domingo, 18 de maio de 2014

III. ESCRITOS KETUBIM (K)


III. Escritos ¨Ketubi

                             Canonização da TANAK

Os escribas dos sacerdotes do secundo Templo tinham constituídos ou canonizados a Torá e os Profetas como constituição oficial no reino dos Persas. Portanto, já existiram outros livros, veja os Salmos, que não assumiram a ideologia do secundo Templo. Quem resistiu à cultura, à religião, aos costumes e à exploração dos Impérios e à ideologia dos Sadoquitas foi o povo empobrecido, o povo da terra, que com sabedoria guardou a aliança de Javé.

Quando a Bíblia foi traduzida na língua grega, ainda não tinha a divisão em três partes. A Septuaginta inseriu alguns livros nos livros históricos (Rute) ou proféticos (Daniel).  A igreja seguiu a ordem da LXX. A divisão da Bíblia em três partes foi pela primeira vez mencionada no livro Sirácida (38, 34b-39,1.) no ano 190 a.C. Os Atos também falam da Lei de Moises, dos Profetas e dos Salmos.

“Os demais livros” ou Escritos: Em torno de 80 ou 90 d.C. se formou uma escola farisáica, quande se deu a origem ao “Judaísmo formativo”. A tradição fala de um encontro em Jâmnia por volta do ano 90 d.C. que foi decisivo para a posterior identidade do judaísmo. Atribuí-se a esse “Sínodo” o cânon da Bíblia hebraica:
                  a Ta-Na-K: (T-Tora, Nabim–Profetas, Ketubim–os demais livros).
           
            Os diferentes livros:

 Os Salmos: Nos Salmos o povo louva e pede a seu Deus vida e guia no caminho.

: O Israel oprimido resiste a um novo Deus que arbitrariamente distribui vida ou morte, sorte ou azar.  O Deus da Torá não foi assim, por isso Jó no pó, comprovado na Torá, resiste.

Os provérbios: recolhem a sabedoria do povo.

Os cinco Rolos: Rute, Cântico, Qohélet, Lamentações, Ester. As mulheres em casa garantem a continuidade da aliança, fortemente a Qohélet contra os Ptolomeus Gregos: A nova cultura grega é hebel – fumaça, só resta resistência.

O Apocalipse de Daniel demonstra a resistência contra o Império Helenista; Os Impérios, as bestas do mar, vão perecer, um filho humano e os Santos vão reinar para sempre.
Seguem Esdras e Neemias e os livros Crônicos.

Outros escritos ficaram fora do Canon, chamados Deuterocanônicos
Ester grego, Judite, Tobit, Macabeus, Sabedoria, Sirácida, Baruc, Epístola de Jeremias.



História:   O IMPÉRIO GREGO E O JUDAÍSMO  331-63 a.C.

            Alexandre Grande de Macedônia, educado por Aristóteles, tinha 22 anos quando conquistou o mundo dos Persas, em 332 ele ocupou a Palestina. Suas conquistas: Ásia menor, Síria, Egito, Pérsia até a Índia. No Egito ele fundou a cidade Alexandria, um centro de arte e ciência, um refúgio para os judeus e mais tarde para os cristãos. Com 33 anos Alexandre morreu na Babilônia. Seu império foi dividido entre os Lágidas ou Ptolomeus no Egito e os Selêucidas na Síria e Babilônia. 300 a.C. foi fundada a capital da Síria, chamada Antioquia.

A filosofia no Helenismo

O conceito de Deus: No Helenismo continua a religião popular centralizada no Olímpio, onde moram os deuses. Eles são padroeiros das diferentes cidades: se amam, se odeiam, se casam, adulteram, assassinam.  
Mas o mercado livre e internacional precisava de uma filosofia unificadora. Sócrates, Platão e Aristóteles criam uma filosofia onde na ponta da pirâmide fica um só Deus.
Os atributos deste Deus são: perfeito, onipotente, onisciente, eterno, infinito, isolado da história.
O conceito da divindade é: apatia, impassível, não tem compaixão, Deus é imutável, eterno, sempre o mesmo, universal, não concreto, a historia  não tem valor.
Platão dizia: Deus é a perfeição e o bem, assim ele é o exemplo para os homens. Este Deus perfeito não tem necessidades, ele não precisa de nada, ele é autossuficiente.
Aristóteles ensinava: Deus é o pensamento, ele pensa em si mesmo. “Para um homem autárquico (autossuficiente) é característico, que não precisa de homens, que são úteis,  dão prazer ou convívio. Para Deus é suficiente a sua própria autoconsciência. Mais claro fica isso em relação aos homens: Deus não precisa de nada, nem de um amigo e ele mesmo não pertence a um dono”. É absurdo pensar: eu amo Zeus. A perfeição do homem seria a sua consciência de seu valor.
                     
                    
                                                     
           Alexandre Grande  336-323                                                  Antíoco Epífanes IV 167 a.C.
                                                                         

  A ética e política:

  O direito natural <nómos>: Este direito natural pode conhecer-se pela razão independente da fé.  As idéias são eternas, a matéria passa. A alma é indissolúvel, o corpo dissolve-se. O eterno permanece, o direito natural é imperecível, enquanto a história é variável e perecível.
Esta ideologia se concretiza na sociedade hierarquizada: Na terra o imperador representa este Deus: “Não é bom se muitos dominam, só seja o imperador”.
 A alma deve governar o corpo, isto é uma lei da natureza, o homem deve governar a mulher, o pai o filho, que só é um retrato do pai, o dono o escravo, ele é escravo de natureza.  (Aristóteles)  
A elite, livre, deve praticar a sabedoria (prudência), o soldado a coragem e o escravo a disciplina (moderação) (Sr 33,25). A justiça coordena estas classes. Sb 8,7 cita estas virtudes cardeais: “moderação, prudência, justiça e coragem”.
           Esta filosofia helenistas, o direito natural, influenciou os pensamentos da igreja na teologia e na moral e suprimiu os pensamentos da Bíblia até hoje. Depois da morte a alma (eterna) vai para o céu. Foi impossível para um helenista esperar na ressurreição do corpo, isto significaria voltar na miséria do corpo. Não tem lugar para direitos humanos.

A Cidade e o comércio no Helenismo:

A base do Império grego é a cidade, a <polis>, de lá vem a palavra: política. Os homens livres são elementos centrais, a mulher, o escravo, o camponês são periféricos. Na cidade de Atenas cada pessoa livre tinha seis escravos.
Cada cidade disputa a hegemonia comercial: a riqueza não vinha do produto em si, mas do seu valor comercial. O estado só está em serviço das cidades e das grandes rotas comerciais na terra e no mar. No Império persa o ouro foi um tesouro mítico, guardado nos templos, um meio para conservar o valor, agora o ouro é um meio de pagamento, uma moeda, que circula no mundo. Desenvolveu-se uma economia global. (Dn 3)
Fora das cidades existiam as colônias para produzir e aumentar o volume do produto, o trabalhador é pura ferramenta e pode ser comprado ou vendido. Para todo o mundo o Helenismo significa escravidão. 

O Judaísmo no tempo do Helenismo

  No início do segundo século o tesouro do templo estava cheio de ouro e prata. Nos anos 246  até 221 aC. a exploração do povo camponês tinha aumentado. Enquanto os Persas tinham exigido um tributo de 15 a 20 %, os gregos exigiram mais de 30 %.
Judá gozava de novo certa autonomia com vários privilégios. Já tinham muitas comunidades judias na diáspora (dispersão). A mais importante comunidade foi Alexandria no Egito, com uns 300.000 Judeus e Antioquia com uns 50.000 Judeus.
            O Judaísmo estava dividido na prática da religiosidade:
- Uns ficaram fiéis às tradições, que são os “chassidim”. Em Judá se lê primeiro a Torá em hebraico depois segue o comentário em aramaico, a língua popular no Oriente. Os escribas (rabi) fazem este comentário de cor que se chama Targum, com o tempo se dá uma atualização da Torá escrita, chamada Alaka (caminho).
 - Outros que vivem no estrangeiro são mais abertos ao Helenismo, são os liberais. Os judeus da diáspora não falavam mais a sua própria língua, mas o grego, por isso a Torá, ainda anão os profetas, foi traduzida na língua da “Oikumene”, não antes de 250 em Alexandria:
 a Septuaginta LXX. Uma lenda fala, que o Rei Ptolemaios II pediu a tradução da Torá. 72 judeus de Palestina vieram para a tradução. Isto foi o suposto para a tradução de outros livros, que demorou séculos. O nome de Javé foi substituído por KYRIOS ou SENHOR. Muitas palavras hebraicas ganham um novo sentido. O Nabi, vidente foi traduzido por profeta.
A LXX é só usada pelos autores cristãos. Mudou a seqüência dos livros: os livros dos primeiros profetas são agora os livros históricos, inserindo Rute, Crônicos, Esdras, Neemias, Ester. Seguem os livros de sabedoria com Jó, Salmos, Qohelet, Cânticos. Seguem os profetas com Daniel. A LXX inclui livros deutero-canônicos como o livro de Eclesiástico (Sirácida).
 Os judeus se distanciaram da interpretação dos cristãos e voltaram a Bíblia hebraica.

            O confronto de Jerusalém com a nova política:

Um só Imperador, um só deus, uma só cultura foi o lema da política grega: O Império dos Selêucidas  exige um só culto, uma só religião.1  Mc 1,41 relata: O rei Antíoco IV Epífanes ordenou que em todo seu reino todos os seus povos formassem um único povo e renunciassem aos seus costumes, todas as nações se conformassem às prescrições do rei.
Nabucodonosor mandou fazer uma estátua de ouro, todo o mundo devia adorar esta estátua,
 “ Há judeus, que não adoram teu Deus” (Dn. 3, 12), pode se pensar em Epifanes. Para os judeus fieis só existe Javé. A resistência contra esta nova política começa  no livro de Jó, no Qoehelet, no livro de Daniel e Ester.
Nos anos 150 Jerusalém é uma cidade grega com costumes e cultos gregos. O camponês ficou pobre: o que ele produzia era insignificante para o mercado grego. Mesmo oprimido o camponês ficou tranqüilo. Mas isto mudou quando a aristocracia sacerdotal de Jerusalém começou uma dura disputa pelo controle do mercado da cidade.
O grupo helenizante queria levar Jerusalém dentro do mercado grego. O grupo conservador foi contra isso (2Mac. 4). A transformação de Jerusalém em mercado livre significava para o camponês a perda da terra e da sua liberdade, seria não somente impuro, mas também “não gente”: era escravo.
O rei Antíoco IV Epífanes tomou partido pelo grupo helenizante e quis ficar com o ouro do templo para pagar uma dívida aos romanos. A intervenção de Antíoco foi violenta e descabida (1Mc 1,20-64). O ponto culminante aconteceu quando Antíoco colocou sobre o altar dos holocaustos a estátua de deus Zeus:

 “a Abominação da Desolação” no ano 167 (1Mc. 1.54).

Começou a revolta dos Macabeus com o sacerdote Matatias, cujo avô se chamava Asmoneu. Em 164 o templo foi conquistado e purificado (festa da dedicação). Os sacerdotes sadoquitas deviam partilhar o poder com uma nova elite: com os Hasmoneus e mais tarde com os Herodianos. O título do sumo sacerdote foi agora comprado (veja os Macabeus), os sacerdotes serviam como a agência do Império. Os Macabeus com a ajuda de Roma ganham a independência dos Sírios 142 – 64, na chamada dinastia dos Asmoneus. Os Hasmoneus juntam o poder real com a função de sumo sacerdote. O grupo dos fariseus não concordava com esta política.
Neste tempo se retiraram judeus religiosos, os “Essênios”, para o deserto, “Áraba”, rejeitando o comportamento dos sacerdotes no templo.
 Os Romanos se aproveitaram dos Judeus para apaziguar a Síria. No ano 64 Pompeu rebaixa a Síria e em 63 as.C. ele toma Jerusalém. Assim acabaram as pretensões dos Macabeus. No ano 50 existe um clima de conflito: Hircano II é sumo sacerdote, Mas seu ministro Antipater (idumeu) dirige o pais. No ano 37 Herodes Magno, filho de Antipater, toma Jerusalém e reina como vassalo de Roma até 4 a.C.


1º - OS SALMOS:

Os Salmos, a coletânea dos louvores, encabeçam a 3ª seção da Bíblia: seguidos por Jó e os Provérbios. Os Salmos são divididos em cinco partes como o Pentateuco e foram reunidos em um só livro, provavelmente no fim do III século a.C. Os Salmos foram rezados ou cantados na liturgia ou em casa.
Na primeira parte dos Salmos aparece David como autor de um salmo, mais tarde ele é o autor de todos os salmos: o saltério é o livro real-messiânico por excelência. O servidor David é o ideal de um Israelita, que reza diante de Deus. David não é apresentado como herói ou guerreiro, mas sim como perseguido, sofredor e até pecador.

