três vezes quatorze homens que geram filhos (o homem gera). Quatro vezes aparecem mulheres, delas nascem os filhos: Judá gerou Farés e Zara, de Tamar, Salmon gerou Booz de Raab, Booz gerou Jobed, de Rute, David gerou Salomão da mulher de Urias (1,5;). Todas estas mulheres não são legitimamente casadas.
            O gerador da gravidez de Maria falta, .ela está grávida da Espírita Santa, o autor quer destacar o mistério da fé e não falar da biologia. Sempre o texto falava “de” uma mulher. destacando a força feminina que dá à luz. O que foi gerado em Maria provém “do” Espírito Santo . ¨Sempre quando Espírito aparece sem artigo refere-se ao poder criador de Deus que transforma situações e condições¨ (Ribla 44 p.55). Agora aparece o artigo, o autor, um judeu, sabe que “ruach” é feminino,  a profissão da fé proclama: Creio no Espírito Santa que dá à luz. O Espírito Santo não é o gerador de Jesus. O Pai gera o Filho. Mas é a mulher que dá à luz da Esspírita Santa.. Por isso devemos corrigir o gênero e traduzir “da Espírita Santa”,

José, um homem justo cumpre a justiça:
Conforme a lei (Dt 24,1) José “deve ser autêntico por um certificado oficial.” e denunciar Maria conforme à justiça legalista do sacerdócio sadoquita que conduz à exclusão, finalmente à morte.
Ele sente que isso é injusto, a lei conduz à morte.  Ele decide repudiar Maria secretamente para ficar livre do problema.
            Isto não dá certo. Aparece um anjo no sonho: ¨Não temas receber em tua casa Maria, pois o que ela concebeu é da Espírita Santa. José cumpre a nova justiça: a nova e plena justiça que não rejeita  mas sim aceita,
Jesus dirá “Não penseis que vim ab-rogar a Lei ou os Profetas, mas cumprir.” E se dirigindo se aos discípulos Jesus diz (5,20): “Se a vossa justiça não ultrapassar a dos escribas e dos fariseus (os fariseus após Jâmnia) de modo algum entrareis no Reino dos céus.” 

             O Evangelho se dirige a todos os povos:
Os Magos do oriente, guiados por uma estrala, são estrangeiros: Eles cumprem  todas as promessas dos profetas sobre o futuro: Jerusalém, “a fortuna das nações virá a ti (Is. 60)”. Há em Jerusalém o poder político, o corrupto Herodes e o poder religioso, sacerdotes e escribas que sabem, mas não fazem, o que os profetas anunciam: O Rei dos Judeus (rei dos judeus 27,37) não nasce em Jerusalém, o Messias vem do campo de Judá como Miquéias falou: “o chefe que apascentará Israel, meu povo (2,6)”.
 A fuga para o Egito lembra Javé o libertador das tribos de Israel: “Do Egito chamei meu filho”. A exterior apresenta mais seguro.
Finalmente José escolhe a região da Galileia, a Galileia das nações (Mt 4,15) e mora em Nazaré. Jesus será chamado: o Nazareno.

2.     A vocação do Nazoreu: A voz do céu chama: Meu Filho


             João, o Batista, (3,2) proclamava: “Convertei vos, o Reinado dos céus aproximou-se...toda  árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo.” ¨Eu vos batizo com água, ele vos batizará na Espírita Santa (3,11)
            Agora Jesus vem cumprir toda a justiça, - é a primeira palavra de Jesus - que não só vale no batismo, mas durante toda a sua vida até a morte.
            A Espírita de Deus desce sobre ele como uma pomba. A voz do céu: “Este é o meu Filho bem-amado, aquele que me aprouve escolher.” Quem chamou o seu filho do Egito, chama agora seu filho para uma missão como o servo de Javé, vestido com o seu espírito. (Is. 42,1).

¨Se és o filho de Deus¨ As tentações vêm da fonte ‘Q’: Aqui temos o esquema de todas as tentações que Jesus encontrará na sua atividade (4,1). O que significa  isso para Jesus, o que significa isso para os contemporâneos ?
  
            O deserto alude à tentação do povo no deserto: Naquele tempo o povo quis voltar para o Egito, tinha nojo deste maná, preferiu a escravidão à luta pela liberdade. Jesus vai enfrentar a mesma tentação, o povo quer sempre pão e jogos que sacia o desejo dele e que não  lutar pela liberdade. Jesus vai anunciar a palavra de Deus que liberta  o povo.
            O templo: A tentação vem do sacerdócio na cidade santa: o Templo é da competência dos sacerdotes, das escribas com a bíblia na mão, que explicam a palavra de Deus conforme o jeito deles, querem poder encima de Deus: Joga ti pra baixo. A tentação mais perigosa é o Satã no religioso. Lá vão levantar Jesus na cruz..
            A montanha: A tentação dos políticos numa montanha muito alta, onde se veem os reinos do mundo e as suas riquezas. Aqui o confronto com o poder político, finalmente representado por Pilatos. Jesus não será um homem poderoso, mas o servo Deus.  Não pode servir a Deus e ao Mamom, o deus da riqueza.


3. Jesus escolhe Galileia

            “O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz, para os que jaziam na região da morte levantou-se uma luz.” (4,16). É a Galileia das nações, dos impuros, dos abandonados na região da morte. Para eles aproximou-se o reinado dos céus.
            “Sua fama espalhou-se por toda a Síria” (4,24) Mateus já menciona a Síria, pois lá , ou mais certo em Antioquia , foi fundada e secunda grande igreja após a mãe igreja de Jerusalém. A mulher Cananéia da região de Tiro e Sídon seria simbolicamente a mãe desta igreja? (15,21)

            O Rabi ensina
    O Sermão da Montanha:
            Ao ver as massas marginalizadas (ochlos) Jesus subiu à montanha. Moisés tinha anunciado a aliança a seu povo (am) no monte de Horeb. Agora Jesus anuncia a nova aliança: o reino de Deus a estes massas, a todos os povos (gojim, gentios, não pagãos). Ele é o mestre, rabi, não como os escribas. Os discípulos ensinarão o que ele ordenou como antes Javé ordenou (28,20).
            Jesus ensina os discípulos nas bem-aventuranças: na primeira parte Jesus toma parte daqueles que vivem nas trevas da morte no mundo inteiro, é a opção universal e não nacional, quer dizer a preferência pelos empobrecidos da classe oprimida de todos os povos, não só de Israel.
 Na secunda parte o Evangelho chama todos que querem praticar solidariedade com exstes miseráveis do mundo. Mateus não proclama um “Ai” aos ricos como Lucas, ele alerta para atitudes positivas. Jesus chama todo mundo, não só judeus com a sua lei, mas todos de boa vontade. Temos diante de nós uma proclamação dos direitos humanos.

   a) Felizes os pobres no espírito, deles é o reino dos céus.
            Seguimos o Terceiro Isaias: “Enaltecido e santo eu permaneço, embora estando com aquele que é esmagado e que no seu espírito se sente rebaixado” (57,15). “Mas é para este que olho: para o humilhado, o que tem o espírito abatido” (66,1-2); Jesus escolhe os miseráveis, deles é o reino.
          Felizes os humildes: seu quinhão será a terra:
            Nota bem: promete a terra e não o céu. Os humildes são os amansados, os aflitos e humilhados pela dura opressão social, política e religiosa cfr. S  18,28; 35 (34), 10; 37 (36), 11; os ´anavim´. Não se trata de uma virtude, Jesus toma partido. A eles será doada a terra prometida.
Felizes os que choram, eles serão consolados:
            O terceiro Isaias falou: “confortar todos os enlutados” (Is 61, 2) Seria mais adequado pensar em todos que gritam a Javé: ”Até quando?” No Apocalipse ele me disse: “Eles vêm da grande tribulação... e Deus enxugará toda a lágrima de seus olhos” (Ap 7,14 – 17).
Felizes os que têm fome e sede da justiça: eles serão saciados:
A realidade da fome e sede no mundo atual é um problema da justiça. A terra produz bastante alimento.¨ Dá bastante para a nossa carência, mas não para a nossa ganância¨.. O que é injusto a gente sente e sabe, o que é justiça, dificilmente podemos imaginar.

b)      Felizes os misericordiosos, ele alcançarão misericórdia;
          Deus é misericórdia, ele tem solidariedade com os oprimidos. Jesus vendo as massas excluídas tomou se de compaixão (Mt 9,36). ”Sejam misericordiosos, como eu sou misericordioso”. No juízo final entrarão no reino aqueles que praticaram a misericórdia sem saber que serviram com isso ao filho humano. (25,31)
Felizes os corações puros: eles verão a Deus.
             Esta frase se dirige contra a hipocrisia dos fariseus com a sua religiosidade, cumprindo a lei e se julgando justos. O coração puro vê a realidade, fala a verdade. Pela primeira vez aparece o nome Deus. Quem fala e pratica a verdade vê a Deus.
Felizes os que promovem a paz, eles serão chamados filhos de Deus.
  A paz não significa se submeter às autoridades e ficar calado. “Nada de secreto que não venha a ser conhecido. Eu não vim trazer a paz e sim a espada” (10,26...). A paz será fruto da verdade e justiça. E está certo: a paz se alcança pelo perdão onde tem arrependimento. Esta é a mensagem do Ressuscitado. Quem luta pela verdadeira paz, será um filho ou filha de Deus. ( Não aquele que cumpre a lei).
Felizes os perseguidos por causa da justiça, deles é o reino.
            De novo: Eles, os defensores dos direitos humanos, sofrem injustiça, aqui não por causa de Jesus, mas por causa da justiça. Eles podem ter a certeza, que o reino é deles, mesmo se a igreja não os declara santos
  Felizes discípulos perseguidos por causa de Jesus, são como os profetas.

          O cumprimento da Torá (5,13-7,28):

             Continua o ensinamento dos discípulos: Jesus não veio ab-rogar a Lei e os Profetas mas cumprir na tradição ¨das falas de Moisés e dos profeta¨. (Mt 5,17). A justiça dos discípulos deve ultrapassar a dos escribas e fariseus contra a prática do judaísmo após de Jámnia.

Aprofundamento da secunda parte das 10 Palavras (5,21-42).

          Amor é a prática da fé (5,43-48): “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo” foi a interpretação dos escribas que aconselharam: odiar os inimigos, trata-se de  um comentário dos rabinos. Falta  “como a ti mesmo”, o que devia ser traduzido: ”Ele é como tu”.  No Lv 19 foi falado amar ao próximo, quer dizer ao concidadão (Lv19,18) e ao imigrante, quer dizer o estrangeiro, pois você foi imigrante no Egito (Lv 19,34). Podemos falar: amar ao outro, ele é como tu, amar até os inimigos.
             
Veja o extremo Oriente:  A Máxima, chamada “Regra de Ouro”
                O chinês Confúcio 551-479 aC. foi um dos primeiros a articular a regra de Ouro. Seus discípulos devem cada dia praticar este ensino, o mais importante para a vida, chamado <ren>. A religião não pode ser separada do altruísmo, tratar o outro com absoluto respeito.
            No Canon Páli o “Buda” Gautama, nascido por volta 563 aC. na Índia se diz: “Como eu sou, estes são; como estes são, sou eu. Se assim um homem se iguala ao outro, não quer matar ou se deixar matar”. “Respeitando a mim mesmo eu respeito o outro, respeitando o outro eu respeito a mim mesmo”.
As tradições de Maomé (Hadithe) ensinam: Ninguém é um muçulmano verdadeiro enquanto não deseja para o seu irmão o que deseja para si. “Deseja aos outros homens, o que desejas para ti”.
           
 O pai Tobit na diáspora ensina o filho: “O de que não gostas, não o faças a ninguém”. Tobit 4,15.
            O Rabi Hillel (30 a.C.- 9 d.C.) ensinava esta regra de ouro, ela é universal: “O que não queres para te, não faças ao outro. Isto é o que a Torá ensina. O resto é explicação”.
 Mateus usa a formula positiva: “Tudo aquilo que quereis que os homens façam a vós, fazei-o vós mesmos a eles: esta é a Lei e os Profetas”(Mt 7,12). Mateus valoriza o ensinamento dos gentios porque o Evangelho será para todos, judeus e povos.

  Os concelhos em relação ao culto, à religião são poucas (6,1-18).
A prática da religião deve acontecer no oculto, não diante dos homens porque Deus está no oculto:  Esmola (6,1-4), oração com o Pai nosso (6,5-15) ¨ se perdoares aos homens as suas faltas, vosso Pai celeste também vos perdoará vossas faltas¨,(6,1-18), jejum 6,16-18.
            
 Seguem concelhos:  (6,19-7,27).

As massas ficaram impressionadas com seu ensinamento,
Jesus ensinava com autoridade, não como os escribas (7,28-29).

           O mestre pratica o que ensinou
           
  Jesus desceu da montanha, seguiram-no grandes massas (8,1). Começa a prática de Jesus:
Jesus purifica um leproso.
            Ele elogia o oficial Romano: “Nunca encontrei uma fé igual a essa em ninguém de Israel” (Mt.8,10). A massa marginalizada disse: ¨Nunca se viu algo assim em Israel¨ (9,32-34) Cura da sogra de Pedro, exorcismo, as massas em redor de Jesus (8,18). Os homens, os não crentes (TEB) maravilharam-se (8,27)
 O filho do homem tem autoridade (do Pai, não do poder dos sacerdotes) na terra para perdoar os pecados (9,6;). Os sacerdotes no templo vão questionar: ¨E quem te deu tal autoridade? (21,23) As massas deram glória a Deus (9,8;).
Ele chama um pecador Mateus, Deus quer misericórdia e não sacrifícios (9,13). Uma mulher que padecia hemorragias tem fé (9,21) A menina despertou e a notícia se difundiu (9,25; 9,31). Critica dos fariseus (9,34). A massa excluída fica sem pastor (9,35-38).
 Por isso o chamado dos doze apóstolos, Jesus os ensinou e enviou com instruções. Eles vão ser perseguidos, Jesus não traz a paz, mas a espada.  Terminando as instruções Jesus prega nas cidades  (10,1-11,1;)

              A reação às atividades de Jesus:

Pergunta de João e declaração de Jesus: ¨Não surgiu ninguém maior  que João; e todavia, o menor no reino dos céus é maior do que ele¨(11,11;).¨O reino dos céus é assaltado, são violentos que o roubam¨ ( duas vezes aparece a palavra ´roubar´).
 Contra as cidades de Galiléia Jesus diz “Ai“ enquanto Tiro e Sidônia na Síria vão encontrar uma sentença menos dura (Mt.11,22). Preferência dos gentios.
Revelação aos pequeninos (naepíos, menores) 11,25-30:  a revelação nos lembra como Javé escolheu e se manifestou aos profetas, veja Dn 2,18-19. Jesus louva o Pai pela revelação dessas coisas aos pequeninos e não aos sábios e inteligentes 11,25-27). Os pequeninos são os portadores da revelação. Jesus tem mutuo conhecimento do Pai, a sua autoridade tem aqui sua raiz. Como o Pai revela de mesmo modo o Filho revela os mistérios do Reino a quem ele quer.

 Na interpretação judaica o jugo leve é a Tora. Jesus como a sabedoria personificada  chama todos àqueles que estão cansados de carregar o peso da lei (11,28-30)  Jesus traz um novo jugo que é leve, porque ele é manso e humilde (21,5). Jesus é a nova Torá e proclama a alegria do reino. O Evgl. de Tomé fala que o jugo de Jesus é manso e seu domínio é humilde.
             Agora Jesus revela os mistérios do reino aos que estão cansados sob o peso da lei, ele encontrarão repouso.
            Os fariseus defendem a lei do Sábado, mas aqui há algo major do que o Templo, Deus quer misericórdia, o Filho humano é Senhor do Sábado (12,1-8). .
 Jesus é o Servo de Deus, para a massa ele deve ser o filho de David, para os fariseus Jesus é o chefe dos demônios. Jesus replica: quem fala contra o Filho humano, será perdoado, mas quem fala contra a Espírita Santa, isto não lhe será perdoado. “Porque você será justificado por suas próprias palavras, e será condenado por suas próprias palavras.” (12,15-37).
Os fariseus buscam um sinal (não um milagre): o Filho do Homem estará no seio da terra. A verdadeira família de Jesus é aquela que faz a vontade do Pai (12,38-50).

 O reino e seus inimigos, as parábolas (13,1-53):
. Falando de João Batista Jesus tinha dito (11,12): ¨O reino do céu está violado e violentes roubam o reino ¨ (13,19).
 Agora Jesus saiu da casa e sentou-se à beira do mar, ensina muitas coisas às massas:
 Todas as parábolas são tiradas da vida cotidiana do homem e da mulher.
1. Parábola do semeador (O Filho do homem) semeava a semente (a palavra). Na explicação (13,10-17)  são primeiro os próprios Israelitas que olham sem ver e ouvem sem ouvir nem compreendem (Is 6,9-10). ao passo que é dado aos discípulos. (13,11), Interpretação: Jesus semeou a semente na terra (13,18-23) para todos os que têm ouvidos. Vem o Maligno e o rouba (13,19) A rejeição do reino começa no coração dos ouvintes.
2,Parábola: O joio (13,24-30)
Durante toda história o servos do Dono  atacam e querem sufocar o reino: arrancando o joio com o trigo. Os servos, podemos pensar nas autoridades da igreja,- a igreja não é o reino-  condenaram e  arrancaram sempre seus adversários, mas o juízo não  é deles. ¨Deixai que ambos cresçam  até a ceifa¨. Explicação do joio:13,36-43.
3.Parábola (13,31-33) O grão de mostarda e o fermento da mulher: Apesar de tanta inimizade o reino cresce, precisa de esperança na semente do reino.
4. Parábola: 13,44-46: tesouro e a pérola: mesmo os ricos podem descobrir o reino, mas para ganhar precisa vender tudo.
5. Parábola: Os pescadores 13,47-50: Os pescadores representam os anjos no fim do mundo. Só o Dono fará o juízo.
As parábolas servem para proclamar coisas escondidas aos menores (13,34) com o fim de compreender os mistérios do reino. Jesus terminou essas parábolas, partiu dali (13,51-53).


Rejeitado na sua pátria, 
controvérsias com escribas e fariseus
Jesus rejeitado na sua pátria, Nazaré e na sua família: ¨Donde lhe vem essa sabedoria e as ações poderosas? (em grego: dinamismos) Jesus: ¨Um profeta só é rejeitado em sua pátria e casa  (13,54-58).
Morte de João Batista por Herodes Antipas, filho de Herodes Magno, numa festa deixa degolar João Batista, o profeta.
 Jesus foi informado e retirou-se dali, de barco. As massas excluídas o seguiram de pé. Tomado de compaixão curou seus doentes e manda partilhar os cinco pães e dois peixes com a grande massa, foram cinco mil homens fora as mulheres e crianças. . Jesus anda sobre as águas (14,1-36).
Controvérsia agora com os fariseus e escribas de Jerusalém sobre a lei da pureza. Os escribas no tempo do Evangelho agravaram a lei de pureza mandando lavar as mãos ao tomar as refeições, uma tradição humana. A observação da pureza é superficial, falta de fé  (15,1-20).
 Jesus se retira perto de Tiro e Sidônia onde uma mulher Cananéia convence Jesus que os povos, chamados os cachorrinhos pelos judeus, vivem também das migalhas dos senhores. (Mt. 15, 21 -28). Uma mulher estrangeira converte Jesus para os povos.
 Jesus se dirigiu às cercanias do mar da Galileia. Agora ele tem compaixão com os coxos, cegos, aleijados,  Uma secunda partilha do pão com a massa, desta vez tem 7 pães, que simbolizam todos os povos. Dalmanuta (Mc 8,10) e Magadan são localidades desconhecidas (dos povos?) (15,29-39).
 De novo controvérsia com fariseus e saduceus, os discípulos pensam  que Jesus falou do fermento dos pães. ¨Acautelai-vos do fermento deles¨!  (16,1-12)

4) Jesus e a igreja

Saída de Galileia,  caminhada para o monte 16,13-20,34

Mateus seguindo Marcos sai da Galileia para o Norte e faz uma revisão da atividade em Galileia. Para os homens Jesus é um dos profetas (16,13). No Evgl. de Marcos Pedro confessa: ”Tu és  o Cristo (Mc 8,29; Lc 9,20 o Cristo de Deus). Mas os discípulos pensam num messias poderoso como David. Logo Jesus ensinou que o Filho do Homem sofresse muito (Mc 8,31).

Agora no Evgl de Mateus Simão Pedro confessa : ”Tu és o Cristo,  o Filho de Deus vivo“ (Mt 16,16) uma expressão única no NT. “Filho de Deus vivo“ é  um título do Ressuscitado (Ro 1,3). Ser Filho de Deus vivo é uma revelação de Deus,

A igreja: inserção de Mateus

Mateus está na igreja de Antioquia (At 15,3) em torno de anos 90. O termo igreja, assembleia em hebraico, aparece pela primeira vez nos AT 8,1, e designa a igreja em Jerusalém. Jesus nunca usou o termo igreja.
  Pedro, que tinha negado seu mestre três vezes, se converteu pelo fato da ressurreição. Três vezes ele foi para a cadeia (At 4,3; 5,17; e 12,1) anunciando que Jesus “crucificado por vós, ressuscitado por Deus” Deus o fez Senhor e Cristo, Príncipe e Salvador. Depois Pedro sumiu de Jerusalém e foi para outro destino (12,17). Conforme Gl 2,11 Cefas foi para igreja de Antioquia e estava em conflito com Paulo, Mais tarde Pedro interveio em Jerusalém em favor dos gentios (At 15).
 Mateus encaixa aqui  a importância da igreja.
Jesus declarou a Simão: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja. A sinagoga dos judeus mudou para a nova comunidade, a igreja.  A Potência da morte não terá força contra a igreja.
 As chaves do reino não mais são das autoridades de Israel que fecham o reino para as pessoas (Mt 23,13) mas dadas a Pedro. Mais tarde (18,18) todos recebem a autoridade de ligar ou desligar.: “Se teu irmão pecar” (18,15...), são acusações típicas dos fariseus e escribas (Lv 4: se alguém pecar por inadvertência, precisa  oferecer sacrifícios). Agora  precisa fazer admoestações aos pecadores:  Finalmente, “Se ele recusar ouvir a própria igreja seja para ti como o pagão e coletor de impostos.” (18,17). Isto é totalmente contra a prática de Jesus.  A igreja será melhor do que a sinagoga? Ela fala e pratica no Espírito de Jesus? Rezar e perdoar, isto são as chaves do Reino (18,18-35) As chaves do reino são perdão e misericórdia e não exclusão.

Primeiro anúncio da paixão:
 Jesus Cristo mostra que deve sofre em Jerusalém.. Pedro: Deus te livre disso, Senhor. Jesus: Satanás, pois teus intentos não são os de Deus, mas dos homens (16,21-28).
Condições para seguir Jesus: renunciar a si mesmo e tomar sua cruz. Renunciar a si mesmo significa, largar os desejos dos homens e escolher os intentos do Evangelho.

Transfiguração numa alta montanha:

No monte Deus falava a  Moisés, Elias e aos profetas. (17,1-10), Jesus está na tradição profética. Seus intentos são de Deus.  Já no sermão da Montanha Jesus anunciou as intenções de Deus. O anúncio da paixão e ressurreição é tão novo e inesperado que precisa a intervenção de Deus:: Ouvi-o. Deus, o  Pai não  fala mais através dos profetas, mas diretamente por seu Filho. Os discípulos estavam cheios de temor.

Secundo anúncio (17,22)
            Da Cesareia precisa passar por Galileia: ¨O Filho do Homem vai ser entregue às mãos dos homens¨.
 Recomendações para o verdadeiro Israel: a igreja (17,24-18,14). O maior no Reino: a criança. Ai dos escândalos (18,1-14). Perdoar (18,15-35)

A viagem de Galileia para Jerusalém 19,1-29,34

Jesus partiu da Galiléia, veio para e território de Judéia. Diferente de Lucas Jesus não  passa por Samaria, Jesus evita pisar a terra dos dissidentes. Uma grande massa segue Jesus. Tema central  na viagem é o reino de Deus.
Os fariseus querem prová-lo: A lei permite repudiar a mulher por qualquer motivo ?  Jesus recorre ao plano de Deus na criação: O que Deus uniu, o homem não separe. defende a mulher.  Já há caso de separação:
A reação dos discípulos: depois não convém casar-se. Jesus: há eunucos por causa do Reino dos céus (19,1-17).
De novo a preferência das crianças; os discípulos querem afastar as crianças. O Reino é das crianças (19,13-15).
 Um jovem rico pergunta, o que ele deve fazer para ter a vida eterna. Mateus só cita a secunda parte das Dez palavras e a junta o amor a próximo.  Dificilmente um rico entrará no Reino, não consegue deixar tudo
 Quem deixou tudo por causa do nome de Jesus:: Quando o Filho do homem toma assento no seu trono, vós também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel (19,28)..
            Temos as mesmas idéias  no reino dos mil anos no Apocalipse: ¨Vi alguns tronos e aos que estavam neles sentados foi dado poder para fazer justiça. Vi também com vida os que foram decapitados pelo testemunho de Jesus e da palavra de Deus e todos que não adoraram a Besta...reviveram e reinaram com Cristo mil anos ¨ (Ap 20,4-6)
Um texto que fez muita história, com força libertadora. Os que se sentaram no trono são os que foram decapitados e que não adoraram a Besta, que vieram da grande tribulação (7,9-17), eles estão vivos e fazem a justiça. Eles são os mesmos de 6,10, que gritavam por justiça.
No NT há muitos testemunhos acerca deste Reino de Deus sobre a terra:  cf. Mt 19,28; Lc 22,28-3-; At 3,21; 1 Cor. 15,21-26; O Magnificat de Maria seria um desse julgamentos.para seguir Jesus (19,16-30).
O reino dos céus  é comparável a um senhor da casa que entrega o reino futuro aos trabalhadores. Os primeiros foram os judeus, os últimos serão os seguidores de Jesus. Deus paga seus operários conforme o contrato, mas ele é bom para com os últimos (20,1-16)

Terceiro anúncio (20, 17)
Subindo para Jerusalém Jesus dava o nome aos adversários do Filho do Homem: os sumos sacerdotes e os escribas: eles o Filho do homem condenarão à morte e o entregarão aos gentios (20,18). Lucas não menciona a condenação pelos sacerdotes (Lc 18,31).
. Os filhos de Zebedeu querem sentar-se à direita e esquerda de Jesus, mas precisa servir: O Filho do Homem veio para servir e dar sua vida em resgate pela massa marginalizada (20,20-28).
 Saindo de Jericó  dois cegos vêem e seguem Jesus (20,29-34).

5.     Em Jerusalém: Bendito seja, aquele que vem!

A memória de Jesus pode ser a chave da verdadeira releitura de Zacarias II: A entrada de Jesus em Jerusalém: Zc 9,9 > Mt 21, 12-13; A saída dos vendedores do Templo: Zc 14,21>Mt 21, 12-13; As trinta moedas: Zc 11,12-13 >Mt 26,15; As ovelhas: Zc 10,2 >Mt 9,36; O bom pastor: Zc  13,7>Jo 10; A morte do pastor: Zc  13,7; O traspassado: Zc 12,10>Jo 19,37; Ap 1,7; (Ribla 35, p.235)

Eis que teu rei vem a ti, humilde e montado numa jumenta¨ (21,1-11).
Jesus entra em Jerusalém num jumento contrário a Alexandre o Grande, que conquistou o mundo inteiro com cavalaria e soldados. Jesus é saudado como filho de David, não se fala da paz, em Jerusalém não terá paz. Muita massa estendeu as vestes sobre o caminho.

Muita gente exclamava:      
¨Hosana! Bendito seja em nome do Senhor aquele que vem!:¨
Depois cada Evangelho concretiza::
Bendito seja o reino que vem¨ (Mc 11,10)
Hosana ao filho de David! (Mt 21,9)
O rei, paz no céu (Lc 19, 38) Jerusalém não terá paz.
O rei de Israel (Jo 12,13). Pilatos: Rei dos judeus.

Mateus e Lucas conhecem a destruição de Jerusalém no ano 70. Jerusalém deve ser purificada (Zc 12,10): “Eu derramarei sobre a casa de Davi e sobre o habitante de Jerusalém o espírito de boa vontade e de súplica; Erguerão então o olhar para mim. Por aquele a quem traspassaram celebrarão o luto como pelo Filho único. Vão chorá-lo amargamente, como se chora por um primogênito.” (Zc 12,10;).

A cidade, que não conhece Jesus, está sacudida como num terremoto: “Quem é?“ A massa responde: “É o profeta Jesus de Nazaré de Galiléia” (21,11). Jesus rejeita as ambições dos militantes da cidade, ele é o filho humano, homem da paz..

Contra os sacrifícios dos sacerdotes:
            A expulsão dos vendedores significa mais do que uma limpeza do Templo: Até o ano 70 foram oferecidas sacrifícios de manha e à tarde. Jesus rejeita a lei dos sacerdotes que exigem sacrifícios para agradar a Deus, fizeram da casa de oração uma caverna de bandidos. Jesus saiu da cidade, passa a noite em Betânia. (21,12- 17).
            Se - cumpre o que João Batista dizia: “Toda árvore que não der fruto será cortada e lançada ao fogo¨ (3,10). A figueira nunca mais produzirá fruto, a figueira representa o sacerdócio, que não dá fruto, ao contrário deles os discípulos devem ter fé (21,18)
            Logo os sacerdotes e os anciãos do povo (laos, 21,23;)) questionam a autoridade de Jesus. Quem ordena em nome de Deus, não são os sacerdotes. Jesus refere-se a João Batista que foi um profeta, chamado por Deus. Do mesmo modo precisa ter fé em Jesus.

  Seguem Parábolas: o primeiro filho não quer trabalhar na vinha, ele simboliza a massa excluída, mas ele se arrepende e foi. O secundo filho fala: Já vou, mas não foi, ele simboliza os sacerdotes que  não praticam a justiça..
             Um proprietário plantou uma vinha, que significa o povo de Deus. Os agricultores são os sacerdotes, os empregados são os profetas. Mas “O reino de Deus (agora não do céu como Mt. sempre falou) vos será tirado, e será dado a uma nação que produzirá frutos” (21,43). Povo ou nação no singular não significa os povos, nem a nação santa (1 Pd 2,9) mas a geração nova dos fieis. Os sacerdotes e os fariseus (fariseus após Jâmnia: (o Evgl. de João combina muitas vezes os sacerdotes com os fariseus) procuravam prendê-lo, mas tiveram medo das massas, “pois elas o consideravam como profeta” (Mt 21,46).
            Na parábola do festim nupcial do Filho os convidados recusam o convite, os da rua enchem a sala. (22,1-14)

 Sobre tributo ao Império:
            A disputa sobre o tributo a César: os fariseus junto com os políticos de Herodes são falsos e hipócritas tendo a moeda do César na bolsa para pagar o tributo. Jesus desmascara a idolatria do César, o César não é divino, mas humano. Ter a imagem do César não é contra a secunda Palavra (22.15).  volver, (não dar), a Deus: Deus está íntimo ligado ao povo, quer dizer devolver ao povo. Já o Judas Galileu repreendia aqueles que pagaram tributos aos Romanos e aceitaram homens como senhores ao lado de Deus
.
Sobre a ressurreição:
            Os Saduceus são o partido prepotente, a elite: a ressurreição é uma ameaça ao poder estabelecido por eles e pelos  poderosos, que matam, Deus pode ressuscitar (22,23). Na época domina a filosofia grega: a morte é a libertação da alma do corpo, impossível pensar na ressurreição do corpo.

Contra um Messias, descendente de David
            Jerusalém espera o Messias, descendente de David (22,41-46): Jesus argumenta com o Salmo 110 onde David diz: ¨Oráculo de Javé ao meu Senhor¨  Se David o chama de meu Senhor, como pode ser seu filho?  A estirpe de Davi não importa, Deus escolheu seu Filho, seu servo, Jesus rejeitou o título Messias para si.

Invectivas contra escribas e fariseus:
            A polêmica da igreja de Mateus se dirige contra a sinagoga farisaica após Jâmnia: “contra escribas e fariseus”, o poder religioso da sinagoga, que mata os profetas, os sábios e escribas (23,34). , “Pois eles dizem e não fazem (23,3) vós que trancais a entrada do Reino para os homens” (23,13). O grupo farisaico de Jâmnia nos anos 80 d.C. trancou o Reino para os cristãos: “Nenhuma esperança reste aos renegados, os Nazarenos pereçam instantaneamente. Sejam apagados do livro da vida e não sejam inscritos como justos.” Sete ¨Ai de vós¨ contra os fariseus.

Sobre o futuro, a escatologia:
 A lamentação sobre Jerusalém (23,37-39). Mt  só fala daquele que vem (o filho do homem).a esperança dos judeus por o Messias até hoje.