Os cinco livretes de oração que formam esta coleção não são livros do templo, dos sacerdotes  são livros do povo: um pequeno Pentateuco popular, no qual se conserva e celebra a memória do verdadeiro rosto de Deus, de sua ação libertadora, de sua paixão pelo povo, pelos pobres, pelos últimos, pelos justos que amam a sua lei e a põem em prática com todo o coração.
 Justamente porque o povo costumava cantar, rezar, suplicar com estas palavras, ninguém, nem o sumo sacerdote, teve a força de mudar e distorcer, de interferir neste pequeno patrimônio que o povo tinha decorado e que guardava com todo cuidado em seu coração.
 (Fonte: Ribla nº 45 – Salmos  p. 65 - 71. S. Gallazzi)

Os cinco livretos:

 Sl 1 - 2 são salmos de entrada.

  I livreto: Salmos de David 3-14, 15-24, 25-34, 35-41,
 O final: Louvado seja Javé, 41,14

II Livreto: Salmos de Qôrah 42-49, Asaf 50, David 51-72,
 O final: Louvado seja Javé 72,18.

             III Livreto: Asaf 73-83, Salmos de Qôrah 84-89.
         No livreto predominam salmos de crise individual e nacional. Origem é do tempo pós-exílio.
         O final:Louvado seja Javé 89,53

            IV Livreto: composição de Moises 90-92, Javé é rei 93-100, David 101-103.  No livreto temos queixas a Javé.Exílio e diáspora.
              O final: Louvado seja Javé. 146-150 No S 148 a criatura louva a Deus.

 V Livreto: 107-145 No livreto predomina o Tempo de esperança no pós-exílio.

            O final: Louvor a Deus 145,21
.
                         Sl 146-150 são salmos de saída

     Orações de ira e proteção
    São a maioria 61 salmos de lamentação no primeiro e secundo livreto, queixas, vingança, súplica, individual e coletiva. Começam com um grito: livra-me, socorra-me, até quando?  São salmos de David, do sofredor.
Orações individuais: 5, 6, 7, 13, 17, 22, 25, 26, 28, 31, 35, 36, 38, 39, 42, 43, 51, 54-57, 59, 61, 63,64, 69, 70, 71 ,86,  88, 102, 109, 120, 130, 140-143,
Orações coletivas: 12, 44, 58, 60, 74, 79, 80, 83, 85, 90, 94, 108, 123, 137, cf. 77,82, 106, 126,

   Javé, o rei, um juiz justo
   A composição dos Salmos 93 a 100 relata como Javé se tornou rei, agora também rei de todos os povos, segue-se o esquema 7+1. No Salmo 100 toda a terra está convidada a reconhecer Javé, Javé é bom e sua fidelidade fica de geração em geração. Deus é o deus justo juiz (S 7,10; 11,7; 116,5; 129,4;) Javé pratica a justiça como verdadeiro rei. Ele levanta-se na assembléia divina e julga: Sede juízes para o fraco e o órfão, fazei justiça (S 82).

    Javé e seu ungido
    Javé como Rei manifesta seu poder através de David ou seus descendentes, Salmos sobre rei: 2, 18, 20, 21, 45, 72, 89, 101,110, 132, 144..
Sl 2  O motivo inicial do Salmo é a conspiração das nações contra Javé e seu ungido. O salmo tem grande importância no NT.
Sl 89 Um salmo espetacular, por sua ousadia no discurso de queixa a Javé, porque não cumpriu  suas promessas, mas desperta esperança.A justiça e o direito são as bases do trono de Javé
Sl 110 “Senta-se à direita de Deus”: o rei se assenta no templo à direita da estátua de seu Deus tutelar, o rei é titulado sacerdote, mas segundo a ordem de Melquisedec, rei da justiça, também importante no NT. 
Sl 132 “Por causa de David, teu servo, não rejeites a face de teu ungido“, aparecem os sacerdotes, revestidos de justiça e salvação.

Cantos das subidas
Durante a festa de Sukkot (das Tendas) os levitas subiram os quinze degraus que separavam o átrio próprio das mulheres do pavimento dos homens cantando os salmos 120-124. Dentro dos Salmos temos os cantos da romaria ou cantos das subidas 120-134, estes Salmos têm sua origem no trabalho de cada dia e nas festas da aldeia no tempo dos Persas. Salmo 127,1-2 critica o tributo dos Persas, o escravismo por causa das dívidas. O cetro do injusto (125,3) é o governo persa. Salmo 126 canta a volta do exílio Babilônico. Salmo 129 fala do duro trabalho “lavaram minhas costas”.

 Javé na história
Os doze Salmos de mestre de coro, de Asaf  S 50, 73-83
Eles refletem a história, como Javé agiu no Êxodo, queixa sobre a destruição de Jerusalém, a devastação do país até um julgamento escatológico. S 83 uma súplica comunitária num tempo de crise, no Sl 77 medita-se a ausência e manifestação de Deus. (Judite 9,2-14)
 O Salmo 135 é um salmo de ação de graças pela posse de terra, sua linguagem tardia marca-o durante o domínio persa.
Uns vinte três salmos são hinos de louvor da comunidade, uns quatro usam memórias históricas como os salmos 105 e 136. No salmo 106 a história se transforma numa ladainha de rebeliões dos antepassados. Ne  9,5-37 é um salmo de súplica, uma confissão de culpa do  passado.

 Javé no Sião
Os Salmos de Corach Sl 42-49, 76,  84 -85, 87-88, 122,
Eles se preocupam com o Sião: Javé residindo no Sião luta contra o caos. Estes salmos celebram o  indestrutível Sião como fonte da vida. São hinos de culto no templo

 Salmos sapienciais
Os Salmos 1; 37; 49; 73; 91; 112; 119; 127; 128; 133 e 139  são denominados sapienciais, não  são orações, antes didáticos, instruções, ensinam, são portadores de palavras de sabedoria. As preocupações deles são os problemas da vida e a busca da felicidade


  A mão sadocita nos Salmos?

 Pergunta interessante:                                                                                                                             esta mão aparece nos Salmos também, que interveio tanto no Pentateuco?

O Templo e o altar:
O templo ocupa um lugar central nos salmos: casa, santuário, tenda, templo, habitação, morada
(S 84,2; 11; S 26,8). “Em nenhum momento os Salmos usam palavras típicas do 2º Templo”. Não aparece “O Santo dos Santos, véu do templo”. O altar também tem uma presença quase insignificante, somente cinco citações lembram diretamente o altar, isto se levarmos em conta que o altar não era visto como lugar do sacrifício. Javé não aceita sacrifícios sobre seu altar (S 51,21).
O sacrifício pelo pecado era um elemento central na teocracia do 2º Templo: o sacrifício era o instrumento privilegiado para garantir a lógica da retribuição e o poder mediador do sacerdote, únicos elementos capazes de segurar a ira do Altíssimo e o perdão do pecado. Os salmos falam do pecado, portanto nunca do sacrifício pelo pecado. Deus sempre perdoa.

Pureza e santidade:
O livro dos Salmos não conservou nem nos transmitiu uma religiosidade baseada na lógica discriminante da pureza e da impureza, tarefa mais importante dos sacerdotes: nsinar distinguir entre sagrado e profano (Ez 44,23). Santo é sempre Javé, somente o Salmo 106,16 chama Moisés e Aarão de “santos de Javé”, é pouco. Pureza e impureza não são “coisificadas”: as coisas, animais, comidas etc. não são puros ou impuros. Em vez a dimensão ética é importante.

O sangue e o sacerdote:
Nos Salmos o Sacerdote nunca aparece exercendo seu papel propiciatório, de intermediário necessário para expiar os pecados do povo. E o sangue nunca é lembrado como elemento de expiação que lhe consignou o Levítico (Lv 17,11)... A única função litúrgica que é conferida aos sacerdotes é a de invocar Javé, nada mais. Nada disso está presente nos Salmos, “Como sacrifício oferece a Deus a confissão” (S 50, 13-14). Votos no lugar de sacrifícios, compromisso no lugar de ritos. Nenhuma lembrança das ricas roupas dos sacerdotes, ele estejam revestidos de justiça (Sl 132, 9; 16;).
O único Salmo que se refere ao sacerdote é: “Tu és sacerdote como Malki-Sedec” (Sl 110,4), o rei da justiça, mas não como um sacerdote sadoquita.

   A lei e a justiça:
A promulgação da lei por Esdras com o poder dos sacerdotes sadocitas tem suas conseqüências para a vida do povo:
A lei nasceu para defender e proteger a vida dos mais fracos. A salvação é comunitária e a justiça está relacionada com a partilha com os pobres. Mas no exílio a salvação torna-se um conceito individual (cf. Ez 14,12-28; 18,1-32; 33,10-20) porque não existe mais o coletivo de um povo, existem sim judeus individuais na diáspora. A observância da lei garante a salvação. Agora a lei exige dízimos, ofertas e tributos aos sacerdotes sadoquitas que entregam o tributo aos Persas. A prosperidade ou a pobreza é conseqüência do mérito individual. É a teologia da retribuição. O pobre fica excluído porque não pode pagar os sacrifícios. Pecado significa violar a lei.
            As respostas apresentadas pela teologia tradicional não consideram a realidade social. A injustiça é gritante. Porque os justos sofrem? O Salmo 37 quer dar uma resposta: Não te inflames, os ímpios serão extirpados (1-11): Deus não abandona os justos pobres (12-26); evita o mal e faze o bem (27-40). Os primeiros destinatários desse salmo são os camponeses que já perderam suas terras. O ímpio (rasha) viola os direitos sociais de seus semelhantes. O salmista reaviva a promessa da aliança para o justo pobre. Sempre tem o confronto entre rico e pobre, poderoso e humilde.

            Parece-me, então, decisivo, concluir que na coleção final dos Salmos não temos nenhuma memória da teocracia sacerdotal sadoquita que chegou ao poder em Judá, depois das missões de Esdras e Neemias. O livro dos Salmos – manifestação sublime da religiosidade de Israel – não incorporou a experiência religiosa oficial do Judá do segundo templo, nem assumiu a proposta teocrática do poder religioso que dominava desde Jerusalém. Podemos dizer que o livro dos Salmos, de certa maneira, questionou a proposta teocrática – e por que não? – a rejeitou.
Os sacerdotes de Jerusalém – que foram capazes de acrescentar longos textos ao Pentateuco, que conseguiram recontar toda a história dos reis, para legitimar sua proposta de governo teocrático – não puderam interferir na redação final do Livro dos Salmos, nas diversas e múltiplas celebrações do encontro de Deus com o seu povo..



    2º - JÓ NO PÓ RESISTE

 Para a interpretação do livro de Jô usei o Livro do Escritor: Ton Veerkamp - Título: Autonomie und Egalität (Autonomia e igualdade) Editora: Alektor–Verlag - Berlin 1993. Páginas 115 até 226

      Introdução:
          Com Alexandre Grande começa o Império Grego ou Helenístico. 332 a.C. A Palestina foi conquistada pelos exércitos de Alexandre. A situação mudou: No Império Persa Jehuda com Jerusalém tinha autonomia em relação à própria religião e seus costumes. Os sacerdotes Sadoquitas tinham o poder interno, mas ficaram politicamente dependentes dos Persas.
             Os Gregos não deram autonomia relativa às províncias, submeteram totalmente os territórios ao seu império por sua língua, - todo o mundo começou a falar o grego - filosofia, religião, ética e organizarão política. Logo a Torá devia ser traduzida em Grego: a Septuaginta em Alexándria LXX. (250 aC.) A ideia da alma eterna entra nos “Escritos, os demais livros”. A brutalidade dessa nova era mostra-se finalmente na profanação do templo e da instalação da estátua de Zeus-Olímpico (1 Mc  1,41-47 e 2 Mc 6,1-11) Deus apresenta-se como Deus da classe dominante, conforme a ideologia grega ele é um Deus tirano, que não escuta mais o grito do povo (Jó 24, 1, 12).
             O livro de Jó é o protesto contra esta alienação pelo Helenismo ao nível teológico, como também o livro de Daniel protesta contra o Helenismo ao nível político. A conseqüência dessa opressão seria a guerra dos Macabeus. O livro de Jó provavelmente foi escrito entre 300 a 200 aC.
            Também no livro de Jó a ideologia sadoquita não tem influência, enquanto a aliança de Javé com o povo do Deuteronômio marca os pensamentos de Jô: “Clamo a vós, Javé, salvai-me, eu vos suplico, e então guardarei vossa aliança” (S 118,1-46). Ele é “comprovado na justiça” nesta aliança.
            No livro de Jô aparecem as mesmas perguntas, que se colocam nos Salmos: os fieis da aliança sofrem, são perseguidos, até acusados de serem pecadores, queixam-se e reclamam os compromissos do parceiro Javé. Ele não escuta, não vem em socorro, até quando? Nos Salmos encontramos um clima de ternura, de carinho, de uma esperança invencível em Javé, no livro de Jô estamos diante de um processo de acusação, de rixa, tudo está frio.
Única coisa que Jó pede: que Deus admite sua inocência, sua integridade seja publicamente reconhecida.
            O livro de Jó é um forte grito de resistência. É um clamor de um grupo que critica e rejeita a visão de Deus apresentada pelos teocratas: um Deus arbitrário e vingativo. Gritos de quem se sente esmagado por  Deus” ( Jó 30,18-21) Ribla 45 p. 86)

            Deus faz tudo o que ele quer?
            Se Deus é imprevisível, precisa aceitar tudo e em conseqüência sofrer e agradar a ira de Deus pelos sacrifícios.
       O livro parece defender um Deus onipotente, incalculável, arbitrário a quem o homem deve se submeter. Não fala assim o Salmo 115, 3: “o nosso Deus está no céu e faz tudo o que deseja?” Parece confirmar a arbitrariedade deste Deus.
Mas na aliança com o seu povo Javé explica bem o que deseja: ele escuta o clamor e os lamentos dos israelitas (Ex 2, 23-25), quer amor e não sacrifícios (Os 6,6), quer a vida e não a morte (Dt 30, 15-20), quer a conversão do injusto (Ez 33,11). Javé também comunica a Abraão o que vai fazer Gn 18,7, avisa Amos 3,7, avisa os exilados Is 43,12; 45,21; 46,10. Também Jesus revelou tudo aos discípulos (Jo 15,17).     
             Mas este novo Deus tirano (eloah, shadai) põe destino na história do homem: sorte ou azar, graça ou desgraça. Isto é fatal e mortal. Jó mesmo articula assim: “Ele extermina tanto o “provado” (inocente na Bíblia pastoral) como o injusto” (9,22). Jó não quer aceitar tal verdade porque ele é um homem “comprovado na verdade e na justiça” e se levanta e protesta em nome da Torá.
            Se Jó é Israel e Satã o inimigo, o adversário, Javé deve ter interesse de constatar que Israel, na pessoa de Jó, não vai se submeter, mas resistir à sociedade grega com esse deus tirano. Aliás: numa sociedade helenista com suas classes brutais e antagonistas o projeto da República da Torá está em jogo.
Isto quer dizer: será que Israel consegue contrapor-se ao Zeus, Deus do Olimpo e até a Javé desfigurado a quem Jó desafia (38-41). Na realidade Jó luta contra o adversário de Javé. O verdadeiro Javé responde 42,7-17.

            O sentido da palavra: ypomone: sofrer ou resistir?
 Só a carta do Tiago menciona o Jô (5,11) e fala da resistência dele. A TEB traduz “Ouvistes falar da paciência do Jó”, a Bíblia do Peregrino traduz “Ouvistes falar como Jó resistiu”. A palavra grega “ypomone” designa a resistência aos perigos que ameaçam... (Veja Lucas 8,15 e a explicação da TEB, Paolo Richard no “Apocalipse”: não traduzir este verbo por paciência, mas por resistência p. 211).
No livro de Jó aparece a palavra resistência: 2,3; 2,9; 6,11; 9,4 No capitulo 27, 5-7 “Vou me declarar inocente até o meu ultimo suspiro. Vou me agarrar à minha justiça e não vou ceder. A minha consciência não reprova nenhum dos meus dias. Que meu inimigo seja tratado como o injusto”.

1. Apresentação de Jó, 1,1-5

 Era uma vez na terra de Us – situada fora de Israel - um homem chamado Jó. Jó representa os judeus, agora dispersos na diáspora. Três vezes Jó é apresentado como homem íntegro e reto (como Abrão Gn 17,1) que se mantinha longe do mal (1,1; 1,8; 2,3;)
Jó reza por seus filhos. Talvez eles pecassem e no mesmo tempo abençoaram ou bendisseram Deus. Até hoje se - pratica a injustiça e depois se - canta na igreja Aleluia.

2. As duas provas:

a) A corte celeste; 1, 06-12
Temos uma situação semelhante ao Salmo 82: lá Javé se levanta no conselho divino em meio aos deuses e julga: “Até quando vocês julgarão injustamente... protejam o fraco e o órfão...”, isto é o Deus da Torá. Quem tenta, não é Deus, mas sim Satã, veja Tg 1,13-15: “Pois Deus não pode ser tentado a fazer o mal, e a ninguém tenta.”
No livro de Jó apresentam-se diante de Javé os anjos e entre eles o Satã. Satã é o acusador como Zc 3,1-2 e Ap 12,10, Satã defende os poderosos contra os fracos. Eles se reuniram para discutir a sorte dos mortais. Satã diz “Será em troca de nada que Jó teme a Deus?” Jó tem muitas riquezas e filhos, só por isso ele serve a Javé.  Em troca de nada, uma palavra chave em nosso livro. Existe religião gratuita (chinnam) em vão, sem sucesso? A religião de Jó é em vão? Veja o 2º canto do servo de Javé: “Cansei-me inutilmente, gastei minhas forças à toa, em nada!” (Is 49, 4). O sofrimento não é o final, Javé promete vida para o futuro: “Faça de Ti uma luz para as nações” (Is 49, 6). Para os Mártires na guerra dos Macabeus a morte não é o fim, porque eles têm esperança na ressurreição. O “comprovado na verdade e na justiça” pode sofrer, mas vai ter sucesso, nada é em vão.        
Javé apresenta Jó como homem íntegro e reto que se mantinha longe do mal (1,8; 2,3;) O que é importante: Deus esconde seu plano com Satã diante de Jó e seus amigos, ele permite e tentação, porque Javé deu liberdade ao ser humano. Começa a luta contra o adversário.
Será que Jó é vitima inocente de uma aposta entre Satã e Deus? Jô ainda não consegue desmascarar este novo Deus que domina agora. Nós, leitores, já sabemos o que vem de Javé e o que vem do inimigo, do Satã.

A desgraça de Jô 1,13-22 
1, 20-22 Os verbos “dar e tirar” aparecem muitas vezes na bíblia, mas nesta constelação só no profeta Oséias (13, 11): “Na minha ira eu lhe dei um rei e no meu furor, eu o tiro”. Aqui também: “Javé deu, Javé tirou. Bendito o nome de Javé”. No nosso texto é Satã que tira, já escutamos na introdução! Em Oséias dava certo, o rei pecou por isso Javé o tirou. Mas aqui não dá certo, Jó não pecou.
 Por que Deus tira? Jó reza “Bendito seja o nome de Javé”. Ele reza o Salmo 113, no qual Javé ergue da poeira o fraco e tira do lixo o indigente, fazendo-o sentar-se com os príncipes do seu povo. Ele faz a estéril sentar-se na sua casa como alegre mãe de filhos. Por isso Jó não atribui a Deus nada de indigno.

b) De novo: o Céu Olímpico 2,1-6

Javé se deixou irritar por Satã. Jó resiste ou persiste na sua integridade, se mantenha longe do mal (2,3;). Satã fala “Eu aposto que ele te lançará em rosto as suas maldições”.

Nova desgraça 2,7-10
Nova desgraça: Satã feriu Jó com uma lepra maligna, agora Jó é expulso da sociedade.  
A mulher de Jó aparece como uma mulher dura e sem compaixão com o marido. Ela fala a Jó: “Eis Tu, ainda persistes em tua integridade? Abençoa a Deus e morra de uma vez” (cap 2, 9). A mulher tem o pensamento dos gregos e parece falar: “Não tem Deus, não tem comprovação, nem tem justiça, nem tem esperança, nem futuro, tudo é destino. Vamos morrer”. (Mas um Midrasch (um conto) corrige a imagem desta mulher, falando que ela partilha seu sofrimento gastando suas forças em vão, perdendo-se e escondendo-se).
Jó retrucou-lhe: “Tu falas como uma insensata”.  Ele cita o Salmo 14: “O insensato diz no coração: Deus não existe”.  Deus não existe significa: não existe justiça nem julgamento.
  
            O que se deve fazer: se manter longe do mal ou aceitar?
Quase todas as traduções dizem: “Porque não aceitamos o mal? (2,10) E no final das contas: Jó entrega-se ou fica fiel a sua convicção? A maioria dos tradutores fala no final (42,6): “Tenho horror de mim e retrato-me” – me arrependo”.
O texto foi traduzido assim: “Se aceitamos de Deus os bens, não devemos também aceitar os males. A TEB traduz: ”Sempre aceitamos a felicidade como um dom de Deus. E a desgraça? Por que não a aceitaríamos”?  Mas Jó sempre se afastou do mal como agora aceitar?
O hebraico fala: “Sim os bens aceitamos de Deus, e os males não aceitamos” (cap. 2, 10).
            A primeira dificuldade da tradução vem da primeira palavra ”gam” que significa: “também” ou “sim  ou “sempre”, é uma afirmação e não uma condição “se”: Por isso precisa traduzir: “Sim, sempre, os bens aceitamos de Deus...”.
A secunda dificuldade vem da conjunção “v” que significa “e” que liga a segunda parte da frase com a primeira. O “e” não é uma pergunta (por que?).   Podemos traduzir o “e” por “mas” e dizer assim: “Mas os males não aceitamos”. Na segunda parte da frase não se menciona Deus, porque os males não vêm de Deus, eles vêm do Satã como nós fomos informados na introdução. Jô confirma exatamente o que Javé falou dele no início. Jó se tinha mantido longe do mal, ele persiste agora.

3.     A chegada dos Amigos 2,11-3,27

            Ficaram com Jó sete dias e noites em silêncio. A diferença é que Jó sofre e não os amigos. Agora Jó fala: ele amaldiçoa seus dias 3,1-27: Jô não amaldiçoa Javé, mas seus dias são como de Jeremias (Jr 20,14 e 15,10). Amaldiçoar alude à criação no Gn 1, lá Deus criou a luz, agora só tem trevas: “A luz se desviou em escuridão: o que era bom agora é ruim”. Viva a morte?  Desejar a morte seria fascismo, isto é contra a aliança de Deus que promete a vida.
“Vem o abalo” (3, 26), abalar é o negócio dos criminosos. Jó vai ser abalado. Ele não é mais Jó (Ijjob), mas Ojeb (inimigo). Deus mesmo o cercou, trancou e bloqueou na sua desgraça, um sobressalto. Jó abalado vai abalar tudo.

4. Diálogo com os três “Amigos” 4,1 - 26, 14

 Os poemas são cansativos: não tem desenvolvimento, não tem apogeu. As visões iniciais voltam no final. Os amigos tornam-se mais inimigos, acusadores como Satã. “Recorda: qual o inocente que pereceu? Onde se viu homens retos desaparecerem? (4,7) Sofrimento é castigo de Deus pelos pecados.
            Os amigos aconselham a Jô, ter muita paciência e confessar sua culpa. Um dia a majestade divina terá compaixão.
           1. Poema de Elifaz (4,1-5,27)
           Qual o inocente que pereceu? (4,7) Onde se viu homens retos desaparecerem? Jó não pode ser inocente.
            (6,1-7,21) responde em nome de todos os sofredores: “Não é corvéia o tempo do mortal na terra? Se digo: minha cama me consola (“nacham” <consolar> reaparece em 42,6) e meu leito aliviará o meu lamento aterrorizas-me com sonhos” (7, 1-15) Jô fala a Deus: “Deixa-me, largo a minha vida, (“ma as” < largar> reaparece em 42,6), meus dias se apavoram, espião do homem” (7,16-21). Este Super-Eu Divino, que eles chamam Eloah ou Shadai, sem sensação e sem misericórdia, ataca Jó até o sobressalto.

            1.Poema de Bildad (8,1-22)
            Deus não falseia o direito, não rejeita o homem íntegro.
            A resposta de Jó (9,1 -10,22): “Viver me repugna. Eu sei muito bem que é assim” e mais provocando: “Garanto a vocês que tudo é a mesma coisa: Ele extermina tanto o provado como o injusto
(9,22) Direi a Deus: Não me trates como culpado, dá – me a conhecer tuas queixas contra mim.  Sabes: eu não sou culpado” ( 10,7)  Jó não pode fazer nada, mas se recusa a glorificar a submissão.