¨Qual será o sinal da tua vinda e do fim do mundo¨? (24,3) A questão dos sinais do fim deste mundo era clássica no judaísmo do tempo de Jesus: a destruição de Jerusalém, o fim deste mundo e a vinda do Filho do Homem (TEB).
A destruição do Templo: começo das dores, tribulação, falsos profetas, (24,1-25). Sobre o fim do mundo se fala nada. A vinda do Filho do Homem: Ninguém conhece este dia e esta hora (24.26-44).  O servo fiel (24,45-51).Mt coloca no cap. 25  três assuntos antes da condenação de Jesus:

 A parábola das virgens é próprio de Mateus e lembra a promessa, que Javé  será o esposo da filha de Sião (25,1-12). O futuro serão as núpcias do Cordeiro com a esposa ( Ap 21,2;)
                         
 Os talentos: só no Mt (25,14-30) e Lc 19,12-27)
O modelo para estes trechos é certamente Marcos 13, 33-37. , onde se diz: ¨Vigiai... é como um homem que parte em viagem : deixou sua casa , confiou a autoridade a seus servos a cada um sua tarefa, e deu ao porteiro ordem de vigiar¨.  
Lucas 19,11-28; conta uma parábola após do encontro com Zaqueu antes da entrada em Jerusalém. El fala de um homem de alta estirpe que viajou chamando dez servos entregando a eles dez moedas. Os discípulos pensam que Jesus vai proclamar o reino de Deus em Jerusalém, mas isto vai demorar. Lc sempre fala do dinheiro injusto, enganador ( Lc 16,11)

O episódio dos talentos em Mateus precisa ser interpretado a partir do Filho do homem que fará o julgamento definitivo:
Mateus não fala de uma parábola, ele fala dum homem que viajou e entregou os talentos
  (um pesa 2kg de ouro) aos seus servos. Temos diante de nós uma análise do capitalismo em contraposição do reino do Filho de Deus.
 Quem é este homem?  Sempre se pensou em Deus ou Jesus. Porém Jesus em 6,24 tinha falado: ¨Não podeis servir a Deus e ao Mamom, o termo personifica o Dinheiro como uma potência que escraviza, é o deus de fortuna.
Passado muito tempo  o patrão, (um milionário, um empresário,) ajustou contas com os servos. Importante é o terceiro servo que sabe bem: ¨Eu sabia bem que és homem rigoroso, colhes onde  não semeaste...amedrontado, fui esconder o teu talento, , aqui tenso que é teu¨. ( Foi costume do camponês esconder seu dinheiro na terra.)  Este homem não pode  representar Jesus ou seu Pai, o julgamento do Filho do Homem é totalmente diferente. Este servo não quer participar do sistema capitalista que escraviza e dá de revolta, rejeita o talento. Ele demonstra resistência. Pode pensar no Jó que resiste a um falso Deus (Tg 5,11). Este servo foi lançado nas trevas exteriores.
O provérbio: ¨A quem tem, será dado; a quem não tem lhe será  tirado o que tem¨ em Mc  4,25; quer ilustrar a fecundidade do grão na agricultura.
Mateus  (13,10-17) aplica esta sentença a Israel e aos discípulos: Israel ouve, mas não entende,  os discípulos vêem e ouvem. ¨Ensina o sábio, e será mais sábio¨( Pr 9,9).
 Mateus aplica esta sentença à economia, ao dinheiro o capitalismo, onde domina esta lei de lucro. A crítica de Mateus vale até hoje, os milionários fazem fortuna à custa do suor dos trabalhadores que são lançados às margens da sociedade. Os ricos são mais ricos e os pobres mais pobres (25,29). ( veja Ribla Nr 27 p.132)

             O Filho do homem : o julgamento  (25,31-46):
            Também próprio de Mt. Quando o Filho do homem vier na sua glória reunirá todas as nações. Ele é  como um pastor separa as ovelhas dos cabritos.
            Agora o Rei dirá:  A sua entronização do rei acontecerá quando os soldados do governador o despiram e lhe puseram uma capa escarlate, uma coroa de espinhos e um caniço  na mão caçoando dele: Salve, Rei dos judeus ( Mt27,27-31;)  Este rei dos judeus é agora rei universal. O critério não é a religião, mas o que está no coração de qualquer um: misericórdia. Os seguidores deste rei  são os mesmos como nas bem-aventuranças, felizes os pobres, abatidos até o íntimo, deles é o reino de Deus (Mt 5,3-6). Eles  são os menores irmãos e irmãs de Jesus.  Agora justos (não santos) são os misericordiosos que mostraram o que está no íntimo do humano: a misericórdia sem conhecer os menores irmãos de Jesus (Mt 5,7-10). Não um mandamento de Jesus é o critério do julgamento, mas a própria conduta da pessoa. Cada um se julga a si mesmo.
       Os outros vão para o inferno.
     Quando Jesus terminou estas palavras, os sacerdotes e os anciãos concordaram em prender Jesus e mata-lo (26,1-5).                

      Paixão e ressurreição:

              Em geral Mateus seguiu a narração de Marcus. Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo e concordaram em prender Jesus e mata-lo, mas não durante a festa por medo do povo (laos).
A unção em Betânia acontece na casa de Simão, do Essênio, (não leproso). Agora os discípulos criticam o desperdício ( no Mc alguns).  Parece um argumento dos Essênios  que praticaram uma extrema pobreza. (26,6-13). Aviso da traição (26,14...)

A ceia pascal é o cumprimento da aliança:
 Jesus celebra a Páscoa que celebra a libertação do Egito e a aliança no monte Horeb. ¨Tomai, comei, isto é meu corpo. Bebei, isto é o meu sangue, o sangue da aliança, Em Ex 24,1-11) sacrificaram  novilhos e Moisés aspergiu o povo com o sangue como sinal da aliança. Jesus dá a beber seu sangue para o perdão dos pecados de muitos como sinal do cumprimento da aliança  , Mt não fala da nova e eterna aliança. (26,26-29).

 Jesus entregue à morte.
Cumpre-se a escritura: Eu ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho serão dispersas. Na detenção de Jesus Judas deu um beijo Jesus responde: ¨Meu amigo, faze a tua obra¨  (26,48-50).A mesma advertência encontramos no Evgl. de João 13,27: ¨O que tens a fazer, faze-o depressa¨.
Um dos que estavam com Jesus desembainhou a espada... Jesus rejeita toda a violência, ele é o homem da paz; O sangue que eles derramaram cairá sobre eles e esta geração. ”Todos os que tomam a espada morrerão pela espada” (26,52)           
 Diante do Sinédrio aparece a falsa acusação: “Posso destruir o Santuário de Deus e reconstruí-lo em três dias.” (26,61) Veja João 2,2,13 e At.7,47. A acusação mais grave fala a respeito do templo.
Outra acusação: “Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Messias, o Filho de Deus“. A designação Messias significa sempre: Rei dos Judeus. A resposta de Jesus não foi uma blasfêmia. “Ele merece a morte” não é uma verdadeira sentença da morte contrário de Mc.14,64.
Negação de Pedro (26, 69-75).  Só Mateus relata a morte de Judas (27,3-10).
 O caso de Jesus Barrabás (27,17): de novo os agentes são os sacerdotes e os anciãos, que incitaram a massa para que pedissem Barrabás e fizessem perecer Jesus. Não se conhece o costume de soltar um preso na Páscoa. Jesus Barrabás representa o partido da violência, Jesus Nazareno o partido da paz. Dificilmente um Romano assume o costume dos judeus e lava as mãos (Dt 21,6) para se distanciar de um crime.

 Enquanto Pilatos estava assentado sobre o estrado, sua esposa mandou um recado, no sonho ela estava aflita por causa deste justo (Mt 27,19;) Este episódio recorre ao início do Evgl: os Magos e seus sonhos. De novo uma mulher estrangeira.
 Agora todo o povo (laós), quer dizer o povo da Aliança, responde. Em geral Mateus fala da massa (ochlos). Em 13,15 e 15,8 Mateus citava Isaias com a palavra povo, laós: “O coração deste povo se tornou insensível, Este povo me honra com os lábios”.  Mateus relembra a conclusão da aliança de Javé com o povo (Ex 24,1-11): ¨Moisés tomou o sangue e com ele aspergiu o povo, dizendo: ¨Este é o sangue da aliança¨. Agora o povo da Aliança responde: “Caia o seu sangue sobre nós e sobre nossos filhos” (27,25). O povo de Deus carregará as consequências deste crime. No Evgl de Lucas Jesus disse do mesmo sentido às mulheres: ¨Não choreis por mim, mas chorai por vós e por vossos filhos...(Lc 23,28)

 Esta decisão do povo de Israel tinha terríveis consequências: foi um dos motivos dos cristãos para perseguir e matar os judeus durante toda a história, porque eles mataram Jesus.. Mas o sangue de Jesus serve para o perdão dos pecados, em primeiro lugar para o povo de Deus..
  Pilatos entregou Jesus para ser crucificado. Não houve uma sentença: “Condemno, Íbis ad crucem” (Condeno, Vai para a cruz!). Pilatos sempre agiu assim. Jesus  gritando rendeu o espírito.

   A natureza participa deste triste fato: o véu do Santuário rasgou, acabou o culto do templo: aa terra tremeu, os rochedos  se fenderam, os túmulos abriram-se, os corpos de muitos santos ressuscitaram (27,51-54). O centurião e os gurdas disseram: ¨Este era o Filho de Deus¨(27,54)
   Para os sacerdotes Jesus foi um “impostor”, um falso profeta (27,63).
           
  O Túmulo vazio e o Ressuscitado
 Veja o medo dos sacerdotes diante da ressurreição: precisa a força armada para guardar um túmulo, mas o Ressuscitado vence o poder: os soldados ficam como mortos. (28,4).
 Maria de Magdala e a outra Maria foram ver o sepulcro. De Moisés e Elias não tinha um sepulcro, também o sepulcro de Jesus está vazio. Jesus mesmo vai ao encontro das mulheres (28,9) e manda dizer aos discípulos, que ele está vivo.
  O Ressuscitado, aquele que está vivo, aparece de novo numa montanha  (29,16-20) :  ¨Toda a autoridade (exusia) me foi dada no céu e sobre a terra¨.   Aqui não fala-se de poder, mas de licença, de permissão: Jesus é autorizado pelo Pai. Na expulsão dos vendedores (19,23-27) os sacerdotes tinham perguntado: ¨E quem te deu tal autoridade (exusia)¨. ( Só os sacerdotes tinham autoridade.)         
 “Fazei discípulos de todas as nações¨ (ethnae, são os povos, mas também judeus), ¨Batizando as em nome do Pai e do Filho e da Espírita Santa¨. Se fala de três pessoas, um ao lado de outro. Ainda não havia a reflexão sobre a Trindade, onde os três são um em conexão como fala mais tarde a igreja síria. Jesus estará com os discípulos todos os dias até a consumação dos tempos (28,16-20). Igual ao Evgl de João e do Apocalipse  Mt não menciona uma segunda vinda de Jesus no final dos tempos


         5. AS OBRAS DE LUCAS        

             5.1 A FAMA DOS CRISTÃOS NO IMPÉRIO

           No ano 64 d.C. Nero mandou secretamente incendiar um bairro de  Roma para construir uma nova cidade de acordo com seus sonhos de grandeza. Todos os boatos culpavam o imperador pelo incêndio. Nero fez o possível para evitar esses boatos, mas nada deu resultado. Finalmente recorreu a infâmia de culpar os cristãos.            O historiador Tácito (55-120), cinqüenta anos depois do sucedido, em seus Anais, nos dá testemunho da perseguição dos cristãos nessa ocasião. Diz assim:

Com o fim de extirpar o rumor, Nero inventou alguns culpáveis e executou com refinadíssimos tormentos os que, aborrecidos por suas infâmias, o vulgo chamava cristãos. O autor desse nome, Cristo foi mandado executar com o último suplicio pelo procurador Pôncio Pilatos durante o império de Tibério e, imediatamente reprimida, a perniciosa superstição irrompeu de novo não só pela Judeia, origem desse mal, mas também pela urbe, aonde conflui e é celebrado tudo quanto de atroz e vergonhoso há onde quer que seja. Portanto, começou-se por deter os que confessavam sua fé; depois, pelas indicações que estes deram, toda uma ingente multidão foi condenada não tanto pelo crime de incêndio, quanto pelo ódio ao gênero humano. Sua execução foi acompanhada com escárnios e assim uns, cobertos de peles de animais, eram dilacerados pelos dentes dos cães; outros cravados em cruzes eram queimados no fim do dia, à guisa de luminárias noturnas... Por isso, mesmo castigando os culpados merecedores de suplícios, tinha-se lástima deles, pois se tinha a impressão de que não eram eliminados por motivo de utilidade pública, mas para satisfazer a crueldade de um só (Anais, 15.44). 
         Seutônio, também, fala da perseguição de Nero, sem relacioná-la diretamente com o incêndio em Roma: Foram submetidos ao suplício os cristãos, casta de homens de uma superstição nova e maléfica.

               5.2 A CARTA DE CLEMENTE

            Os pensamentos ideológicos de Lucas se aproximam daqueles de Clemente de Roma que defendeu a ideologia do Império. Ele escreveu uma carta à comunidade em Corinto. Esta comunidade tinha excluído alguns presbíteros. A carta teria surgido na mesma época dos escritos de Lucas e do Apocalipse, posterior a Domiciano (81 -86). O autor lembra da perseguição de Nero. Os martírios de Pedro e Paulo (5, 1) ainda valem como “exemplos da nossa geração”. Clemente silencia os perseguidores das comunidades, perseguições são “acidentes de percursos”, se baseiam no mau entendimento e finalmente são falhas no comportamento dos cristãos. Os martírios de Pedro e Paulo aconteceram “por causa de ciúme injusto”.
            O conflito em Corinto deve ser resolvido de seguinte modo: restituir os presbíteros, submeter-se a eles e os que provocaram a destituição devem fugir.
                         No final da carta se reza: “Dá harmonia e paz, tanto a nós, como a todos os habitantes da terra” Harmonia e paz é a ideologia do Império. Clemente reza pelos “dominadores e chefes” que detém o poder imperial: “Da-lhes, Senhor, saúde, paz, harmonia e estabilidade”. Clemente está interessado na estabilidade e segurança do Império. O poder do Império vem de Deus: “Tu, Senhor, deste-lhes o poder do domínio por teu poder... para lhes obedecermos...” Muito mais pesado do que Paulo falou em Romanos 13. Clemente tem grande admiração do exército romano porque obedece às ordens dos chefes. (Não obstante até 175 d.C. um cristão não podia ser soldado.)
            O rico deve apoiar o pobre, o pobre deve agradecer a Deus por ter dado àquele que o pode ajudar (38,2)... À mulher compete submissão ao homem, cuidar das tarefas domésticas, honestidade e silêncio na comunidade, um pensamento típico patriarcal.
            Deus é soberano, o cosmos está em “ordem”, ele “tudo estabeleceu, para que subsista em paz e harmonia”. Por conseqüência: estimar o Senhor Jesus, ter respeito para com os “nossos chefes”. Ensinar a humildade às crianças.
                                   Clemente adapta perfeitamente a ideologia do Império Romano à igreja e prepara assim os pensamentos da cristandade a partir de Constantino + 325 d.C. Graças a Deus esta carta não faz parte do Novo Testamento

5.3- AS OBRAS DE LUCAS E OS DESTINATÁRIOS:


¨É bem possível que Lucas tenha escrito uma só obra que depois se separaria em evangelho e Atos dos apóstolos. O prólogo em Lc 1,1-4,13 seria o prólogo a toda a obra lucana. Lc 24,50-53 e Atos 1,1-5 seriam acréscimos posteriores.
A estrutura dos Atos: 1. O movimento de Jesus em Jerusalém At 1,12-5,42, 2.de Jerusalém a Antioquia At 6,1-15,35; 3. de Antioquia a Roma At 15,36-28,31;¨ (Ribla 44 p.8)
Será que Lucas como Clemente quer corrigir a imagem sobre os cristãos odiados por Roma? O autor fala o grego num estilo elegante e escreve entre 70 e 100. Alguns argumentam que ele escreveu antes de 64, porque Lucas não menciona o martírio de Pedro e Paulo em Roma nem a destruição do Templo. Ele pode ser um discípulo de Paulo. Que Lucas estava informado sobre o fim de Paulo pode ser concluído nas insinuações em Atos 20,23- 25 e 21,10-14.
            Provavelmente Lucas já conhecia os rabinos farisaicos que excluíram os judeus cristãos, “os nazarenos” das sinagogas, por isso a polemica contra os Judeus.         .
Cada um dos dois livros é dedicado a um “Ilustre Teófilo” como um personagem altamente situado como os procuradores Félix e Festo (Atos 23,26; 24,3; e 26-25). Lucas destinou sua obra ao público amplo, aos “simpatizantes e não cristãos interessados” e dirige-se aos ricos. O dinheiro tem papel importante. Mas Lucas condena o dinheiro como injusto e defende a classe baixa.
             Nos Atos aderem à igreja pessoas nobres e em altas posições sociais. Lídia (6, 14) é comerciante de púrpura. Felipe batiza um funcionário da corte da rainha (8, 27), Dionísio chega à fé (17, 24), Paulo sempre tem relações evidentes com os grandes do mundo. Os mais altos representantes da sociedade demonstram respeito e consideração a ele nos Atos, Paulo recorre à sua cidadania de Tarso e Roma (16, 37). Caso Paulo tenha tido realmente a cidadania romana, ele próprio nas suas cartas não lhe dava nenhum valor.

5.4.  O EVANGELHO DE LUCAS

 O próprio de Lucas

               Lucas usa como fonte Marcos e a fonte Q. A genealogia começa com Jesus e volta atrás até Adão, filho de Deus (Lc 3, 3,22-38;), índice que o Evangelho se dirige ao mundo inteiro, neste caso ao Império Romano.
O nascimento de João e Jesus acontece em Judá, lá moram os parentes de Maria, Zacarias é sacerdote do campo. Jerusalém tem papel importante. Mas Jesus nasce em Belém, cidade de David. Os pastores representam os pobres (Lc 1 e 2).
Nazaré é o primeiro lugar da confrontação com os fariseus: Jesus ungido com a Espírita Santa se compara com Elias e Eliseu e muda para Cafarnaum (Lc 4,16-32).
Os doze discípulos recebem o nome apóstolos ((6,13).
Num lugar plano se reúnem muita massa de Judá, Jerusalém, Tiro e Sídon para escutar Jesus: ¨Felizes os pobres, ai dos ricos¨.(Lc 6, 17-26). Jesus desperta um jovem em Naim, lembra o profeta Elias (7,11-17) Jesus exulta sob a ação da Espírita Santa (10,21),  dá a Espírita Santa àqueles que pedem (11.13).
Preferência pelas mulheres: a pecadora e mulheres que acompanham Jesus ( 7,36-8,3; Marta e Maria 10,38; uma mulher 11,22; a viuva 18,1).
 Herodes perplexo sobre Jesus ( Lc 9,7), quer matar Jesus (13,31), enfrenta Jesus  (23,6).

A partida de Jesus para Jerusalém (Lc 9,51-19,28) para ser arrebatado como Elias, passando por Samaria. O samaritano (10,29); o leproso é um samaritano (17,11). Quase toda a caminhada é própria de Lucas. O tema central desses capítulos é a advertência contra o dinheiro e a riqueza.

Em Jerusalém na crucificação: Pilatos convocou os sumos sacerdotes, os chefes do povo (não o povo), o povo não participou da condenação (23,13) Jesus pede perdão, eles não sabem, o que fazem (23.34). O povo ficava olhando (23,35). Jesus adverte as filhas de Jerusalém (23,27-31). Um dos rebeldes pede a Jesus (23,42). Jesus entrega o seu espírito (23,46).
O túmulo vazio: as mulheres, os discípulos de Emaús ( (24,13-35), aparição aos Onze (24,36-49) o arrebatamento, parece no mesmo dia (24,50-53)

O prelúdio: A infância de João Batista e de Jesus

No tempo de Herodes havia um sacerdote do campo, Zacarias, foi casado com Elisabete, que era estéril, os dois eram justos. Ele tem seu ofício no templo (Ex 30,1-10) e recebe  a mensagem, que Elizabete dará à luz um filho que em espírito e poder de Elias vai reconduzir o coração dos pais aos seus filhos (Ml 3,24; última palavra do primeiro testamento grego).

Figura principal é Maria, ela mora em Nazaré, cidade de Galileia. Mas há dúvidas. O papiro a substitui Galileia por Judeia. O códice D omite toda a informação sobre Nazaré (Ribla 44, .49).Ela estava prometida em casamento, com o noivado o noivo adquiria o direito de propriedade sobre a menina- moça.
Espírita Santa virá sobre te e o poder do Altíssimo te cobrirá (1,35). Espírito aqui sem artículo, em hebraico feminino, em grego neutro. ¨Sempre quando aparece sem artigo refere-se ao poder criador de Deus que transforma situações e condições¨ (Ribla 44 p.55).: O ´sim´ de Maria não é apenas aceitar a maternidade: com o ´sim´ ela adere ao projeto integral de salvação de Deus.

 A primeira ida de Maria rumo à região montanhosa na casa de Zacarias e Elisabete em Judá (Lc 1,30). Não se menciona Nazaré. Elisabete rejubila em espírita santa.
.        O Magnificat foi tirada do cântico de Haná (1 Sm 2,1-11), é um canto da comunidade, colocado na boca de Maria, a mãe desta nova comunidade: ¨Deus precipitou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes, os  famintos, ele os cobriu de bens e os ricos despediu-os de mãos vazios (Lc 1,46).¨ Humilde não significa uma atitude e sim um estado social. É o âmbito das mulheres: prole, comida, igualdade na mesa.

Nascimento de João: Repleto de Espírito/a Santo/a Zacarias profetizou. Após um tempo de silêncio o sacerdote se torna profeta, lembra das promessas do Deus de Israel (Lc 1,67-79) e proclama: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou seu povo e realizou sua libertação”. Zacarias fala só de Israel. Seu filho será profeta do Altíssimo, anunciando a salvação por meio do perdão dos pecados. De João Jesus falará: ¨O menor no Reino de Deus é maior do que ele¨ (Lc 7,28).

A secunda ida de José e de Maria para Belém em Judá, a cidade de David (é difícil imaginar uma tão longe caminhada de Nazaré para o Sul com uma mulher no nono mês). Na sala dos hospedes não havia lugar para eles (designa em 22,11 a sala da última ceia). Deus enviou Seu filho, nascido de mulher e sujeito à lei (Gl 4,4) O recém-nascido envolto em faixas como na sepultura de Jesus. Pastores desprezados encontram o salvador e anunciam a Boa Notícia, mais tarde serão os discípulos que anunciam o Evangelho.
Segundo a lei da purificação (Ex 13.2.12.15.) eles iam para o templo em Jerusalém. Um homem em Jerusalém, Simeão, cheio da Espírita Santa, tomou o menino Jesus nos braços e bendisse a Deus: “Pois os meus olhos viram a tua salvação que preparaste em face de todos os povos: luz para a revelação aos gentios” (Lc 2,30). Este menino não só será salvação para Israel, mas sim para todos os povos.         
Havia uma profetisa, Ana (Lc 2,36) que falava do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém..Houve grande expectativa da libertação em Jerusalém.

A terceira ida: Os pais iam cada ano a Jerusalém para a festa de Páscoa. Agora eles moram em Nazaré, José tinha fugido de Judá para Galileia (Mt 2,23) Jesus ficou no templo, sentado em meio aos mestres. Primeiro confronto com a lei dos sacerdotes. Jesus deve estar junto de seu Pai (Lc 2,49).Mas lá não se aprende a sabedoria.
Ele desceu para Nazaré, era-lhes submisso. Numa vida cotidiana como trabalhador ele aprende a sabedoria.


1.     Uma voz chama Jesus: Meu Filho!

            Já no batismo de Jesus por João aparecem soldados e cobradores de impostos, as colunas básicas do Império, aqui com bom comportamento, mas na realidade não foi assim. Jesus rezando sozinho escuta a voz e a Espírita Santa desceu sobre ele. Jesus .mesmo batizará na Espírita e no fogo (3,16).
 A genealogia de Jesus desemboca em Adão, filho de Deus. O Evangelho se dirige a toda a humanidade. Mateus começava a genealogia com Abraão e a aliança com Israel.

 Jesus, repleto da Espírita Santa era tentado pelo diabo, não por Deus! (4,1-15): Se Tu és filho de Deus... Lucas coloca a tentação no Templo no terceiro lugar, porque é o final da caminhada de Jesus para Jerusalém.

2.     Jesus chamado profeta pelas pessoas

             Jesus ensinava na sinagoga em Nazaré citando o terceiro Isaias 61, 1-2;  ¨A Espírita do Senhor está sobre mim¨. Jesus é o profeta, o novo Elias. Como ele Jesus ia ser arrebatado do mundo (Lc 9,51). Já a sinagoga quer precipitá-lo. Os Judeus vão repetir na crucificação: “Médico cura a Ti mesmo”. Não o Império, mas a sinagoga é o inimigo de Jesus (At 24, 5). Nenhum profeta é bem acolhido em sua pátria.
            Ele muda de Nazaré para Cafarnaum (Mc 1,21-28;), lá ele será  bem aceito na Sinagoga.
Os primeiros discípulos, Simão, Tiago e João. A pesca de Simão parece ser um fato da ressurreição (5). Segue Leví. Escolha dos Doze conforme as doze tribos de Israel. Lucas cria o Título dos “Doze Apóstolos” (6, 13).

Jesus e a massa marginalizada
            Jesus num lugar plano com uma grande massa (ochlos) dos discípulos e uma grande multidão (plethos) de povo de Judéia, Tiro e Sídon, que já apresentam o mundo inteiro, são os atormentados (en-ochlo-umenoi) por espíritos impuros, eram curados (Lc 6,17-19).

Jesus se dirige a esta massa dos discípulos:
            Felizes, vós, os pobres, o Reino de Deus é vosso, felizes que tendes fome, sereis saciados, felizes que chorais, haveis de rir, felizes quando os homens vos odeiam.
Mas ai de vós. os ricos, ai de vós saciados, ai de vós que rides, ai de vós, se forem elogiados. (Lc 6,20-26).
 Em todo o Evangelho Lucas ficou duro com a classe rica e defende os pobres. Mateus ocupou-se com o judaísmo.  A instrução de Jesus sobre a lei é bem curta em comparação à de Mateus (6,27-49). As parábolas, dirigidas à massa, também são curtas (8,4-18).

 Herodes Antipas, tetrarca de Galileia, assume um papel importante (9,7-9): quer matar Jesus, ele que matou João. Jesus não terá medo deste raposo (Lc 13,31-35), só Lucas menciona Herodes na crucificação de Jesus.
            Segue a pergunta de Jesus num lugar afastado (9,18-43): Quem sou eu?  Como Marcos e Mateus também Lucas menciona as três declarações de Jesus sobre o destino do Filho humano (rejeitado pelos anciãos, sacerdotes e escribas, ser morto 9,22; Entregue nas mãos dos homens 9,43. ¨Entregue aos gentios¨18,31). Mas o Filho humano vai ressuscitar. Desta vez Jesus convida a todos no seu seguimento 9,23 (massa e discípulos no Mc)

3.     O Filho do homem no caminho para Jerusalém 
     (9,51-19,29)

Começa a subida de Jesus para Jerusalém, são dez capítulos. Os primeiros cristãos se chamam ¨os do caminho¨ Lucas compara a morte, ressurreição e ¨assunção¨ (não ascensão Lc 24,51) de Jesus com Elias, que foi arrebatado para o céu. O céu não questiona o poder do Império Romano na terra.

Nesta seção Lucas apresenta numerosos elementos que lhe são próprios:
A partida de Jesus para Jerusalém (9,51-56); a parábola do bom samaritano e na casa de Marta e Maria (L.10,29-42); a parábola do amigo (11,5-8); o louvor da mulher (11,27-28); os bens do mundo e o rico insensato (12,13-21); a urgência da conversão e cura de uma mulher (13,1-17); perigo por Herodes (13,31-33); cura de um hidrópico, escolher o último lugar, convidar os pobres (14,1-14); renunciar a tudo (14,25-33); Jesus e os pecadores (15,1-32); o gerente astuto e o dinheiro enganado (16,1-12); o rico e o Lázaro (16,19-31); o servo bom para nada, cura de dez leprosos, o dia do Filho do homem (17,7-22); o juiz e a viúva, o fariseu e o coletor (18,1-14); Zaqueu (19,1-10);
                                        
Num lugar afastado Jesus explicara que o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos escribas, ser morto, e, no terceiro dia, ressuscitar (9,18-27), Jesus convida todos para o seguimento.
Oito dias depois na montanha. Aparecem Moisés e Elias, falavam da partida, do êxodo, de Jesus. A voz dizia: ¨Este é meu filho, ouvi-o. Agora o Pai não fala mais, Deus não pode sofrer e ressuscitar. Precisa escutar o Filho humano,nele se revela Deus.  (9,28-36).
 Logo depois ele repete: o Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens (9,44).

Primeira etapa: 9,51-13,21:
Começa a subida de Jesus para Jerusalém (9,51), são dez capítulos que prefiguram  ¨os do caminho¨ nos Atos(só Lc)..
Condições no seguimento: deixar tudo (9,57), missão de setenta e dois que representam todos os povos (10,1)(só Lc)., revelação aos pequeninos (10,21), praticar o amor como o Samaritano (10,29)(só Lc).. Também mulheres, Maria se torna discípula (10,38), sobre a oração (11,1). Jesus expulsa um demônio (11,14).
Contra os fariseus e legalista que querem um sinal. O Filho do homem será o sinal como Jonas. Quem blasfemar contra o Espírito Santo, não será perdoado (11,29- 12,12).
Os bens deste mundo, vender os bens (12,13-34).
Vigilância, pois numa hora que não pensais é que vem o Filho do homem (12,40). Discernir os sinais do tempo (12,54). Arrumar os negócios antes do julgamento (12,57). Urgência de conversão (13,1-9)(só Lc)..

Segunda etapa: 13,22-17,10:
 Jesus ensinando e viajando rumo a Jerusalém (13,22; só Lc).. Quem entra no reino?  Não é possível que um profeta pereça fora de Jerusalém. Lamentação (13,31-35)(só Lc)..
Ai dos ricos, felizes os pobres: Os ricos rejeitam o convite para a refeição no Reino de Deus. Lucas destaca que o Reino é dos pobres, mutilados, coxos, cegos (14, 12-24)(só Lc)., Condição para seguir Jesus (14,25).
Os coletores e pecadores ouvem Jesus enquanto os fariseus e escribas criticam: Este homem acolhe os pecadores e come com eles (15,1-10)Não precisa se alegrar como nas parábolas da  ovelha (15,3) e da moeda ? (15,8)
            O filho pródigo (15,11-32)(só Lc).: O Império Romano estava marcado por uma severa hierarquia: o pai da casa. O pai do império representa um deus que exige justiça. Quem viola a justiça, até divina, precisa restituir o dano para restabelecer a harmonia.
 Por isso o filho pródigo quer fazer penitência para assim encontrar um pai (e Deus) que foi ofendido. Assim ele será  de novo aceito. Antes que o filho podia encontrar este verdadeiro pai  foi tomado de compaixão, correu e o cobriu de beijos. O pai  mostra a justiça de Deus que dá perdão.
O filho mais velho nunca desobedeceu às ordens do Pai, ficou fiel à ordem estabelecida. Ele cumpre a justiça obedecendo às ordens. Ele é auto-suficiente, não precisa dos outros, é egoísta e não participa da festa.  Os dois filhos esperavam um pai patriarca como no Império Romano e não um pai de compaixão do Evangelho.
O gerente despedido, esperto sabendo que não pode ficar com seu lucro cede aos devedores o que ele tirou. (16,1-8).. O Dinheiro, o Mamona, enganador (o capitalismo de hoje 16,9-13). Anúncio do Reinado de Deus (16,16). Sobre adultério (16,18).
O rico e Lázaro (16,19)(só Lc)..

Terceira etapa: 17,11-18,30
Passou através da Samaria para Jerusalém. O ¨pequeno apocalipse¨ (17,20-37): O Reino está entre vós (17,21). A vinda do Reino não é um evento do futuro observável: “O Reino está entre vós” não é uma realidade íntima.
A comunidade de Reino (18,1-30) (só Lc).: O Filho do homem achará fé sobre a terra? (18,8). De novo renunciar às riquezas para entrar no Reino (18,18).

Quarta etapa: 18,31-19,44
 Subimos a Jerusalém: Terceiro anúncio a respeito do Filho do Homem (18,31-34)                                                                                                                          Os presentes acreditam que o Reino de Deus iria revelar-se imediatamente (19, 11)(só Lc). Lucas coloca aqui a parábola dos dez empregados, um homem entregou dez moedas a eles porque partiu para um país distante. Isto quer dizer que o reino de Deus estará num futuro (At 1,6). Perto de Jerusalém no monte das Oliveiras houve a aclamação e o choro sobre Jerusalém (19,28-19,44). (só Lc).

4.      Bendito seja aquele que vem, o rei (19,19-21,38)

O luto por um traspassado (Zc 12,10-11): Jerusalém deve ser purificada: “Eu derramarei sobre a casa de Davi e sobre o habitante de Jerusalém o espírito de boa vontade e de súplica; Erguerão então o olhar para mim. Por aquele a quem traspassaram celebrarão o luto como pelo Filho único. Vão chorá-lo amargamente, como se chora por um primogênito.” (Jo 19,31-37).

Muita gente exclamava:
     ¨Hosana! Bendito seja em nome do Senhor aquele que vem!:¨
Depois cada Evangelho concretiza::
      Bendito seja o reino que vem¨ (Mc 11,9;))
Hosana ao filho de David! (Mt 21,9)
O rei, paz no céu (Lc 19, 38) Jerusalém não terá paz.
      O rei de Israel (Jo 12,13). Pilatos: Rei dos judeus.

A entrada em Jerusalém não tem nada a ver com o futuro Reino de Deus, mas é o inicio da entronização celeste: “Bendito que vem, o rei! Hosana no mais alto dos céus”, Jesus está entronizado no céu, “Paz no céu”, (Lc 19, 38) Jerusalém não achará a paz.
Lucas sabia da destruição pelos Romanos no ano 70. Por isso deixa Jesus falar sobre Jerusalém: Teus inimigos te esmagarão a ti e aos teus filhos. Não deixarão em ti pedra sobre pedra. (19,41-44;)
Depois entrou no Templo: (19,45)
            Jesus purifica o templo.Da destruição do Templo e da devastação de Jerusalém no futuro ele fala 21,5-24. Virá o Filho humano (21,25-27) A libertação está próxima (21,28)..
            Os sumos sacerdotes e os escribas querem fazer desaparecer Jesus, mas tiveram medo do povo (laos). Lucas usa o termo povo, é o povo da aliança (20,19 e 22,2). ¨E todo o povo vinha a ele para ouvi-lo¨(21,38).

As controvérsias em Jerusalém:
A partir de 20,1 até 22,46 Lucas conta diferentes controvérsias com as autoridades de Jerusalém seguindo Mateus e Marcos.