            1. Poema de Sofar (11,1-20)
             ¨Tal  palavrório  ficará sem resposta? Ousas dizer: Minha doutrina é pura.
             A resposta de Jó (12,1-14,22;)
 Como foi diferente o diálogo de Javé com Abraão, veja Gn 18, 26. “Este Deus de hoje é cego”. O que ele destrói, não se reconstrói” (12,14).  “ Mas é ao Poderoso que vou falar, é contra Deus que quero defender-me” ( 13,3)  Quero defender diante dele meu proceder (13,15). Para Jó a Torá foi a guia na sua vida (13, 18) Agora ele desafia o Poderoso: ”Chama-me e eu responderei, ou se falo, responde-me tu. Quantos são meus crimes e pecados?“ (13,22-24).

 2. Poema de Elifaz (15,1-35)
 Jó responde (16,1-17,16): “O terra, não encubras o meu sangue (16,18-22): tenho agora uma testemunha no céu”. Esta frase lembra o sangue de Abel, derramado por Caim: ”A voz do sangue do teu irmão clama do solo a mim” (Gn 4,10).  O sangue defende a pessoa (quer dizer Jô) contra o deus que o esmagou (16, 12).  Nunca o narrador fala que Deus mesmo atacou ou esmagou Jó.

 2. Poema de Bildad (18,1-21)
 Jó (19,1-29 )repreende os amigos; “Até quando me atormentareis?” Eles sabem que Deus violou seu direito. Ele perdeu tudo: ele ”afastou de mim os meus irmãos”, desapareceram seus próximos, mesmo as crianças o desprezam, ele grita: piedade (19,1-24). Mas sabe: (19, 25) “Eu sei que o meu Salvador (Goel – aquele que resgata o escravizado) está vivo e que no fim se levantará do pó. Depois – minha pele esfarrapada – eu verei a partir da minha carne, Deus”.

2. Poema de Sofar (20,1-29)
Jó toma a palavra (21,1-34)

3. Poema de Elifaz (22,1-30) Elifaz acusa Jô: “É mesmo grande tua maldade, não há limites para teus crimes (22,5-11)”.
Jó reclama (23,1-24,25): “Para ele é a mesma coisa, quem o fará voltar? O que ele quer, ele faz (23,2 -13). No cap. 24, 02-12 Jó descreve a injustiça social e a violência do direito no campo e na cidade. Jó representa o Israel explorado por um império brutal. Isto não é repugnante a Deus. ”Mas Deus está surdo a esta infâmia.” (24,13) Este Deus se tornou um demônio devorante, escuta aleluias sacerdotais como reza falsa, mas não repugna as injustiças cometidas contra Israel, isto seria a verdadeira reza.
Qual diferença com o Salmo 139. Lá Deus está próximo daquele que luta contra aqueles que odeiam Deus. Aqui e agora: escuridão e pavor.

3. Poema de Bildad (25,1-6)
Réplica de Jó a Bildad (26,1-14)
           
5. Provérbios de Jó 27,1 - 31,40

27,1-7 Na introdução Jó fala aos amigos. Enquanto o Onipotente nega a justiça de Jó, Jó se apega nela. “Até expirar, sustentarei minha inocência, À minha justiça me apegarei, não a largarei.”

Elogio da Sabedoria:
 28,01-11    Os mineiros contam sobre o trabalho deles.
 28,12-19:   Começam com a pergunta: Mas onde encontrar a sabedoria?  Em parte alguma.
 28,20-28: mas onde encontrar a sabedoria? Ela se esconde aos olhos de todo vivente. “Redução e morte” declaram: “Nossos ouvidos souberam de sua fama”. Só quem é condenado à redução da fome, da guerra, da miséria etc. soubera da sabedoria.
Jó tinha falado 9,33: “Morra o dia em que eu nasci”. Ele está exatamente nesta situação da morte.
Assim Jó no pó sabe da sabedoria e teme a Deus.
29, 01-25 Jó conta como foi sua vida outrora: quando ele praticou a justiça à viúva, ao órfão.... Ele consolava aos aflitos como o profeta Isaias 61, 2.
30,01-31 Mas agora “Filhos do infame, filhos dos sem nome” zombam dele. Eles podem ser a nova classe dominante, os sacerdotes (30,8). Atrás deles está este novo Deus, que desrespeita a Torá (30, 20), que exige a justiça ao fraco.

       Protesto de inocência:( 31.1-40)
“Eu fiz um pacto com os meus olhos:
 (a) o que vi na virgem, como fiquei atento na virgem,
 (b) o que é a parte de Deus nas alturas?“ (31,01-02)
Primeiro: uma ação: Jó tinha “feito um pacto (berith ou aliança)”, ele, seus olhos se obrigam, de praticar esta aliança.
Segundo: duas perguntas, uma em relação a Jô, outra em relação a Deus. Fazer uma aliança nunca significa proibir uma coisa, por isso não se pode falar: “não fixar os olhos numa virgem”. Virgem (bethulah) é alusão a “filha de Sião, a Jerusalém, a virgem (veja Is. 54 ; Jr 14,17). “O que enxerguei na virgem”, nesta parceria da aliança? Jó nunca fez mal nesta aliança, neste Israel, nesta virgem Jerusalém. O outro parceiro desta aliança é Deus: “Que sorte me reserva Deus lá do céu?” Jó se - justifica mais uma vez. Jô é comprovado na verdade e na justiça. Só o Deus da aliança, Javé, se virou num demônio que devora sem razão. 

6. Discurso de Eliú 32 - 37   

Eliú  (Meu Deus Ele), uma inversão de Elias (Meu Deus Javé). Eliú ira-se contra Jó, porque Jó pretende ser mais justo do que Deus. Eliú encoleriza-se igualmente contra seus três amigos, porque eles acharam que Jó (não Deus) é criminoso. Os argumentos de Eliú: Deus humilhou Jó, sem razão, por nada. É assim, precisa aceitar. Deus deve ter razão pedagógica: não importa se Jó é pecador ou não. O importante é reconhecer que Deus está tão elevado acima de nós, que ele pode fazer o que quer, não pode questionar. Eliú defende a ação do Poderoso, mas não a causa de Jó.

Contra Salmo 33 e Salmo 85 o celeste tirano pode, mas não deve fazer justiça ao oprimido. “O Poderoso é intangível, supremo em poder e em equidade.” (37,23) Assim Eliú prepara os discursos do Poderoso e introduz o Soberano que contesta o verme Jô na tempestade. Javé não apareceu a Elias na tempestade, mas no silêncio (1 Rs 19,12).

7. Javé interroga Jô no seio da tempestade

O salmista tem as mesma dúvidas sobre Deus como Jó:
“Eu o digo, meu mal vem daí: mudou a destra do Altíssimo”. (S 77, 10-11)
“Porventura Deus se esqueceu de dispensar graça? Encolerizado, fechou seu coração?”

1º Interrogatório de Javé 38,1 - 40,2
Agora Javé, no seio da tempestade, interroga Jó, mas não é Javé da aliança, ele é este novo Deus estranho, ele é o Onipotente, o Shadai. Javé pergunta Jó:
“Quem está a denegrir a providencia, com discursos sem sentido? Vou te interrogar e tu me instruirás... Onde estavas, quando eu fundei a terra?”
 No seu interrogatório ele não dá respostas às perguntas de Jó. Javé apresenta as obras do terceiro, quarto e quinto dia da criação, mas parece que a natureza pode existir sem o ser humano. Apesar disso a criação parece mais um caos devastador.     
 Agora uma interpelação de Javé: “Que responda quem crítica Deus” (40,2).
1ª Resposta de Jó: 40, 03-05           
Jó não é muito impressionado. Ele é uma pessoa insignificante, arrasado, seus dias são amaldiçoados. É a mesma coisa (tanto faz), nada mais digo. Em 9, 22 ele dizia: “Garanto a vocês que tudo é a mesma coisa, ele extermina tanto o comprovado como o injusto”.
Em 23, 13 ele dizia: “Para ele é a mesma coisa, quem o fará voltar? O que ele quer, ele faz”. Não tem jeito entrar numa controversa com este Onipotente. Por isso: “Nada mais digo”
.
 2º Interrogatório de Javé: 40,7 - 41,26
 Javé continua irado, porque Jó não se submeteu e fala de novo da tempestade: “Tu atreves a violar o meu direito ou condenar-me para ser absolvido?” (40,8). Neste discurso apareceram os animais “Behemot” (40, 15), e Leviatã (40,25) que são menos ”crocodilo ou dragão”, mas guerreiros, encarnações de poderes maléficos. Aqui eles devem ser interpretados como as bestas políticas, uma alusão ao Império helenista egípcia. Javé cria estas bestas para humilhar e escarnecer Israel? O shadai zomba de Jó ou de Israel no pó: “brincarás com ele como com uma ave, com uma coleira o darás as tuas filhas”? (40,29) Toda a palestra é uma provocação! No Is 51,9 Javé “traspassaste o Dragão”.
                                           2ª Resposta de Jô 42, 01-06        
 Jô responde agora: “Reconheço que Tu podes tudo” (42,2). Jó compara Deus com os filhos dos homens, que constroem a torre de Babel (Gn 11, 6): “Nenhum projeto é irrealizável para eles”. Assim, Javé pode destruir tudo, poder no sentido de destruir e não construir. Isto é sarcasmo e não um louvor a Deus. Para Jó Javé não fala diferente dos 3 amigos e  de Eliu.
Jó repete a pergunta que Deus colocou no início (38,2-3): “Quem está a escurecer a providência sem conhecimento de causa? Vou te interrogar e Tu me deixas reconhecer” (42,3-4) Jô responde: O que ele não conheceu ou não entendeu (42,3b)?  Ele compreendeu que nos olhos desse Deus ele não pode conhecer nada. Até agora ele conhecia este Deus só por ouvir falar (42,5a). O que ele escutou dos três amigos? Ele escutou com suas orelhas (28, 22) que só Deus tem sabedoria. “Mas agora te viram meus olhos” (nos dois interrogatórios 42,5b). O que ele viu? Um Deus que deixa Jó sozinho com todos estes monstros e bestas que oprimem. Ele olha com seus olhos um fantasma de onipotência e arbitrariedade, mas não o Deus do Êxodo 34, 6-7.
Ele descobriu que nas duas palestras de Javé um deus onipotente fala que não defende as vítimas em vez as persegue, isto não é Javé. (René Girard sobre Jó). Se Deus é assim, não tem jeito.
“Por isso, eu largo, tenho meu consolo sobre pó e a cinza”.
Em geral se traduz assim: “eu me retrato e me arrependo”.  Jó depois tantas queixas e argumentos   submete-se a este Deus?  Não!
Temos dois verbos; ma’as e nacham.
 Ma’as significa: largar, jogar fora, arremessar, rejeitar.  No cap. 9,21 ele falou este verbo: ”viver me repugna” (TEB), o Peregrino traduz: ”desprezo a existência”. Jó repete este verbo aqui e nada mais: “eu largo e jogo fora” é repugnante.
 Nacham significa na forma ativa: consolar, (2,11; 16,2; 21,34; 29,25; 42,11; 7,13;). Em 7,13 Jó tinha falado: “Se digo: “minha cama me consola e meu leito aliviará o meu lamento”, aterrorizas-me com sonhos.”. Nacham significa na forma reflexiva: se consolar ou estiver farto. Depois de lagar, jogar fora ele está consolado: por isso eu fico esgotado de sofrer, “tenho meu consolo sobre o pó e cinza”, não mais sobre minha cama.

8. A conversão de Javé 42, 07-17
Deus se converte a Jô: “E Javé converteu o regresso de Jô” (42,10) Os três teólogos, representantes da elite corrupta, falaram como insensatos. Jô, representante do povo esmagado, é o intérprete diante de Javé como Abraão (Gen 18) e Moisés. A classe dominante deve se converter aos esmagados (na pessoa de Jó), que assume a função dos profetas e dos reis. Jó viu seu resgatador (19,2).

3º - OS PROVÉRBIOS

             Os Provérbios de Salomão não foram todos escritos por um mesmo autor nem pertencem à mesma época.   O templo, os sacrifícios, as leis da pureza dos sacerdotes sadoquitas não aparecem. Os provérbios querem dar a conhecer a sabedoria, a educação em hebraico como disciplina baseada em castigos. Mas a correção acontece também mediante exortações. Diretrizes e apelos à razão.
  
1. A parte mais recente do livro é 1,8 - 9,18. Foi escrita no pós-exílio, quando a comunidade judaica se esforçava para se organizar no espírito do Deuteronômio. Os pais ensinam a sabedoria aos filhos: “Dá ouvido, meu filho, à disciplina que teu pai te impõe, não rejeites o ensinamento de tua mãe” (Pr 1,8).
 Os pais e mães não os escribas ou sacerdotes ensinam os filhos. Eles não mandam, eles dão conselhos, advertem como viver em comunidade. O lugar da educação é a casa, não o templo. Para viver feliz precisa sabedoria, que é dom de Deus. Referência à aliança (2,17): ”que abandonou o companheiro de sua juventude e se esqueceu da aliança com seu Deus”. As Dez Palavras nas tábuas de pedras estão também integradas na experiência da vida (3,3) “Escreve-os na tábua do teu coração” (7,3).
A Dona Sabedoria: A partir 7,1 a sabedoria é apresentada como mulher personificada: “Dize à sabedoria: Tu és minha irmã”. Ela está chamando (8,1), “Eu, a Sabedoria” (8,12). “Javé engendrou-me, primícia de sua ação”. Ela está ao seu lado qual mestre de obras.
 Ela construiu sua casa com sete colunas e convida: “Venham comer do meu pão e beber do meu vinho” (9,1-6). “Casa e patrimônio são herança dos pais e a mulher, de bom senso é dom de Javé”. No fundo é o homem todo, espírito e corpo, religioso e profano, quem será sábio. A Dona Insensatez convida também os insensatos (9,13 - 9,18), senta-se à porta da sua casa, numa cadeira, no alto da cidade, para interpelar os transeuntes.

2. Depois seguem sete seções conforme as sete colunas da casa:
Estes provérbios podem ser bem antigos, podem ser atribuídos aos escribas e funcionários públicos na corte.
  I  10,  1-22,16:  coletânea salomônica de 376 sentenças, provérbios mais antigos, Nos cap. 10,1- 15,32  se trata mais da vida do agricultor e do criador do gado , nos cap. 16-20 se trata da vida na cidade.
 II 22,17-24,22: a coletânea dos sábios inclui provérbios, próximos do Egito, a sabedoria é universal, não só de Israe
  III  24,23-24,34:  segunda coletânea dos sábios
  IV  25 –   29:       segunda coletânea salomônica, composta de 127 sentenças,  
  V  30, 1- 30,14:  palavras de Agur, sábio não-israelita 
  VI  30,15-30, 33: série de provérbios numérico
  VII  31, 1 – 9:       palavras do rei Lemuel, lição da sua mãe.

3. No final aparece a sabedoria incorporada numa mulher de valor, é um cântico alfabético.  (31, 10-31), Ela é mais preciosa que o coral (31,10), que organiza a casa, nela confia o marido. Esta mulher ideal está cheia de sabedoria e se torna o grande líder na orientação do povo.

                            
 4º - OS CINCO ROLOS

O lugar dos cinco rolos é muito instável (Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Éster). Todavia, em razão do costume de lê-los nos dias de festa (Cânticos na Páscoa, Rute em Pentecostes, Lamentações no aniversário da queda do Templo, Eclesiastes na Festa das Tendas e Éster na Festa de Purin), passou-se a justapor nos livros manuscritos e posteriormente nas primeiras Bíblias impressas.

 O ROLO DE RUTE:

O autor se considera muito distanciado da época dos juízes, por isso deve explicar velhos costumes. O livro parece ser da época dos juízes. Mas a teologia do livro, seu universalismo e seu sentido do sofrimento pode ser mais bem entendida num clima pós-exílio. A época de Esdras conviria muito bem ao relato, favorável à causa dos matrimônios dos estrangeiros contra as reformas rigorosas de Esdras e Neemias.
Esdras era um doutor da lei, escriba de alta qualidade, que agia em nome do rei da Pérsia. Visitou Jerusalém no ano de 458. Esdras achava que o sofrimento do povo era castigo de Deus, pois casavam com mulheres estrangeiras (veja 9,2). Ele propunha expulsar as mulheres estrangeiras e os filhos que delas nasceram (Esd 10, 3). No caso de Rute acontece o contrário.
Neemias era governador de Judá nomeado pelo Rei da Pérsia na mesma época de Esdras. Via como os pobres eram explorados pelos ricos e governantes (Ne 5,1-15), exigiu que os ricos devolvessem aos pobres as terras roubadas e perdoassem as dívidas acumuladas (5,7-13). Já o terceiro Isaias (Is 56,1-8) inclui no povo todos e todas os que temem a Javé e praticam a justiça e guardam o Sábado. Isto foi uma advertência contra a exclusão do estrangeiro e do eunuco. A Casa de oração é para todos os povos (56,7).
Rute é um livro da mulher por excelência: “Uma luta de sobrevivência de duas mulheres num mundo patriarcal e antes de mulheres pobres num mundo perigoso, mulheres como vítimas”. Está questionada, se o início ”Certa vez, no tempo dos juízes” e a genealogia 4, 18-22 com relação a David pertencem ao texto original. A genealogia quer revitalizar a importância de David.

O esquema do livro:
1 – O quadro inicial (1,1-5)
            Descreve a situação real do povo. Aqui aparecem os problemas a serem enfrentados: falta de pão, falta de terra, falta de um filho que possa dar continuidade à família e garantir o futuro.
            2 – A caminhada (1,6 - 4,12)
            A caminhada tem quatro passos:
1º Passo: Atraído pela boa noticia da visita de Deus à terra natal, Noemi decide voltar para a terra em busca de pão (1,6-22).
2º Passo: Rute toma iniciativa de catar o restolho no campo e começa a fazer valer o direito dos pobres (2,1-23)
3º Passo: Bôas se compromete a cumprir a lei do resgate e ajuda na solução do problema da família (3,1-18).
4º Passo: Bôas cumpre a lei do resgate, casa-se com Rute e garante a posse da terra (4,1-12).
            3 – O quadro final (4,13-17)
            Descreve o nascimento do filho Obed, a esperança para o futuro.

            O quadro inicial 1,1-5:
            Este retrato ajuda o povo a entender melhor o sentido de sua historia e a causa de sua desgraça.
            “Elimélek” o nome era a profissão de fé do povo: “Meu Deus e rei”, assim era no tempo dos juizes. O povo pediu um homem como rei mas Deus reclama:  “não querem mais que eu reine sobre eles” (1 Sm 8,7). A história dos reis foi desastrosa: fez morrer a fé em Javé como Rei do Povo.
            “Noemi” é do amor fiel de Deus que faz nascer para o povo a “Graça”. O povo se torna a esposa “graciosa” de Deus, que por sua infidelidade perdeu a graça e encheu-se de “amargura”, tornou-se “Mara” isto é “amargosa”. “Maalon e Quelion” os dois filhos “doentes e frágeis” simbolizam Israel e Judá e o fim dos dois reinos. Casaram-se com mulheres estrangeiras “Órfa (dar as costas) e Rute (amiga)”. Noemi fica sozinha sem marido e sem filhos.

            1º Passo: Volta para a terra: aparece doze vezes a palavra “voltar
            (cada texto é como um tecido, uma arte literária)
     A)    1,6-7        Começa a volta para a terra de Judá
B)    1,8-14      Dialogo de Noemi com as noras
C)    1,15-18    Centro: Rute fica com Noemi
            B’ – 1,19,21  Dialogo de Noemi com mulheres
        A’ – 1,22      Termina a volta em Bet-Lechen
            Três mulheres, viúvas, pobres, estrangeiras caminham.
            O centro: “Aonde você for, eu irei, seu povo será o meu povo e seu Deus será o meu Deus. Onde você morrer, eu morrerei”. Isto lembra a formula da aliança: “Eu o Deus deles eles o meu povo”. A estrangeira Rute quer se unir ao povo de Deus, aqui representada por Noemi, a pobre viúva, Noemi faz lembrar Sara, esposa de Abraão (Gn 18,9-12). A situação de Noemi era a situação do povo pobre no tempo de Esdras e Neemias.

            2º Passo: Catar o restolho: catar aparece doze vezes
            A –  2,1-2       Apresenta Bôas
             B –  2,3           Rute no campo de Bôas
                               C –  2,4-7        Bôas conversa com os empregados
           D –  2,8-14     Centro: Bôas e Rute conversam
                              C’ – 2,15-16   Bôas conversa com os empregados
        B’ – 2,17         Rute cata as espigas
A’ – 2,18-23   Quem é Bôas?
            Catar a sobra é direito dos pobres e estrangeiros  (Lv 19, 9-10 e Dt 24,19). Na época de Esdras e Neemias este direito foi transformada em esmola: “o pobre devia pedir licença para catar ao dono”.
            Rute faz lembrar as mulheres estrangeiras, expulsas por Esdras, Noemi faz lembrar o povo abandonado, Bôas faz lembrar a ação de Javé: “vai dar pão, garantir a posse da terra e vai gerar o filho”.
            Bôas: “pela força”, ele é uma “pessoa importante” (2,1), era um titulo de juizes, mas também do messias de um novo David.
            O centro: “você deixou pai e mãe e a sua terra” lembra Abraão (Gn 12,1). Rute é uma filha de Abraão. “você foi debaixo das asas de Javé”, lembra o Êxodo 19,4.

            3º Passo: uma noite fecunda:  a palavra “resgatar” aparece sete vezes,
                  A  – 3,1-6       Noemi e Rute planejam
            B  – 3,7           Bôas come e bebe
                                               C  – 3,7-8        Bôas deita no terreiro e Rute aos pés dele
            D  – 3,9-13      Rute conversa sobre o resgate
            C’ – 3,14         Bôas e Rute deitados
                            B’ – 3,15         Bôas oferece comida para Rute
                         A’ – 3,16-18   Noemi e Rute fazem previsão

  Informação sobre A lei do resgate:
            1º - Quando alguém era obrigado a vender a sua terra, então seu parente tinha obrigação de resgatar esta terra, isto é, devia comprá-la de volta, não para si, mas para o parente pobre (Lv 25,23-25).
            2º - Quando alguém era obrigado a vender-se a si mesmo como escravo, então seu parente tinha obrigação de resgatar esta pessoa. Este parente foi chamado Goêl – “aquele que resgata”.
            Temos diferentes traduções da palavra Goêl: salvador, redentor, libertador, defensor, protetor, advogado, consolador, até vingador.
            A lei do cunhado:
            Esta lei chamada de “Lei do Levirato” estabelecia o seguinte: no caso de um homem casado morrer sem filhos, o irmão do falecido devia casar com a viúva e o filho que nascesse devia ser considerado filho do irmão falecido (Dt 25,5-10).
            Noemi se inspirou na historia de Tamar, que se fez passar por prostituta para obrigar o sogro a cumprir a lei do cunhado (Gn 38,6-26). Noemi quer que Rute vá convencer Bôas a cumprir o seu dever de Goêl. Planejamento das mulheres!
            O centro: Rute não pede favor, mas o seu direito. Bôas: “vou fazer o que você está dizendo, você é mulher de valor”. É o mesmo titulo que foi dado a Bôas. Ele aceita a proposta, só existe outro parente mais próximo.
Bôas e Rute dormem juntos, os dois debaixo da mesma coberta. “Não é bom chegar esvaziada junto a sua sogra”. O livro sugere que o filho vai nascer do amor entre Bôas e Rute, é o jeito de dizer as coisas.

            4º Passo: Garantir a posse da terra: palavra “resgatar” aparece quatorze vezes.
A  – 4,  1-2       o tribunal constituído
               B  – 4,  3-4       o fulano aceita resgatar a terra
              C  – 4,  5-8       fulano se recusa a casar com Rute
                                       B’ – 4,  9-10     Bõas aceita casar com a Rute e adquire a terra
A’ – 4,11-12    o tribunal ratifica

Informação:
O outro parente estava disposto a observar a lei do resgate, mas só queria a terra sem se preocupar com a família. A lei do resgate era usada para dar cobertura legal ao roubo. 
            Bôas uniu entre si a lei do resgate, que dava o direito de adquirir a terra e a lei do cunhado que empunha o dever de casar com a viúva do irmão falecido.
            Conforme com a letra da lei do cunhado o outro parente não precisava casar com Rute, pois não era irmão do falecido marido, Boas amplia a Lei do Cunhado do irmão para os outros parentes.