5.     Paixão e ressurreição:

¨Mas agora é a vossa hora, é o poder das trevas¨  (Lc 22,53). É a hora dos prepotentes desse mundo, a hora dos inimigos de Deus,  o satanás  enfrenta Jesus. Não é a hora de Deus, Pai de Jesus. João vai mudar esta hora  tenebrosa em hora da glorificação do Filho de homem, quando o príncipe desde mundo será lançado fora (Jo 12,23-32).
            Em Lc 22,66-71; O conselho dos anciãos do povo, sumos sacerdotes e escribas conduziram Jesus ao Sinédrio, que perguntaram: ¨Dize-nos se é o Messias¨ (o rei). Jesus confessa: O Filho do homem se assentará à direita do Deus. No Lc não se menciona de uma blasfêmia, nem da destruição do Templo.
A acusação dos Sacerdotes diante Pilatos contêm motivos políticos: “Encontramos este (Jesus) agitando nossa nação, opondo-se ao pagamento do tributo ao César e declarando-se Messias Rei”.“Ele subleva o povo” (23,1-5). 
            É Herodes Antipas, filho de Herodes Magno (4.a.C.-39 d.C), essa raposa (13,31-33) com seus soldados que trata Jesus com desprezo impondo-lhe uma veste esplendida (23, 8- 11 (só Lc , contra Mt 27, 27, Mc. 15, 16, Jo. 19, 2.
Pilatos convocou os sumos sacerdotes, os chefes e o povo (23,13), textos antigos falam: os chefes do povo. Pilatos sentencia a inocência de Jesus (23, 15), quer soltar Jesus. Mas eles ( os sacerdotes e os chefes) exclamaram: “Elimina-o, solta nos Barrabás”. Em muitos textos falta o versículo 17, que fala do costume soltar um prisioneiro na Páscoa, falta também a multidão. .A proclamação cristã não toca o direito penal romano. Pilatos sempre quis libertar Jesus dos Judeus, mas deve ceder às pressões deles: entregou Jesus ao arbítrio deles (23, 25).
Lucas sempre fala “ELES”, quem são eles? Os soldados romanos só entram 23,36 caçoando dele.
Mulheres batiam no peito (23,27-32)(só Lc):¨Filhas de Jerusalém, chorai por vós mesmas e por vossos filhos¨. Jesus, crucificado, pede perdão (23,34) Um dos malfeitores dizia: ¨Lembra-te de mim... 23,42.Jesus deu um forte grito ¨Pai,  em tuas mãos entrego nas mãos o meu espírito¨ e expirou. (23,46).
 O centurião constata: este homem era justo. (23, 47).

   O Filho do homem ressuscitou: o Cristo (24,1-53):

Para Lucas o lugar da aparição não é Galileia mas  Jerusalém como o Evgl de João diferente do Marcos e Mateus.Foram três mulheres, Maria de Mágdala, Joana e Maria de Tiago que contam que o Filho humano está vivo, um delírio para os apóstolos. (24,1-12).
Dois dentro dos companheiros indo para Emaús (24,13-35) refletem os acontecimentos. Jesus caminha com eles e interpreta as escrituras: agora o Cristo devia sofrer. O Cristo é o Filho humano (24,46) Quando Jesus repartiu o pão o reconheceram. Eles voltam para Jerusalém contando aos Onze e aos seus companheiros como reconheceram Jesus na fração do pão.
Aparição aos Onze: Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés e pede uma coisa para comer. As últimas palavras de Jesus: ¨Da minha parte, eu vou enviar-vos a promessa do Pai. Quanto a vós, permanecei na cidade até que sejais revestidos , do alto, de força (dinamismo)¨(24,49-53), uma declaração trinitária: Jesus, a promessa do Pai e a força do alto.  


6.   Os Atos dos Apóstolos  


  Introdução:

 O prólogo em Lc 1,1-4,13 seria o prólogo a toda a obra lucana. Lc 24,50-53 e Atos 1,1-5 seriam acréscimos posteriores.

A estrutura dos Atos: I. O movimento de Jesus em Jerusalém At 1,12-5,42,  II.de Jerusalém a Antioquia At 6,1-15,35; III. de Antioquia a Roma At 15,36-28,31;¨ (Ribla 44 p.8)

Já sabemos que Lucas silencia toda a crueldade do Império, não menciona a tentativa de Calígula entre 39 até 41 de instalar no Templo a sua própria estátua, não fala da rebelião em 52, nem fala da execução de Tiago em 62, nem dos Martírios de Pedro e Paulo em Roma, nem da grande guerra de 66 até 70. Para comparar os Atos com outros textos só temos o testemunho de Paulo em Gálatas 1, 11- 2,15 e 2 Cor. 11, 25-33 onde Paulo aparece totalmente diferente dos Atos. 

I. O movimento de Jesus em Jerusalém At 1,12-5,42,

6.1 OBJETIVO DOS ATOS


            Jesus aparece durante 40 dias aos apóstolos falando do reino e recomendando-lhes que não se afastem de Jerusalém (contrário a Marcos e Mateus), Paulo não fala nada de um lugar (1 Cor. 15, 5-8).

            Jesus aparece e conversa com os apóstolos sobre “reino de Deus”. Eles querem a restauração do reino para Israel. O novo não é nacionalista: ¨Recebereis a força da Espírita Santa  sereis minha testemunhas em Jerusalém, Judéia e Samaria, até as extremidades da terra¨.

 O objetivo da missão será universal.. A soberania de Israel (1,6) pode tocar o Império, o objetivo será agora: ser testemunhas de Jesus. O Jesus anunciando o reino se torna o Jesus anunciado, os tempos ficam remotos na autoridade do Pai, chega o tempo do Espírito Santo, Jesus é definitivamente arrebatado para os céus (1,11). 

6.2 RESTITUIR O NÚMERO DOS DOZE (1,15-26).


 O grupo dos “Doze” já foi definido no Evangelho. Os Doze representam as 12 tribos de Israel, a eles foi prometido o governo de Israel (Lc 22, 29- 30). Judas se tronou o guia dos que prenderam Jesus.  Por isso a escolha de Matias em At. 1, 15-26

6.3 A VINDA DO ESPÍRITO SANTO  (cap.2)

              Pentecostes: o cumprimento da aliança: Lucas aproveita-se da festa de Pentecostes, a festa da aliança no Sinai, bastante conhecida.  Em Jerusalém celebrava-se o dia de Pentecostes, cinqüenta dias após a Páscoa. Todos, tanto  judeus como prosélitos,, vindo de numerosos países, comemoram a aliança de Javé com o povo de Israel no Horéb. A montanha estava em chamas e Javé comunicou a aliança , as dez palavras A resposta do povo: Faremos tudo o que Javé falou. (Dt 4,4-5,21). ¨Ele se torna para ti Deus, tu ti tornas para ele o povo (Dt.  26, 16-19;)¨,único caso na Bíblia de semelhante declaração dupla.

        Todos os apóstolos com Maria, mãe de Jesus e algumas mulheres estavam numa sala superior.  De repente um ruído como de violento vendaval e apareceu-lhes algo como línguas de fogo pousando sobre eles, todos ficaram repletos do pneuma ágion e falaram outras línguas. (At 2,1).

       Jesus, que estava morto, mas que vive pelo pneuma ágion, subiu ao seu pai e nosso Pai. Jesus tinha falado: ¨Permanecei na cidade até que sejais revestido, do alto, de força¨ (Lc 24,45-53).

      Judeus piedosos, vindo de todas as nações, escutando o barulho, se reuniram diante da casa, perguntando, Como é que cada um de nós, doze nações, escutamos estes galileios na nossa própria língua? Cumpre-se a promessa da aliança com todos os povos, não só com Israel.

               Quando prenderam Jesus, Pedro seguia Jesus a distância, não mais conhecia Jesus. O galo cantou e Pedro se lembrou das palavras de Jesus e chorou amargamente. (Lc 22,54-62).                      Agora Pedro toma a palavra e testemunha o fato da ressurreição de Jesus, ele fala aos judeus com as suas leis. Pedro não reflete as conseqüências deste fato para a salvação dos judeus. 

           Pedro acusa os Judeus: “Vós crucificastes pela mão de gente sem lei Jesus de Nazaré” (2, 23). Gente sem lei são os Romanos. Deus Jesus fez Senhor e Cristo. Precisa se converter para receber o dom da Espírita Santa.

Segue o relato sobre a comunidade 2, 41 – 47. Tinham tudo em comum. Diariamente acorriam ao templo, mas partiram o pão em casa.

6.4 O CONFLITO COM O SINÉDRIO (3,1-5,42;)


Para Lucas o Templo está no centro começando com a infância de Jesus e os acontecimentos no Templo, Jesus deve estar nas coisas do Pai (Lc 2, 49). Contrário a Marcos Lucas falou que Jesus só tinha limpado o templo.

Pedro e João  entram no Templo (3, 1). Pedro cura um paralítico (como Jesus em Lucas 5,17-26). De novo Pedro acusa o povo que rejeitou Jesus diante de Pilatos, que decretava sua libertação desculpando-o. (3,13), Jesus é o Messias (e o céu tem que retê-lo 3, 21), Jesus é o profeta e o servo de Deus, Deus ressuscitou-o. Temos diante de nós uma primeira cristologia judaica.

 Segue a acusação de Pedro e João, que foram presos, diante do conselho com Anãs e Caifas (4, 6), Pergunta: Em que dinámica ou nome fizestes isso? Pedro, repleto da Espírita Santa acusa agora os chefes do povo.  Ameaça de não falar em nome de Jesus o Nazareno (4,10; 4,17). Mas precisa obedecer a Deus antes de obedecer às autoridades (4,19).

Segue o segundo relato sobre a multidão dos fiéis (4, 32-37) que tinham tudo em comum. A mentira de Ananias e Safira (5, 1-11), pela primeira vez aparece à palavra “Igreja” 5,11; 8,1; 11,26;).

Os Apóstolos continuam anunciando Jesus. Desta vez foram presos, mas o anjo do Senhor abriu as portas. Pela segunda vez apresentados diante do Sinédrio foram açoitados, depois ainda mais ensinam no Templo com liberdade. Lucas quer mostrar, que as autoridades perderam o controle sobre o Templo, os Apóstolos têm agora o controle (5, 17 - 42).


II. De Jerusalém a Antioquia At 6,1-15,35;

           6.5 O GRUPO DOS HELENISTAS


Até capitulo 6,1 só tínhamos boas notícias sobre os nazarenos. Agora há murmuração dos helenistas contra os hebreus por causa das viúvas. Helenistas são cristãos judeus da língua grega. Não sabemos de onde eles vieram. Mesmo na Galileia se falava grego. Os “Doze” são o grupo dos hebreus. Lucas tenta fechar a brecha entre os Hebreus e Helenistas criando o cargo dos diáconos, submetido aos “Doze” pela imposição de mãos. Parece que a paz e a harmonia reinavam novamente. Até uma multidão de sacerdotes obedeciam à fé e todos perseveravam no templo.  Segundo Atos 6, 7 muitos sacerdotes “escutaram com fé”, sem deixar de serem sacerdotes no templo. Tiago tinha o direito de ser sacerdote.

O conflito com Estevão (At. 6, 13): um dos helenistas, mostra, que os helenistas não estimaram o templo. Os Judeus podiam conviver com os cristãos hebreus, mas não com os cristãos helenistas. Dificilmente a igreja de Jerusalém aceitou rapidamente os incircuncisos (Atos 11, 3). Mas os helenistas abrem a boca e estragam tudo. Estevão, o profeta helenista prega o Evangelho. Estevão tinha o rosto de um anjo. (At 6, 8-15).

A discussão surge entre Estevão e alguns da sinagoga dos “Libertos”. Estes libertos subornavam alguns que declaravam terem ouvido Estevão proferir blasfêmias contra Moisés e Deus (6,9-11). Depois: ele fala contra o lugar santo e contra a lei (6,13-14), Lucas, que defende o templo, está harmonizando, ele diz que apresentaram falsas testemunhas. 

6.6 O DISCURSO E A MORTE DE ESTEVÃO


             Estevão fala contra o templo (7,48), Deus não mora em casa, feita por mãos humanas. Deus peregrinava com os patriarcas, caminhava com o seu povo, só admite como morada uma tenda.

Provavelmente a lei criticada não é a Torá mesma, mas sim as práticas culturais do Templo. A lei “promulgada por anjos” (7, 38) não é observada pelos adversários de Estevão. Eles assassinavam o justo, quer dizer Jesus (7, 52). 
O discurso de Estevão pode conter elementos dos cristãos helenísticos. Toda discussão em torno do Templo não nos é desconhecida. Lucas a omite. Mas através de Estevão entra  novamente.
O relato do martírio (7, 55; 8,3) tem contornos diferentes: Estevão  vê o céu aberto (7, 55) Ele viu a glória de Deus, e Jesus em pé a direita de Deus. Estevão mesmo fala diferente: “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do homem em pé à direita de Deus” (v 56). Seria possível que Estevão estivesse representando uma tradição tão antiga na qual Jesus ainda não era identificado como o Filho do homem? (veja Q com o dito “o que vem”). Aparece muito forte a esperança na vinda do Senhor (Lc 21,25-27). Saul era um dos que aprovavam  este homicídio ( 8,1)
 Todo o relato de Estevão tem elementos comuns com os de Jesus (Mc. 14, 56...) e sobre o destino dos discípulos. Lucas insiste em envolver Saul, um zelador da Lei, Será que Estevão foi o grande exemplo para Saul em superar a Lei, o sacerdócio, o Templo em favor dos gentios? Saul vai anunciar o Evangelho aos povos ensinando que não a Lei mas a fé em Jesus salva.

 O fato atingiu a “Igreja” (8, 2). Todos tiveram que fugir “exceto os apóstolos”. Isto pode significar que os helenistas saíram de Jerusalém, enquanto os hebreus ficam e mandam mais tarde no concílio.

6.7 O PERFIL DAS COMUNIDADES HELENISTICAS


Os helenistas formam outro tipo de comunidade: liderança profética, com prática de serviço, escatologia apocalíptica “Filho do homem”, liberalidade diante da lei (característica com a igreja da Antioquia), rejeição ao culto do Templo, ênfase missionária, maior participação das mulheres, itinerantes como os da Galiléia, “são os do caminho”, lembra a Torá, que é uma guia no caminho, agora os do caminho de Jesus ((At 9,2) Paulo também vai ensinar o caminho.

6.8  Pedro e João em missão 

 Lucas fala da perseguição contra a igreja de Jerusalém, todos (os helenistas) devem fugir (8, 1) para o território de Judá e Samaria. Filipe proclama o Messias em Samaria (8, 5), Os apóstolos de Jerusalém mandaram Pedro e João para lá e oravam que os samaritanos recebessen a Espírita Santa se puseram a lhes impor as mãos (8,17). Filipe se pôs a caminho 8, 27 batiza o eunuco. Eunuco é um “temente a Deus”, embora não circuncidado, (assim ele não é um prosélito).

Pedro também viaja para Lida, Jope. Lá ressuscita Tabita e Cesárea (9, 32-420. Ele ficou bastante tempo em Jope. Vieramm homens e convidam Simão, cognominado Pedro, para visitar Cornélio, um centurião romano em Cesaréia (10,1- 11,18;), Numa êxstase Pedro aprende que Deus é  imparcial e de que , em toda nação, quem quer que o tema e pratique a justiça, é acolhido por ele   10,34,).  Espírita Santa caiu sobre todos os ouvintes e foram batizados.

Pedro abriu uma grande brecha: os pagãos haviam aceitado as palavras de Deus, um escândalo que Pedro havia comido com pagãos (11, 2-3). Pedro em Jerusalém se defende. Será que os Judeus cristãos se acalmaram na verdade? (11, 18).

6.9 A vocação de Saul


        Secundo Lucas Saul é cidadão de Tarso, uma cidade célebre (At. 22, 28) com muitas escolas. Ele mesmo se chama Hebreu e foi estudar em Jerusalém na escola de Gamaliel.  Nos Atos 9, 1-31 ele pediu cartas para a sinagoga de Damasco, para levar presos os seguidores do Caminho. Só a sinagoga não tinha este poder na capital da Síria. Deus chamou-o: uma luz celeste o ofuscou e ele ficou três dias cego, Ananias curou-o e Paulo recebeu o batismo. 

         Paulo proclama nas sinagogas em Damasco que  Jesus é o filho de Deus. Os judeus decidiram eliminá-lo, por isso certa noite os discípulos desceram Paulo num cesto muro a abaixo. Foi para Jerusalém e tentou juntar-se aos discípulos que queriam eliminá-lo, por isso ele foi para a Cesaréia. Em Atos 22, 6 e 26, 12 Paulo não menciona a fuga num cesto, só em 2 Cor. 11, 23-33 fala das perseguições que ele sofreu da parte dos Judeus. Em Damasco o governador do rei Aretas  ( não os judeus) quis prender Paulo, por isso:Me desceram muralha abaixo. Paulo não conta, quando aconteceu isso.

Relato de Paulo na carta às igrejas da Galàcia


            Já na carta aos Tessalonicenses em volta de 50 d.C. Paulo se dirigiu à “Igreja”, o termo  do hebráico tardio “qahal” Javé ( Dt. 23,2-9), que significa assembléia religiosa dos Israelitas na diáspora, ou “edah” que significa mais o lugar da assembléia: a sinagoga. A LXX traduz ekklesia, igreja. 
            Em Gl 1, 11-23 Paulo conta: Eu persegui a igreja de Deus, a seita dos Nazarenos, mas quando Aquele que me pôs à parte desde o seio de minha mãe ( é um chamado como o de Jeremias) decidiu revelar em mim seu filho. Vivo, mas não sou mais eu, é Cristo que vive em mim. Pois a minha vida presente na carne:“vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.”  ( 2,20). A fé em Jesus salva, não mais a Lei com a circuncisão.

            Ele  foi para a Arábia (  melhor falar Arabá, o deserto) e Damasco, o Qumram de hoje, onde se encontraram os rolos de Damasco. Ficou lá  três anos. Ele não foi para a capital da Síria, Damasco, uma cidade florescente, que foi um paraíso com jardins e bosques

            Informe: O Damasco no deserto

             Já Elijahu buscou o caminho em direção ao deserto de Damasco ( 1 Rs 19,15) Nos rolos de Damasco, encontrados 1896, lemos que um mestre da justiça conduzirá os irmãos para Damasco no deserto, para concluir uma nova aliança com Deus.

            Já na fundação dos Essênios em torno de 180 a.C. foi importante Isaias 40,3: Preparai o caminho do Senhor no deserto. O deserto ao lado do Mar Morto foi lugar da esperança messiânca.

        Em 1947 foram encontradas vasilhas de barro com rolos da Escritura e com outros escritos dos Essénios. O nome de Qumram não aparece nos escritos. Eles chamavam-se “Exilados da Arabá”. Lá nunca tinham mais de 1.00habitantes. Foram Judeus piedosos que saíram de Jerusalém esperando o Messias e a purificação do Templo. Foi o tempo do Helenismo com sua cultura alienante. 
            A purificação e o batismo foram um rito deles, mas eles batizam-se a si mesmos. Nos atos 9, 18 Paulo foi batizado, nos Atos 22, 16 se diz: Batiza-se e lava-se dos pecados.Paulo podia usar o rito dos Essênios. 
            Os Essênios procuravam a paz, foram zelosos na pobreza e muitos eram celibatários (veja um homem carregando água Mc. 14, 13 e a casa de Simão, o Essénio 14, 3).

            Idéias Comuns entre os Essênios e Paulo:
            ,A comunidade de Damasco tratava-se como o Israel verdadeiro, veja Paulo em Fl. 3, 3. Desde a criação do mundo eles são os eleitos de Deus, veja  Ef. 1, 4. São filhos da luz, 1 Tss. 5, 5. São predestinados para a salvação, o resto está condenado veja Ro. 9, 6-23 e 2 Cor. 6, 14-7,1. Paulo como os Essênios falam do Belial..

            Os Essênios  esperavam a salvação final: o mestre da justiça virá,  aparecerá um novo céu e uma nova terra, uma nova Jerusalém
            Depois dos três anos Paulo voltou para Jerusalém para conhecer  Cefas, ficou lá 15 dias. Depois foi vários anos nas regiões da Síria e da Cilícia  (Gl 1, 21). Após 14 anos voltou para Jerusalém, “Tiago, Cefas e João deram-nos a mão (Gl 2,1-10)”.Depois tinha o conflito entre Cefas e Paulo sobre a circuncisão e a lei ( 2,11-16).

                6.10 A IGREJA DE ANTIOQUIA


            O relato começa 11, 19-30.Sobreviventes de Estevão foram para Antioquia.  Desta vez não os Doze, mas a igreja de Jerusalém manda Barnabé a Antioquia, ele busca Saulo em Tarso e os dois ficam em Antioquia por um ano.

            Pela primeira vez em Antioquia os discípulos foram designados com o nome de “cristãos” 11,26 (veja 1 Pedro 4, 16). No Império os escravos foram chamados crestos (úteis para o trabalho). Os cristãos mesmos usam este título só a partir do 2 século.

            Antioquia foi fundada no ano 300a.C. a 40 km ao norte de Jerusalém, um centro pluri-cultural e comercial, o capital do reino selêucida. Na origem do cristianismo a cidade tinha 500.00habitantes, 10%  foram Judeus, a terceira maior cidade após Roma e Alexandria. Apesar dos Gregos e Sírios tinha Cretenses, Árabes, Persas... Vespasiano e Tito frearam várias revoltas contra os Judeus na cidade.

            Como anunciar o Evangelho às nações que não conhecem a Bíblia? Que Jesus é o Messias eles não entendem, que Jesus é Senhor (Kyrios) ou filho de Deus Altíssimo, eles entendem. O termo Reino de Deus eles no entendem, vida eterna sim.

            Será que neste ambiente grego surgiu uma nova cristologia, veja o Hino pré-paulino (Filipenses 2, 6-11). A fé de Jesus em Deus se torna a fé em Jesus. A tradição judaica se traduz em termos filosóficos helenísticos.

            O mesmo problema se coloca na ética: os Judeus têm a ética da lei, as nações têm pouca ética (Rm. 1, 18-32). Não era necessário que as nações deviam aceitar a circuncisão e praticar a lei? Assim quer a seita farisaica em Jerusalém (15,5).

            Segundo muitos estudiosos o Evangelho de Mateus surgiu na Antioquia, em seu Evangelho Mateus já coloca a primeira experiência da igreja. Lá estava Pedro (Gl 2, 11-21) e tinha um papel importante:Jesus  é o Filho de Deus e Pedro  a pedra, sobre a qual a igreja foi fundada (Mt 16, 16-19). A hostilidade dos cristãos aos Judeus pode ser uma reação a Jámnia.

Lucas conta a terceira prisão de Pedro no capitulo 12, 1-17. Herodes Agripa tinha vivido muito tempo em Roma, ajudou na nomeação de Cláudio como César, por isso foi nomeado o rei de Judá (41- 44). Para agradar aos Judeus mandou degolar Tiago irmão de João e decidiu prender Pedro. Um anjo liberta o Pedro e ele mandou contar tudo a Tiago, o Irmão de Jesus. Depois saiu e foi para outro lugar (12, 17). Secundo Paulo Cefa aparece em Antioquia (Gl 2,11;)          

6.11 Barnabé e Saul/Paulo no Sul de Ásia Menor  Atos 13,1-14,28


           A partir da igreja de Antioquia entre 45 e 49 sai a primeira missão de Barnabé e Saul (At. 13,4). Saul agora chamado Paulo (13,9). De Antioquia para Selêucia e Salamina junto com João Marcos. Pafos, Perga, lá Marcos se separa, depois Antioquia, a capital da Galácia, expulsos de lá para Icónio, Lystra, em Derbe foi apedrejado. Eles voltam para a Antioquia.Lá tinha conflito sobre a circuncisão.

6.12    O Conflito entre Antioquia e Jerusalém Atos 15


Durante o primeiro século os líderes da igreja foram da família imediata de Jesus. Marcos apresentava uma imagem muito negativa da família de Jesus. Agora Tiago “o irmão do Senhor” é o líder em Jerusalém. Paulo em Gálatas 2, 9 só menciona Tiago, Cefas e João, não os Doze como Lucas. Após a morte de Tiago também a família de Jesus decide o sucessor: Simeão de Clopas, irmão de José, pai de Jesus.

O incidente que Paulo menciona em Gl. 2,11-14 trata de uma delegação que veio “de Tiago” e conseguiu impor-se a Pedro e Barnabé para que não comessem com gentios. No concilio de Jerusalém (At. 15) Tiago é o dirigente máximo, Pedro desaparece rapidamente.

             Para a igreja de Jerusalém o templo era o centro da sua prática religiosa. Eram judeus: “muitos judeus creram e todos eram zeladores da lei” (At. 21, 20). Na sua última visita em Jerusalém Paulo comparece formalmente diante de Tiago que só lhe apresenta as acusações que circulam (At. 21, 15-26). Paulo preso em Jerusalém não encontra nenhuma ajuda dos fiéis de lá 

            O concilio de Jerusalém aconteceu no ano 49. Temos dois relatos: Atos 15 e Gálatas 2, 11-21.  Conforme Gl. 2, 11 Pedro estava em Antioquia e costumava comer com os gentios. Vieram alguns da parte de Tiago de Jerusalém e Pedro se afastou das nações por pressão do grupo farisaico, ele não queria a ruptura com os cristãos Judeus. Paulo repreende Pedro diante de todos. O que salva é  a f é não a observância da lei. Pedro e Barnabé são vacilantes.
            O hebraico tem duas palavras para ´povo´: am significa Israel, goyim significa os outros povos, as nações. A LXX traduz am por laos e goyim por ethne, os gentios, são os excluídos.

            A comunidade de Jerusalém não põe em dúvida nem a lei de Moises, nem o templo. A lei continua  a ser observada pela circuncisão. Quem veio de Jerusalém, exigiu a circuncisão para ser salvo (At. 15, 1). Isto provocou forte oposição de Paulo e Barnabé, que desceram para Jerusalém.

Os Apóstolos e os anciãos se reúnem, o partido conservador é  forte e decidido. Pedro está presente e defende a Graça do Senhor Jesus e o Espírito Santo entre os gentios, ele é contra a lei que nem os Judeus podem suportar (15, 7-11).Foi pela  graça do Senhor Jesus, que fomos salvos Depois Barnabé e Paulo contam os milagres e sinais entre os gentios (15, 12,). Tiago tem a última palavra concluindo não impor obstáculos aos gentios (15, 19). A Assembléia manda uma carta  para Antioquia: ¨A Espírita Santa e nós mesmos decidimos...¨ Contudo Tiago acrescenta uma cláusula restritiva (15, 20-21) para assegurar a convivência entre nações e judeus (coloca em vigor a aliança com Noé, pai de todos os povos ( Gn 9).


III. de Antioquia a Roma At 15,36-28,31;

 

6.13  VIAGEM DE PAULO PARA A EUROPA 50- 52


            Informe  sobre  Macedônia e Acaia:

            De Macedônia veio Alexandre Magno, que fundou o Império Grego. A região foi uma terra fértil em contraste com Acaia, mas pelas várias guerras a terra foi devastada. Em 148 a.C. a Macedônia tornou-se província Romana. Roma instalou várias colônias romanas com soldados veteranos das guerras.

            Os romanos tinham construído uma estrada de leste para oeste:a via Egnatia, sem manutenção no tempo de Paulo. Em 2Co 8,2 fala de uma pobreza abismal nesta região.Filipos, uma cidade pobre, estava situada nesta via Egnatia. Tessalônica foi um porto para o interior.

             Corinto, capital da Acaia, foi destruída 146 a.C. e repovoada pelos romanos 10 anos depois, uma cidade cosmopolita, com muitos romanos, muitos escravos. Tinha vários templos, manteve-se em uso um canal seco que atravessava o Istmo de Corinto, construída no século 6 a.C. Foi escavado um anfiteatro com 14.000 vagas. A cada dois anos aconteceram os jogos Olímpicos do Istmo. Corinto foi um porto de embarque e desembarque.

              O regime imperial era escravagista, nas cidades tinha uma pequena elite com muita riqueza em contraste com uma grande população em extrema pobreza.

            Roma tinha introduzido na Grécia o clientelismo: conseguiu-se tudo pela beneficência de um superior. Em agradecimento ao patrão foram edificados templos com cultos de honras. César eseus familiares eram honrados como um Deus com oferendas e festas.

            O César é o Senhor e Deus, ele garante” paz e segurança” (era um slogan quase divino no Império). Aos povos dependentes era exigida a fidelidade ao Império em troca da garantia da paz.

            As cidades consideradas colônias romanas eram regidas pelas leis romanas e seu governo era considerado  extensão direta de Roma, freqüentemente se falava a língua romana.

            Os Judeus no Império: são bem sucedidos, eles conseguiram o privilegio de sua religião licita, são protegidos pelo imperador. A única exigência era que eles oferecessem sacrifícios a seu Deus pelo imperador. Nunca houve no Império perseguição contra os Judeus que se distanciam dos cristãos, considerados subversivos.

            A viagens conforme Atos 15, 36-18,23;

             Paulo foi primeiro para Filipos. Num Sábado foi para as margens de um rio para rezar, aparentemente não tinha uma sinagoga e conversou com mulheres (At. 16, 13). Hospedou-se na casa da Lídia, uma comerciante de púrpura de Tiatira, onde se produzia a tinta para a púrpura de raízes, o que era mais barata que a tinta de animais marinhos. Uma criada, ela  uma escrava a serviço de seu dono, gritava: estes homens são servos do Deus Altíssimo e nos pregam o caminho da salvação (At. 16, 17). Apresentados aos magistrados os patrões dela disseram: estes homens estão perturbando a nossa cidade, são Judeus e pregam costumes que nós, romanos, não podemos aceitar e nem praticar (At. 16, 21).

             Uma nova situação: não o conflito com a sinagoga mas com o Império. Paulo e Silas na cadeia flagelados..Lucas, pela primeira vez, precisa contar que a pregação do Evangelho traz conflito com o Império, mas os magistrados mostram um bom comportamento e se desculpam (16, 22-40). O rápido reconhecimento da cidadania romana de Paulo e o pedido de desculpas dos magistrados de Filipos são pouco prováveis. Paulo nos relata, que tinha sérias dificuldades em Filipos ( 1 Ts 2,2)

            Em Tessalônica existiu uma sinagoga. Desta vez os Judeus acusam Paulo diante dos magistrados: eles revolucionaram o mundo inteiro (17, 6) todos eles atuam contra os editos afirmando que há outro rei: Jesus. Mais um  conflito com os romanos, de noite Paulo foge para a Beréia, de lá para Atenas.

            Em Atenas 17, 16-34 Paulo discutia com Judeus e Prosélitos nas sinagogas e com os pagãos na praça. Paulo muda a metodologia: fala uma linguagem não bíblica citando poetas dos gregos. Tudo fica somente em conversa e Paulo foi para Corinto.

             Em Corinto (18, 1-18), ele ficou do inverno de 50até o verão de 52. Na sinagoga ele encontra Áquila e Priscila que a pouco tinham chegado da Itália, porque Cláudio (o Imperador) havia expulsado de Roma todos os cristãos. Paulo fica com eles fabricando tendas (18, 2-3).

            Paulo ficou bastante tempo em Corinto ( 18,18), depois voltou para Antioquia ( 18,23).

6.14 A volta de Paulo para a Europa, Atos 18,23 - 21,1


             Lucas não dá muitas informações sobre esta terceira viagem. De novo Paulo atravessa Galácia e Frigia confirmando os discípulos. Em 19, 1 chega a Éfeso e ficou lá mais do que dois anos.

             Em Éfeso tinha um judeu Apolo de Alexandria, instruído no caminho do Senhor (18, 24-28). Paulo batiza 12 discípulos de João Batista (19, 1 -10).

             Lucas conta como Paulo fez dinámicas extraordinários (19, 11-20), e depois fala do Motim em Éfeso (19, 21-40). Lucas no fala nada sobre a hostilidade que Paulo encontrou em Éfeso e de sua prisão, não combina com a sua visão do Império. Provavelmente da prisão em Éfeso Paulo escreve as cartas aos Filipenses, ao Filemon, várias cartas aos Coríntios, aos Gálatas e aos Romanos

             Despediu-se de lá e foi para a Macedônia e Grécia, esteve lá três meses (Atos 20, 3). Em Trôade foram reunidos no primeiro dia da semana para partir o pão( 20,7). 

            Depois Lucas conta a volta para Jerusalém (20,13; 21,17), Paulo não passa por Éfeso para no perder tempo (20, 20-16), mas chama a comunidade para Mileto para se despedir, mais um famoso relato sobre um trabalho de Paulo (20, 17-38). Será que na verdade Paulo tinha medo de entrar novamente em Éfeso, onde sofreu tanto?A volta para Jerusalém vai ser perigosa, ele vai ser amarrado pelos Judeus e entregue aos pagãos (21, 11). No verão de 58 ele está em Jerusalém.


 6.15  Paulo, preso em Jerusalém, vai para Roma  atos 21,17-  28,31

             No ano 58 , logo na chegada em Jerusalém, Tiago avisa Paulo sobre os boatos que corriam contra Paulo (21, 21) Paulo sofre o mesmo destino que Jesus, o povo grita: mata.

Mas sempre os soldados salvam a vida dele. Durante 58-60 preso sob o ilustríssimo Félix. Paulo apela ao imperador (25,12) em Cesárea. Outono de 60 foi para Roma, reaparecimento de “nós”, (27,1), o autor se apresenta como participante desta viagem. 61 - 63 em Roma sob custódia militar.

            Pela ultima vez Paulo convoca os Judeus em Roma (28,17). Por causa da esperança de Israel ele carrega estas cadeias ( 28,20). Como eles não querem entender, a salvação foi enviada aos pagãos (28, 28). Lucas termina os Atos contando que Paulo proclamava o reino de Deus com toda a liberdade. Isto soa muito bonito, mas foi eufêmico, porque Paulo foi executado em Roma.