            O quadro final: um menino nasceu 4,13-22
            As mulheres diziam a Noemi: “Javé seja bendito! Ele não deixou que hoje faltasse para você um resgatador”. Noemi tomou nos braços o menino e o deitou no regaço, foi para ele uma verdadeira mãe de criação, as vizinhas deram o nome ao menino Obed = ‘servo’. Na genealogia Obed gerou Jessé, e Jessé gerou David. O Segundo Isaias fala sempre do “servo de Javé”, ebed de Javé, o resgatador. O nosso texto do pós-exílio pode pensar num novo David, não como rei, mas como um servo que resgata.
             Agora não é mais Bôas o resgatador, mas Obed. Ele é uma benção para a viúva Noemi e um resgatador para o povo no futuro.
                                                 Resumo do livro: Pão, Família e Terra de Carlos Mesters

                             O ROLO  DO CÂNTICO DOS CÂNTICOS

Na sua reforma o rei Josias (640 – 609 a.C.) tinha mandado para retirar do Templo todos os objetos fabricados em honra de Báal, de Asherá e de todo o exército celeste. (2 Rs 23,4) Lá se - teciam vestes para Asherá. Será por isso, que o cântico não menciona nenhuma deusa, nem pelo nome?
             Vê-se no Cântico a tradição de uma liturgia pagã do Oriente Médio em honra de uma deusa que busca seu querido num mundo inferior e o tira de lá, uma ressurreição, que é como um novo nascimento (8, 5-7). “Meu querido é meu e eu sou dele” (2, 16 e 6,3) representa talvez uma fórmula mais antiga do casamento.
           O Cântico dos Cânticos contém estilo e linguagem da época helenística. Poderia ser um comentário do livro Qohelet, porque elogia o amor da amada e do amado. A pessoa central é a amada, que vive no campo, num paraíso e busca seu amado na cidade que representa poder, lei, templo, o Império Helenista. O uso litúrgico na Páscoa não é atestado antes do século V d.C.
           A mulher tem a palavra, o texto fala 7 vezes da mãe, nunca do pai. A iniciativa do amor é da mulher “Debaixo da macieira te desnudei”. A mulher fala dos seus sentimentos e dos seus atos. É o único texto bíblico onde a mulher fala por si mesma. Em Gênesis 3,6 o desejo da mulher é para o homem, em Cântico 7, 11 o desejo do homem é para a mulher. Todo Cântico é ousado.
Nesta época os sacerdotes e escribas lideram os judeus através do templo, da lei, e da pureza. A lei deixava as mulheres endividadas com o templo desde a primeira menstruação até a menopausa. As mulheres se tornavam fábricas de filhos. Por trás dessas leis estão os interesses destes grupos que querem manter sua hegemonia invadindo o cotidiano e regulamentando o corpo, a casa, a mesa e a cama. No livro dos Cânticos o corpo oprimido e reprimido canta a beleza e o prazer da relação gratuita e natural com o outro corpo, fora e além da prisão do templo e da lei.
 Esta nova maneira de ver a mulher baseia-se na experiência de divindades femininas que são identificadas pelas deusas Anat, Astart e Aserá, todas elas relacionadas com o amor, com o sexo e também com a reprodução. Rompe-se assim com o templo, com a lei e com a imagem da divindade masculina.
O texto de Cântico 8,5-7 pode ser entendido como o ponto alto do processo de enamoramento entre a mulher e o homem no livro dos Cânticos. Ele se abre com a expressão: “Quem é essa que sobe do deserto?” Como já foi dito, o termo deserto está ligado às deusas Anat e Astart, deusas do sexo e da fecundidade. Anat é tomada como arquétipo do comportamento da amada que, movida pela paixão, põe em risco a própria vida para buscar o amado. Com essa maneira de agir ela resgata o encontro íntimo entre mulher e homem, no amor, como visualização do relacionamento entre os deuses, portanto, como algo sagrado.
Logo a seguir, o poema canta a experiência da mãe do amado que o concebeu debaixo da macieira, símbolo de Aserá, deusa que possui as características de Anat e Astart, invocada pelas mulheres durante a gravidez e o parto. O fato de o texto aludir a essas deusas reforçando sua presença com a imagem da deusa Aserá, todas elas parceiras no amor e na sua expressão sexual, questiona a imagem masculina e única de Javé como justificativa ideológica do domínio do homem adulto e rico a partir do templo e da cidade. Ao mesmo tempo valoriza o corpo como mediação das relações das pessoas com a divindade, das pessoas entre si e com a natureza.
No canto é a mulher que toma a iniciativa dessas novas relações ao romper com os costumes e leis androcêntricas e patriarcas “desnudando o seu amado” “debaixo da macieira”, fora da cidade e do controle da elite oficial. Sem censura alguma ela canta o próprio gesto como uma continuidade do agir da mãe do amado, que fez amor e concebeu neste mesmo local. Nesse canto da amada a sexualidade ressurge como completude da nova relação entre mulher e homem e deixa de estar centralizada na
procriação. Ou seja, o texto não nega a maternidade nem coloca como única função da relação sexual. Ao cantar o encontro íntimo do casal, a mulher proclama que a expressão sexual do amor é um valor em si, independente de sua função procriadora. Conseqüentemente a mulher não está em função do homem, nem da reprodução dos filhos!

Para confirmar esta nova relação, a amada pede para marcar com selo, sinal de aliança e do compromisso, o vínculo de amor entre os dois amantes. A amada canta o amor como algo forte, incontrolável. Pode ser comparado com a morte, o xeol ou as águas torrenciais. Em suma, a expressão mais profunda de amor entre duas pessoas é uma faísca ou uma chama sagrada, inextinguível – sinal da presença da divindade (cf. Is 4,5). O canto traz a voz de todo o corpo feito por amor e para amar. Esse amor liberta.  O amor não se compra, nem se vende. 
                                                        (Ribla 37 p 70 - Enilda de Paula Pedro e Nakanose).



O ROLO   QOHÉLET ou ECLESIASTES

Qohélet vem do hebraico qahal: a assembleia, Eclesiastes vem do grego  ecclesia: a assembleia, a igreja.
O livro foi lido nas festas das tendas (Setembro e Outubro)

a)      O contexto político: Os Gregos
            Debaixo do sol nada de novo: De 320 a 200 Judá é submetida aos Ptolomeus gregos no Egito.  O sol representa este Império, Qohélet tem idéias iguais às de Jó.
O que é de novo? O novo é o império helenista com suas cidades e mercadorias, o ouro como moeda corrente (os Persas guardaram o ouro como um tesouro), Um novo modo de produção: o escravagismo, com sua fundamentação filosófica e racista que privilegia o ´grego´ contra o ´bárbaro´.  Uma nova antropologia: alma é eterna, o corpo perecível, o homem domina a mulher, o dono o escravo, o pai o filho, a sabedoria está a serviço dos grandes. Uma nova teologia: o mundo helenista  criou uma nova imagem de Deus: um só Deus no céu, um só imperador na terra. Qohélet insiste contra estas tendências e fala: debaixo do sol, dos Ptolomeus,  nada de novo. Os  invasores eram  fortes e seu reinado parecia eterno. (Ribla 39, p.78)         
            Enquanto alguém está entre os vivos tem esperança, porque ¨é melhor um cachorro vivo que um leão morto¨(9,4).Uma crítica aos Gregos se encontra 3,16; 4,1; 4,13-16; 5,7; 7,19; 10,5; .
b) Mensagem central
             Temos 222 versículos, sendo cap. 6,9 a metade: “melhor é o que os olhos vêem do que o movimento do apetite, também isto é vaidade e perseguir o vento”. Precisa ver a realidade e não seguir as ilusões, o apetite não se satisfaz (6,7). Comparar com a tentação (Gn 3,6-8). O profeta sempre vê, é um visionário..
Na primeira parte o centro eixo da oposição contra o Império é  4,8 e 4,9: “um homem só, sem companheiro... Afinal, eu trabalho, eu me privo de felicidade,: para quem?” (amal) e “mais vale dois que um só”.  Precisa companheiros contra a opressão.
Na segunda parte o centro eixo da oposição é  9,7 e 9,8: Ela fala ao homem: “anda, come teu pão com alegria, usa roupa branca, goza a vida com a mulher que amas”.                       c) “A” Qohélet, ou “Ó” filho de Davi?
No hebraico a palavra Qohélet é feminina, porém nas seis vezes no rolo masculina, só 7,27 se conservou o feminino: “Ela falou”, a Qohélet. Nos outros casos o Qohélet é filho de Davi (1,1) rei de Israel (1,12), ele fala, é sábio e ensina o povo 12, 8-10. Fica a imagem de um mestre Rei. Esta figura é produto do primeiro versículo. Se tirarmos esta “casca”, claramente redacional, o que sobra é alguém que “fala”, nada mais. Nos versículos 1,12 – 2,26 encontramos uma irônica autocrítica de um rei profundamente decepcionado: nada dá sentido a este rei. Só nestes versículos aparece nove vezes a palavra “nada... fumaça... hebel”. 
  Qohélet é nada mais do que uma pessoa presente na reunião (qahal), ela não tem tarefas, ela é insignificante, justamente o que seria uma mulher na sinagoga judaica, uma mulher calada. Ela fala três vezes: ¨Vaidade das vaidades diz Qohélet¨ 1,2; depois reagindo a quem fala mal das mulheres ela coloca homens e mulheres na mesma cesta:7,27;  e no final 12,8; Esta mulher vê a realidade: “vi tudo; tudo é fumaça”. A única realidade, onde a mulher mexe, é na casa: comer, beber, amar:  3,12-15; 3,22; 5,17; 8,15; 9,7-10. É do mesmo grupo que cantou o Cântico dos Cânticos.

  d) Vaidade das vaidades, hebel (1,2)
  O livro começa com a palavra ¨Hebel¨(1,2)  que significa: sopro, vento, vazio, inútil, instável, pouco duradouro. Hebel é “fumaça, vento, ilusão”, é “nada” é “vaidade”. Hebel é Abel: existe um Abel, porque há um Caim que mata: o império helenista (Caim) mata o povo judaico (Abel). O livro segue um padrão numérico, a letra hebel significa o número 37, por isso hebel aparece 37 vezes no livro. (Ribla vol 30 p.39)
Tudo é hebel: o gozo e os prazeres (2,1), a fadiga (2,11), a sabedoria (2,15), a herança (2,19), a retribuição de Deus (2,26), o final dos homens e dos animais (3,19), a política (4,16), amor o dinheiro (5,9), a agitação dos desejos (6,9). Justos e ímpios são iguais (8,14). Nos infernos (Xeol) há nada (9,1) nem fica a memória dos antepassados 1,11; 3,19-21; 9,2; 9,5; A Qohélet fala contra o helenismo triunfante com as suas ideias eternas. A esperança só se encontra no cotidiano (9,7-9). A gente deve ver com o presente, nem com o futuro. (Ribla 39 p.79)
     e) A fadiga de Adam (1,3) (amal):
             Que proveito tira Adam, o ser humano, de toda sua fadiga com que se afadiga debaixo do sol?  Fadiga é a tradução do termo “amal” que significa afadigar-se, cansar-se, afanar-se. (3,9) Já os Gregos sabiam que uma das piores punições era trabalhar inutilmente. O exemplo é Sísifo, que devia rolar uma pedra até o topo de uma montanha, mas depois a pedra rolou sozinha para baixo. Sempre precisava começar de novo. Sísifo devia trabalhar no inferno, Qohélet fala deste mundo. Mas “amal” também pode significar adquirir e conseguir riqueza (2,24); A fórmula mais clara aparece em 9,7-9: “Pois essa é tua parte na vida e na fadiga (amal) com que te afadigas (amal) debaixo do sol”.
  f),  Que proveito  (yithron)?
            Que proveito de Adam (yithron)? A frase “proveito de seu trabalho” benefício, ganho, superávit, vantagem é exclusiva de Qohélet e aparece 9 vezes no  livro (3,9; 5,15).. Quando ele olha para trás e lembra seu trabalho e suas fadigas percebe que sobrou nada na hora de balancete. Que proveito, o que fica após o trabalho, quanto será o salário no fim do mês? Os Gregos tinham introduzidos o dinheiro.
  g) Coração contra a alma eterna:
A Qohélet critica a filosofia grega que considera a alma como  eterna e domina o corpo. Qohélet ao contrário fala de “Nefesh” que não é espiritual, mas material, é a garganta, o gogó. A coisa mais triste seria, se a gente não engole 4,8 e 6,2.  Quarenta vezes o livro fala do coração e não da alma, onde Deus coloca o sentido do tempo, mas parece um tempo fatal. ). O homem não pode  descobrir a obra de Deus (3,1-11). Isaias argumentou diferente: ¨Não falei em segredo¨ (45,19).
h) Crítica à retribuição, aos sacrifícios e votos,
Qohélet critica a tese clássica da retribuição temporal (316-22; 7,15-18). Há sorte igual para justos e malfeitores (8,14; 9,2;) O que fazer na casa de Deus: Escutar antes que para ofertar o sacrifício (4,17;) melhor não fazer votos (5,4;
  i) Sabedoria:
O rei de David buscava sabedoria (2,12-25). Sabedoria; nem no homem, nem na mulher: ¨Única coisa que achei: Deus fez o ser humano reto, mas eles procuram maquinações sem conta: 7,1-29; A sabedoria do pobre é desprezada: 9,13-18;.
   j) Finalmente uma perola da Literatura: 11,7 – 12,7.
            O jovem ande segundo os caminhos do seu coração. Os membros do velho se comparam com uma casa: os guardas são as mãos, moer alude aos dentes, o ruído do moinho são os ouvidos, a amendoeira florescendo de branco são os cabelos, o gafanhoto e a alcaparra aludem aos órgãos sexuais e ao prazer. Como o cântaro quebra na fonte, o coração quebra na morte. “O pó volta à terra, o sopro volta a Deus que o concedeu”.  
      Veja  Ribla  Nr 14  1993  p 50-72 Anna Maria Rizzante e Gallazzi, Sandro


                                            O ROLO   LAMENTAÇÕES  (Eiká = como? ou oh!)

            Os quatro primeiros poemas são alfabéticos.
O primeiro poema ”Oh”: Ela, Jerusalém, a bela Sião, mora agora na solidão como uma viúva, os amantes traíram a cidade. São os pobres depois da destruição de Jerusalém que lamentam a sua miséria.
O segundo poema “Oh”: Javé porta-se como um inimigo, multiplica para a bela Judá queixas e queixumes (2,5).
O terceiro poema: “Eu sou o homem que vê a humilhação sob a vara de seu furor”. Desta vez aparece um homem, ele é como o servo sofredor de Javé. Há muitas semelhanças com o Jó “esvaziou-se minha força e a esperança vinda do Senhor” (3,18). Jó (17,15) tinha falado “aonde foi a minha esperança?” Mas nas Lamentações ainda tem esperança “mas as bondades de Javé não terminaram” (3,22) “é bom esperar em silêncio” (3,26).
  O quarto poema “Oh”: “Foi por causa das faltas de seus profetas e das perversidades dos seus sacerdotes que se tem derramado, no meio dela, o sangue dos justos” (4,13).
Termina com uma oração: “Nossa água, bebemo-la a troco de dinheiro” (5,4), “Cai de nossa cabeça a coroa, oh, infelizes de nós, pecamos” (5,16) “faz-nos voltar a ti Javé e voltaremos” (5,21). Veja Isaias 62,4 “não dirão mais a ti ‘Abandonada’, não dirão mais da tua terra ‘Desolada’, mas te denominarão ‘Nela meu prazer’ e a tua terra ‘A desposada”.
            As lamentações se rezam no 5º mês do ano, começando com a Páscoa, lembrando a destruição do primeiro e - que coincidência - do segundo templo.

          O ROLO DE  ÉSTER: a beleza feminina vence o poder masculino

Numa espécie de conto o livrinho inspira-se no Êxodo, aqui revisto em clima de resistência dos judeus na Diáspora. Éster desmascara o abuso do poder dos privilegiados (entre 200-150). A atitude preconizada por Haman em 3,8 foi a do Antíoco IV Epífanes no ano 167.
Existem duas versões: a hebraica é completada pela versão grega (em grifo). Enquanto o livro hebraico não menciona, em parte alguma, o nome de Deus, malgrado uma alusão em 4,14, o texto grego o cita explicitamente, acentuando o caráter religioso e sagrado dessa história. Mas o mesmo silêncio recai sobre o Templo, a Tora, o Sacerdócio, o Sábado e Jerusalém.  
 O livro deve ter sido escrito no mesmo tempo que o livro de Daniel.

          O sonho de Mardekai, complô de Haman contra o rei 1,1a-r:
O primo e tutor de Éster Mordekai descobriu um complô contra a vida do Rei: Mordekai serve ao sistema, ele é leal e fiel, mas não se submete, não dobra o joelho. Temos a mesma situação como no livro de Daniel (Dn 3)., que com seus amigos não adora o Deus dos Babilônios nem estatuas de ouro
O Rei Artaxerxes rejeita a rainha Astin 1,9-19
e escolhe Ester, uma judia como esposa 2,5-23
Hamam quer eliminar a raça de Mardoqueu 3,1-8
Ester deve ser solidária com o seu povo 4,7-14
o pedido de Ester e a queda de Haman 7,1-10
Anulação das medidas contra os judeus 8,3-12
Interpretação do sonho inicial 10,3 a- 31 
            O rolo se lê na festa de Purim, fevereiro e março, o dia em que os Judeus obtiveram dos seus inimigos o repouso, a inversão da sua calamidade: a passagem de tormento para alegria, de luto para festa, de pogrom para libertação, de Shoa para uma vida nova.
  
A narração sobre Jonas, um profeta, pertence ao tempo grego, é semelhante a Ester, Judite e Tobit. Na mitologia grega também há um peixe. O livrinho se dirige contra a arrogância dos judeus na diáspora, aqui Ninive..

         5º DANIEL, ESDRAS E NEEMIAS, CRÔNICAS
  
          a) O livro de Daniel abre a série com o ponto mais baixo da república autônoma e igualitária sob o Reino de Antioco IV Epifanes, (175 –164), descreve a prática religiosa do judaísmo.
          b) Para analisar o presente precisava de uma retrospectiva: olhar o passado: Naquela época Esdras e Neemias promulgavam a Lei como constituição, exigida pelo rei dos Persas.(veja o final dos profetas)
         c)  As Crônicas descrevem o início de Israel até o edito de Ciro. Atribui-se o conjunto destas obras a um mesmo autor que é chamado “o cronista”, provavelmente um levita, hoje em dia questionada. A redação de Esdras, Neemias e Crônicas remonta de uma época 350 até 330 a.C.

                        Cronograma:
555-530: Ciro, rei dos persas, conquista Babilônia
538 Ciro decreta o retorno dos exilados (Esd 1, 1-11)
            O altar do templo em Jerusalém é reconstruído (Esd 3,2-3).             
520-515 Reconstrução do Templo sob Zorobabel e sacerdote Josué.(Esd 3,6-13; e 5,14-16)
            O profeta Ageu defende a restauração da monarquia, o que os Persas não admitiram.
 Zacarias: ¨Jerusalém deverá ficar sem muro¨ (Zc 2,8) um descendente de David, um messias, fica              para o futuro (Zc 3,8;). O grupo de Zacarias é crítico ao projeto da monarquia pré-exílica, ele tem um projeto, cujas raízes remontam à convivência ideal da época das tribos (Zc 2,1-4;)
Isaias III (58,6-10) você pode ler as injustiças e a opressão dos fracos. Os pobres, estrangeiros os    órfãos e viúvas eram oprimidos (Zc 7,9-10). Isaias III critica a construção do templo.
As obras do templo não foram adiante por causa da resistência dos camponeses e samaritanos, amonitas e moabitas (Esd 3,3 e 4). Segundo Esdras e Neemias ¨samaritanos¨ são todos aqueles que não foram para o exílio.  O ¨povo da terra¨ é uma referência não só aos pobres do campo, mas também aos povos estrangeiros misturados com eles (ochlos no Jo 7,49).
           515: Inauguração do segundo templo: O Santos dos Santos é só para o sumo sacerdote, O Santo e o altar são reservados aos sacerdotes, seguem os pátios dos homens, depois das mulheres e no final para  os estrangeiros, os gentios..
A intenção dos Persas: Jerusalém foi um escudo contra os ataques do Egito, uma fortaleza com muros só Jerusalém tinha um muro. Politicamente a província foi regida pelos Persas, mas também o Sacerdote devia rezar pelo rei persa e fica assim dependente do Império.
Em torno de 465 O livro de Malaquias: No livro ¨Meu mensageiro¨ aparecem tradições populares em meio à tradição oficial. Há defesa da lei da pureza (1,6-29), critica aos casamentos mistos (2,10-16), atenção ao templo (3,6-11). Por outro lado tem influência do Deuteronômio com a defesa dos empobrecidos (3,4-5)
445: Neemias vai para Jerusalém, construção da muralha (Ne 1-2)
430: Neemias e Esdras em Jerusalém, leitura da lei, reformas (Ne 8-10; 13)
428?  (398?): Promulgação da Lei  (Esd 7-8)  Reformas de Esdras (Esd 9-10)

a)   Crônicas

À primeira vista as Crônicas parecem ser uma repetição de narrações do Deuteronomista, mas se percebem muitas diferenças. 1 Cr 1-10 enumera as tribos com preferência de Judá  (2-4) com David, Levi (5-7) e Benjamim (8-10)  com Jerusalém. Quase a metade do livro é dedicado a David e Salomão, o fundador  e construtor do templo. Os reis David e Salomão são idealizados, se omitem os pecados deles. David, comparado com Moisés, faz de Jerusalém a capital, Deus é o único rei do povo e David assenta-se no trono de Deus, ele é o fundador do templo, enquanto Salomão o construiu, o cronista silencia o reino do Norte com a capital Samaria, contaminada pelo culto dos Baalim. 
O templo dá continuidade às promessas de Deus, não mais o rei.
            Os temas principais das Crônicas são o Templo e o Culto e os sacerdotes.  Os ministros do culto são membros da tribo de Levi, sejam sacerdotes descendentes de Aarão, sejam Levitas mesmos. O sacerdote Sadoc é apresentado como filho de Aarão (1 Cr 6,38). 
            Os levitas assumem o papel dos profetas, eles têm o dom do ¨espírito de Javé¨ (2 Cr 20,14-20), são chamados de ¨videntes¨ (1 Cr 25,5; 2 Cr 29,25-30). As crônicas colocam os levitas em lugar dos profetas.
            Apesar de que Javé reprovou os reis igualmente os chefes dos sacerdotes e do povo multiplicaram suas prevaricações e mancharam a cassa de Javé (2 Cr 36,12.14.) Por isso a destruição do Templo.
As Crônicas servem para uma preparação dos Judeus que serão dominados pelos Impérios. O papel do templo e do culto garante a continuidade da história do povo de Deus. Os lideres são agora os sacerdotes, as Crônicas terminam com o edito e Ciro que manda reconstruir o templo. Podem se entender as Crônicas como interpretação da Bíblia sob a ótica dos sacerdotes. O Pentateuco menciona 27 vezes os sacerdotes, Esdras e Neemias 53 vezes, as Crônicas 76 vezes.

                             b)   Esdras e Neemias

Os livros não foram escritos nos tempos das Persas, mas nos primeiros tempos dos Gregos. O livro quer colocar Jerusalém e o templo como centro do judaísmo pós-exílio. Os repatriados são o verdadeiro Israel em contraste com o povo da terra, os excluídos pela lei da pureza.
Os dois livros constituíam na origem um único livro. Contamos com duas grandes partes:      Primeira parte: Esd 1 – 6: a época de volta de Babilônia e a reconstrução do Templo com as personagens de Joschua e Zorobabel sob o rei dos Persas Ciro e Darius. Zorobabel, animado por Ageu, sonhou da restauração do reino dravídico. . O próprio objetivo da volta do Exílio foi a reconstrução do templo (Esd 1,2), daí a importância do sacerdócio (Esd 2,36-39), dos levitas e do pessoal, ligado ao culto (Esd 2,26-63)

 Secunda parte: Esd 7 - Ne 13:  a época da consolidação no interior sob o rei Artaxerxes I (464-424 a.C..) com as personagens de Esdras e Neemias. Esdras, filho de Sadoc (Esd 7,2), era um escriba perito na Lei de Moisés, veio depois 4 meses de viagem de Babilônia para Jerusalém com toda a prata e   o ouro para comprar oferendas para o altar da Casa de vosso Deus. Quem não cumprir a lei, seja morto. (7,11-26)
 Afastamento das mulheres estrangeiras (Esd 10) cfr. Livro de Rute. Esdras exigiu a observância rigorosa da Lei referente à vida dos judeus, ao templo, culto, da pureza.
  Esdras reaparece no  livro Neemias uma vez cap.8 e 9. Foi chamado o novo Moisés.