                7. As cartas de Paulo

 7.1 A CARTA À IGREJA DE TESSALÔNICA

             No ano 51 em Corinto Paulo escreve aos Tessalonicenses: o primeiro testemunho do Novo Testamento
            Os fiéis de Tessalônica não eram judeus, mas gentios, que se converteram dos ídolos para servir ao Deus vivo e verdadeiro. Este Deus há de manifestar a sua ira contra a injustiça do Império Romano. Antes de fazer enviará seu filho para salvar os fiéis. Paulo tratou-os como mãe e  pai (2, 7;2, 11). O tema é  a vinda do Senhor, já no inicio Paulo chama Jesus ” o Senhor “ que se opõe a César (2,19; 3, 13; 4,13-18) bastante diferente da concepção de Lucas.
             Paulo está promovendo a formação de células urbanas, são casas subversivas contra os cultos romanos e a política dominante. Significativo o uso negativo de paz e segurança. Os imperadores tinham trazido a paz, mas não vão escapar do julgamento no Dia do Senhor (5, 2-3). Temos uma linguagem com ressonância política: Kyrios, Reino, Parusia. Os escravos e pobres da Tessalônica esperavam da vinda do Senhor Jesus uma nova era de justiça e igualdade.
            Durante a espera da Parusia do Filho de Deus precisa viver uma vida digna.
          Primeiro: trabalhar com as próprias mãos (4, 9-12). Paulo mesmo trabalhou dia e noite a fim de não sermos peso para ninguém (2, 9). Contra o clientelismo do Império, a dependência do patrão, Paulo prega um modelo diferente: a solidariedade, o amor de um pelo outro. Paulo mostra isso pelo seu próprio trabalho, assim ele não  é dependente de ninguém, é o seu modo de seguir Jesus no caminho da cruz.
           Segundo: não se deixar amedrontar,”sofrer perseguição é nosso destino” (3, 3), Paulo se refere às pressões dos concidadãos (2, 4). Paulo consola-os com a vinda (Parusia) do Senhor.
             Parusia era uma festa na vinda de um general vitorioso ou governante. A vinda do Senhor ocorre com a voz do Arcanjo, som da trombeta, uma recepção festiva nas nuvens.
          Terceiro: abster-se da pornéia, fornicação, prostituição, bem comum no Império Romano.

7.2  A CARTA AOS GÁLATAS:

            Pensa-se que esta carta  foi escrita em Éfeso, por volta do ano 57, várias vezes Paulo tinha visitado os discípulos na Galácia. É possível que chegassem lá Judeus Cristãos radicais que exigiram dos cristãos pagãos a circuncisão. 
            Lei ou fé, mas uma fé ativada pelo amor (5, 6). Antes da chegada da lei foi a promessa a Abraão, pela fé Abraão foi justificado, quer dizer feito justo, assim a descendência de Abraão será justificada pela fé. A lei veio mais tarde, pode ser válida para os judeus e judeus cristãos, mas não para os não-judeus..A lei não justifica, ela vem acrescentar-se.( 3,19).
            O batismo atinge fortemente a vida da sociedade, os discípulos não estão mais sob o comando dos pedagogos escravos e da lei. Os fieis não dependem mais deles, todos são filhos de Deus, não tem mais judeu e grego, escravo e livre, homem e mulher (3, 23-19).
Paulo traz em seu corpo as marcas de Jesus (6, 17).
            Sobre os que se conduzem secundo esta regra, paz e misericórdia, assim como sobre o Israel de Deus (6,16).Questiona-se, quem é o Israel de Deus. Será a resposta de Paulo em Romanos cap. 9-11?
            Paulo estava convencido de que o judaísmo era bom, mas era a caminhada de um determinado povo com o conjunto de seus valores peculiares, sua cultura. O evangelho estava para além disso. Foi a primeira vez em que aparece a distinção entre fé e cultura: a circuncisão e a lei são cultura dos Judeus, os gentios não precisam assumir esta cultura. Foi a única experiência séria, profunda e ampla para a implantação do evangelho nos outros povos.

          7.3 A CARTA AOS FILIPENSES

              Em Éfeso da prisão, no pretório da residência do governador,Paulo escreve aos Filipenses entre 56 e 57. Os presos no receberam alimentação, nem roupa e nem remédio, tudo devia ser levado pelos parentes e amigos.
             Paulo está preso por causa de Cristo 1, 13,  “Cristo será exaltado em meu corpo, seja por minha vida, seja por minha morte” 1, 21-24. Ele se identifica com a morte e ressurreição dele,” por causa dele perdi tudo”
             3, 7-11.Conseqüência da revelação do seu Filho em mim. (Gl 1,16)  Paulo destaca sempre que toda a graça vem de Deus, mas por seu Filho Jesus. A fé de Jesus em Deus foi o primeiro passo, agora Paulo acredita em Jesus.
            Ele cita um Hino 2, 6-11; uma nova Cristologia:
            Jesus Cristo é de condição divina:  “achando-se em forma de Deus”. Isto significa uma  alusão a Gn 1,27; 5,1; “a imagem de Deus”, não considerou como presa a agarrar o ser igual a Deus...tornando se obediente até a morte. “ e morte numa cruz” deve ser um acréscimo de Paulo.
        A missão de Paulo está intimamente ligada à vinda próxima do juiz. Os fariseus fizeram missão que não estava ligada com a vinda do juiz . Nós somos cidadãos do céu (3, 20), assim critica  o encarcerado o Império Romano,  e esperamos o Senhor Jesus Cristo (4, 4-5).
        Figura mais importante foi Epafrodito (2, 25) que mandou um donativo dos Filipenses ao encarcerado. Nenhuma outra igreja associou-se tanto a Paulo (4, 15) por isso a sua alegria.
            A carta parece compor-se de três cartas: A primeira ( Fl 4,10-20)é uma acusação de recibo da oferta. Sua situação jurídica agravou-se, e é possível uma sentença de morte ( 1,20-23; 2,17;) Epafrodite fica gravemente doente. Paulo envia uma secunda carta  ( 1,1, - 3,1 e 4, 1-7). Finalmente libertado, Paulo soube da presença dos “ inimigos da cruz de Cristo” ( 3,18) e manda uma terceira carta ( 3,2–21 e 4,8-9;)

           7.4 BILHETE AO FILÊMON

            A data desta pequena carta está incerta, mas a referencia da prisão de Paulo deixa pensar em Éfeso. Os colaboradores de Paulo são companheiros de uma militância e não são sacerdotes ou
funcionários de uma religião.
        A Igreja está na casa de Filêmon. A estrutura básica da cidade tem uma estrutura hierárquica. Filêmon não precisa ser rico, muitos pequenos artesãos tinham em sua oficina alguns escravos,  que atuavam como aprendizes, foram enviados a fazer compras ou vender produtos. Tem um escravo desaparecido Onésimo que se converteu na prisão pela pregação de Paulo e tem medo de voltar.
        Paulo pede a Filêmon que não exerça o poder sobre o seu escravo mas trate-o como irmão. A casa com sua estrutura hierárquica deve se transformar em espaço igualitário. Chamar de “irmão” um escravo é impensável para a cultura greco-romana. Paulo descobre que o fato de Cristo mina toda a cultura do poder. 

             7.5 AS CARTAS AOS CORINTIOS

            Informe sobre a cidade Corinto: capital da Acaia, foi destruída 146 a.C. e repovoada pelos romanos 10 anos depois, uma cidade cosmopolita, com muitos romanos, muitos escravos. Tinha vários templos, manteve-se em uso um canal seco que atravessava o Istmo de Corinto, construída no século 6 a.C. Foi escavado um anfiteatro com 14.000 vagas. A cada dois anos aconteceram os jogos Olímpicos do Istmo. Corinto foi um porto de embarque e desembarque. Cidade muito rica entre dois mares, eminentemente comercial com caráter cosmopolita, tinha mais de meio milhão de habitantes, dois terços dos quais eram escravos.
            Paulo fez a primeira visita 50-52 proveniente de Tessalônica, a secunda visita 56-57 partindo de Éfeso e Macedônia.
            Ao chegar a Corinto Paulo se situa novamente no setor dos artesãos manuais e se dispõe a ganhar o seu próprio sustento. Esta prática de trabalho o levaria tanto ao porto como à “agora”, a praça do comércio, onde ele encontrava comerciantes, trabalhadores, desempregados. Seu próprio trabalho o faz independente de qualquer clientelismo, é a sua glória.
            As cartas foram também escritas em Éfeso entre 54 - 57 (1 Cor. 16, 8). Em 2 Cor 1, 8 Paulo se refere da prisão que sofreu na província da Ásia, ameaçado até a sentença de morte. Uma primeira carta está perdida (1 Cor. 5,9).

            A  primeira Carta à Igreja de Corinto:
            A opção de Deus é pelos pobres (1 Cor. 1, 26-28): na comunidade há uma minoria que domina a maioria:
            A minoria está composta por:
a - Sábios segundo a carne, são filósofos ou mestres importantes, é a camada cultural;
b - Poderosos, importantes na cidade, é a classe política;
c - A classe alta,é a camada social.
            A maioria está composta por:
a – Estultos no mundo, eles não têm educação, cultural ,
b – Fracos no mundo, não têm voz nem vez na política,
c – Desprezáveis no mundo, a classe baixa, social.
            A opção de Deus  pela maioria dos excluídos: para confundir e envergonhar a minoria. Ele se dirige à  minoria: vocês já estão fortes, ricos, reinam, mas os verdadeiros apóstolos seguem a opção de Deus, ocupam o ultimo lugar (cultural) condenados  morte (político), espetáculo para o mundo (social) 1 Cor 4, 8-13.
            Paulo se apresenta à comunidade: fraco, receoso e todo trêmulo ( 2,1-5), mostra o papel dos pregadores ( 3,1-4,13), oferece gratuitamente o Evangelho, sem usar dos direitos que este Evangelho me confere ( 9,1-23)
            Por causa desta minoria dos poderosos surgem os conflitos na comunidade. Eles são os oponentes internos de Paulo que encarna a opção de Deus pela maioria pobre.
             1 Cor 6,1-8: os ricos acusam os pobres perante os tribunais
Só podem ir aos tribunais os que têm dinheiro, poder e reconhecimento. Podemos supor que foram alguns da minoria que acusaram os pobres. A mais dura crítica às autoridades.
            1 Cor 11,17-22: a Eucaristia, enquanto um passava fome, outro se embriagava. Eles envergonham aqueles que nada têm.
            1 Cor 12-14: ricos, poderosos e carismáticos exaltados: a carisma serve para satisfação própria e não para a edificação da comunidade. São eles que criam divisões na comunidade ( cap.1-4)
             Fornicação foi um ponto importante: O corpo é templo do Espírito Santo. Conselhos sobre matrimônio e celibato.Carne imolada dos ídolos (8), Paulo dá o exemplo da sua própria vida (9).Perigo da idolatria (10). Curiosa comparação de Gênesis 1, 27 :o ser humano, imagem e semelhança de Deus, que coloca no mesmo plano o homem e a mulher, é substituída por uma disposição hierárquica, a mulher  subordinada ao homem (11, 1-16).      
                Sobre ressurreição com o mais antigo testemunho da ressurreição: “A morte veio por um homem e também por um homem vem a ressurreição dos mortos” (15,21)  A carta aos Romanos fala diferente: Por um homem o pecado entrou no mundo, e pelo pecado a morte...( Ro 5,12).
             A carta termina com um assunto sobre coleta em favor de Jerusalém 16.

                A secunda Carta à Igreja de Corinto:
            Sobre esta carta temos mais dúvidas do que certezas. Lucas deixou uma lacuna narrativa. Paulo menciona uma carta precedente escrita com lágrimas (2, 3-4),podem ser os capítulos 10- 13. Ele avisou uma terceira visita e uma missão de Tito (13, 1).
            O problema fundamental que Paulo deve enfrentar não é interno mas externo: chegaram pregadores carismáticos, possivelmente de Jerusalém, os quais Paulo chama”super apóstolos”, são autênticos Israelítas. Eles desprezam Paulo por sua aparência modesta e fraca, por não ter carismas. Paulo se defende:
1) Primeira defesa: 2 Cor.2,14 – 6,13, também 7,2-4
2) Paulo faz uma visita rápida a Corinto...
3) Segunda defesa: cap. 10 – 13
4) Paulo é preso em Éfeso, depois libertado  vai  a Filipos enviando Tito para Corinto.
5) Carta da reconciliação 2 Cor 1,1 - 2,13
6) Cartas sobre coletas 2 Cor. 8 e 9
7) Paulo visita Corinto e escreve a carta aos Romanos. 

            Em resumo: Paulo fez uma segunda viagem para Corinto, foi gravemente injuriado, um grupo de rivais discutiam a autoridade de Paulo, ele escreveu uma carta que se encontra nos capítulos 10-13. Tito volta de uma visita pacificadora e Paulo responde com 2 Cor. 1-7. Capitulo 8-9 pode ser um ou dois bilhetes, nos quais se promove a coleta para Jerusalém, difícil a entender para gente como os coríntios com cabeça do clientelismo romano.

                     7.6 A Carta aos Romanos.

                  PAULO E O IMPÉRIO ROMANO

            Paulo,apesar dos perigos vindos de meus irmos de estirpe, menciona também os perigos dos gentios (2, Cor. 11, 26). Poucos versos mais adiante, Paulo relata sobre a prisão planejada em Damasco. O procurador do rei  Nabateu, Aretas, vassalo romano, quer prender Paulo. Paulo, preso  em Éfeso como cristão deve se defender diante do Tribunal Supremo da Província, um processo de vida ou morte (Fl. 1, 20).Três vezes ele sofreu a flagelação, não permitida para cidadãos romanos (2 Cor. 11, 25), Paulo como trabalhador e missionário itinerante não aparece como um cidadão romano. Já 1 Cor. 15, 32 alude a sua luta com as feras em Éfeso veja 2 Cor. 1,8. Voltando para Jerusalém ele evita esta cidade.
            Em 1 Cor 6, 1- 8 Paulo questiona, como submeter uma desavença ao julgamento dos pagãos, ele chama os juízes de injustos e assim desqualifica-os como juizes. Paulo distancia-se dos dominadores “Os príncipes deste mundo”, que crucificaram o Senhor da Glória (1 Cor. 2, 6-8). A paz e a segurança do Império vão ser destruídas 1 Ts. 5, 3. Todo o principado... está ao lado da morte (1 Cor. 15, 20-28). Em Filipenses 3, 2 fala :Nossa cidadania está nos céus, (um conceito político), de onde esperamos como o Salvador o Senhor Jesus Cristo... só aqui chamado o Salvador, contra os salvadores do Império.
            Como se comportar diante do Império? Paulo fundamenta a sua exigência dizendo que as autoridades são os servidores de Deus, enquanto para o ambiente helenístico- romano as autoridades são divinas, filhos de Deus. Paulo assume uma tradição dos Essênios: manter sempre a fidelidade a todos, sobre tudo, porém, às autoridades, pois sem Deus ninguém alcança posição de autoridade. Rm 13, 1-7 ele diz: Seja todo homem submisso às autoridades que exercem o poder, pois no há autoridade a não ser por Deus. As autoridades constituídas são os numerosos cargos do aparato do Estado. O termo “princeps” significa o poder civil, o termo” imperador”  o poder militar. Paulo exorta: Por isso devemos submeter-nos. Diferente à 1. carta de Pedro 2,13:   ser submetido a qualquer instituição humana por causa do Senhor. Jesus tinha falado: devolver ao César o que  do César. O comportamento em relação aos inimigos mostra o Evangelho, por exemplo, Lucas 6, 27ss, precisa suportar 1 Cor. 4, 12, no retribuir o mau com o mau (1 Ts 5, 15), finalmente vem o Dia do Senhor.   Mas precisa ler este texto em relação a 1 Tss. 5,1-11: Aqueles, que dizem paz e segurança, estão do lado da noite e das trevas.
            Finalmente temos paz com Deus (Rm 5, 1) que não é uma paz de coração, mas de estar livre do julgamento, da ira de Deus, pela ressurreição de Jesus. Esta esperança de um mundo novo não é  passiva, mas ativa: vencer o mal com o bem (1 Ts 5, 15; Ro 12,17 e 1 Pedro 1,9)

                INFORME SOBRE A IGREJA PRIMITIVA EM ROMA

            A relação de Roma com Jerusalém era estreita no século I. Em Roma tinha uma colônia com mais de 40.000 judeus. Depois de 70 d.C. famosos rabinos visitavam Roma. Os Judeus gozavam de vários privilégios: podiam reunir-se no Sábado, coletar dinheiro para o templo, não prestavam serviços militares e tinham seus próprios tribunais, assim conviviam com o Império.
            A origem do cristianismo de Roma é  mais desconhecida, nasce possivelmente nos anos 40 pela ação missionária de Jerusalém. No ano 49, segundo o historiador Suetónio, o imperador Cláudio expulsou de Roma os Judeus que provocavam tumultos, por ocasião de tal Cresto, entre eles Áquila e Priscila, já judeu-cristãos (At. 18, 2-4). Será que Cláudio confundiu os Cristãos com os Judeus?
            O nome: Christianos (At. 11, 26) é  um nome latino que significa o grupo dos partidários políticos, que pertence a Cristo crucificado, a  pena da morte mais cruel do Império. Assim os cristãos eram suspeitos de deslealdade ao Império.
            No sabemos nada a respeito de quando Pedro chegou a Roma, ele no foi bispo de Roma. De Tácito temos as seguintes informações após o incêndio de Roma em 64:
Nero acusou os cristãos, eles já tinham fama de serem inimigos do Império e foram declarados culpados, não tanto do crime de fogo posto, mas, como de sua atitude cheia de ódio para com o gênero humano... Odiados por causa de suas infâmias... Culpados que tinham merecidos os castigos mais duros.
            Conforme Atos 28, 3 Paulo ficou dois anos inteiros em Roma numa moradia que havia alugado. Teria Paulo encontrado falta de hospitalidade por parte da comunidade? Talvez Paulo tinha feito questão de autonomia econômica para poder exercer com maior desprendimento o seu apostolado.
            As fontes assinalam uma forte tendência para a concentração de cristãos em áreas suburbanas, densamente povoadas e ligadas a confluência de vias terrestres na entrada da cidade. Especialmente destaca, neste caso, o bairro de Trastevere e os subúrbios à direita e esquerda da via Ápia. Trastevere possua 4.405 insulas (quer dizer casas de aluguel) isto indica uma pertence de cristãos aos estratos mais baixos da sociedade romana. O cristianismo da capital foi nos seus princípios uma fé de subúrbios e baixada. Teve um berço entre o suor e o mau cheiro, por isso: sedes condescendentes com os humildes (Ro 12, 16).
            O imposto a quem é devido, a taxa a quem é devida (Ro 13, 6). As” taxas” foram pagas por todas as pessoas cidadãs romanas ou peregrinas: pedágios, alfândega, manutenção de vias publicas e aquedutos,  também o ICM, uma taxa a ser paga por todos. Os impostos “tributo” deviam pagar todos os estrangeiros e peregrinos (imposto por cabeça por cabeça, e impostos sobre as rendas). (Fonte:Estudos Bíblicos n 25 p 46...).Pedro e Paulo morreram mártires no tempo de Nero (Imperador 54-68).

             A CARTA AOS ROMANOS

            A carta aos Romanos, não escrita para a igreja de Roma, mas a todos consagrados em Roma (1, 7). Paulo quer visitá-los (1, 8-14). Provavelmente Paulo escreveu no final da sua terceira viagem por volta 55 - 58 em Corinto após a reconciliação com a comunidade. Agora, sem ter conflitos, com mais calma pode refletir.
            Paulo, depois de traçar uma linha de Jerusalém até a IIíria, agora traça uma linha de Roma a Espanha. Se Jerusalém foi o ponto de partida para a primeira parte da sua missão, agora quer que Roma seja o ponto de partida para a segunda parte de sua missão  para a Espanha(15, 23-33). A carta tem afinidade com a Carta aos Gálatas.
             Paulo se chama escravo de Jesus Cristo... (1, 1) se identificando com a classe dos escravos do Império, escreve aos escravos (6,19), conhece muita gente de Roma (16). Ele está muito preocupado quanto ao êxito da viagem para Jerusalém (15, 30-31). A carta foi ditada por Tércio (16, 22). O Evangelho, prometido pelos profetas, concerne ao seu Filho, estabelecido, segundo o Espírito Santo, Filho de Deus por sua ressurreição para conduzir todos os povos pagãos. Paulo escreve esta carta no âmbito greco-romano.  ( 1,1-7)

                              Um justo vive por sua fidelidade:
 Um professor da jurisprudência na Suíça falou assim: ”O que é injustiça sabemos, o que é justiça não sabemos.” Cada um experimenta injustiça na própria vida e deseja a justiça. Não podemos determinar a verdadeira justiça que fica no futuro.       
  O tema da carta é a justiça escatológica de Deus: “A justiça de Deus se revela, pela confiança e para a confiança: “Aquele que é justo pela fé viverá” (Rm 1,17). Fé é confiança em Deus justo que fará justiça aos injustiçados que sofrem a estrutura injusta dos prepotentes.
O profeta Habacuc gritava: “Ate quando, Javé, não se elevou meu pedido de socorro? Diante de mim, só devastação e violência” (Hab 1,2-4; S 13). A resposta de Deus foi uma visão referente ao prazo, se pareça tardar, espera por seu término: ”um justo vive por sua fidelidade” (Hab 2,4; Rm 1,17). Javé fará justiça, fidelidade significa: confiar na promessa de Deus e já viver esta futura justiça.
O livro da Sabedoria analisa justiça e injustiça: o pobre é o justo que incomoda aqueles que usam a força (Sb 1 – 2). Existem bastante justos que sofrem injustiça.
A carta fala primeiramente da injustiça dos homens que mantêm a verdade cativa da injustiça (1,18), o que o Império pode entender porque a justiça é um conceito fundamental dos Romanos, portanto no sentido de restituição da ordem pela punição ou sacrifício aos deuses.  A justiça de Deus é o Evangelho, a mensagem boa: a salvação e o perdão. “Pela fé para a fé” é uma aclamação para a batalha. Exemplos da injustiça são perversidade sexual e homicídios, brigas (1,26 – 32). São estruturas injustas.
Depois Paulo fala dos judeus que apesar da lei pecaram sob o regime da lei (2,12). Ele não fala da injustiça dos judeus, mas do pecado deles. Conclusão de Paulo: ”Todos, judeus e gregos, estão sob o império do pecado, como está escrito: Não há justo, nem mesmo um só” (3,9). Para os Gregos vale a injustiça, para os Judeus pecado (1,18-3,20).

Agora Paulo (3,21-5,10) fala da nova justiça que começa com a ressurreição. Deus destinou Jesus “para servir de expiação por seu sangue, por meio da fé, para mostrar que era justiça, pelo fato de ter deixado impunes os pecados de outrora” (3,25). Jesus é sinal da reconciliação, alusão ao quarto canto do servo de Javé: “Ele verá uma descendência, ele distribuirá a justiça em benefício das multidões, pois as iniquidades delas toma sobre si” ( Is 53,11).  “Cristo morreu por nós, fomos reconciliados com Deus pela morte do seu filho” (5,8-10).                  
 Paulo apresenta Abraão como homem justo (4,1-25). “Abraão teve fé e isso lhe foi levado em conta de justiça”. Deus prometeu a Abrão que era sem filho descendência, tão numerosa como as estrelas. “Abrão teve fé em Javé, e por isso Javé o considerou justo” (Gn 15,6). Fé é uma fidelidade ou confiança ou esperança na promessa de Deus, e Abraão confiou nesta promessa, por isso ele é justo. Nós cremos naquele que, “dentro os mortos, ressuscitou Jesus, nosso Senhor, entregue por nossas faltas e ressuscitado para nossa justificação. 
(Otto Michel, Göttingen, Vandenbroeck 1966) 

                O homem velho e o homem novo ( 5,12-6,14):
            O homem velho é Adão: No cap. 5,12 temos uma comparação de Adão do passado e de Cristo do futuro. Paulo não fala de Adão, “no qual” todos os homens pecaram (assim traduzem os padres latinos), mas sim:”porque”, (pelo fato de que, visto que, aliás...) todos os homens pecaram, como ele explicou no início da carta.  O pecado entrou no mundo, e pelo pecado a morte. Na carta anterior 1 Cor.15,21  ele falou diferente: “visto que a morte veio por um homem”. Pecado seria a conseqüência da morte. O aguilhão da morte é o pecado, e o poder do pecado é a lei” (1 Cor 15,56). Portanto em Rm 5,14 ele corrige: de Adão até Moisés a morte reinou, mesmo sobre “os que não tinham pecado por uma transgressão idêntica à de Adão”. 
            O homem novo, que é Cristo: “O nosso homem velho foi crucificado com ele”, única vez ( 6,6-8) que Paulo menciona a cruz na carta aos Romanos, tão importante nas outras cartas.” Para que seja destruído esse corpo de pecado: que está morto, está libertado do pecado...cremos que também viveremos com ele.” Nota-se que Paulo fala do futuro: viveremos, o ser humano novo vive o futuro.

              O ser humano sob o domínio do pecado (6,15-7,25):
           Como viver a nova justiça? Paulo fala da vida concreta dos Romanos, eles são escravos, foram escravos do pecado, agora escravos de Deus, libertados do pecado são escravos da justiça.
            “Assim, pois, a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom” ( 7,12). O problema: “ Mas em meus membros descubro outra lei...ela faz de mim o prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros” (7,23)   “Ao mesmo tempo sujeito pela inteligência à lei de Deus  e pela carne à lei do pecado.” (7,25)
            O ser humano sob a graça da mãe Espírito, ruach (8,1-39):
         “Pois a lei do Espírito, que dá a vida em Jesus Cristo, liberou-me da lei do pecado e da morte” ( 8,2). O Espírito de Deus mora em nós, somos filhos de Deus ( 8,14) e clamamos  “Abba”, não somos mais escravos.  Toda a criação espera a revelação dos filhos de Deus (8,19). A vida nova abrange o universo. Seu Filho seja o primogênito de uma multidão de irmãos.(8,29).

            Eleição e esperança de Israel ( 9,1-11,36):
           “Eles que são os Israelitas, a quem pertencem a adoção, a glória, as alianças, a lei, o culto, as promessas e os pais” (9,4).  Mas só os filhos da promessa são verdadeiros Israelitas (9,8). Haverá injustiça em Deus?  Não, tudo depende da misericórdia de Deus: “Eu farei misericórdia a quem quiser misericórdia” (9,15). Eles não esperavam a justiça da fé, mas pensavam obtê-la das obras.
( 9,32). Judeus e pagãos têm o mesmo Senhor (10,12), os Judeus esperam o Messias, os Cristãos vêem em Jesus o Messias, que aparecerá na sua vinda gloriosa.
            Deus rejeitou Israel? “Ora, se a falta deles causou a riqueza do mundo e a degradação deles a riqueza dos pagãos, que não fará a total participação deles na salvação?” (11,12) A parábola da árvore ensina os ramos enxertados a não ficar orgulhosos (11,16-24): ”o endurecimento de uma parte de Israel vai durar até que haja entrada a totalidade dos pagãos. E assim todo o Israel será salvo” (11,25-26).
            Exortação concreta:.(12 a 15)
   
          8. As outras cartas do NT

          8.1  A EPÍSTOLA DE TIAGO                   


         Não há duvida que “Tiago, servo de Deus e de Jesus Cristo” (Tg 1,1) é o irmão do Senhor. Tiago foi executado às pressas antes da chegada do novo procurador pelo sumo sacerdote Ananias. O Sinédrio acusava Tiago de transgredir a lei. Os que se consideravam os mais justos viram muito mal o assunto, o rei Agripa removeu Ananias do cargo, que ocupou só três meses.

O que estava atrás? A situação era crítica. Poucos anos antes os sicários tinham assassinados vários sacerdotes. Acendeu-se uma inimizade de uns contra os outros e uma luta entre os sumos sacerdotes e líderes do povo. Os sacerdotes mais pobres estavam morrendo de fome. Provavelmente os sacerdotes cristãos estavam ao lado dos pobres. Tiago foi a vitima nesta luta e tinha amplo respaldo por parte dos rebeldes.
         Na carta fala-se da fé que deve se expressar em obras e declara morta uma religião que diz ter somente fé (1,27; 2, 15-17). Deus não pode ser tentado a fazer o mal e a ninguém tenta (1,13) repete a tentação do livro de Jó. No final da carta Jó foi lembrado “como resistiu” (5,11).
A guerra (66-70) tinha o componente de uma revolução social. Isto pode ver-se na carta de Tiago: “Agora vós ricos chorai e gemei... o salário, do qual privastes os trabalhadores...” (Tg. 5, 1-4). Temos aqui alusões aos fazendeiros que exploravam os camponeses e ao problema urbano com as autoridades: “Não são os ricos que vos exploram, os que vos arrastam aos tribunais?” (Tg. 2, 6). Possivelmente os sumos sacerdotes levaram os sacerdotes comuns perante as autoridades romanas. A epístola situa a igreja ao lado dos pobres na luta de classes na década de 60.
          Tiago é chamado o Justo, não é sem motivo: ele era pacífico. Era uma grande tentação de matar neste clima de terrorismo. Homicídio era tão normal como adultério (Tg. 2,11), “Matais e cobiçais, lutais e fazeis guerra”; (Tg. 4, 1-2). Cap.5,6 contem uma referencia misteriosa a um homicídio “Matastes o justo e ele não resistiu”. O leitor terá pensado no justo Jesus ?
            Fugiram os cristãos judeus de Jerusalém ou morreram com os demais judeus? A fuga para Péla parece uma lenda, mais provável é que a igreja de Jerusalém morreu também na guerra de 70.
            Quando Hadriano 132 d.C. proibiu a circuncisão dos Judeus, mesmo os Judeu-Cristãos foram atingidos. Muitos “nazarenos” fugiram e mais tarde chamavam-se “Há Ebijonim” (os pobres). Eles sobreviveram até o 7º século

          8.2 CARTA AOS HEBREUS (não de Paulo)

Os destinatários da carta não são conhecidos. Este documento foi escrito possivelmente para Roma, entre 70 – 95. Sua autenticidade duvidou-se até século IV. Na carta critica-se o sacerdócio sadoquita, Jesus é sacerdote secundo a ordem de Melquisedec. Clemente refere-se a esta carta: a carta procura deter os possíveis efeitos negativos da queda de Jerusalém, procura impedir uma rejudaização do culto cristão. É paradoxal, que justamente no século IV a cristandade sofreu profunda rejudaização teocrática e cultural. Se a gente estuda o culto e o comportamento do sacerdócio sadoquita, fica surpreendida, como voltou tudo na igreja do Estado Romano.

 Jesus, sumo sacerdote, se oferece a Deus?

           No NT Jesus nunca aparece como sumo sacerdote, pelo contrário: o sacerdócio é o grande adversário que mata Jesus, Será que  nos cap. 5 até 10 da epístola aos Hebreus se quer salvar  de uma forma purificada a ideologia da fonte sacerdotal?
          ¨Todo sumo sacerdote, com efeito, tomado dentre dos homens, é constituído em favor dos homens  no que respeita  às suas relações com Deus. Sua função é oferecer sacrifícios  pelos pecados¨. (Hb 5,1).
            Jesus é proclamado por Deus (5,4-10) não como os levitas com a lei (7, 23-28.
            Há uma nova aliança, nova tenda, um novo culto citando Jeremias 31,31-34.
          O sacerdote ofereceu o sangue de bodas e novilhos pelos pecados (Hb 9,12). O sangue é símbolo da vida, é santo.  O sangue de bode santifica os corpos os maculados:, ¨Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo espírito eterno se ofereceu a Deus como vítima sem mancha, purifica nossa consciência...¨(Hb 9,14).
          Impossível que o sangue de touros e bodes  elimine os pecados (10,4). A epistola cita Sl 40,7-9; mas o texto hebraico diz: ¨Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não te agradaram ,abriste em mim ouvidos para ouvir. Não pediste nem holocausto nem expiação. Eis que venho com o rolo de um livro escrito para mim¨
           
        A LXX traduziu; tu me formaste um corpo.  Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade¨. A epístola suprime os sacrifícios de touros para estabelecer o sacrifício de Jesus, uma volta atrás de Abraão 10, 3-10). Conseqüentemente ele não poupou Isaac mas ¨ofereciu o filho único¨ (11,17), numa espécie de prefiguração da ressurreição o recuperou.    
          Conclusão: ¨Ora, onde houver perdão, já não se faz oblação pelos pecados¨ (Hb 10,18).  A epístola não questionou Deus a quem se oferece o Filho.

No .12,1-4 Jesus é o iniciador da férenunciando à alegria sofreu a cruz e assentou-se à direita do trono de Deus. Ele sofreu da parte dos pecadores tal oposição contra si. Aqui a carta não dá uma interpretação sacrifical da morte de Jesus, mas propõe um modelo da fé que nos inspira a resistir até o sangue. “Ainda não resististes até o sangue no vosso combate contra o pecado”.

              8.3 AS IGREJAS NA ÁSIA MENOR

             INFORME: CENTRO DO CULTO AO IMPERADOR

          A Ásia menor foi o berço e o centro do culto ao imperador (Ribla 29 p 97). Os estudos sobre este tema demonstraram que alguns imperadores aceitaram, favoreceram e difundiram esta prática.
O aparelho ideológico romano apoiava-se justamente no culto ao imperador. O Apocalipse de João, proveniente da mesma região e da mesma época é uma amostra deste culto ao imperador. 
Éfeso foi o porto mais importante da Ásia Menor: em 29 a.C. foi instituído o culto a Deusa Roma e ao Deus Julio César.
 Esmirna, rival de Éfeso construiu em 195 a.C. um templo a Deusa Roma e em 26 d.C. um templo ao imperador Tibério.
 Pérgamo é a partir de 133 a.C. capital da província romana da Ásia, foi o centro do culto imperial, tem um templo dedicado ao Augusto, lá é o trono de Satanás (Apocalipse 2,13).  A ideologia do Império (paz Romana) culmina na paz dos Deuses, o imperador é “Senhor e Deus”. Para as comunidades o Império é o diabo que busca a quem devorar (1 Pedro 5, 8). Pérgamo é o trono de Satanás (Ap 2, 13).


   8.3 As cartas pastorais: Timóteo e Tito


             As pastorais representam o ápice da teologia pós-paulina no que se refere à exaltação e valorização da autoridade de Paulo. Paulo se tornou um marco de referência da fé desta comunidade: ele foi uma espécie de fundador da experiência religiosa do grupo (ver 1 Tm. 1,12-17; 2,1-7 e Tt. 1,1-4). Ele foi apresentado como o apóstolo que garante a fé de sua comunidade. Para tanto detém o “depósito” (paratheke) da fé. A reafirmação da autoridade paulina é uma reação da comunidade a uma situação de crise em que viviam. Para superá-la reavivem a imagem de Paulo e comprometem de novo a sua vivência com a tradição paulina.
A escatologia dos escritos paulinos autênticos, por exemplo, desaparece. A “Graça de Deus” que tinha papel predominante em Paulo adquire um papel educativo: ela “nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas, para vivermos neste mundo com autodomínio, justiça e piedade” (Tt. 2,11-13).
A vida rígida por autodomínio e piedade passa a ser uma das prioridades da vida dos cristãos. Se Paulo organizava suas comunidades em casas, as Pastorais apresentam comunidades que desenvolvem este “ethos” (ética) consequentemente. A organização de um grupo religioso em torno de uma casa não é invenção de Paulo ou de cristãos pós-paulinos. Parece ter sido praxe de comunidades religiosas asiáticas, sendo, portanto, um elemento de influência cultural asiático.
A postura destes cristãos frente à sociedade era de busca por compreensão e tolerância com certo toque de assimilação. Eles eram leais, ou, no mínimo, cooperativos para com as autoridades e demonstravam isso através de suas orações (1 Tm 2, 1-2).
            Mas sacrificar ao Imperador nunca. A proposta de vida na sociedade das Pastorais pode ser resumida no desejo de levar: “Uma vida calma e serena, com toda a piedade e dignidade”.
            A mulher na 1ª carta a Timóteo:
            Vários biblistas sustentam que 2,11 – 15 é um texto acrescentado dentro de uma passagem que fala do adorno das mulheres. Foi interpolado na época da controvérsia montanista e que pertence à mesma mão paulistina que encontramos 1 Cor. 14, 34-35, também uma interpolação bem conhecida. Os montanistas eram um grupo carismático na segunda metade do sec.II. Montano dividia a liderança com duas profetisas, Priscila e Maximila. As mulheres podiam ser bispos e líderes. Eva tinha o privilégio de ser a primeira a comer da arvore de conhecimento. Os montanistas não conheciam os dois textos.  Os antimontanistas deviam colocar esta interpolação no início do III sec. O primeiro a citar estes textos é Orígenes (+ 230). Veja Ribla 37 p. 43 ss.

    

  8.4  AS CARTAS AOS COLOSSENSES E EFÉSIOS

Numerosos autores consideram as duas cartas não como obra de Paulo, mas de um discípulo da segunda geração. Não aparecem como cartas concretas, mas como um tratado, uma exposição de um tema: Teologia: doutrina sobre Deus, Cristologia: doutrina sobre Jesus, Pneumatologia: Espírito Santo. Eclesiologia: doutrina sobre a igreja, Escatologia: doutrina sobre o fim. 

Colossenses:  
            Deus nos transferiu para o Reino do seu Filho amado (1,13). Pedindo conhecimento, sabedoria e inteligência, (1,9) para conhecer a economia (eco = oikos - casa) de Deus, o segredo escondido por séculos e gerações, agora revelado (2,26). O centro deste segredo é Cristo, um Senhor cósmico, cabeça da Igreja (1,15-18). Paulo falando do corpo não mencionava Cristo como cabeça (1 Cor 12). Já entra o pensamento hierárquico greco-latino. 
              Difícil é traçar o perfil dos mestres perigosos (2,16 s): veneram criaturas angelicais, se submetem aos poderes cósmicos e praticam uma ascética por si mesmo, desprezam o corpo, pcarecem pertencer aos pensamentos gnósticos.
            Morrestes para os elementos do Cosmo (2,20) e ressuscitastes com Cristo (3,1), Paulo falou da ressurreição no futuro (ver Rm 6,5), aqui já aconteceu. A carta usa o símbolo de despojar a roupa velha e se revestir de Cristo (3,9-10). Como viver a vida nova: 3,12-17.
Andar, caminhar numa vida nova (1,10; 2,6). O andamento lembra os Atos 9,2 “os do caminho”

Efésios:                                            
            A carta depende de Colossenses, fala mais de eclesiologia. As categorias jurídicas cedem lugar às místicas.  A igreja é esposa (5,22) corpo de Cristo (1,23) e edifício santo (2,21).
No hino aos Efésios (1,3-14) “Deus nos escolheu em Cristo antes de criar o mundo...enquanto esperamos a completa libertação da aquisição”, Ex 19,5 disse: “Sereis minha parte adquirida”  “De duas coisas ele fez uma só coisa” (Ef 2,14), não fala do povo. Cristo é o homem novo: “Deus derramou abundantemente sua graça sobre nós...marcados com o selo do Espírito prometido”(1,6; 1,13; 2,18; 2,22). Cristo destruiu o muro da separação entre Judeus e Pagãos (2,14). Os pagãos não são mais estrangeiros, ou “Xenoi” (xenofobia = medo dos estrangeiros) e “Paroikos” (fora da casa como na carta 1 Pedro), mas são concidadãos dos santos, moradores da casa de Deus, são a morada de Deus  pelo Espírito, uma casa espiritual (1 Pedro 2,5) só uma vez aparece a palavra templo (2, 18-21).
Jesus Cristo é a cabeça suprema da Igreja que é seu corpo (1,22), os pagãos são membros do mesmo corpo (3,6) um é o Corpo, um é o Espírito (4,4). A mais primitiva enumeração dos ministérios na igreja: têm apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres (4,11) para construir o corpo de Cristo. O corpo vai crescendo e construindo-se com o amor (4,16).
            A igreja é também esposa: Cristo amou e se entregou por ela para apresentar uma igreja gloriosa (5,25-27). O casal prefigura Cristo e a Igreja. 
Nas “Tábuas domésticas” (Ef 5,22-6,9) aparece de novo a ética greco–romana: submissão da mulher ao marido como ao Senhor, filho aos pais em atenção ao Senhor, escravo ao dono como ao Senhor, (contra Gal. 3,28). Como a Igreja se submete a Cristo assim as mulheres os filhos e os escravos aos maridos, pais e donos que recebem autoridade de Cristo. Tudo isso vem da cultura greco-latina. Aparece de novo várias vezes a palavra andar (2, 2 e 4,1 e 4,17 e 5,2 e 5,8)

         8.5 A PRIMEIRA CARTA DE PEDRO

              Olhemos para as comunidades da Galácia, do Ponto e Bitínia, já mencionadas em At. 2, 3.
 A 1ª carta de Pedro fala desta região, o último documento do Novo Testamento. Esta carta tem duas partes 1,1- 4,11; e 4,12- 5,11; cada parte termina com uma doxologia. Na primeira parte pode-se pensar nos tempos do Imperador Domiciano, que foi um tempo tranqüilo. Mas nos anos 93 – 96 houve uma crise política e começou a perseguição dos inimigos do Cesar e uma luta para impor melhor o culto ao imperador endeusado. Contrário a teologia de Lucas e Clemente esta carta e o Apocalipse mostram a vigência do pensamento apocalíptico (1,5; 1,7; 1,13; 4,13; 5,1;). O apocalipse é um forte protesto contra o Império Romano: A igreja aparece como um povo de mártires, perseguidos pelo Império..

a) A carta é dirigida aos “estrangeiros residentes”, 1,1 “fora do povo”: (veja Hb 13,14): ”Pois não temos aqui a nossa pátria definitiva, mas buscamos a pátria futura.” Parece que são residentes sem direito de cidadania. As restrições que pesam sobre estes estrangeiros residentes impedem que tenham propriedade da terra, o que limita totalmente a possibilidade de acesso a classe fundamental e aos níveis superiores da escala econômica. Os que estão submetidos à servidão seriam escravos, artesãos urbanos e servos domésticos (2, 18), são “paroikos” (paróquia) quer dizer ”fora da casa” 1, 17; eles não têm casa, ficam fora deste sistema. A casa representa em pequena escala o grande Império, a casa é o micro- cosmo dentro do macro-cosmo do Império. 

b) A esperança na revelação 1,3 – 1,12.
Eles mantêm uma esperança viva na aparição do Senhor  (não secunda vinda) para sustentar os sofrimentos porque vem o juízo de Deus contra os governantes deste mundo romano hierárquico com seu clientelismo  (1,5; 1,7; 1,13; 4,13; 5,1). A esperança deve ser praticada 1, 13–25.

c)  A casa do Espírito e o povo de Deus 2, 4 –12
Para os “fora da casa e fora do povo” (2, 11) tem uma nova vocação: ser casa do Espírito e povo de Deus: “Vós, porem, sois a raça eleita, a comunidade sacerdotal do rei, a nação santa, o povo que Deus conquistou para si.“ Justamente os fora do povo, os estrangeiros, são povo de Deus.  Aqui se - fala claramente que os cristãos são o povo de Deus. Nunca se - fala do novo povo de Deus. Somos ramos enxertados na raiz de Israel (Rm 11,16 ss).
No Império a casa é hierárquica, o pai manda em seus clientes: todos os moradores da casa são subordinados ao pai. A mesma hierarquia, que acontece na casa, acontece no império: o imperador se chama “Pai da Pátria”. Todo mundo deve se submeter às autoridades. Conforme Gl 3, 26-28 as comunidades de Paulo tinham se colocadas fora desta hierarquia, foram  democráticas: não havia  mais judeu-grego, escravo - livre, homem-mulher...Casa do Espírito Santo é comunicação, igualdade e amor.
A nossa carta também utiliza a figura da casa (oikos) para os de fora da casa (paroikos). A  nova construção é de pedras vivas 2, 4,  uma casa espiritual (não templo), todos formam um sacerdócio santo e oferecem sacrifícios espirituais. Aqui não há uma hierarquia sacerdotal como no Ex 19. Todos os demais deuses são falsos, o imperador é um ser humano respeitável, mas não uma deidade. Assim os cristãos se opõem ao culto do imperador com seus sacrifícios diários (2,5).
d) Tábuas domésticas 2,11 - 3,7:
Por um lado a casa aparece como um lugar de segurança e consolo, mas por outro lado apresenta com sua forte estrutura patriarcal um espaço hierárquico, onde mulheres, escravos e jovens devem ceder diante da autoridade do pai. Mas, diferentes das “Tabuas domésticas” do Império na carta de Pedro estes conselhos não estão dirigidos aos pais das famílias para ordenar a sua casa – são justamente os únicos que não são mencionados - mas aos subordinados: escravos e esposas. “Pedro espera que os cristãos construam as comunidades de fé como uma casa própria, hospitaleira e fraterna, onde possam encontrar refúgio e alivio aqueles que padecem dor e perseguição. Uma casa onde se ponha fim as práticas violentas. Por outro lado, porem, aceita como uma situação dada que, nas casas reais onde vivem, especialmente diante de maridos ou patrões não cristãos, devem mostrar uma disposição que não oferecem motivo de castigos ou vingança, embora isso às vezes significa tolerar tratamentos injustos, são conselhos práticos, e não “palavras normativas ditas a partir do poder”. Confira as tábuas domésticas em  Efésios 5, 22 - 6,9 e Cl 3,18 – 4,1. Aqui se devem submeter a qualquer “instituição humana” 2,13, enquanto para o Império é uma instituição divina.
A submissão segue o exemplo do Messias 2, 21-25 e 3, 18-19. Foi esta na realidade a prática de Jesus?

e) Na perseguição dar razão a esperança 3,8 – 4,11;

f) Na segunda parte da carta tem uma perseguição mais forte, alarmados como uma fornalha da provação 4,12, não estranhar.
Vigiar porque o adversário o diabo procura a que devorar 5, 8.
No capitulo 4, 15 Pedro aconselha “Não se fazer bispos dos outros”, e no capitulo 5, 1 ele exorta como “colega” não exercer um poder autoritário: o ressuscitado é o poder supremo.

Após o conflito epílogo da era Domiciano Nerva ascende ao poder (96-98), sucede-o Trajano que governa dezenove anos que designa Caio Plínio o jovem como governador que escreve por volta de ano 110 d.C. a Trajano.
Plínio o jovem relata que as comunidades se estendem no campo rural, uma “multidão de pessoas”. Esta “superstição perversa e desmedida” sacode a ordem; os templos pagãos foram descuidados, não há compradores das carnes dos sacrifícios...
A atividade dos cristãos: reuniões matinais de louvor e a comida noturna em comum. Nas reuniões matinais os presentes reiteravam um compromisso (Plínio usa a expressão sacramento) que não os obriga ao nenhum crime, mas a manter um comportamento distante do roubo, do adultério, da infidelidade a palavra dada. Segue a promessa de não renegar o “depósito”, quando forem interrogados (coincide com 1 Pedro 3, 4, 1-11). A comida deles é comum é “promiscum” não tem distinção de origem, riqueza, raça, lei, pai... Isto levanta suspeita e Plínio deixa prender duas escravas, chamadas “ministras” pelos cristãos. Parece que não tem ordem hierárquica nestas comunidades. Plínio relata ao imperador que tem listas sem assinaturas, que acusam os cristãos. Plínio no final fala de uma ‘multidão de homens’ se poderia emendar. (Ribla 29, p 100). 

Da Carta de Plínio a Trajano

...“Pois bem afirmavam eles que, em suma, seu crime ou, preferindo-se, seu erro reduzira-se a ter tido por costume, em dias marcados, reunirem-se antes do raiar do sol e cantar em coros alternados, um hino a Cristo como a Deus e obrigando-se por solene sacramento não a crime algum, mas não cometer furtos, nem latrocínios, nem adultérios, a não faltar à palavra dada, a não negar, quando lhes for reclamado, o depósito confiado. Terminando tudo isso, diziam que o costume era se retirar cada um para a sua casa e se reunirem novamente para a comida em comum, no entanto, e inofensiva; e até isso tinham deixado de fazer depois de meu edito pelo qual, conforme o teu mandato, proibira as associações secretas (heterias). Com estas informações, pareceu-me ainda mais necessário inquirir o que em tudo isso havia de verdade, mesmo com a aplicação do tormento a duas escravas chamadas ministras. Nenhuma outra coisa achei a não ser  uma superstição perversa e desmentida”...

          

                

               9.   O Evangelho de João


                                      I Introdução


1.       OS AUTORES DO EVANGELHO:


Os autores do 4° Evangelho são pessoas anônimas, certamente são lideranças das comunidades. A edição final terá sido pelo ano 110. Juntaram-se discípulos de João Batista, samaritanos e helenistas. Eram igrejas pobres e frágeis. Betânia significa casa dos pobres. Maria Madalena teve um papel destacado, Betesda significa casa da solidariedade. Por volta do ano 90, teria havido uma primeira redação. No final da década de 90 foram incluídas os cap. 15 a17. Pelo ano 110 acrescentaram o Prólogo, 6,67-71 e o Epílogo cap. 21. (Gass,8 p.122)

O documento mais antigo do Novo Testamento é um fragmento do Evangelho de João, já no inicio do 2º século encontrado no Egito: 18, 31-33 e 18, 37-38.

2.      A ÁSIA MENOR COMO CENTRO DO CULTO AO IMPERADOR:


             O Império Romano está presente no Evangelho. Os sacerdotes só têm um Cesar em Roma.  Pilatos, o representante do Cesar, ganha mais importância (cap.19). 
A Ásia menor foi o berço e o centro do culto ao imperador (Ribla 29 p 97). O Apocalipse de João, proveniente da mesma região e da mesma época é uma amostra deste culto ao imperador.  
Éfeso foi o porto mais importante da Ásia Menor: em 29 a.C. foi instituído o culto a Deusa Roma e ao Deus Julio César. 
Esmirna, rival de Éfeso construiu em 195 a.C. um templo a Deusa Roma e em 26 d.C. um templo ao imperador Tibério.
 Pérgamo é a partir de 133 a.C. capital da província romana da Ásia, foi o centro do culto imperial, tem um templo dedicado ao Augusto, lá é o trono de Satanás (Apocalipse 2,13).  A ideologia do Império (paz Romana) culmina na paz dos Deuses, o imperador é “Senhor e Deus”. Para as comunidades o Império é o diabo que busca a quem devorar (1 Pedro 5, 8). Pérgamo é o trono de Satanás (Ap 2, 13)


3.      A CORRENTE DA GNOSE (CONHECIMENTO)

Origem: A corrente gnóstica se encontra no Iraque (manda), no Egito, na Índia e China, e na Sírio-palestina nos tempos do cristianismo primitivo, já no fim do 1. século, onde o Evangelho foi escrito. A Gnose tem influência no judaísmo tardio. 
Cosmologia: No pensamento grego o cosmos era a ordem no universo. Na Gnose o cosmos é desordem, mau, ruim, hostil. O Divino está absolutamente fora do mundo.  O mundo é obra ruim de potências inferiores, Entre o divino e humano existem entidades como um demiurgo, um arquiteto, que criou o mundo, depois demônios, anjos, potestades..
Antropologia: Como posso me salvar deste mundo ruim para participar do divino?  Mas dentro do ser humano se esconde um espírito. Espírito é uma faísca da parte divina, que entrou no ser humano, ignorante, dormindo, esperando a libertação pelo conhecimento. Pela ignorância surgem escassez e sofrimento, pelo conhecimento desaparece a ignorância. Precisa  largar o corpo como parte do cosmo. Depois o verdadeiro EU, um faísco preexistente sobe e volta na sua pátria. A alma (anima) veio dos deuses e vai para os deuses. A salvação é a libertação do mundo finito para o mundo infinito para participar da divindade.  Uma morte que salva não tem sentido.  

A morte  liberta as almas
No seu livro ¨História da guerra judaica¨ após a caída de \Jerusalém no ano 70 d.C. Flavio Josefo descreve como o exército Romano encontrava um suicídio coletivo no bastião de Massada, uma prática  que o judaísmo não conhece. Os sitiados, os Sicários e Zelotas, tinham matado suas mulheres e crianças e si mesmos. O líder Eleazar, argumentando com a filosofia do hinduísmo que ensina a imortalidade da alma, dá o seguinte discurso:

¨ Não a morte, a vida é uma desgraça para os homens. Pois a morte dá liberdade às almas e abre o acesso ao lugar puro, onde não há sofrimento. Enquanto a alma está presa no corpo mortal, ela deve ser na verdade morta,  pois a ligação do divino com o mortal é contra a natureza. Mas quando ela está livre do peso puxando para a terra ela chega á verdadeira pátria, que fica invisível aos olhos humanos como Deus. A prova disso é o sono, quando a alma goza do repouso, imperturbado do corpo. Olhemos para os Índios (no extremo oriente): Esses homens nobres suportam a vida de má vontade como um serviço necessário devido à natureza e apressam-se a desligar a alma do corpo. Desejando o estado da imortalidade anunciam aos outros que querem sair deste mundo. Ninguém os impede, cada um os louva e dá mensagens aos parentes mortos.

Os gnósticos cristãos: Eles entendiam Jesus como salvador que revela o conhecimento de Deus à humanidade. Ele teria descido in forma humana. No entanto, não era verdadeiro homem. Não teria passado pelo sofrimento e pela morte. Afastaram-se de um Cristo encarnado na condição humana. Transformaram o Evangelho do reino em uma religião que não representa nenhum perigo às estruturas deste mundo, (Gass  Nr 8 p.95


4.      O JUDAÍSMO FORMATIVO: OS FARISEUS

Para escapar da aniquilação do Templo Jochanan Ben Sakkai foi carregado num caixão para fora da cidade, ele se encontrou com Vespasiano, saudou-o como imperador, como “César” e anunciou a destruição de Jerusalém. Depois pediu a Vespasiano a formação de uma escola em Jâmnia, onde se dará a origem ao “Judaísmo formativo”. A tradição fala de um encontro em Jâmnia por volta do ano 90, que foi decisivo para a posterior identidade do judaísmo.. O judaísmo formativo fixou certas regras, manifestando-se nelas a exclusão das comunidades judeu-cristãs: “Nenhuma esperança reste aos renegados e o poder irresistível os faça desaparecer. E os nazarenos (os judeus chamam os cristãos nazarenos) e os minim (dissidentes) pereçam instantaneamente. Sejam apagados do livro da vida e não sejam inscritos com os justos”.  

 ¨Os fariseus¨ do Evgl representam o judaismo formativo no Evgl. Eles estão ligados com sacerdotes antes da destruição do ano 70. Este Judaísmo rabínico gozava certos privilégios concedidos pelos Romanos ao judaísmo, que estava  desobrigado de prestar culto ao império e ao imperador, bem como de servir no exército romano, uma relativa independência política e social do Império Romano. Quem foi expulso da sinagoga, perdeu estes privilégios romanos, perdeu também sua herança israelita e um digno enterro,
(Uma introdução à Bíblia v.9, Ildo Bohn Gass p.125)

                                II O próprio do Evangelho:

1.      Galileia e Jerusalém
        O Evgl. não dedica tanta atenção a Galileia, só o casamento em Caná da Galileia (2,), a Samaritana e o oficial romano (4),  a partilha e a palestra sobre o pão da vida (Jo 6).
Importante é a confrontação de Jesus com o poder sacerdotal em Jerusalém: 

1. A Páscoa em Jerusalém,  confrontação: os judeus destruirão o seu corpo.  2,13-22;
2. No Sábado: cura do paralítico, os judeus puseram-se a hostilizar Jesus 5,1-18;
3. Festa das Tendas: de onde e para onde Ele vai? Alguns já querem prende-lo 7,1-52;
4. Festa da Dedicação: dar a vida para retomá-la, querem apedrejar Jesus  10,22-42;
5. De novo em Jerusalém: Jesus desperta Lázaro: resolveram fazê-lo perecer 11,45-54;
    Festa da Páscoa: Hora da glorificação, do levantamento  12,12-34; 3,13-21;


2.      Importância da fé contra os ritos dos sacramentos

Os sacramentos faltam, podem ser um mero rito, separam. Jesus não batizava com água, só com a Espírita Santa (1,33; 4,2). Não se menciona a eucaristia, em vez Jesus lava os pés dos discípulos.(13). Jesus autoriza todos os discípulos, a perdoar (20,23)


3.      O amor da comunidade contra o poder da hierarquia

No Evgl. não aparecem apóstolos, só discípulos que devem se amar,  não há hierarquia, Há rivalidade entre Pedro e o discípulo amado (20,3;). Pedro como líder deve aprender o amor  (21, 15-19)., mas foi elogiado em 6, 67-71;)   

4.      Eu dou a minha vida para recebê-la de novo

             Como Moisés levantou a serpente, assim o Filho do homem seja levantado, a fim de que todo aquele que crê  tenha a vida eterna (Jo 3,14-21).
             Não se fala da cruz ou tomar a cruz para seguir Jesus como os Sinóticos e outros Escritos dizem, Em vez: o grão de  trigo cai na terra e morre para dar fruto em abundância (12,24-26).
             Não se fala da ressurreição de Jesus, ele recebe a vida de novo e aparece aos discípulos e à aqueles que acredita, sem ter viso. Não há uma secunda vinda : ¨Estive morto, eis que estou vivo pelos séculos dos séculos¨( Ap 1,18).

              Mas há Comentários tradicionais sobre a cruz e a ressurreição;

              No cap. 6 Jesus diz: ¨Quem comer deste pão viverá para a eternidade (6,51). Parece que um comentarista inseriu: ¨E eu o ressuscitarei no último dia (6,39; 40; 44; 54;). Mas quem comeu esta pão e vive para a eternidade, não precisa ser ressuscitado no último dia.

            No cap. 5 o Pai reergue os mortos e os faz viver, o Filho também, faz viver (5,21;). ¨Quem acredita não vem a juízo, mas passou da morte para a vida¨(5,24  e 25).  ¨Os que tiverem feito o bem sairão para a ressurreição que conduz à vida, os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição que conduz ao julgamento¨ (5,29). O julgamento acontecerá no futuro.

            No cap.11 Jesus acorda aquele que ele ama. O dialogo com Marta é secundário.  Jesus diz: ¨Eu sou a ressurreição e a vida¨  Quem morre viverá e quem vive não morrerá. (11,25).

            No cap. 20,9 o comentarista esclarece: Eles não tinham compreendido que Jesus devia ressurgir.  21,14 Foi a terceira vez desde Jesus  ressurgira dentre os mortos.

5.      Chegou a hora da glória

È a hora da glória, não da vitória!  È hora do Pai e do Filho, falta uma reflexão da Espírita Santa, a forca do alto, do amor, que age em Jesus desde a concepção na Maria.. O conceito é apocalíptico, quer dizer: agora e não no futuro (profético). Jesus se dirige aos gregos: ¨Chegou a hora em que o Filho do homem deve ser glorificado¨(12,23). Esta hora se preparou em Cana. ¨Que queres de mim, mulher? A minha hora ainda não chegou¨ (2,4;), se cumpre em 19,27: ¨Mulher, eis aqui o teu filho¨. Aos parentes ele dizia:: ¨Meu tempo ainda não chegou ¨ (7,6), Quando Judas saiu, Jesus disse: ¨Agora o Filho do homem é glorificado¨ (13,13,31).


6.      Agora é o julgamento deste mundo
               ¨Agora o príncipe deste mundo será jogado abaixo¨ (12,31), no Apocalipse o acusador dos nossos irmãos foi derrubado ( Ap 12,10), ele não mais tem lugar no céu, mas continua na terra.  ¨ Quanto a mim, elevado da terra, atrairei a mim todos os homens ¨. O julgamento acontece no presente:  Quem não acredita em Jesus, tem seu juiz(12,48).

              As testemunhas do julgamento  Jesus mesmo dá testemunho da verdade (18,37. O Evangelho fala 33 vezes de testemunhar (martirein), 14 vezes do testemunho (martíria).Testemunho, testemunhar é um conceito jurídico. Num tribunal há o juiz, o promotor, o advogado e as testemunhas.
O Paráclito, a advogada, a Espírita Santa, dará testemunho de mim, e, por vossa vez, vós dareis testemunho ( 15,26). ¨Com a sua vinda, confundirá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do julgamento¨ (16,7-11),  aconteceu o julgamento definitivo, apocalíptico, agora, na história precisa testemunhar este julgamento.


               


         


               III O Evangelho mesmo:





               1.   O Prólogo





      No Início era o Verbo 1,1-5


                      O Verbo era a luz dos homens 1,9-14    

                      A lei de Moisés, a graça por Jesus Cristo 1,16-18



                                 O Prólogo foi adicionado no final do Evangelho.

a) No inicio era o LOGOS (Verbo, Palavra) e o Verbo estava voltado para o Deus. A preposição ´pros´ indica uma orientação rumo a alguém (TEB), assim o Verbo estava orientado rumo ao Deus,  Deus está com  artigo para destaca a personalidade de Deus e o Verbo era Deus, sem artigo. O Deus e o Verbo estão em íntima relação, um ao outro.

b) Tudo se fez por meio dele. Na Gnose o mundo é tão ruim que não pode ser criado por Deus mesmo precisava um “Demiurgo”, um intermediário. No Prólogo é o Verbo, que faz o cosmo, que é bom.

           c) O verbo era a verdadeira luz, lembra como Deus separou a luz da treva (Gn 1,4). Ao longo do Evgl. Jesus é a luz para a humanidade. Ele estava no mundo e o mundo não conheceu o Verbo.  O mundo no Evgl recebe vários sentidos: É o mundo universal:  (17,5; 11,9;21,25;). É o mundo humano que Deus amou tanto: (3,16; 8,12; 6,51;) É um mundo de pecado: (1,29). O príncipe do mundo vai ser julgado. O mundo odeia os discípulos (12,31, 15,18). Jesus não roga por este mundo hostil (17,9).  Este mundo hostil se concretiza no Império Romano, o centro do poder mundial.

d) O Verbo veio para o que era Seu, os Seus não o receberam (1,11). “Os Seus” referem-se aos judeus. Já aparece o termo “conhecimento, importante na Gnose”. “O Verbo se fez carne e armou sua tenda entre nós 1,14”. 

e) ¨Deus Filho único, que está no seio do Pai, no-lo revelou¨ (1,18). O seio do Pai aluda à mulher, mãe. Se tornar filhos de Deus não vem de um querer do homem, mas de Deus (1,13). Nos contos do nascimento de Jesus se fala: ¨Maria estava grávida de Espírita Santa¨ (Mt 1,18) e ¨A Espírita Santa virá sobre ti...aquele que vai nascer será santo e será chamado Filho de Deus¨(Lc 1,35) 

f)  O Verbo se fez carne e estabeleceu sua tenda entre nós. O Evgl. destaca a importância da encarnação, uma reação à Gnose(cf a 1.carta de João) .  “Nós vimos a sua glória” (1,14).

g) Conclusão: A Lei foi dada por Moisés, mas  a graça e a verdade vieram por Jesus (1,17). A Lei, promulgada pelos sacerdotes sadoquitas, trazia a salvação. Mas há uma revolução radical: a vida  não vem da Lei mas da graça. Aos que acreditam em seu nome ele deu o poder de se tornarem filhos de Deus, que nasceram de Deus 1,12, quer dizer: que nasceram de novo da Espírita Santa. A palavra acreditar aparece 89 vezes, a palavra fé nunca.



2. O ciclo do Batista

João enviado por Deus 1,6-8; 15;

O testemunho de João 1.19-34

Discípulos de João e Jesus 1,35-51

Jesus o esposo, João o amigo 3,22-30;



 Abre-se o ciclo do Batista, que se encerrará 3,30. João não é o Messias contra a expectativas dos sacerdotes e levitas. João apresenta Jesus não como futuro messias-rei mas como cordeiro, vítima do poder, que carrega o pecado do mundo (29) e como o filho de Deus (34)  João não é digno de soltar a correia da sandália daquele que vem, porque João é só amigo do noivo (Dt. 25,5-9 e Rt 4).

 João batizava com água. Aquele sobre qual desce a Espírita como pomba (alude ao Cântico, onde a noiva é como uma pomba) batizará com a Espírita (cf. Jesus e Nicodemos e a Samaritana). João confessa: ”Eu não o conhecia” (1,31,33;). Mas ele deu seu testemunho, testemunho é uma palavra - chave do Evgl. Se fala 33 vezes de testemunhar (martirein), 14 vezes do testemunho (martíria).

O Evangelho não conta que Jesus foi batizado com água, ele batizará com Espírita Santa.  Na maioria das vezes o Novo Testamento  só diz ´Espírito´ sem o artigo, parece que  Espírito é uma força ou graça, que sai de Deus ”.  ¨Sempre  quando aparece sem artigo refere-se ao poder criador de Deus que transforma situações e condições¨ (Ribla 44 p.55)

 O Concílio chama o Espírito Santo ”Senhor¨  como Javé e Jesus (kyrios)  para esclarecer, que ele é pessoa que age. ”Que dá vida” é função da mulher, da mãe, não do homem que gera. Precisaríamos falar: Mãe, que dá vida. O Concílio não aplica à Espírita nem o título “deus” nem ¨consubstancial¨.  

  

         ¨Com o advento do cristianismo o arquétipo feminino foi totalmente eliminado da ligação com o divino, o atributo de sabedoria associado com Jesus e depois transformado na terceira figura da trindade: O Espírito Santo como Senhor, masculino. A igreja ortodoxa preservou por um bom tempo o título grego de Sofia como sendo a sabedoria divina dedicando-lhe inúmeras igrejas.   A Santa Sofia foi uma adaptação à Grande Mãe gnóstica, simbolizada pela pomba de Afrodite e depois transformada no Espírito Santo”.                                                                                       www.teiathea.org. Mirella Faur.



Símbolos para a Espírita: Vento ou sopro ou brisa que solta dos depósitos (S 135,7):¨O vento sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes nem de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu da Espírita Santa¨ (Jo 3,8) Água: No ultimo dia das festas das tendas derramaram água no Templo, mas Jesus proclamava em voz alta: “Se alguém tem sede venha a mim e beba aquele que crê em mim”. Como disse a escritura: “do seu seio jorrarão rios de água viva ” (Jo 7, 37-39)



 Os discípulos 1,35-51

Jesus encontra discípulos 1,35-51. Eles professam Jesus como Rabi, Messias, ¨Aquele de quem está escrito na lei de Moisés e nos Profetas (Dt 18,18), o filho de José de Nazaré, Filho de Deus e Rei de Israel, nestes títulos eles expressam as expectativas de Israel e Jerusalém. ¨Bendito seja o rei de Israel¨ (12,13).

Jesus mesmo responde a todos esses títulos: ¨Vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem¨  (Gn 28,10-17).  Pela primeira vez aparece o título ¨Filho do homem¨.  ¨O que é o homem para que dele te lembres, o filho de Adão para que dele te ocupes?¨(Sl 8,5; 80 (79),18; Sl 143(1 44). Os filhos do homem são os descendentes de Adão e designam toda a humanidade da terra, este termo aparece bastante nos Escritos do Judaísmo exílico / pós-exílio. (cf.  Is 56,2; Jr 49,18;  Dt 32,8; Dn 3,82; Sr 40,1; 17,1; 17,30;)

O subindo e descendo dos anjos alude ao fato que Jesus vem do Pai e volta ao Pai, o tema central do Evangelho: ´Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do Homem¨ (3,13-14).   O Filho do Homem dá o alimento que permanece (6,27 e 53).  O Filho do Homem vai ser exaltado (8,28, 12,13), vai ser glorificado (14,31).  Os sacerdotes dirão: ¨Esse homem¨.  Pilatos dirá: ´´ Eis o homem´´ (19.5)



3.     Dois cenários: As bodas de Caná e o Templo de Jerusalém

Caná prefigura as obras de Jesus em Galileia  4,43-54 e 6;

                  Jerusalém prefigura as idas de Jesus para lá.  2,1-25



           Caná está na Galileia dos povos, dos estrangeiros, da gente sem guia, dos impuros, Jerusalém com a sua liderança sacerdotal espera um Messias. São lugares opostos..

            Em Cana da Galileia aparece a primeira manifestação da Gloria de Jesus durante um casamento. A cena avisa as núpcias do Cordeiro no Apocalipse.. No terceiro dia da semana aconteceram os casamentos no Judaísmo. As bodas de Caná são festas do povo que não mais observa a lei (6 potes sem água para a purificação). Segundo costumes orientais a noiva era banhada e adornada (Ez 16,9 e Ef 5,26).

¨Que queres de mim, mulher?¨ O Evgl. rejeita qualquer poder: o patriarcado, a matriarcado e a hierarquia, todos são irmãs e irmãos (cf. 19,26). Jesus só escuta o seu Pai e faz as obras dele. Maria como mulher simbolizará a noiva, a igreja. ¨Que queres de mim, mulher? A minha hora ainda não chegou¨ (2,4;).

 Seu momento (kairos) ainda não se completou (7,8): ¨Mas o vosso momento é sempre favorável¨  diz Jesus aos seus irmãos (7,6). em 12,23 Jesus dirá: É chegada a hora em que o Filho do homem deve ser glorificado¨. Se cumpre  a hora, quando Judas , um dos discípulos saiu para entregar Jesus (13,31).

  Jesus transforma a água em vinho, sinal dos tempos das núpcias do Cordeiro. O Evangelho não fala de milagres, mas sim de sinais que sempre avisam o futuro.  



A primeira ida de Jesus para Jerusalém na Páscoa, primeira confrontação: O templo virou um mercado. Os judeus exigem um sinal: ¨Destruam este templo e em três dias eu o reerguerei¨.  Ele falava do seu corpo 2,13-22;.  Os judeus destruirão o seu corpo. 

Jesus erguerá outro templo, que é seu corpo. Muitos em Jerusalém creram em seu nome. O Evgl. fala de ¨acreditar nele¨. Jesus conhecia a todos, ele sabia o que há no homem (2,23-25).



4.     Duas pessoas: Um Mestre em Israel

   Nascer do alto 3, 1-13

                  Crer no Filho 3,31-36 e 22-30

                  (3,14-21 pertence a 12,32, que fala do levantamento e julgamento)

            O lugar é ainda Jerusalém é lugar da Lei e poder dos sacerdotes. É noite. A ortodoxia fica nas trevas.  Um professor em Israel, Nicodemos, veio à noite ter com Jesus.



 O assunto é o renascimento pela Espírita, ela é como o vento: ¨O vento sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes nem de onde vem, nem para onde vai¨ (3,8), a Espírita é tão soberano e universal que não pode ser fixada pelas estruturas hierárquicas ou eclesiais. Quem nasce da carne, fica preso numa estrutura de leis.  “Quem não nasça (da água e) da Espírita, não pode ver e entrar no Reino de Deus”. Necessário é de nascer do alto ou de novo. No início se fala ainda do Reino, depois da vida eternal.

Como pode nascer de novo?  Como pode (também 6,42;) é a pergunta daqueles que buscam poder e não acreditam. Jesus pode como o Pai pode. Precisa acreditar no Enviado por Deus, que vem do alto (3,31-36).

            Rivalidade entre os discípulos de João e de Jesus: quem batiza mais? O batismo com ¨água” alude aos discípulos que batizavam. Aparentemente tinha concorrência entre os discípulos de João e de Jesus.  Todos correm para Jesus. “Na verdade, Jesus mesmo não batizava com água, mas os seus discípulos” (4,2)

            Jesus é o noivo e tem a noiva. “É preciso que ele cresça e eu diminua” são palavras de fecundidade, ou esterilidade (22-30). O Batismo com a Espírita abrange qualquer um, uma oferta universal.

 Jesus deixou a Judeia e foi para a Galileia.



5.     A mulher samaritana: Dá me esta água

Conversa sobre a água viva, o espírito da verdade. 4,1-42

Na Galileia cura do filho de um oficial régio (4,43-54;)



  Passando por Samaria Jesus parou no poço de Jacó em Sicar na Samaria. Para os Judeus de Jerusalém os samaritanos são heréticos, cismáticos,  são uma população mista com gentios, estão fora da Lei.  Jesus quebra os preconceitos.  É meio dia.

 Jesus, cansado da viagem, pede água de uma mulher samaritana que estava tirando água no poço de Jacó. Os samaritanos foram tratados como prostitutas pelos judeus, a samaritana com cinco homens era prostituta? Jesus, maior que o pai Jacó, dá água viva.

Jesus sabe tudo o que há na pessoa: ¨Tu dizes bem: `Não tenho marido´ Nisso disseste a verdade. Diante de Jesus a mulher (e nós) pode falar a verdade.

Ele é o profeta que ensina o culto autentico: adorar o Deus em Espírito e Verdade, em qualquer lugar, a adoração não está ligada aos lugares sagrados, a criação é o templo de Deus.. Muitos Samaritanos acreditaram em Jesus. Os judeus dirão de Jesus: “Tu és um samaritano e um possesso” (8, 48).    

            Conclusão 43 -54: Jesus deixa Samaria e volta para a Galileia, “um profeta não é honrado em sua própria pátria”. Apesar desse provérbio a Galileia aceita Jesus.

         . Em Caná Jesus faz o segundo sinal: desta vez é a cura do filho de um oficial régio de Herodes Antipas.



6.     A massa em Galileia: Dá- nos este pão.

     Acontecimento: Jesus reparte o pão e anda sobre o mar (6,1-21)

                      Discurso sobre o pão da vida (6,22-59)

                      Resultado (6,60-71)



Em 4, 46 Jesus volta a Caná de Galileia e passou para outra margem do mar de Galileia 6,1.  Devemos ler o cap. 6, 1-71 antes do cap.5 quando Jesus subiu a Jerusalém por ocasião de uma festa e ficou lá, Mas  os judeus procuravam matá-lo. Por isso em 7,1 ele percorria  Galileia.

             Jesus agora passando para outra margem do mar da Galileia da Tiberíades, cidade que o tetrarca Herodes tinha construído em honra do Cesar Tibério, habitada por gentios, lugar dos poderosos.  Jesus subiu à montanha, viu uma grande massa (ochlos) e pergunta:”Onde compramos pão?” Jesus põe os discípulos à prova? Deus nunca coloca à prova, a tentação vem do inimigo.  A pergunta é retórica, ele sabe o que fazer. Ele tomou os pães, deu graças e distribuiu. Jesus analisa bem: há gente na massa que quer fazer Jesus rei (6,15).

 Mudança para Cafarnaum: os discípulos num barco no mar, na noite. Jesus andando sobre as águas, manifesta Javé: “Sou eu”(6,16-21), simbolizando o caminho para a libertação.

 Disputa em Cafarnaum (22-34.) com a massa que comeu pães à saciedade, mas  não entenderam o sinal, que significa acreditar em Jesus que dá um pão diferente. No final disseram: ¨Dá nos sempre este pão¨.  Jesus é o pão da vida.

¨Todos os que o Pai me dá, virão a mim… que eu os ressuscite no ultimo dia¨.  Parece que um comentarista tradicional inseriu: ¨E eu o ressuscitarei no último dia (6,39; 40; 44; 54;). Mas quem comeu esta pão e vive para a eternidade, não precisa ser ressuscitado no último dia.

Veja também 5,28-30; e  no diálogo com Marta numa inserção, quando Jesus diz: ¨Eu sou a ressurreição e a vida (11,25),  um conceito escatológico, que avisa o futuro.. Só nestas ocasiões se fala da ressurreição e do último dia que não combina com o conceito do Evgl.O final se cumpre no levantamento de Jesus.

Agora segue uma disputa com os “Judeus” (6,41-59)

O contraste entre judeus e aqueles que acreditam em Jesus são estas: de um lado Moises com o Maná no deserto e do outro lado Jesus, o Filho do Homem, com o Pão da vida que vem de Deus. Como ele pode dar seu corpo e seu sangue? De novo: como pode?  Poder contra fé. ”Aquele que crê, tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida (6,47-59)”. Neste mundo perecível com seus alimentos perecíveis Jesus dá um pão imperecível.  Não se menciona a Eucaristia.

             Conclusão (60-71): Divisão entre aqueles que se escandalizam e aqueles que acreditam. A Espírita vivifica não a carne. Uma palavra dura, muitos de seus discípulos se retiraram, podem ser aqueles que querem fazer de Jesus um rei.  Simão confessa: “Quanto a nós, cremos e conhecemos que tu és o Santo de Deus¨ (não Messias, nem Rei). (6,69)  O conhecimento pela fé dá vida. Termina a ação de Jesus em Galileia, começa a disputa em Jerusalém.
            

    7.     O Pai deu-lhe autoridade de julgar porque é o Filho do homem.
Acontecimento: cura do paralítico, os judeus puseram-se a hostilizar Jesus 5,1-18;
Discurso: O Pai deu-lhe autoridade de julgar (5,19-30)
As obras de Jesus testemunham (5,31-46);
A cura no Sábado ensina de julgar o que é justo (7,15-24;)
Jesus e o Pai dão testemunho válido (8,13-20)
Resultado Jesus voltou para a Galileia (7,1)

                         Sobre o julgamento (não condenação) 5,19-30 e testemunho: 5,31-47; continua em 7,15-24 que refere-se à cura de um homem num Sábado. ¨Cessai de julgar¨ (7,24) e  termina em 8,13-20 que refere-se ao testemunho de  Jesus e do Pai. Jesus ensinava no templo 8,20.

Segunda ida de Jesus para Jerusalém: onde tinha a piscina Betzatá, um bairro de Jerusalém a nordeste do Templo, aparentemente o lugar dos doentes, que são impuros. É o dia do Sábado, Jesus vê um homem enfermo, fazia já 38 anos. “Levanta-te, toma a tua cama e anda”. É o dia sagrado, a Lei não permite carregar a cama. Jesus transgrediu a lei e manda um doente carregar sua cama. Jesus trabalha no Sábado como o Pai continua trabalhando.
Os judeus puseram-se a hostilizar Jesus, procuravam dar-lhe a morte, porque Jesus chamava Deus seu próprio Pai e fazendo-se igual a Deus. (5,1-18).

  A controvérsia com os Judeus sobre o julgamento (5,19-30):. Deus continua sua obra no dia de Sábado como juiz, porém julga ninguém e deu ao Filho do homem a autoridade (exusia) de julgar.  Quem te deu autoridade (não poder) de exercer o julgamento? (5,27). O Pai reergue (não ressuscita) os mortos para viver, o Filho também dá vida. Quem crê no Filho tem a vida eterna e não vem a juízo, até os mortos podem ouvir a voz dele e viver.
O comentarista fala da hora que vem e da ressurreição, que não combina com o conceito apocalíptico do Evangelista. Os que tiveram praticado o mal sairão do túmulo para a ressurreição que conduz a um julgamento (não à condenação (5,28-29). Poucas vezes o Evangelho fala da ressurreição 6,54;e 11,23-25.
            Sobre o testemunho (martiria): Num julgamento precisa testemunhas: as obras de Jesus testemunham que ele é o enviado do Pai, o ensinamento de Jesus é o ensinamento do Pai, Jesus refere-se a Moisés (31-47).
            Em 7,15-24 continua a controvérsia com os Judeus: Como ele é tão letrado, se não estudou? Jesus: Por que procurais matar-me? A massa argumenta: “Tu estás possuído de um demônio Quem procura matar-te?”. A resposta de Jesus: A lei de Moisés permite a circuncisão no Sábado, porque não curar um homem no dia de Sábado? Cessai de julgar segundo a aparência
             Em 8, 13-20 termina o discurso de 5,1-47: os fariseus disseram: “Tu dás testemunho em teu favor, não é válido”. Jesus respondeu: ¨Eu dou testemunho de mim mesmo e o Pai que me enviou também dá testemunho de mim. Vós não me conheceis e não conheceis a meu Pai”.
         Mas ninguém o deteve porque não havia chegada a sua hora (8, 20).

8. De onde vem  o Messias e para onde vai o Filho do Homem
                  Acontecimento: Jesus vai para a festa das tendas em Jerusalém? (7,2-10)
                  Dúvidas (7,11-14), de onde ele vem, para onde vai? (7,25-36 e 8,13-20)
                  A água viva (7,37-39) separação (7,40-52)
                  Resultado: Jesus foi para o monte das Oliveiras (8,1)
   (7,15-24; pertence ao cap.5 que terminava com a cura de um paralítico)

 Terceira ida de Jesus para Jerusalém na festa das Tendas: Jesus preferia percorrer a Galileia e não a Judéia, onde os judeus queriam matá-lo. Os irmãos de Jesus querem que Jesus manifeste o seu poder, buscam prestígio, mas o tempo de Jesus ainda não chegou (cf. a hora  nas bodas de Caná). Jesus vai para a festa às escondidas simbolizando sua chegada e sua subida..  Lá eles procuram Jesus perguntando: ¨Onde está ele?¨ (7,1-13).
             Discurso com os Judeus sobre o Messias: sua origem e seu destino: de onde ele vem e para onde Ele vai.  Eles sabem de onde Jesus vem.  Quando vem o Messias não se sabe, de onde ele vem. Para onde Jesus vai, eles não podem ir: (7,14; 25-36).
 O discurso continua em (8, 21-30). ¨Para onde eu vou, vós não podeis ir¨.  Eu parto, vocês morrereis em vosso pecado. “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, conhecereis que EU SOU”.  De novo: o autor fala da elevação  (e não da cruz) do Filho do Homem.
Na liturgia da festa havia no final uma procissão com água, levada da fonte para o Templo.  Jesus mesmo é a fonte da água viva: Jesus proclama: ¨Se alguém tem sede, venha a mim e beba aquele que crê em mim..¨ Do seu seio jorrarão rios de água viva”.  Ele designava assim a Espírita Santa que deviam receber os que creriam nele. Ainda Jesus não foi glorificado  (7.37-39). A promessa se cumpre quando um soldado feriu-lhe o lado com a lança e saiu sangue e água (19,34;)

Dentro da massa (ochlos) tinha divisão: uns falavam, ele é o Messias, outros que não Alguns já querem prende-lo. Os fariseus falam aos guardas:
¨Apenas há essa massa (ochlos) que não conhece a lei, essa gente maldita¨ (7,49).

      A palavra grega ‘ochlos’aparece 174 vezes no NT. Em espanhol a turba é uma aglomeração agressiva. O português conhece as palavras “conturbar, perturbar-se”, “turbulência”.  Em geral se traduz óchlos por multidão (pletos), um número indefinida de gente: Porém, o termo ‘ochlos’  designa a massa fora da Lei, plebe, ordinário, marginalizado. ‘Ochlos’ é a massa dos empobrecidos, sem lideres, perdidos, excluídos da sociedade religiosa e política. típico para a literatura apocalíptica que encontramos na fonte Q e no Evgl. de Marcos. Movimentos apocalípticos nascem em situações de desintegração, perseguição, opressão e exclusão. (Paulo Richard em “Apocalipse” (p.49). “Eu vi: era uma imensa massa (ochlos). Eles vêm da grande tribulação” (Ap 7,9-14). A massa popular anônima, sem importância política e cultural.

            Os doentes fazem parte da massa: A enfermidade é entendida como estar de costas para Deus. Igualmente no mundo helenístico-romano a saúde corporal é entendida como um estado de “pureza“; “Os doentes não são aceitos no convívio da comunidade. São excluídos de cargos e lugares públicos. Ficam sem assistência social e médica (já bem precária). São obrigados a mendigar para prover a sua penúria e fome. Assim, são vistos caídos pelo caminho (Mc 10,46), nas portas dos lugares públicos (Jo 5,3 Ribla 57, p.123)

 Os gentios, as nações, povos ´goim´, (não pagãos): Os estrangeiros, as gentes, as nações são automaticamente ochlos, massa excluída do povo eleito, Jesus dirige se a eles. A mulher samaritana (Jo 4;) os gregos, representando as nações (12,,20)
 Eles voltam para casa, Jesus vai para o monte das Oliveiras (7,40-8,1).

                 9.  Os verdadeiros filhos de Abraão:
                 Acontecimento: A mulher adúltera deve ser apedrejada (8,2-11)
                  Discurso: os verdadeiros filhos de Abraão não matam (8,31-58)
                  Resultado: Os fariseus querem apedrejar Jesus (8,59).

Neste cap. se trata do grande conflito entre o judaísmo formativo com a lei e Jesus em quem se precisa acreditar. Após a destruição do templo no ano 70 d.C. não mais aparecem sacerdotes, por quais Javé falou e ordenou (Ex 25,,22) mas os fariseus (e escribas) que dão continuidade à Lei sadoquita  para os judeus dispersos no mundo. Se alguém pecar por inadvertência , sem saber , precisa reparar o pecado através de sacrifícios ou ritos de absolvição (Lv 4,1) ou ser apedrejado.

 Ao clarear o dia Jesus volta ao Templo e se pôs a ensinar (8,2;). O discurso começa com a apresentação de uma mulher adúltera ((8,3-11). Trata-se de uma tradição independente, o seu caráter canônico não é contestável
 Os escribas e fariseus trouxeram uma mulher que fora surpreendida em adultério. A lei ordena apedrejar uma mulher adultera. Jesus não condena.
 Os versículos 8,13-20 tratam sobre o testemunho de Jesus e do Pai e pertencem ao cap. 5.               Os versículos 8,21-30 tratam do levantamento de Jesus e pertencem ao cap. anterior.

     Jesus se dirige primeiro aos crentes, depois aos judeus: “Se permaneceis na minha palavra, conhecereis a verdade e a verdade fará de vós homens livres” (8,31-58). Agora não se recorre só a Moisés e à Torá, mas a Abraão e à fé dele. “Não somos filhos da prostituição” (veja Oséias Jeremias e Ezequiel 16,3). “Meu pai era arameu, tua mãe uma hitita (não judia)”. Não a descendência física de Abraão,  mas a fidelidade dele à promessa libertará. Agora a fidelidade em Jesus, que é o filho prometido a Abraão, libertará.
 Estes fariseus são filhos do Diabo que faz morrer os homens (8,44) como vimos na vontade de apedreja a mulher adúltera.  Para os judeus Jesus é um samaritano, um possesso (8,48). Resultado: Jesus é major do que Abraão: ¨Antes que Abraão fosse: “Eu sou” (8,58).
 Recolheram pedras para apedrejá-lo. Jesus saiu do Templo 8,59. 
              
  10. O bom pastor tem autoridade de dar a vida e de  recebe-la
              
  Acontecimento: Festa da Dedicação: messias-rei (10,22-24)
  Parábola sobre a tarefa de um pastor (10,1-6)
   Discurso: autoridade de dar a vida para recebê-la, (10,7-38);
   Resultado: Jesus voltou para além do Jordão ( 10,39-42).


 Em Jerusalém houve a Festa da Dedicação: no Pórtico de Salomão do Templo, A Festa da dedicação lembrava a purificação do altar no tempo de Judas Macabeus 164 a.C. e despertou a esperança messiânica na libertação. Era inverno. Controvérsia polemica: os Judeus buscam um Messias poderoso:¨Se és o Cristo, dize nos abertamente (10,24).

O Evangelista usa uma comparação envoltório (10,1-6): Quem entra no redil pela porta, é o pastor, quem penetra, é ladrão. O pastor conhece as ovelhas, mas elas fogem do ladrão.

Aplicação: Jesus é a porta das ovelhas. Quem não entra no redil pela porta, é ladrão e assaltante. Jesus é o bom pastor que se despoja da própria vida, o mercenário foge do lobo. “Eu conheço as minhas ovelhas, e as minhas ovelhas me conhecem”.  Jesus tem ainda outras ovelhas que não pertence a este redil, não se fala mais do Templo (10,7-16).

 O Pai ama Jesus, porque se despoja da vida, para depois de receber.”Ninguém tira a minha vida, eu tenho autoridade plena (exusia) de dar a vida e recebê-la (lambanein)”. (10,18;)  Na 1. Carta de Pedro (3,18) ¨Vivificado pelo Espírito Santo¨.  Um hino em 1 Tm 3,16) diz: ¨ Manifestado em carne, justificado em Espírito¨. Em João 20,22: Jesus sopra este Espírito. ¨Recebei Espírita Santa¨.
 Os judeus não creem nem no Pai, nem em Jesus, eles não são das ovelhas de Jesus (10,17-18 e 25-30). ¨Eu e o Pai somos um¨ (10,30),  uma primeira reflexão binitária.
      Os judeus apanharam de novo pedras para apedrejá-lo (10,31). Jesus é acusado de blasfêmia, porque se faz Deus (10,33). Só havia blasfêmia no momento em que se pronunciava o Nome Divino (Sinédrio 7,5) Mesmo a lei chama de deuses as pessoas as quais a Palavra de Deus foi dirigida. .
             Conclusão: Eles tentaram prender Jesus, mas ele escapou de suas mãos e voltou para além do Jordão, no lugar onde João começou a batizar, e aí permaneceu. (39-42).

      11. Jesus desperta o discípulo amado
                      Jesus volta agora para Betânia, a terra de Maria e Marta: (11,1-16)
                      Discurso com Marta sobre a ressurreição(11,17-37)
                      Jesus desperta Lázaro: (11,38-44;)
                      Conclusão: resolveram fazê-lo perecer (11,45-54)

            Quarta ida: Jesus estava num lugar além do Jordão e volta agora para Betânia, a terra de Maria e Marta: ´´Senhor, a quem tu amas, está doente´´. Trata-se do discípulo amado, o nome Lázaro devia ser inserido mais tarde. Este texto vem da fonte dos sinais e contém os versículos: 1, 3, 4a, 6, 7a, 11b, 17, 32, 33b, 34, 38acd, 39a, 41a, 43b, 44.
O dialogo com a Marta: Se fala de novo da ressurreição como em 6,36-40.e 5,28-29; A Ressurreição pertence ao conceito escatológico e acontecerá no futuro, cruz e ressurreição são tema central nos Sinóticos. Mas o Evangelho defende o conceito apocalíptico: o futuro acontece agora. O ultimo dia se realiza agora na fé em Jesus (11,18-31). Na aparição do Senhor só uma vez se fala da ressurreição citando as escrituras ( 20,9).
Jesus vai despertar Lázaro. O discípulo amado já estava quatro dias no túmulo.  Jesus gritou com voz forte: “Lázaro, vem para fora”.  “Deixam-no ir”, Os circunstantes são chamados a ajudar. O discípulo amado representa a comunidade. Sinal, que o ultimo inimigo de Deus vai ser vencido.

                          Conclusão do sumo sacerdotes Caifas (11.45-54):
              Nos sinóticos foram os sacerdotes, escribas e anciãos, e não os fariseus que acusam Jesus. No tempo do Evangelho de João após a destruição do Templo não existem mais estes sacerdotes, mas sim a hegemonia farisaica, por isso o autor liga os sacerdotes com fariseus de Jamnia.
            O Sumo Sacerdote Caifás analisa as consequências: Na ideologia sadoquita só o sumo sacerdote é profeta, por quem Javé “fala e ordena” (Ex 25,22). Muitos acreditavam em Jesus, ele provocou uma divisão entre a massa em Jerusalém. Havia o perigo que todos crerão nele, os Romanos intervirão e destruirão o lugar santo e a nossa nação (11,48). “Ser de vosso interesse que um só homem morra pelo povo e que não pereça a nação inteira”. Jesus, vítima dos interesses dos poderosos.  O Evangelista destaca que o depoimento de Caifás é profético. Jesus como o bom pastor dá a vida pela nação e para reunir os filhos de Deus. No relato da glória do Filho do Homem se mostrará a soberania de Jesus, ninguém tira a vida dele, ele dá livremente para recebe-la.
Jesus se absteve de ir e vir abertamente entre os judeus, se retirou para uma cidade chamada Efraim onde permaneceu com os discípulos (11,54).

              12. A hora da glorificação:
       o levantamento do Filho do Homem:
                 Acontecimento: A unção na Betânia(11,58-12,11)
                 Chegada em Jerusalém (12,12-19)
                 Hora da glorificação, (12,20-34;)
                 Levantamento do Filho humano (3,13-21)
                 A luz ainda está entre vós (12,35-36; e 12,44-50.)
                 Conclusão: Jesus se escondeu deles ( 12,36 b)

            A quinta e última ida de Jesus para Jerusalém na Festa da Páscoa: Hora da glorificação, do levantamento do Filho do Homem e do julgamento 12,12-34; 3,13-21;.
Festa da Páscoa em Jerusalém: Preparação pela unção na casa de Marta e Lázaro, que Jesus despertava (não ressuscitava). Conforme Marcos 14, 3-9 e Mateus 26,6, a unção aconteceu na casa de Simão leproso. Mas era é impossível, a lei proibia de entrar em casa de um leproso. No aramaico a palavra ´leproso´ é semelhante à palavra < essênio>, por isso podia ser a casa de um essênio. Se alguns (Marcos, em Mateus são os discípulos) comentavam indignados: “Para que este desperdício?” eles demonstram a rigidez da pobreza dos essênios, o que Jesus rejeita. No Evgl. Judas Iscariotes pergunta: “Porque não se vendeu esse perfume.”. Um comentarista faz dele em ladrão (12, 1-11).

Chegada em Jerusalém: Grande massa ia para a festa. Muita gente exclamava: ¨Hosana! Bendito seja em nome do Senhor aquele que vem: O rei de Israel¨ (Jo 12,13).
 Pilatos escreverá:: Rei dos judeus.
Os sinóticos relatam:
Bendito seja o reino que vem¨ (Mc 12,10)
Hosana ao filho de David! (Mt 21,9)
O rei, paz no céu (Lc 19, 38) Jerusalém não terá paz.

 Alguns gregos (estrangeiros) querem ver Jesus. Eles representam o Império greco-romano, todos os povos. Agora o discurso se dirige não só a Israel, mas abre o portal para todos os povos:”É chegada a hora em que o Filho do Homem deve ser glorificado”.

  È chegado a hora:
           O conceito do Evangelho é apocalíptico. Na escatologia se espera a salvação no futuro: ¨no terceiro dia¨, ou no último dia do julgamento, significa uma evolução. Na apocalíptica acontece a salvação no presente: agora é o julgamento, agora o Filho do homem vai ser glorificado, é uma revolução.  As testemunhas atestam o julgamento na hi
É o ponto culminante da história: o julgamento.  Este fato sobre Jesus deve ser testemunhado na história, testemunhado pelos mártires junto com a Espírita Santa. A advogada defenderá os discípulos na história diante dos tribunais do mundo e confundirá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do julgamento.

A glorificação:
 O autor não fala da vitória, enquanto os poderosos gloriam-se das vitórias sobre os fracos, que serão derrotados. O autor fala sempre da glorificação. Para a Gnose a cruz e a morte não tem valor e não traz a salvação. A salvação deste mundo ruim acontece pelo conhecimento, pela sabedoria e educação para participar do divino. Uma morte que salva não tem sentido.  Precisa se libertar deste cosmo, largar o corpo como parte do cosmo. Quem tem conhecimento desrespeita e rejeita este mundo. “A salvação perfeita é o conhecimento da grandeza inefável”.
 O Evangelho não cita os três avisos dos sinóticos sobre a crucificação e ressurreição de Jesus. A cruz só aparece no cap. 19. Em vez o Evgl. fala: Jesus tem autoridade (do Pai) de dar a vida e a receber de novo (10,18). 
Do mesmo modo não se fala, tomar a sua cruz e seguir Jesus. O exemplo mais forte e mais belo é a lei da natureza: o grão do trigo morre para produzir fruto em abundância (12, 24-26), é o ciclo de toda a natureza que serve para o ser humano.   O ser humano tem liberdade, ele pode agir como a natureza: quem perde a vida guardará para a vida eterna.  Pela primeira vez Jesus convida todos para o seguimento..
 Na realidade a morte de Jesus foi uma derrota causada pelo príncipe do mundo, não é a hora de Deus mas da escuridão, do poder das trevas. Jesus está perturbado:¨Que direi?  Pai, salva-me desta hora?  Mas é precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome¨ (12,27-28). Assim esta hora terrível será a hora da glória. ¨Sucesso não é o nome de Deus.¨  (Martin Buber).

O Levantamento:     
A massa pergunta: ¨Como podes dizer que é necessário que o Filho do Homem seja elevado?¨ (12,34). ¨Quem é esse Filho do Homem?¨ Muitas vezes o Evangelho falou do Filho do Homem: 1,51; 6,53; 5,27, 8,28;9,35; Este título veio de Daniel: ¨Com as nuvens do céu vinha um como Filho do Homem (Dn 7,13;) uma pessoa divina ao lado do ancião.
Falta uma resposta de Jesus que encontramos nos versículos 3, 14-21, que prefiguram e explicam o levantamento de Jesus: Os que no tempo de Moisés olhavam para a serpente de bronze, levantada na hasta, sobreviviam (Nm 21, 4-9). Agora Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Aquele que crer não será julgado, quem não acredita já está julgado, quer dizer: ele mesmo se julga. Os homens preferem a escuridão (3,19). Acreditar em Jesus significa fazer as obras da verdade e rejeitar as obras da escuridão (3,19-21).
Agora é o julgamento deste mundo:
 Agora o príncipe deste mundo que está acima de tudo e domina o mundo será lançado fora.  Ele é jogado abaixo enquanto Jesus vai ser elevado e atrairá todos os homens (12,20-36). O julgamento já aconteceu no levantamento de Jesus, mas precisa ser verificado na história num processo pela advogada e pelas testemunhas mártires. O julgamento acontece na própria pessoa. O mundo do poder se julga a si mesmo. A Espírita da verdade vai guiar para a verdade plena. (16, 6-15). .O testemunho mais forte dava Jesus diante do Pilatos: ¨Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade (18,37).
            Último convite para acreditar 12,44-50: Eu vim ao mundo como luz. Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, tem o seu juiz. Jesus não julga ninguém, a própria pessoa julga-se mesma, é seu juiz. Ainda resta um breve tempo de luz.

13. O mestre se despede dos discípulos

                     Jesus saiu de Deus e volta para Deus 13,3
                     O lava-pés,  Judas entregará Jesus (13, 21-30)
                     O novo mandamento: amar como Jesus amou (13,31-38)
                     Agora Jesus vai ao Pai,(14,1-14)
                     Promessa do Advogado (14,15-31)
                     Conclusão: Levantai-vos, partamos daqui (14,31)

Jesus saiu de Deus e volta para Deus (13,3).
A despedida do mestre, agora ele volta para o Pai. O autor não menciona a descida à mansão dos mortos, não terceiro dia nem da ascensão. O pai  deu a Jesus a vida pela Espírita Santa e de Maria, agora depois da sua missão de dar testemunho da verdade ele volta ao Pai como homem maltratado, rejeitado, morto pelos poderes religiosos e políticos. Assim o Pai, triste, recebe seu filho rejeitado,  não pune, em vez dá vida ao sei Filho  as chagas permanecem..      
             O ensinamento dos discípulos
 se faz durante a última refeição, não no caminho como nos Sinóticos. O autor não menciona a eucaristia. Uma  liturgia só pode ser uma farsa, um mero culto do mesmo modo como acontece com o batismo.
Era costume se deitar na mesa “triclínica”, uma mesa sempre para três pessoas: Jesus no meio, o discípulo amada reclinado à direita, Judas à esquerda, o lugar de honra.
 Jesus dá um exemplo na ceia derradeira: Exemplos atraem. O mestre se torna escravo e lava os pés dos discípulos. “Pois o Filho Humano não veio para ser servido, mas pra servir e dar a vida como resgate por todos”. (cf. Mc 10,45). Simão Pedro primeiramente resiste, depois quer privilégio, 13, 1-20.
            Judas entregue Jesus:
           Agora se realiza a hora da glorificação: não é a mãe em Cana,, não são os parentes de Nazaré, mas um dos discípulos amados, a quem Jesus dá o bocado,  entregará ( não trair) o mestre (13,31). Jesus dirige a cena: “Um de vocês me entregará” (não trair), Jesus até exorta seu amigo ”O que tens a fazer, faze-o depressa (13,21-30). Jesus respeita qualquer liberdade dos homens.
            Um mandamento novo:
             “Como eu vos amei, vós também amai-vos uns aos outros (13,34). O amor de Jesus consiste em dar a vida pelos irmãos e dar testemunho da verdade que conduz o justo  à morte pelos corruptos. O amor é o principal mandamento, nada mais.
           Agora Jesus vai ao Pai:
           O mundo não me verá mais, vós, porém, me vereis vivo (14,19).
            Simão Pedro: “Aonde vais?” Na casa do Pai há muitas moradas. A casa do Pai não está restringida a qualquer estrutura das igrejas, que são tentados a excluis os dissidentes. Tomé pergunta: Não sabemos para onde vais. Como saber o caminho? Jesus: ¨Eu sou o caminho, a verdade e a vida¨.
    Promessa do “paráclito”, advogado ou advogada,
         Jesus não deixa os discípulos órfãos  (14,18). A advogada é como uma mãe que não esquece a sua criança (Is 49,15) “Vós o conheceis”, é uma promessa aos discípulos, não ao mundo. Espírita da verdade que ensinará tudo e recordará tudo, lembra o passado, avisa o futuro. O Jesus histórico não está mais corporalmente na história.    
        Agora termina o ensinamento na refeição: “levantai-vos! Vamos sair daqui”. (14,31)

  14. A atividade do Paráclito, da Advogada

            A seqüência natural de 14,31 é 18,1. Por volta de ano 90 terá havido uma primeira redação. No final da década de 90 fizeram uma nova edição, incluindo os cap. 15 a 17; uma repetição aprofundada  de cap. 13 e 14. Quase a metade da palavra ´mundo´ aparece aqui .( Gass 8 p.122)

      a)  Exemplo da a vinha (15,1-6)
       b) Discurso sobre amor e ódio (15,7-25)
       c)A advogada na história (15,26-16,15)
       d) Da aflição à alegria  (16,16-24)
       e) Conclusão: Jesus já venceu o mundo (16,25-33)

          a)      A vinha

 A parábola da vinha é bem conhecida, veja o Salmo 80 (79) que representa Israel retirada do Egito (S 80, 9), ela é a casa de Israel e a gente de Judá ( Isaias 5,1-7); Agora o Pai é o vinhateiro, Jesus é a verdadeira vinha, a comunidade é sarmento. O Evgl fala muito do Pai junto com o Filho. Ainda não há uma reflexão trinitária, falta a Espírita Santa. Se olhamos para a videira, podemos não ver mas constatar a seiva, que dá a vida à vinha e aos sarmentos. Seria a Espírita Santa que dá a tudo a vida, bem escondida.
  O julgamento acontece primeiro na comunidade. O Pai corta os ramos que não dão frutos. (15,1-8).

       b)     Amor dos discípulos, ódio do mundo: (15,7-17

  O  amor entre os discípulos: ¨Produzir fruto em abundância¨ significa amar uns aos outros como Jesus amou que deu a vida pelas ovelhas perdidas. O Evangelho não manda pregar, mas sim praticar o amor. Os discípulos são amigos de Jesus porque ele comunicou tudo o que ouviu do Pai a eles.

     O ódio do mundo (15, 18 – 25).  Os discípulos serão perseguidos por causa do testemunho deles, eles serão colocados diante dos tribunais na hora deles. O mundo hostil ainda parece ser o judaísmo: “o que está escrito na lei deles, eles expulsarão vocês das sinagogas”
      O uso mais característico do termo “mundo” conota o conflito da comunidade com o Império. Mundo é o âmbito social oposto a Jesus e à comunidade 17, 6; 8,23. O mundo é um sistema injusto e tem seu príncipe 12,31; 14,30. Este mundo é o oposto ao espírito da verdade 14,17. O mundo sócio religioso é inimigo de Deus, de Jesus, do Espírito e dos discípulos (veja 19, 36-38) “meu reino não é  conforme deste mundo”. O confronto de Jesus com Pilatos é modelo de confronto dos discípulos com os oficiais Romanos. O Império Romano está muito mais presente no 4º Evangelho do que nos sinóticos.

     c)    O Paráclito na história (15,26- 16,15).

            Em 14,16; Jesus prometeu que ¨o Pai dará um outro Paráclito que permanecerá convosco para sempre¨. Quem foi o primeiro paráclito?  Jesus mesmo! Em 18,37 Jesus disse: ¨Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz¨.
 O outro Paráclito, a advogada, enfrenta os impérios: A advogada defende os discípulos diante dos tribunais do mundo: ¨Quando vier o Paráclito que eu vos enviarei de junto do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, ele próprio dará testemunho de mim, e, por vossa vez, vós dareis testemunho¨ (15,26-27).
    O Evangelho fala 33 vezes de testemunhar (martirein em grego), 14 vezes do testemunho (martírio).

     A advogada confundirá na história o mundo a respeito do pecado, da justiça e do julgamento. Pecado não é mais a violação da Lei, mas a incredulidade em Jesus. Justiça: o inocente justo sofreu a maior injustiça do mundo: foi julgado como rebelde contra o Império. Ele é o justo. O julgamento já aconteceu no levantamento de Jesus, um pensamento apocalíptico, mas precisa ser realizado na história pela advogada e pelos mártires. ¨Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem o seu juiz¨ (12,48). O “último julgamento” realiza-se na própria pessoa. O mundo do poder se julga a si mesmo. Pela primeira vez a Espírita Santa é uma pessoa como Jesus mesmo, o primeiro advogado.

             d) Da aflição à alegria (16,16-24;)

      ¨ Que quis ele nos dizer: Ainda um pouco e não me tereis mais diante dos olhos e ainda mais um pouco e me vereis¨ (16,19). Jesus tinha falado de modo enigmático.

       Agora eles sofrem tristeza (16,20-24); Virá a alegria. A comunidade é como a mulher grávida até que ela dá à luz (cf. Is. 66, 7; Ap 12). A Samaritana,, Maria e Marta, Madalena são exemplos da comunidade amada.

       e) Conclusão: Jesus já venceu o mundo (16,25-33;)

        No final Jesus pergunta: ¨Credes agora? “Tende confiança, eu venci o mundo” (16,25-33). Os mártires dando as suas vidas como vítimas dos poderosos assistidos pela advogada dão testemunho da verdade como Jesus.


       15. Oração de Jesus 17,1- 26;

       Esta oração é tão diferente da oração de Jesus no Getsêmani (Mc 14,32). Lá Jesus está triste a ponto de morrer e tem a tentação de fugir. Aqui Jesus é o soberano que baixou o príncipe deste mundo.

             Pedido da glorificação (17,1-5)
      ¨Glorifica o teu filho afim de que o teu filho te glorifique¨ (17,1), no Pai Nosso: rezamos: “Santificado seja vosso nome”. Ora, a vida eterna é que eles te conheçam a ti e àquele que enviaste Jesus Cristo (17,3; no v.20,31 ele é Jesus, o Messias, o Filho de Deus).  Concluí a obra que me deste para fazer. E agora glorifica-me junto de ti. Jesus glorificará o Pai sofrendo a condenação do mundo

            Pedido pelos discípulos, (17,6-19)
¨Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo. Guarda-os no teu nome. Guarde os do maligno. Consagra-os com a verdade. O que o Pai deu ao Filho, o Filho deu aos seus.

            Pedido por aqueles que crerão em mim (17,20-26)
        Que todos sejam um (cf. 11,52) É um pedido pela unidade no futuro, é um desejo e ainda não uma realidade. A unidade se funda na verdade que Jesus testemunhou.

          Não há um pedido pelos inimigos de Jesus. Mas estava claro, quem não acredita em Jesus, tem seu juiz, está julgado. É a própria decisão daqueles que não acreditam. É o pecado contra a Espírita Santa, que não tem perdão. Resta só repetir o que Jesus disse Judas: O que pretendes de fazer, faça logo! Acreditar ou rejeitar é a nossa liberdade.

     16. Tenho autoridade de dar a vida 18,1 – 19,16
  
Observemos com qual dignidade Jesus enfrenta a hora da morte: ele não se submete. Jesus lidera a cena, ele é o soberano com autoridade do Pai,  escolhe o lugar, conhece os motivos de Judas e se dá a conhecer à tropa: Sou eu!” (18,5).  Simbolicamente os solados caiem no chão, o poder só é dado. É impossível que os  sacerdotes com fariseus pegaram Jesus (18,3;) estes fariseus representam um grupo da liderança dos judeus após a destruição do Templo.  O termo “speira” significa a coorte romana, 600 soldados com o seu comandante; os guardas dos sacerdotes são os policiais do templo. Jesus tinha dito (10,18): “Ninguém tira a minha vida, mas por mim mesmo eu dela me despojo”. Ele rejeita a militância de Simão Pedro, armado de espada. Simão não conhece mais este Jesus, 18,1-12; 15-18.

Diante do poder religioso:
            Eles conduziram Jesus à casa de Anás, sogro de Caifás (não houve o Sinédrio). . Anás só interroga Jesus sobre os seus discípulos e seus ensinamentos 18,19-24. O Evangelho já tinha explicado o ensinamento de Jesus durante as cinco idas de Jesus para Jerusalém. A decisão de Caifás já estava conhecida (11, 45-54).  De novo Jesus demonstra a sua soberania. Ele não tem necessidade de se defender. Um dos guardas esbofeteou Jesus: ¨É assim que respondes ao Sumo Sacerdote?¨

Diante do poder político:
  O único interesse dos sacerdotes era manter seu poder sob a proteção do Império. Jesus é um perigo para os sacerdotes e para o Império: os Romanos vão destruir o templo e a nação, é melhor sacrificar Jesus, ele será o cordeiro de Deus.           
Os sacerdotes (´os judeus´) apresentam Jesus a Pilatos como um indivíduo que praticou o mal. Todo o relato é tendencioso: o Evangelho quer apresentar Pilatos como um juiz justo e jogar toda a culpa sobre os sacerdotes. “Tomai-o vós e crucificai-o” (19,6). Será que os cristãos depois da perseguição por Nero tinham medo de falar contra o Império e responsabilizavam os judeus pela morte de Jesus? 
O reino secundo este mundo (18,36): assinala o Império Romano, é incorreto traduzir: deste mundo (Ildo Bohn Gass tomo 8, p.115). Jesus veio ao mundo para dar testemunho da verdade: ¨Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade¨(18,37).

            O titulo “rei dos judeus” é típico para os Romanos, os sacerdotes tivessem falado: Rei de Israel. As respostas de Jesus: “tu és que o dizes” é expressão ambígua, mas conforme a “Lex Julia Majestatis” é causa para uma crucificação.

A cena diante de Pilatos é uma composição de um dramatismo intenso, a linguagem é poética. Jesus é o soberano, que tem autoridade de dar a sua vida. Não houve uma participação do povo, só tem os sacerdotes e as guardas! Os sacerdotes não entraram na residência de Pilatos para ficar puros, por isso Pilatos sai de dentro e vai para fora.

          I - 18,28-32 (fora) Os sacerdotes entregam Jesus a Pilatos.
        II - 18,33-38 a (dentro) O Reino de Jesus não é secundo deste mundo do poder.
       III - 18,38 b-40 (fora) Os Judeus votam pelo poder, querem Barrabás, um revoltoso.
       IV - 19,1-3 (dentro) Sua investidura: os soldados investem o rei com coroa e manto.
        V - 19,4-8 (fora) Pilatos apresenta o “o homem”, os sacerdotes aclamam: “crucifica-o”
       VI - 19,9-11 (dentro) O poder político é dado ou emprestado (Sb 6,1-10).
      VII - 19,12-16 a (fora) Os sacerdotes proclamam César como único Rei.

¨Eis o homem¨: O direito romano não conhece o costume de soltar um preso sem licença do Imperador. Barrabás foi um ´lestes´ , um bandido, um dos guerrilheiros contra Roma. “Barrrabás (filho do pai) estava na prisão com os sediciosos que tinham cometido um homicídio durante a rebelião” (Mc 15,7). O termo ´lestes´ foi muitas vezes aplicado aos zelotas que recorriam à ação política  violenta. Pilatos quer soltar o rei dos judeus (Jo 18,39) “Então eles, quer dizer os sacerdotes, se puseram a gritar: Não este, mas Barrabás”. Barrabás é o protótipo dos guerreiros, dos violentos, Jesus é o protótipo da não-violência, da paz. Os sumos sacerdotes gritavam: ¨À morte, à morte! Crucifica-o (19,15). Pilatos apresenta Jesus: ¨Eis o homem¨, maltratado pelos poderosos. Os sumos sacerdotes tinham também falado: ¨Que faremos? Este homem opera muitos sinais¨(11,47)

      17. Tudo é consumado 19, 17-42: 

Para o autor as três Marias (ou foram quatro?) estão perto da cruz, nos Sinóticos só a certa distância. Jesus disse à sua mãe ¨Mulher, eis aí o teu filho¨,  ao discípulo: ¨eis a tua mãe¨ (lembra as bodas de Cana 2,4). As Marias representam o Israel fiel, o discípulo amado representa a nova comunidade.


            Soberano até a morte Jesus não grita, mas diz: “tudo está consumado e inclinando a cabeça entregou a Espírita¨. Esta entrega refere-se à Espírita Santa que haveriam de receber os que creem nele (7,39).
Aquele que tinha sede (19,28) foi traspassado com uma lança e imediatamente saiu sangue e água. Cumpre-se a promessa na festa no templo: “ Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Do seu seio jorrarão rios de água viva” (7, 38).

            O corpo de Jesus foi colocado num jardim num sepulcro novo que simboliza o novo paraíso. Tudo é festivo: há 32,7 litros de perfume, panos de linho que não servem para envolver um morto, mas servem para o vestido da noiva. Veja Cântico 4,14.

18.  Ele recebe a vida 20,1-31;

  Jesus recebe a vida, a mesma expressão como no Apocalipse: ¨Estive morto, eis que estou vivo¨ (Ap 1,18; e 2,8). Não se fala da ressurreição. Só um comentarista explica: Ainda não tinham compreendido as Escrituras secundo a qual Jesus devia ressurgir (20,9).
 Lucas usou outro esquema:  Jesus ressuscitou no terceiro dia, apareça durante 40 dias aos discípulos, foi arrebatado) ao céu (Lc 24,51)  e há de vir (At 1,11).
João: Se cumpre o dito dês Jesus: ¨O mundo não me verá mais; vós, porém, me vereis vivo¨ (14,19)
            Maria Madalena vai ao sepulcro, O túmulo está vazio (veja como não se encontrou o corpo de Moisés e Elias). Ela não vê o cadáver e avisa Pedro e outro discípulo. Só o amado por Jesus viu e creu (20,1-10).
            Maria em busca do amado, Jesus em busca da Maria: “Mulher porque choras?” Parece ser o jardineiro,  Maria Madalena representa a noiva e deve anunciar aos irmãos que Jesus vai para o seu Pai e o Pai deles (20,11-18). Cumpre-se o que Jesus disse: ¨Eu vou e venho à vós, vós vos alegraríeis por eu ir para o Pai¨ (Jo 14,28). É o levantamento de Jesus. Tudo lembra o Cântico dos Cânticos que os Judeus leem na Páscoa: a amada em busca do amado, os guardas são aqui dois anjos... (20,11-18)
            Na tarde do primeiro dia Jesus veio no meio dos discípulos e mostra as mãos e o lado. O Filho do homem, rejeitado dos poderosos, está vivo ao lado do Pai, guardando as marcas da sua condenação, as chagas lembram também o Pai de todas as vítimas da história.
            Jesus envia os discípulos  dizendo:: “Recebam Espírita” (sem artigo, em 19,30 ele tinha entregado a Espírita), um outro paráclito, que permanecerá convosco para sempre (14,16).
           ¨A quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados¨. Espírita Santa significa perdão dos pecados.. Mas o perdão depende daquele que  se converte e pede perdão. Jesus (cf. 17,9) também não reza pelo mundo incrédulo. Quem não acredita, fica no pecado. É o pecado contra a Espírita Santa. Quando Satanás entrou em Judas, Jesus só podia dizer: ¨O que tens a fazer, faze-o depressa¨

             Os discípulos não tinham informado Tomé sobre as chagas. Tomé não acredita num Jesus espiritualizado, ,insiste nas marcas, Jesus não é um fantasma, um além da história, já começou a tendência de espiritualizar Jesus sem carne e ossos.  Mas ele é aquele que vive e sofre em todas as vítimas da história.  Precisa acreditar como Tomé  e colocar simbolicamente o dedo nas chagas do Filho humano e dizer “Meu Senhor e meu Deus¨ (20,24-31).

            Resultado:  ¨Felizes os que não viram e contudo creram¨

           19. Apêndice:
            O cap. 21 é certamente um apêndice posterior ao tempo 90 d.C..
Os discípulos  pescando no Lago de Tiberíades: são sete nos seus trabalhos cotidianos, (cf. Lc 5,1-11). Jesus de pé na beira do lago. Ele dá o pão, Eucaristia, pela terceira vez ele se manifestou após ser despertado dentre dos mortos (21,1-14).          
               O discípulo amado foi o primeiro a reconhecer Jesus. Pedro pode ser pastor se reconhece em primeiro lugar a comunidade do discípulo amado. A igreja discípula garante a memória e tradição de Jesus, a tradição apostólica fica subordinada. O Evangelho não mencionava os “apóstolos” (só 13, 16 com o sentido comum “enviado”). Pedro que representa a autoridade eclesial deve converter-se e amar a Jesus para ser pastor.  O amor não conhece hierarquia. Pedro foi martirizado em Roma.                                         
               O discípulo amado, que representa a comunidade, deve permanecer no amor até Jesus vem. 21,20-25. Em  cada Eucaristia a igreja que ama,  chama: Vinde, Senhor Jesus.                            
         20. Crise e escrita das cartas joaninas nos anos 90 a 120 d.C.:

            O autor da primeira carta se esconde atrás de um “nós”, que representa a comunidade. Na 2ª e 3ª carta o autor é o “presbítero”, representa o “ancião”, o idoso da comunidade, guiado pelo paráclito.    
            Nestes anos acontece a crise da comunidade, nasce uma corrente helenizante e gnóstica que espiritualiza o Evangelho. Esta corrente dá valor à divindade de Jesus, mas não a sua humanidade.
O Evangelho devia destacar que Jesus, o Filho do homem,  é filho de Deus. Agora precisa  destacar que Jesus, ele é  verdadeiro homem.
            Outro conflito com os dissidentes era a ética: os espiritualistas pretendem ter tal intimidade com Deus que pensavam serem perfeitos e sem pecado. Por isso a primeira carta insiste tanto no amor fraterno (3, 14).
            Um terceiro conflito era a escatologia. Os dissidentes defendiam uma escatologia já realizada. A primeira carta condiciona esta escatologia no guardar da palavra da prática do amor, à confissão dos pecados (3, 18-28) (4, 1-6).
            Outro ponto é a pneumatologia: os dissidentes seguem a mestres e profetas que dizem possuir o Espírito. O autor se opõe a um eu-autoritário e lembra que todos os crentes são mestres (2, 20-27).

            Curioso constatar que hoje em dia existem as mesmas correntes espiritualistas: desvalorizam a humanidade de Jesus, não se preocupam com o amor e a prática, elas acreditam que já estão salvos e seus lideres monopolizam o Espírito.

14 . O APOCALIPSE DE JOÃO:

          ¨des-ocultamento

Pablo Richard: Apocalipse, Reconstrução da esperança     Vozes Petrópolos 1996

Da profecia à apocalíptica

            O profeta atuou dentro dos estados de Israel e Judá nos tempos dos reis e dos sacerdotes. O profeta é vidente e homem de Deus no mundo político, busca realizar o plano de Deus com o seu povo.
            O pensamento apocalíptico na Bíblia surge quando Israel e Judá já estão destruídos pelos Babilônios, e os deportados vivem submissos aos Persas e Gregos. O Apocalipse reconstrói o plano de Deus na consciência com visões, símbolos e mitos para construir um mundo diferente dentro da história.
            A literatura apocalíptica é uma literatura de homens oprimidos, do óchlos, dos excluídos. São situações próprias e diferenciadas em que nascem movimentos apocalípticos: Situações de  desintegração depois de grandes catástrofes: a apocalíptica nasce após a destruição de todas estruturas de Israel (no ano 586 a.C. ou no ano 70 d.C.). 
            Outra causa é a perseguição, como se deu so o império de Antíoco IV Epífanes quando nasceu o livro de Daniel.
            Uma terceira possibilidade é a permanente opressão  pelo templo, sacerdotes, escribas e pelo Império Romano.  Três situações diferentes: desintegração, perseguição, opressão (p.49).
            Pior ainda a exclusão: O excluído fica fora do sistema,, não conta, é lixo descartável. Paulo em 1 Cor.1,28): ¨Deus escolheu o plebeu e o desprezível do mundo, aquele que não é¨. As comunidades cristãs não podem “comprar e vender”, não podem participar da sociedade. A “tribulação”em Ap 1,9 e 7,14 é uma situação permanente de exclusão. As repostas apocalípticas têm em comum de criar um universo simbólico com a finalidade criar esperança para os excluídos. Eles são os “habitantes do céu”, a alternativa ao sistema dominante, os “habitantes da terra”.

            O Império Romano: A Ásia menor foi berço do culto ao Imperador, ¨a terra clássica do culto ao imperador¨. A ideologia do império culmina na paz dos deuses, representados no imperador: “Senhor e Deus”. Para as comunidades o Império é o diabo que busca a quem devorar.
                        O Imperador Augusto 29 a.C. concordou na edificação de uma estátua sua para ser venerada, o culto a Augusto era o mais antigo culto imperial romano na Ásia. Tibério (14-37 d.C.) não aceitou honras divinas, Calígula (37-41) exigiu ser tratado como um deus. Nem Cláudio (41-54) nem Nero (54-68) foram oficialmente aceitos entre os deuses ainda em vida. Vespasiano (69-79) retomou as formas do culto do imperador, somente um imperador divinizado após a morte tornava-se um dos deuses do império. Domiciano (81-96) exigiu ser chamado “Senhor e Deus”. O culto ao imperador não só era celebrado nos templos, mas também em outros espaços públicos. Era uma expressão de lealdade ao império. Entre os anos 1 d.C. até 150 d.C. mais de 140 templos foram construídos na Ásia menor.
       

A resistência dos judeus:
Dos anos 168 a.C. - 135 d.C. tinham na Palestina 6l revoltas, começando com a luta dos Macabeus contra o Império dos Gregos e terminando com as revoltas contra o Império Romano.
A aniquilação de Jerusalém 70 d.C.: Titos, o filho do Vespasiano, começou a conquista, com quatro legiões (uma legião tinha 6.000 soldados, 12 cavaleiros e tropas auxiliares). De 5 de julho até 10 de Agosto o templo foi destruído,  mais de 10.000 de judeus perderam a vida. Um resto se retirou no castelo de Massadá e resistiu até 73. Quando os romanos entraram no castelo, só encontraram cadáveres: houve um suicídio coletivo. Ainda a chama da revolução não tinha se apagada. Em 131 aparece um Bar-Kochba, saudado como salvador de Israel. De novo os romanos destruíram tudo em 135. O nome Judá desaparece, a terra foi chamada Palestina. Sob a pena de morte nenhum judeu podia entrar na cidade, todos os costumes dos judeus foram proibidos. Jerusalém recebe o nome Aelia Capitolina.

O Apocalipse: a mãe da teologia crista:

            A apocalíptica é o verdadeiro começo da teologia cristã primitiva, é a sua mãe. O centro e o novo da apocalíptica não é a segunda vinda do Senhor no final dos tempos, mas a presença do Ressuscitado na história. Enquanto tal é uma teologia histórica, política, popular, escatológica, oposta a uma teologia greco-latina, excessivamente helenizada.
            Tendências greco-latinas já se encontram nos escritos de Lucas, Clemente, pos-paulinas, pastorais.  Nasce, assim, uma teologia helenista de corte intelectualista, individualista, elitista.  Platão e Aristóteles substituíram a memória histórica de Jesus. O Deus dos filósofos é um deus cósmico, não um Deus da história. O resultado é um cristianismo anti-material, anti-social, individualista (salva a tua alma), patriarcal. ¨A helenização do cristianismo levou também ao esquecimento do Espírito Santo. A cultura helenista não oferecia nenhum lugar ao Espírito¨ (p.40).      ¨A apocalíptica, a partir do segundo século a.C. até meados do segundo século d.C. desempenhou um papel determinante na luta contra a helenização (p. 42).
            A perspectiva de tempo do Apocalipse difere radicalmente das pastorais e do cristianismo pós-paulino. João interpreta o seu tempo como o início das perseguições eschatológicas contra a comunidade dos justos (Dn 7,24). Antes da libertação haverá um tempo de provação (cap.6 e 8). João condena o culto imperial (2,13; 9,20; 13,11; 14,9; 16,2; 19,20; 20,4;). A queda de Roma é a condição para a felicidade humana.

            O Apocalipse de João situa-se dentro do cristianismo apocalíptico.
             Principalmente Marcos e a fonte ¨Q¨ representam a tradição apocalíptica. Toda a concepção de Jesus, do Reino de Deus, da luta contra os demônios, da tradição do filho do homem, e, sobretudo da sua ressurreição, é apocalíptico (cf. Mt 24 – 25 e Lc 21). Não há pesquisa sobre os destinatários deste Evangelho. O texto fala sempre do ‘ochlos’’ (traduzido geralmente por ‘multidão’)  e não do ‘laós’, do povo, quer dizer fala dos excluídos da sociedade política e religiosa. O capítulo 13 é uma reflexão apocalíptica e inclui toda a história e o universo. O Filho humano está sentado a direita do Todo Poderoso (14, 62)

            A exegese deu um salto qualitativo ao situar o movimento de Jesus no fundo histórico dos movimentos populares de sua época, dos movimentos apocalípticos. O fundo histórico de Jesus é a apocalíptica, como mundo de idéias, mitos, demônios, filho do homem (Dn). É a apocalíptica, e não o zelotismo, que explica a resistência dos pobres contra o Império. Os Zelotas como resistência organizada aparecem na guerra contra Roma.no ano 130, depois sumiram

Paulo na 1ª carta aos Tessalonicenses (1 Ts.4,13-5,11 também 1 Cor.15, Gl.1, Rm 1-8), pensa em Apocalipse. A 1. carta de Pedro é apocalíptica.

            Os livros de Daniel (entre 167 e 164 a.C.) e do Apocalipse de João (entre 90 e 96 d.C.) são os únicos livros apocalípticos que entraram no Cânon. A Bíblia hebraica colocou Daniel no final dos Escritos e não dos profetas, o Apocalipse de João no final do NT.


                   O Apocalipse de João

Orientações fundamentais

1)                 O Apocalipse nasce em tempos de perseguição, de caos, de exclusão e de opressão constante, permite à comunidade cristã reconstruir sua esperança e sua consciência, transmite uma espiritualidade de resistência.
2)                 O Apocalipse representa um movimento importante nas origens do cristianismo que fundamenta suas raízes na história do povo de Israel e no movimento profético-apocalíptico no qual nasce o movimento de Jesus.
3)                  O Apocalipse cumpre na igreja uma função crítica e de resistência frente à helenização do cristianismo.
4)                 O fato central é a morte e ressurreição de Jesus. O Apocalipse não está orientado para a“secunda vinda de Jesus” ou para “o fim do mundo, mas está centralizado na presença de Jesus ressuscitado.
5)                 O Apocalipse é um livro histórico, que possui duas dimensões: uma visível que é a “terra” e uma invisível que é o céu. É uma só história que se realiza simultaneamente no céu e na terra. A utopia não se realiza além da história, porém além da opressão.
6)                 O Apocalipse é revelação (desocultamento) da presença transcendental e libertadora de Cristo ressuscitado.
7)                 O Apocalipse se expressa através de mitos e de símbolos. O mito é histórico e busca identificar e mobilizar a comunidade. O mito está sempre disponível a novas interpretações.
8)                 As visões não só devem ser interpretadas, mas também contempladas e transformadas em ação.
9)                 O ódio e a violência que expressam a situação-limite da extrema opressão e angústia para provocar uma purificação e assim transformar o ódio em consciência.
10)             O Apocalipse de João une apocalipse e profecia que com seu Espírito profético modera e transforma os movimentos apocalípticos radicais.
11)             O Apocalipse une escatologia e política, mito e práxis. A história não está unicamente nas mãos de Deus, os mártires, os profetas derrotam Satanás, destroem o poder do mal.
(Apocalipse, Pablo Richard, Editora Vozes Ltda 1996 p.18-22)

                            Estrutura do Apocalipse:

A estrutura gira em torno do presente, e não em torno do “fim dos tempos”.

Prólogo: (tempo presente) 1,1-8
Destacamos uma nítida correspondência entre prólogo e epílogo.
           A)     1,9- 3,22: visão apocalíptica da Igreja  (7 igrejas)
           B)     4,1- 8,1:visão profética da história
           C)    8,2-11,19:  as 7 trombetas (releitura do Êxodo)
Centro:12,1-15,4: a comunidade entre as Bestas ( a mulher)
C’) 15,5-  16,21:   as 7 taças (releitura do Êxodo)
B’) 17,1-  19,10:   visão profética da história
A’) 19,11-22,5:     visão apocalíptica do futuro ( a esposa, a nova Jerusalém)
Epílogo: (tempo presente) 22,6-21

A seção A e A’ tratam do juízo da igreja e do mundo.
Na seção B e B’ estamos no presente, cada seção começa com uma grande liturgia, 4 e 5 e no fim 19,1-10. Os sete selos têm outro sentido do que os trombetas e taças.
Na seção C e C’ se correspondem 7 trombetas 7 taças, uma releitura das pragas no Êxodo,
 agora a intervenção do Deus libertador com o Cristo no Império Romano.
No centro está a comunidade em meio das Bestas.

         Prólogo: (tempo presente) 1,1-8  
Apocalipse significa revelação, revelação de algo, que estava oculto, escondido, inacessível, revela-se aos pequenos, e oprimidos. O apocalipse des-oculta o mundo dos pobres e legitima sua luta pelo Reino de Deus.
Deus concede a revelação a Jesus, Jesus a significou a João, João deu testemunho dele à comunidade, que está lendo, ouvindo guardando.
O tempo está próximo. Tempo é a hora de Jesus (Evgl. de João). Tempo é a hora certa (em grego kairos). Se trata da manifestação de Jesus, não de uma secunda vinda, como se ele tivesse ido para outro lugar. Jesus nunca partiu. O que a comunidade deseja não é que ele volta, mas que se manifeste, que atue, que liberte. O Deus como ¨o todo-poderoso¨ aparece 9 vezes, no NT só uma vez em 2 Cor 6,18 como citação do AT (p.75-77).
A saudação é trinitária. O Espírito é apresentado de uma forma ambígua: os sete Espíritos (3,1; 4,5; 5,6;)

              Epílogo: (tempo presente) 22, 6-21
Temos aqui um dialogo entre Jesus (seu anjo) e João. Entre os v. 10-16 fala Jesus, entre os v.17-20 temos a liturgia final, onde intervem o Espírito, a nova Jerusalém e a comunidade. Deus é designado como o Deus dos espíritos dos profetas. Três vezes se fala¨venho logo¨.

O Prólogo como o Epílogo marcam o Apocalipse no kairos presente, neste kairos quando Jesus vem.

                            A)    1,9-3,22: visão apocalíptica da Igreja

            Há certa correspondência entre a primeira seção (1,9-3,22) e a última seção (19,11-22,5). Jesus é a pessoa central. Antes de julgar o mundo, Jesus julga a Igreja. Na primeira seção, Jesus prepara a Igreja para viver o presente, na última seção Jesus põe um fim ao tempo presente. Entre as duas seções João situa o tempo presente, o que deve acontecer em breve.

            João apresenta-se como irmão e companheiro, isto exclui toda hierarquia de poder, a Igreja é dirigida pelos profetas. João é companheiro na tribulação, no reino e na resistência (Traduzimos hypomoné corretamente por ¨resistência¨, e não por ¨paciência¨p. 92).  João se encontra na ilha de Patmos  ¨por causa da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus“¨.
“Vi com vida”: dos que tinham sido imolados por causa da palavra de Deus e do testemunho que tinham dado¨ (6,9; 12,17; 17,6; 20,4;)
Por causa da Palavra de Deus: João alude a Dn 1, 12-14, onde quatro jovens israelitas não se querem tornar impuros com as comidas e as bebidas da mesa do rei. Assim cristãos não comem carne sacrificado aos ídolos.(Klaus Wengst, Pax Romana p.175)
Por causa do testemunho de Jesus: não se fala de profetas, pois estamos no tempo apocalíptico, já é o final decisivo, precisa testemunhar Jesus, que também veio para dar testemunho da verdade (Jo 18,37;) Precisa martirein, testemunhar Jesus.

Cheguei a estar em espírito”. João apresenta o “O filho do homem” (Dn7): ¨Estive morto, eis que estou vivo¨ (1,18;2,8;).  Não é mais a situação dos tempos de Jesus histórico, a comunidade vive no Império Romano, perseguida. Precisa agora a assistência da advogada Espírita Santa para viver e agir nos novos tempos.     
 Os diversos símbolos (1,13-18) como vestes, cabeça, pés, voz, mãos, boca espada acerada ressaltam a transcendência e a majestade do Filho humano. Ele reaparece no epílogo, montado num cavalo branco (19,11-16). Ele é o anti-símbolo da  besta.

 Mensagens proféticas às 7 igrejas (2,13,22)                                                                              
  Jesus está vivo  no meio das igrejas. O   número 7 é para dar plenitude e caráter universal a uma realidade concreta.  A comunidade de Esmirna e Filadélfia são perfeitas, Éfeso e Tiatara possuem mais virtudes de que defeitos,Pérgamo é boa e má, Sardes é negativo, Laodicéia  é um desastre.

Quem são os oponentes internos de João? Os que se chamam apóstolos sem sê-lo (2,2), os Nicaloítas (2,6) Nicolau significa: aquele que vence o povo, alguns que sustentam a doutrina de Balaão ( 2,16) aquele que consome o povo, a profetiza Jezabel (2,20).A doutrina de Balão é idolatria (Nm 22-24), a prática de Jezabel é a mesma.
            Os oponentes internos são conhecedores das profundezas de Satanás, seria uma corrente gnóstica, cujos membros creem possuir um conhecimento superior de Deus, desprezam os humildes. Eles transformam o cristianismo para poder participar da vida econômica, política e social do Império. O cristianismo se espiritualiza para participar das estruturas nas associações e grêmios, são os ricos e poderosos. O gnosticismo nasce como uma adaptação do cristianismo ao Império.
            Os oponentes externos: Segundo os capítulos 12 e 13 o Diabo ou Satanás atua na história através da Besta que é o Império Romano. Satanás simboliza a força “espiritual e sobrenatural do Império¨.

Éfeso (2,1-7): O porto mais importante da Ásia Menor. Adorava-se nela a deusa-mãe Artemísia (At 19), depois da destruição de Jerusalém a igreja mais importante no Império Romano.
            As sete estrelas são os profetas das Igrejas, os candelabros são as sete igrejas, Jesus caminha entre elas. Insiste-se na resistência que se dá pelo testemunho, martírio. Os oponentes da igreja buscavam uma adaptação ao Império. A comunidade perdeu o primeiro amor. O ágape é o amor fraterno, a solidariedade. No final da cada carta há uma promessa: a árvore da Nova Jerusalém sem lei ou proibição.
Esmirna (2,8-11) Um porto próspero, rival de Éfeso, leal ao Império com um templo ao Imperador Tibério ( 26 d.C.). A Igreja escreverá o relato do seu bispo Policarpo, que sofreu o martírio no ano 155. Jesus não recrimina nada. São pobres, não podem comprar nem vender (cap. 13), sofre as calúnias dos judeus, que são aliados ao Império.
Pérgamo (2,12-17) Capital da província Romana, centro do culto imperial, por isso “o trono de Satanás”, tinha o primeiro templo dedicado a Augusto. Já tinha o seu primeiro mártir Antipas. Todavia, a Igreja tem pecado, tolera os opositores, segue a doutrina de Balaão comendo de carne sacrificada aos ídolos e pela imoralidade sexual.
        A promessa é maná escondido, seria o pão de Deus, o pão pela vida do mundo (Jo 6).
A pedrinha pode ser um sinal distintivo dos cristãos.
Tiatira (2,18-29) Não tem importância, é antes uma cidade de comerciantes e artesãos, organizados em grêmios e associações. A igreja tolera Jezabel que ensina a se prostituir e a comer das carnes sacrificados aos ídolos.
            A promessa inspira-se no Salmo 2, por isso Jesus apresentado como filho de Deus que recebe o poder sobre os reis da terra. A comunidade como luzeiro da alva, deve anunciar o fim das trevas (Rm13,12).
Sardes (3,1-6) A cidade de um grande esplendor no passado, agora reduzida a menos, sua economia era a produção de gêneros do algodão e da arte de tingir. A comunidade reflete esta situação, está morta. São somente poucos, que não mancharam suas vestes. É importante o tema da veste, símbolo da conduta ou da prática das pessoas (cf. 19,8).
Filadélfia (3,7-13) Em 17 d.C. foi destruída por um terremoto, reconstruída por Tibério. Esmirna é pobre, Filadélfia é sem poder. Ela foi louvado: ¨guardaste  minha palavra¨ Jesus tem poder para abrir ou fechar o acesso ao Reino de Deus, ele tem as chaves de David.  Possivelmente a Sinagoga estava fechando suas portas aos cristãos. A sinagoga de Satanás é a sinagoga dos judeus que se integraram ao Império, não é anti-semita, mas anti-imperial. A hora de prova sobre toda a terra é o mundo dominado pelo Império, terra significa os ímpios. Jesus coloca o vencedor como coluna no santuário de Deus, coluna na nova Jerusalém.
Laodiceia (3,14-22) Era a mais rica da Frígia com bancos, indústria de linho e de algodão, com sua escola médica.  Jesus é o príncipe da criação, ele tem a primazia cósmica e política. A comunidade é nem fria, nem quente, mas tíbia. O frio simboliza a indiferença do mundo pagão e rico frente aos cristãos, o quente simboliza a indignação dos cristãos pobres frente às estruturas opressoras. Os laodicenses querem ser ao mesmo tempo ricos (frios) e cristãos (quentes), mas são tíbios. Eles querem viver um cristianismo espiritualista, individualista, a-histórico: sou rico, enriqueci-me e não tenho necessidade de nada. Jesus recrimina:és infeliz, miserável, pobre, cego e nu. O que Jesus aconselha é buscar uma riqueza não adquirida com a exploração dos outros. Eis que estou à porta não da alma, mas da comunidade para a ceia.

Flavio Josefo descreve no seu livro ¨História da guerra judaica¨  após a caída de
Jerusalém no ano 70 d.C. como o exército Romano encontrava um suicídio coletivo na bastião de Massada,. Os sitiados tinham matado suas mulheres e crianças e si mesmos, uma lei que o judaísmo não conhece.
Àqueles que no início não quiseram matar seus parentes por causa da compaixão o líder Eleazar deu uma fervorosa palestra: ¨ Não a morte, a vida é uma desgraça para os homens. Pois a morte dá liberdade às almas e abre o acesso ao lugar puro, onde não há  mais sofrimento. Enquanto a alma está presa no corpo mortal, ela deve ser na verdade morta,  pois a ligação do divino com o mortal é contra a natureza. Mas só quando ela está livre do peso que puxa para a terra ela chega á verdadeira pátria, que fica invisível aos olhos humanos como Deus. A prova disso é o sono, quando a alma imperturbada do corpo goza do supremo repouso.
 Olhemos para os Índianos (no extremo oriente), estudiosos na filosofia: Esses homens nobres suportam a vida de má vontade como um serviço necessário devido à natureza e apressam-se a desligar a alma do corpo. Desejando o estado da imortalidade anunciam aos outros que querem sair deste mundo. Ninguém os impede, todos os  louvam e dão mensagens aos concidadãos eternos.¨ (Reclam, Leipzig 1994 p. 496)
                                                                                             
Os gnósticos cristãos: Eles entendiam Jesus como salvador que revela o conhecimento de Deus à humanidade. Ele teria descido in forma humana. No entanto, não era verdadeiro homem. Não teria passado pelo sofrimento e pela morte.
Afastaram-se de um Cristo encarnado na condição humana. Transformaram o Evangelho do reino em uma religião que não representa nenhum perigo às estruturas deste mundo,(Gass  Nr 8 p.95

                          B)   4,1- 8,1: visão profética da história

      a)      Visão inicial: liturgia no céu (4 e 5)
            A visão deve ser contemplada, é uma reconstrução da consciência coletiva da comunidade. A terra é o lugar onde dominam os ímpios, os opressores, o céu é o mundo transcendente de Deus dentro da história, é o mundo dos santos, dos que não são opressores e idólatras.

            Cap.4: Havia uma porta aberta. O Espírito tomou conta de João. O trono no céu é o trono de Deus, na terra o trono é do Império. Ao redor do trono 24 anciãos que representam  o povo das 12 tribos de Israel e o povo dos 12 apóstolos. Os quatro viventes simbolizam o cosmos, também o cosmos participa da liturgia no céu que proclama: Santo, o Senhor Deus (4,8).Os anciãos também louvam o criador.
           Cap.5: João vê depois um livro na mão daquele que estava sentado no trono: é o Cordeiro, ele é digno de abrir os selos do livro (5,9). Canta se a Jesus com os sete Espíritos: agora ele é o cordeiro imolado, ele é o primeiro mártir, assassinado  pelo Império. Ele comprou para Deus homens e mulheres (econômico), finalmente organizou uma comunidade alternativa ao Império (político).
            O livro selado simboliza a história humana, nele está o mistério da história.
            Os cânticos expressam a alegria e esperança dos pobres, em segundo lugar explicam aos ouvintes o que está acontecendo, por último possuem uma forte densidade política.
             
       b)      Os sete selos (6,1-8,1):
Nos sete selos João nos dá uma interpretação profética da história, revela o sentido oculto dele na terra.
           .1.a 4. selo: na terra: (6,1-8)
5. selo: no céu: (6,9-11)
6. selo: na terra e  no céu: (7,9-17),
            7. selo: silêncio de meia hora (8,1)
            Os 4 primeiros selos representam simbolicamente a realidade de morte do Império Romano, são 4 cavalos.
 A cor branca do cavalo é sinal da vitória, o guerreiro sai vencendo: é a mais terrível realidade do Império, uma realidade trágica para as vítimas do Império. O Império triunfa à moda dos bárbaros.
            O secundo cavalo é vermelho, tira a paz para se degolem uns aos outros. Degolar exprime um grau extremo de violência, Jesus foi degolado, os mártires foram degolados.
            Num terceiro cavalo negro o cavaleiro leva uma balança, símbolo do poder econômico. Há uma inflação terrível que afeta os produtos de consume popular, trigo, cevada, os preços do luxo, azeite e vinho, não sobem. (Entre 92 ou 93 d.C. o preço de trigo duplicou, tinha tumulto do povo por causa de fome. Diante da falta de cereais e do excesso de vinho Domiciano ordenou que na Itália não fosse permitido plantar mais vinhas.)
            O nome do cavaleiro do quarto cavalo esverdeado chama-se Tánatos, significa morte. Ele mata com espada, com a fome, a peste, as feras. Peste e feras simbolizam as forças mortais da natureza, conseqüência do Império da morte.

            O 5. Selo no céu: “Vi as almas” deve ser traduzido: “vi com vida”: dos que tinham sido imolados por causa da palavra de Deus e do testemunho que tinham dado¨, completado  pela multidão em 7,9-17. Eles gritam por justiça e vingança (6,10). Mas precisa esperar.

            O 6. Selo na terra: O que se passa na terra (6,12-7,8): São catástrofes históricas, até a comunidade tem medo dela. Os ímpios se escondem nas cavernas, a terra continua a existir. Quem pode manter-se em pé? Os mártires estão de pé diante do trono e do cordeiro (7,9 e 15,2). Os reis da terra, os magnatas, os capitães, os ricos e os poderosos, todos, escravos e homens livres, esconderam se nas cavernas. (6,15). Há 4 anjos que seguram os  4 ventos da terra. Outro anjo gritou em alta voz aos quatro anjos, que tinham sido encarregados de fazer mal a terra e ao maar: ¨Não prejudiquem  a terra, nem o mar, nem as arvores. Primeiro vamos marcar  a fronte dos servos do nosso Deus¨(7,1-3). Primeiro as doze tribos de Israel, depois uma grande massa de todas aas nações.
            O que acontece no céu (7,9-17): A dimensão oculta e profunda tem um momento atual litúrgico (7,9-15 a) e um momento futuro utópico (7,15 b-17). “Uma multidão (ochlos como no Mc) imensa”, universal, está de pé diante do trono e do cordeiro. Salvação é um termo político no Império, significa paz, segurança e bem-estar. Na terra não tem salvação, no céu sim. “Deus estenderá sua tenda sobre eles, já não terá fome nem sede...”.

            O 7. selo: silêncio de meia hora (8,1): O silêncio do céu nos impele a buscar Deus na terra, concentra nossa atenção sobre a terra. No céu (8,2-5) se preparam os sete anjos com trombetas

           C)     8,2-11,19:   as 7 trombetas (releitura do Êxodo) antes do centro
           C’) 15,5-16,21:   as 7 taças (releitura do Êxodo)   depois do centro

             O tema central de C e C’ é uma releitura do Êxodo, agora vivido no Império. Deus escuta o clamor do seu povoe decide libertá-lo. Para segui-lo manda pragas. São ações históricas, apresentadas em forma cósmica e mítica. As pragas ou castigos são ação parcial de Deus, realizada no presente. Por isso só destruição de um terço do cosmo.
             Nas taças insiste-se que os punidos são os que trazem a marca da besta. O objetivo do juízo de Deus é a conversão dos opressores e dos idólatras e a libertação dos santos.
            Estes desastres caiem sobre os pobres: os pobres são obrigados a viver perto dos rios, nos lugares perigosos, sem infra-estruturar sanitária.

            Estrutura das trombetas e taças:
Visão no céu: C: 8,2-6, C’: 15,15-16,1;
1, Trombeta: granizo, fogo sobre a terra 8,7
 1.Taça: úlcera maligna na terra 16,2
2.Trombeta: montanha sobre o mar 8,8-9
 2 Taça: o mar, convertido em sangue 16,3
3.Trombeta: estrela sobre rios e fontes 8,10-11
3 Taça: sobre os rios, a água  converte-se em sangue 16,4-7;
    liturgia da justiça de Deus
4. Trombeta: terceira parte do sol, lua, estrelas 8,12; Ai, Ai, Ai: 8,13;
4  Taça: sobre o sol para abrasar a todos 16,8-9
    Esta esquematização é típica do mundo judaico, que divide o universo em terra, mar, rios, sol.
5, Trombeta: Ai! Gafanhotos do abismo, o rei deles o Anjo do abismo: 9,1-11
    A quinta trombeta refere-se em geral à ação de Deus contra a arrogância do tirano.
   O Império é uma estrela caída.
 5. Taça: sobre o trono da Besta (16,10-11
 6. Trombeta; Ai! 4 anjos do rio Eufrates com 200 000 cavalaria ( são os Persas):  9, 13-21
     Movimento profético: 10,1-11,13: visão do anjo, vocação de João, igreja profética
 6. Taça: Rio Eufrates seca para preparar o caminho dos reis do oriente: 16,12-16
    Eufrates foi o limite do Império, proteção contra os bárbaros. Os inimigos do                         Império,  os  Partos podiam invadir o Império.
    Movimento anti-profético: 16,13-16: falsos profetas, revelação sobre eles.
7. Trombeta: O Reino do mundo é agora de nosso Senhor e do seu Cristo, 24 anciãos,
    abriu- se o templo de Deus e a Arca da aliança 11,15-19
 7, Taça no ar: taça de vinho, do furor, e de sua cólera, granizo 16,17-21

                             Chaves de interpretação:
         A visão inicial no céu:
  Na visão dos trombetas aparece um altar com as orações dos santos, a função ativa deles                Na visão das taças aparece o Santuário  da Tenda, acentua se o furor de Deus. Importante o verbo: consumir: fim do tempo presente, fim dos 1000 anos, juízo final (sem fim).
        As quatro primeiras trombetas e taças
        Nas trombetas predomina a linguagem cósmica. A comunidade não é espectadora do Êxodo que Deus está operando no Império Romano, mas participa do mesmo na liturgia.
       As quintas e sextas trombetas e taças
       As pragas são dirigidas contra os ímpios. Ai para os habitantes da terra! Designa os ímpios, os que são da Besta e trazem sua marca ( do Império). A estrela caída (9,1) agora é o Imperador de Roma, convertida em demônio, provoca as gafanhotos que atacam os homens que não trazem na fronte  o selo de Deus. A quinta taça é derramada sobre o trono da Besta (Roma).
        Nas sextas há referência ao rio Eufrates, limite do Império contra os Partos.
        Qual é o sentido global que João vê depois do som das trombetas e realizadas pelas taças? É a tradição do Êxodo. Deus escuta o clamor do seu povo e decide libertá-lo. Apenas um terço dos elementos é destruído. Não se trata de desastres naturais (terremoto, furacões, pestes) que caem sobre os pobres, essas dores cósmicas são conseqüências diretas das estruturas de dominação e de opressão. São as dores da Besta por sua própria idolatria e criminalidade (p.149). 
7. Trombeta: O sétimo anjo tocou sua trombeta: O Reino do mundo é agora de nosso Senhor e do seu Cristo.   Abriu- se o templo de Deus e a Arca da aliança 11,15-19.
Segue o centro do livro. È agora da comunidade de Deus.
           A sétima taça: Após as seis taças (16,1-16)  o 7. Anjo derramou a sétima. taça pelos ares 16,17-21.  Trata-se da dimensão invisível do Império. Em Ef 2,2 se diz: ¨O príncipe do poder do ar¨. A queda de Roma e do Império vai ser descoberta na visão profética da história (17.1-19,10).

       Centro: 12,1-15,4: A comunidade entre as Bestas

            Não só estamos no centro literário do livro, mas também no centro do tempo presente, estamos igualmente no coração da comunidade (14,1-5), em situação decisiva entre as bestas (12,1-13,18) e no juízo de Deus (14,6-15,4).
a: Do céu à terra: 12,1-18;
b: Na terra as duas bestas: 13,1-18;
Centro: A comunidade segue o Cordeiro:14,1-5;
b’ Na terra: o juízo de Deus 14,6-20;
a’: Da terra para o céu: 15,1-4;
            Encontra-se a mesma estruturação como Daniel 7: Lá, a oposição entre as quatro bestas e o filho do homem, na Apocalipse entre as duas bestas e o filho do homem. Jesus ressuscitado se identifica com o filho do homem, mas esta figura humana (filho do homem) continua sendo o símbolo do povo de Deus.

a: Do céu à terra: 12,1-18:
            O mito organiza a consciência coletiva do povo, temos o mito da mulher e do monstro, o confronto entre a vida e a morte, a mulher dá à luz um filho, o monstro é sinal da morte. Nos mitos do Egito e Grécia vencem os poderosos, nos mitos da Bíblia vencem as vítimas.
O povo de Deus na Bíblia é apresentado como uma mulher (Is 66,5-9). Em Gn 3,15 fala-se da inimizade entre a serpente e a mulher, no Apocalipse a descendência da mulher, o Messias, derrota o Império. Em 12,5 a mulher deu à luz um homem, que foi arrebatado para o céu. O melhor é pensar aqui, não em Belém, mas no Golgata, são as dores e tormentos do Messias na cruz. Aplica-se o Salmo 2,7: “Tu é meu filho, hoje eu te gerei”. Cf. Is 26,17-19.
            Miguel é uma figura mítica que representa a força do povo de Deus: ”Quem como Deus?’, agora confronta a força do Império (veja Ef 6,10-20). O demônio, Satanás, Diabo arremessado à terra, já perdeu sua força sobrenatural (Jo 12,31; Lc 10,18).
            Diabo é a tradução grega do termo hebraico Satanás ou Satã, ele é o adversário, o acusador, o caluniador. O Diabo como sujeito absoluto não existe, como personificação do mal.  É um mito e expressa as forças sobrenaturais do mal (Ef 6,12). Serve nada mais nada menos que para personificar estas forças ocultas que saem da acumulação histórica do pecado, tanto pessoal como social. É a capacidade de construir ídolos, perverter a imagem de Deus. Esta perversão é o mistério da iniquidade. Em Gn 3 a serpente é símbolo da Cidade-Estado, representa Faraó, mas também os reis de Israel e Judá em nome de Baal. É o modo de justificar e sancionar o poder: os poderosos se comportam divinos. O Satanás defende os poderosos e acusa os oprimidos. Os mártires derrubam esta ideologia do poder santo: foi derrubado o acusador dos nossos irmãos, aquele que os acusava dia e noite diante de nosso Deus (12,10).
            Chegou a salvação. Poder, reino são termos políticos. A chegada do reino é fato histórico. Os mártires são capazes de atirar o Demônio para fora do céu.

b: Na terra as duas bestas: 13,1-18;
             A besta surge do mar (13,1-10).  O mar é símbolo do caos, do mal. Geograficamente é o mar do Ocidente, donde vêm os Romanos. Satanás, precipitado à terra, deu à besta seu poder: o Império tem seu poder dado por Satanás, por isso adoravam Satanás. A autoridade foi dada, e  está sob controle último de Deus, não é absoluto (13,5-7).
            No versículo 3 uma das cabeças da besta estava como que degolada, é provavelmente uma paródia ou zombaria de Cristo, ou referir-se-ia ao mito de Nero redivivo.
            Quem é como a Besta? (13,4). Ninguém! Na tradição do Evgl de João: A todos, que recebem a palavra “Deu-se a autoridade de se tornaram filhos de Deus’. O poder da Besta lhe foi dada, no fundo todo poder vem de Deus, poder em si mesmo é bom, mas esse poder,  que vem de Deus, a besta transforma em poder perverso e criminoso (Rm 8,20: a criação entregue ao poder do nada, e 13,1: não há autoridade a não ser por Deus). Na criação Deus entregou o jardim ao ser humano para cultivar e guardar (Gn 2,15 e 1,28). “Tu o fazes reinar sobre as obras de tuas mãos, tudo submetestes a seus pés “(Sl 8). Deus deu liberdade para reinar a criação, Mas por causa dos homens a terra está repleta de violência  (Gn 6,13). Foi concedido à Besta fazer a guerra aos santos e vencê-los. No v. 9-10 aparece uma exortação à resistência: a palavra resistências (hypomoné) muitas vezes é traduzida falsamente por paciência.
            Fazer guerra contra os santos (13,7): refere-se a Daniel (7): as bestas contra os santos do Altíssimo.
            Outra besta surge da terra (13,11-18). Só aqui chamada Besta, em todos os outros lugares é designado como falso profeta, 16,13; 19,20; 20,10.
            O Dragão, a Besta e o falso profeta configuram uma trindade perversa (16,13-14). Só pode comprar e vender que tem a marca da Besta. Os que não foram marcados ficam excluídos.  O sentido do número 666 é a imperfeição, nunca chega ao número sete, símbolo da perfeição (17,8-11)
            O falso profeta simboliza a estrutura ideológica do Império: sacerdotes. filósofos, mestres, cultos, circo, teatro, hipódromo, ginásios, exército, moeda, mercado. A imagem da Besta nas moedas seria a representação visível do Império. O dinheiro se transforma em sujeito, os adoradores da Besta em objeto, Os cristãos rejeitam ser transformados em objetos de Baal, do deus do dinheiro: o Mamom. (Mc 13,22: falsos profetas)
            Como os cristãos rejeitavam a idolatria da Besta acabam a serem condenados à morte economicamente, excluídos do mercado, e condenados à morte política, cultural e espiritualmente.


  1. Centro: A comunidade segue o Cordeiro: 14,1-5;

            Estamos no centro do centro: o centro na salvação: o presente, entre o passado e o futuro: é o povo de Deus, junto ao Cordeiro no monte Sinai. A comunidade que resiste na terra se identifica com a comunidade que canta no céu. O que João vê no céu, os sete anjos com sete pragas, acontece na terra. Sião aqui é um símbolo de encontro da comunidade em torno de Jesus ressuscitado. São 144 000 na fronte o nome do cordeiro e do pai. A comunidade se encontra bem organizada, mais ampliada do que a igreja. Só eles aprendem o cântico. Estes são que não se macularam com mulheres, quer dizer não se restituíram com a prostituta Roma, pois são virgens. Mas o que mancha é a idolatria, fornicação e prostituição são símbolos da idolatria. Os limpos de coração, porque verão a Deus (Mt 5,8) referem-se a mesma coisa. Os cristãos resistem à Besta até a morte. Foram comprados como primícias para Deus e o Cordeiro.

b’ Na terra: o juízo de Deus 14,6-20;
             Em Daniel 7 Deus realiza o juízo, no Apocalipse o filho humano. Os anúncios são feitos no céu, a ação se realiza na terra.
            14,6-13: Os horrores não falam do inferno, mas nesta vida daquele que adora a Besta. Agora se fala do furor de Deus. Fala-se de ódio, por que João quer precaver os seus ouvintes para que resistam a essa integração idolátrica ao Império Romano, para transformar o ódio em resistência. João está também refletindo a desesperação dos excluídos.
14,14-20: Aparece o título: “Filho do homem” tirado de Daniel 7, literalmente “Filho da humanidade” (TEB). A figura do Filho do Homem aqui não tem referência a Cristo, mas aos santos do Altíssimo. Há elementos que não aparecem em Daniel: a cor branca, estar sentado, com coroa e a foice, uma ordem de anjo, quem pisa o lagar do furor de Deus. A figura humana no Daniel é símbolo dos Santos do Altíssimo. Esta figura está em oposição às bestas, que são os governantes que se comportam desumanos. A realeza vai ser entregue aos “Santos do Altíssimo”, eles são filhos humanos (Dn 7, 18). No Apocalipse 14,14-20 João dá ao símbolo “Filho do Homem” o sentido original, que é coletivo: “O Filho do Homem sentado sobre a nuvem branca é a representação transcendental do povo de Deus que resiste à Besta” (Pablo Richard). Jesus mesmo se identificava com a massa que sofre a exclusão e a perseguição dos poderosos.

a’: Da terra para o céu: 15,1-4;
            No começo estava vencido Satanás no céu, agora está vencida a Besta. É a vitória dos mártires. O cântico de Moisés é o cântico do Cordeiro, retoma a vitória dos mártires em 12,10-11 e a comunidade no centro 14,1-5. Prepara a seção das 7 taças.

C’) 15,5-16,21: as 7 taças do furor de Deus (releitura do Êxodo)

Visão no céu 15,5-16,1, canto de Moisés
1.Taça sobre a terra, úlcera os que traziam a marca da Besta 2. Taça sobre o mar, 3. Taça sobre rios 16,2-4; Liturgia da justiça de Deus 16,5-7
4. Taça sobre o Sol, mas blasfemaram... e não se converteram
5. Taça sobre o trono da Besta, mas blasfemaram... e não se converteram
6. Taça sobre rio Eufrates para preparar o caminho para os reis do Oriente
Movimento anti-profético 16,13-16, batalha no Harmaguedon
7. Taça no ar 16,17-21 não obstante os homens blasfemaram contra Deus

            O cataclismo cósmico-histórico: Roma partiu-se em três partes. A queda de Roma e do Império vai ser descoberta em 17,1-19,10.a

            B’) 17,1-19,10: visão profética da história

Estrutura:
Introdução: 17,1-2
                 a)      A Besta e a meretriz: 17, 3-18
                 b)      O juízo da Grande Babilônia ( a meretriz) 18,1-24
      Sai dela, meu povo 4-8
      Lamentação pela queda de Roma 9-19;
      Alegrai-vos, céus, santos...  20-24
                  c)       Liturgia do triunfo final 19,1-18 

Esta seção corresponde 4,1-8,1, lá começa com uma liturgia, agora temos a visão profética da história e a seção termina com uma liturgia. O que acontece agora, não acontece após a sétima taça, mas anuncia como vai realizar-se esta sétima taça.
            Em 17,1 o anjo mostra a João o juízo da grande Meretriz, em 21, 9 mostra-lhe a Noiva, a esposa do Cordeiro. A palavra ´meretriz´  prostituta provém do verbo vender. Os reis da terra se vendem a Roma. A mulher está embriagada com o sangue dos santos e dos mártires de Jesus. Roma é personificada como mulher ou prostituta.
           A Besta e a Meretriz: 17,3-18:
João vê a meretriz no deserto, símbolo de desolação. As sete cabeças da Besta são 7 reis, cinco já caíram, um é.. Quando chega um sétimo, dura pouco.  O autor vive sob um poderoso imperador, aparece o numero 6, da mesma forma como em 13,18, onde se chama 666. O Império Romano trata de ser o 7, porém não consegue jamais, sempre será o 6, ou melhor 666. A Besta não consegue ser o 8, pois a Besta é dos 7.
Agora o autor faz uma análise histórica em três fases 8-11: Primeiro: aliança dos reis com a Besta. Os 10 chifres da Besta são 10 reis, são possivelmente todos os reis das províncias, eles participam da autoridade da Besta.
Secundo: A Besta e os reis farão guerra ao Cordeiro v.14. mas serão vencidos.
Terceiro: Todo o Império odeia Roma e a destrói, uma crise interna do Império (15-17)
            O juízo da Grande Babilônia 18,1-24:
O juízo é anunciado em 17,1, realiza se em cap. 18 e é celebrado em 19.2. Há o juiz, que é Deus, o acusado, que é Roma, os  acusadores, que são os profetas, os santos e todos os imolados por Roma,  a causa, que é o assassinato, riqueza e luxo,  a prova,que é o sangue encontrado na cidade,  a sentença, que é a condenação de Roma,  a execução, Roma não mais aparecerá. 18,1-8.
           Sai dela, povo meu”, titulo solene do povo de Deus (18,4). Esta saída de Roma é econômica, social, política, espiritual: “Não os tires deste mundo, mas que os defendas do Mal” (Jo 17,15).
Lamentação pela queda de Roma (9-19): Lamentação dos reis da terra, dos mercadores e da marinha mercante. O máximo valor é o ouro e o último valor, os escravos e  o comercio humano.
Alegria dos santos, dos apóstolos e dos profetas v.20.
 Ação do anjo poderoso 18,21-24.

Uma liturgia 19,1-8
            O tempo presente começou 4,1 e termina com uma liturgia 19,1-8. Na liturgia do céu (19,1-5) celebra-se o juízo de Roma, enquanto a liturgia da terra (19,6-8) está orientada para o futuro: as bodas do Cordeiro.

            A’) 19,11-22,5: visão apocalíptica do futuro

Introdução:
Nos capítulos anteriores analisamos esse longo presente desde 4,1 até 19,10; começando com uma liturgia e noutra no final. O autor já nos apresentou o fim: não o fim do mundo, mas o fim dos sofrimentos e perseguições. A sétima trombeta anunciava a chegada do reino, a sétima taça proclamava a queda de Roma. Na visão profética da história narra-se que põe fim ao sofrimento, mas ainda não é o juízo final. A seção antes do momento presente (1,9-3,22) corresponde à seção após o momento presente (19,11-22,5). Elas começam com uma visão cristológica.

Estrutura:
a) O começo do futuro da história: Satanás e os mil anos 19,11-20,15
            b) O futuro da história:  Novo céu, nova terra 21,1-22,5
            No texto apareçam dois quadros: o primeiro (19,11-20,15) é sombrio, marcado pelo juízo, no entanto, tem um centro luminoso: o reino dos mil anos. Temos três juízos: 1. A Besta (19,11-21), 2. Satanás e mil anos (20,1-10), 3. Os mortos (20,11-15).
 O secundo quadro é luminoso (21,1-22,5): Primeiro há duas visões, secundo a visão da Nova Jerusalém, terceiro a dimensão universal da cidade.
Interpretação:
           Não se trata de uma cronologia, não é um calendário. Não se trata de uma secunda vinda de Cristo no fim do mundo, pois Cristo nunca partiu. Não há o fim do mundo, mas uma nova criação.
          Não se trata nem de uma segunda vinda do Senhor nem do fim do mundo. Não há do fim da história, mas de uma história nova.

            O primeiro quadro: O começo do futuro da história 19,11-20,15

            1.Cristo contra a Besta, o falso profeta e os reis da terra 19,11-21. O confronto se dá agora, seu lugar se chama miticamente Harmagedon.
O montado no cavalo branco tem três nomes: O Fiel e Verdadeiro, seu nome: Palavra de Deus, Rei dos Reis, Senhor dos senhores, sobre o cavalo branco (19,11-16): Jesus combate unicamente com sua palavra. Ele vai apascentar, é pastor. Jesus tem sobre a cabeça muitos diademas, Satanás só sete, a Besta dez. Jesus veste um manto ensopado de sangue: seu sangue nos libertou, ele leva as marcas do seu martírio na cruz.
            O grande banquete de Deus (19,17-18): os que não participam das núpcias do Cordeiro participarão do banquete de Deus para comer a carne dos reis, tribunos e poderosos.
            Guerra e aniquilamento (19,19-21): não há guerra, pois a guerra já foi ganha pelo martírio de Jesus e dos mártires.

          2..Julgamento de  Satanás e Reino de mil anos (20,1-10): Histórias de Satanás: primeira: Satanás no céu (12,1-6); secunda: Satanás arremessado do céu para a terra (12,7-12); terceira: Satanás na terra (12,13-17), dá poder à Besta (16,13-16); quarta: arremessado para o abismo por 1000 anos, é solto um tempo e em seguida aniquilado (20,1-3 e 7-10).
            O reino dos mil anos (20,4-6): Um texto que fez muita história, com força libertadora. Os que se sentaram no trono são os que foram decapitados e que não adoraram a Besta, que vieram da grande tribulação (7,9-17), eles estão vivos e fazem a justiça. Eles são os mesmos de 6,10, que gritavam por justiça. Eles participam da primeira ressurreição, já foram julgados e entram no céu novo e na nova terra, na nova Jerusalém. Se refere a Daniel 7.
            ¨Vi alguns tronos e aos que estavam neles sentados foi dado poder para fazer justiça. Vi também com vida os que foram decapitados pelo testemunho de Jesus e da palavra de Deus e todos que não adoraram a Besta...reviveram e reinaram com Cristo mil anos. Os outros mortos não reviveram até que se acabaram os mil anos. Esta é a primeira ressurreição...Sobre eles a segunda morte não tem poder¨ (20,4-6). Há a ideia do reino, junto com o Messias e dos mártires ressuscitados. Eles não participam da segunda morte que é o lago que arde com fogo e enxofre, isto é, a morte definitiva, o retorno ao não ser (21,8)
No NT há muitos testemunhos acerca deste Reino de Deus sobre a terra:  cf. Mt 19,28; Lc 22,28-3-; At 3,21; 1 Cor. 15,21-26;
. Em síntese,  podemos dizer que o reino dos mil anos é a utopia de todos os que lutam contra a idolatria e a opressão dos impérios. É a esperança daqueles que creem num Deus sobre terra, é a esperança de uma comunidade que crê num Deus que faz justiça agora na história, que destrói os impérios, a utopia dos pobres e dos oprimidos.  Não se trata de uma etapa cronológica, “daquela hora ninguém sabe nada” (Mt 24,36; Lc 21,28).

             3.Juízo final dos mortos, (20,11-15): Deus aparece sozinho num trono branco. Deus não esquece,  mas julga conforme as obras. São aniquilados os que fizeram a opção pela morte (cf. 1 Cor 15,26). O lago de fogo é a morte última e definitiva.
 O que não entra no mundo novo fica aniquilado, reduzido a nada. ¨Não se trata de um lugar eterno. Não pode haver um eschaton negativo... Não poder haver um mal eterno.  Só o bem pode ser eterno. O inferno é o aniquilamento total ¨ (p. 282)

                                                                                 
            O secundo quadro:  O futuro da história (21,1-22,5):
             Este quadro é luminoso e cheio de esperança. Podemos dividir em três partes: 1. Há duas visões: Novo céu e nova terra e desce do céu a nova Jerusalém (1-8)  2. A nova Jerusalém (9-21)  3. O que se vê nela (21,22-22,5).

6.      O futuro da história (21,1-22,5)


            Novo céu e nova terra:

          Não há o fim do mundo, mas a utopia de um novo  céu e de uma nova terra 21, 1-8. Os termos céu e terra  são usados para designar o cosmo ou natureza em sua totalidade, a morada de Deus com os homens. Cumpre-se a antiga promessa de Javé a seu povo: Uma voz já tinha falado: (18,4): “Saí desta cidade, o meu povo”. “Ele habitará com eles. Eles serão seu povo e ele será o Deus que está com eles” (21,3-5).  Já não haverá morte, nem luto, nem sofrimento.. ”Eis que faço um mundo novo” (21,5).

  

           A nova cidade:

           A nova Jerusalém, não é como Babilônia, nem como Roma, a grande prostituta, nem como Jerusalém.  A  cidade tem doze portas com os nomes d as doze tribos de Israel (21,12) e doze fundamentos com os nomes  dos doze apóstolos (21,14).. Ela possui doze mil estádios (2.200 km), um gigantesco cubo. Os materiais da cidade: a praça é de ouro puro, e todos os que passam a pisoteiam. Não precisa dinheiro para comprar e vender (21,18).  Não se vê um templo, seu templo é Deus e o Cordeiro (21,22), Não precisa sol e lua, a gloria de Deus ilumina,  a sua lâmpada é o Cordeiro. Mas há  exclusão  da nova Jerusalém:  imundície, abominação, mentira (21,27),



A cidade lembra o jardim de Èden: Há um rio de água e árvores da vida. A água viva jorrava do trono  de Deus e do Cordeiro. Não haverá mais maldição como no Gênesis 3,1-7 . Deus tinha avisado: ¨Dela não comereis e não a tocareis, para não morrerdes¨  A serpente tentou mentindo: Sereis como deuses o conhecimento possuindo do que seja bom ou mau. Porém, a serpente, o dragão, Satanás foi precipitado no fogo. A arvore da vida serve para a cura das nações. Os servos de Deus prestarão culto, verão a face de Deus  e o nome de Deus estará sobre suas frontes (22,3-4;)  Não haverá distinção entre santo e profano, crentes e ateus,  todos são sacerdotes olhando a face de Deus.

                                                                                  

                 Chegaram as núpcias do Cordeiro

      As núpcias do Cordeiro com a sua esposa já foram avisadas em 19, 7-9:  a  esposa se preparou. Desce do céu, de Deus a nova Jerusalém, preparada como uma esposa  que se enfeitou para seu esposo (21,2;) O grande  modelo para o casamento é Is. 62, 1-9). ¨Assim como o jovem desposa a sua noiva o teu Criador te desposa¨.,

     Roma foi a grande prostituta, a nova Jerusalém é a virgem esposa, que não se juntou com a besta. A noiva são todos que não tinha a marca da besta, mas seguiram o Cordeiro, são todos que vieram da grande tribulação (14,4).

          

  Epílogo: O futuro está no presente: 22,6-21

              Feliz o que guarda as palavras proféticas deste livro (22,7). Vão ficar fora os cães, feiticeiros, imorais, assassinos, idólatras, que praticam a mentira.  ( 22,15)  

              A Espírita e a esposa dizem: Vem! (22,27).  Amém. Vem, Senhor Jesus!






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