Neemias foi funcionário na corte do rei persa Artaxerxes I (465-423). Ele foi copeiro do rei e mandado para Judá. Ele fundou a autonomia de Judá, um território de 2.500 km quadrados (50 vezes 50 km) com uma população de 50 a 60 mil habitantes: os pobres da terra, estrangeiros e os repatriados de Babilônia. Ele deixa reconstruir o muro de Jerusalém com muitos sacrifícios e ataques pelos vizinhos (Ne 2,6). A situação econômica tinha piorado porque os Persas exigiram muitos tributos.
 Queixa do povo (do campo) e de suas mulheres, que devia vender os filhos e as filhas como escravos (Ne 5,1-5) em consequência se estabeleceu uma classe dominante e  rica.
Mas Neemias pratica o Deuteronômio, a República da Torá, ele pede aos funcionários e ricos para perdoar as dívidas do pobre (Ne 5,6-11), para criar igualdade entre irmãos (Ne 5,14-19).

Agora aparece Esdras, escriba (e sacerdote), o novo Moisés, trouxe a Lei de Moisés e leu-a na praça, que fica em frente da porta das Águas, fora do muro num grande lugar. Sempre todo o povo junto com os sacerdotes e levitas é mencionado (Ne 8). A palavra da lei de Deus é elemento central na Sinagoga, o Templo, altar e os sacrifícios não são mencionados aqui.
Este livro da Lei poderia ser a obra dos sacerdotes sadoquitas em Babilônia que são mencionados por Ezequiel (Ez 44,15) onde os exilados viviam no meio dos povos. Lá, durante um século se criou a Lei. Os Persas exigiram uma constituição, em todo ou em parte o Pentateuco atual, a primeira parte da Bíblia hebraica que na época de Esdras talvez já constituísse a Lei de Moises, cuja autoridade para o judaísmo se aumentará cada vez mais no decurso dos séculos subsequentes. Talvez em torno de 420 ou no ano 398 fosse celebrada pela primeira vez a festa das Tendas ou Cabanas ou Sukot. A festa se celebrava em setembro.
 Esdras, o escriba, e os Levitas disseram a todo povo: “Este dia é consagrado a Javé, a alegria de Javé será a vossa força” (Ne 8,10).  O povo estava convidado de comer e beber.
Após a leitura seguiu uma oração que reflete a história do povo até este momento e uma confissão dos pecados (Ne 9).
Depois da dedicação da muralha (Ne 12,27) Neemias efetua reformas conforme a lei de Moisés.

                       c) O LIVRO DE DANIEL

            Situação histórica:
O Império Helenista tinha submetido Judá e Jerusalém ao Helenismo, que foi um sistema mundial: politicamente, economicamente, ideologicamente. Os Persas deixaram as suas províncias com autonomia religiosa, o Império helenista controlou tudo: ”Ordenou o rei que em todo seu reino todos os seus povos formassem um único povo e renunciassem aos seus costumes”.
 O ouro representa o único deus, “Vos prostrareis e adorareis a estátua de ouro” (Dn 3,1-5). ”Há judeus... que não servem a teu Deus e não adoram a estátua de ouro” (Dn 3,12). Para os Persas o ouro foi um tesouro, guardado nos templos  guardando o valor dele, os Helenistas usaram o ouro como meio de pagamento, agora o dinheiro circula numa economia mundial.
A redação final do Livro de Daniel foi no tempo de Antíoco IV Epífanes (175 -164) que se refere a fatos históricos, só o que é narrado nos cap. 11 e 12 ainda deve acontecer. O autor conhece a profanação do Templo (167 a.C.) refere-se aos primeiros sucessos da revolta macabaia (11,34). Judá com seu templo-estado em Jerusalém parece ter se insuportável (168). Cresce a tensão entre aristocracia (sacerdotal e secular) e as vastas camadas da população, ¨forasteiros¨ sem direitos civis. Jasão comprou o sumo sacerdócio, até então hereditário (2Mc 4,7-10; 4,24;). É vendido a quem dá mais. Os impostos tornam se pesados; o templo é pilhado, um assassinato segue-se ao outro. Antíoco castiga Jerusalém por causa de uma revolta. Em 167 promulga um decreto, ordena-se a abolição do culto no templo e a anulação da lei judia. Foi erigido no templo o altar do deus Zeus (ídolo abominável (Dn 11,31). Sobre o procedimento de Antíoco informam 1 Mc 1,41-63 e 2 Mc 6,1-42. Agora Jerusalém se tornou diáspora.
Pequenos círculos de piedosos que se opõem contra os helenizantes transformaram-se em grupos de resistência, os chassidim (1Mc 2,42), Daniel os chama ¨maskilim¨, atentos, iniciados, mestres.Os “Chassidim” contam com a intervenção de Deus, eles tinham-se retirados para o deserto, o Áraba.
            
Apocalipse:  des-ocultamento ou re-velação:
 Os profetas, visionários e mensageiros, criticaram o comportamento da elite nos estados de Israel e Judá no tempo dos reis. A situação mudou com a destruição de Jerusalém: os Impérios tinham arrasado toda estrutura política de Israel. Trata-se dos impérios dos Medos, Babilônios, Persas, Gregos. Surgiu um novo modo de crítica: a Apocalíptica que é uma teologia de resistência, expressão de uma nova ¨piedade da pobreza¨ com uma grande força revolucionária.
A apocalíptica usa mitos, símbolos para interpretar o presente. Pseudônima (anônimo, pseudônimo, nome falso) é essencial deste gênero, os recursos às visões e sonhos apresentam um paralelismo com a literatura de adivinhação dos povos vizinhos. Os impérios mostram um crescimento do mal até que se revela o julgamento final com a chegada do reino de Deus. Daniel significa: Deus, meu juiz.
O livro está escrito em duas línguas: no Aramaico o capitulo 2-7 e no Hebraico o capitulo 1,1-2,4ª e 8-12. O aramaico foi a linguagem internacional, usada no Oriente: Babilônia, Pérsia e Síria até comum no tempo de Jesus, é a linguagem dos judeus na diáspora. Cap. 2 – 6 contam o comportamento de Daniel e seus amigos na diáspora. O hebraico é a linguagem em Judá e Jerusalém (8 – 12). O cântico de Ananias, Azarias e Misael (3, 24-90) e também o apêndice capítulos 13 e 14 foram escritos em grego. O livro recolhe tradições das comunidades da Babilônia e até palavras persas e gregas se encontram nele.
           
            Capitulo 1 – 2,4a  escrito em hebraico:  
            Dn 1 gira em torno da comida ritual: Daniel e seus amigos, ainda jovens, aprendem a resistir ao Rei de Babilônia. Será necessário comer ¨da mesa do rei?

            Capitulo 2, 4b – 7,28  escrito em aramaico:
             O quadro exterior são os capítulos 2 e 7, duas visões sobre os impérios, no final todos os reinos serão entregues ao povo dos santos de Deus (7,27). O quadro interior são os capítulos 3 e 6, que mostram a resistência dos judeus. O centro são os capítulos 4 e 5, duas visões sobre a relatividade dos impérios.  O Rei Nabucodonosor é o protótipo dos impérios que esmagam o povo de Deus.
 Os judeus da Diáspora querem animar os judeus em Judá para resistir ao mundo grego com a sua religião, cultura e economia. Os judeus em Judá vivem agora também na diáspora e são convidados a tomar o exemplo de Daniel e seus três amigos para resistir ao império grego que quer anular as tradições de Israel. No tempo do livro Antíoco Epífanes é o protótipo da opressão grega.

Nabucodonosor tem um sonho cap. 2:
Os magos, astrólogos agoureiros e adivinhos não conseguem adivinhar o sonho de Nabucodonosor. Daniel adivinha a grande estátua e a interpreta: ela tem cabeça de ouro, peito de prata, coxas de bronze, canelas de ferro e pés de barro. Esta estátua simboliza os impérios: Babilônia, Medos, Persa, Grécia e Síria; o Rei da Síria é Antíoco Epífanes cujo reino é de barro. Uma pedra esmigalha o que era de barro, de ferro e bronze, quer dizer o Deus do céu fará aparecer um reino que nunca será destruído. A sucessão da era de ouro para prata, bronze e ferro está conhecida na literatura, na qual  a história sempre está piorando.

Não adoramos o seu deus nem a estátua de ouro cap. 3:
Uma estátua de ouro foi colocada na planície de Dura Europos, uma cidade dos gregos, que ganhava importância nos caminhos de norte para o sul, do leste para o oeste.
Os três amigos de Daniel são ministros no Reino, servem ao sistema, mas não se submetem, resistem ao decreto de Nabucodonosor: “Existe o nosso Deus, a quem adoramos e que nos pode livrar da fornalha ardente; mesmo que isso não aconteça, fique sabendo que nós não adoramos o seu Deus nem adoramos a estátua de ouro” (3,17-18). A estátua de ouro simboliza a globalização da economia grega, o ouro é o Deus. Os cânticos 24-50 e 51-90 foram escritos em grego.
O martírio (3,23) é eficaz, o rei reconhece o Deus dos Shadrak, Meshak e Abded Negõ como libertador (3,29 ou 96).

Nabucodonosor tem um sonho: uma árvore gigantesca cap. 4:
Daniel, aqui com o nome Baltassar, interpreta a árvore rebaixada até as raízes: o dominador sem respeito ao Deus altíssimo será humilhado, se vira fera e come capim.

  Mené, Mené, Tequel Uparsim cap. 5:
É o declínio da era de ouro. Desta vez o Rei Belshasar, filho de Nabucodonosor, estava usando num banquete os utensílios do templo de Jerusalém, alusão ao Antíoco Epifanes que saqueou o templo.

Mené = contado: teu reino está contado. Teqel = pesado: o peso na balança é muito leve, o rei foi achado insuficiente. Uparsim = dividido: Babilônia vai ser dividida entre os Medos e Persas.
Daniel foi revestido de púrpura, Belshasar foi morto.

   Daniel na cova dos leões cap. 6:
  Agora Dario, o Medo, está no poder, é a era de prata. Contra a ordem do Rei Daniel reza três vezes por dia ajoelhando-se na frente da janela que dava para o lado de Jerusalém. Denunciado foi jogado na cova de leões. Intima conexão entre martírio e juízo: implica no julgamento e na morte daqueles que mandaram a morte. 

 Daniel tem um sonho cap. 7:
 Agora Daniel é apenas um espectador, um narrador dos acontecimentos. No capitulo 2  Nabucodonosor tinha um sonho de uma estátua fabricada de metais, agora no sonho de Daniel os Impérios são feras que surgem do mar (símbolo do mal): Babilônia é um leão, os Persas são leopardos. A fera medonha, que surge depois, significa o império de Alexandre, os 10 chifres são os Selêucidas, o chifre pequeno é Antíoco Epífanes.
  O Império Helenista é uma fera medonha, terrível e forte, com olhos humanos e uma boca que falava com arrogância. Os olhos são os cúmplices de Antíoco, a boca são os decretos dele.
 Apresentando o julgamento Daniel segue os traços de Ezequiel: tem o trono, relâmpagos, um ancião com cabelos brancos (avançado em dias) milhares que serviam e os livros foram abertos: a quarta fera foi aniquilada, das outras feras foi tirado o poder, para elas sobra só um tempo limitado.
Outro sonho de Daniel: dentre as nuvens alguém como o Filho do homem chegou até perto do Ancião: o seu Reino é para sempre, não tem limites. Ele representa os Santos do povo do Altíssimo. O conceito do filho do homem aparece em Q e nos Sinóticos, também no conceito da ressurreição, são conceitos apocalípticos. A crítica radical a todos os Impérios reaparece no Apocalipse de João.

Tudo isso deixa Daniel apavorado, ele quer mais uma explicação (7, 17) o essencial foi repetido: não se fala mais do Filho Humano nem da matança da quarta fera. Os santos do altíssimo receberão o reino. Santo tem menos sentido religioso e mais sentido político: realizar a justiça e o direito, realizar a república da Torá.
Em 7,25 se fala de um tempo, dois tempos e meio tempo = três anos e meio, o culto helenístico no templo em Jerusalém demorou três anos e dez dias.

Capitulo 8 – 12: Escrito em Hebraico Agora não há mais o exemplo da diáspora, mas as visões são para os habitantes de Jerusalém e Judá.

O Carneiro e o Bode cap. 8:
O capitulo 8 retoma a visão do capitulo 7, mas agora os Persas são comparados com um carneiro enquanto o bode é  Alexandre e seus sucessores, seu Reino foi dividido em quatro partes, por isso quatro chifres. O chifre pequeno é Antíoco Epífanes e o seu reino vai durar duas mil e trezentas tardes e manhãs (8,14) = 1.150 dias, não tem explicação porque os três anos e meio são  aqui 1.150 dias e não 1290 dias.

Gabriel sempre interpreta a oração de Daniel cap. 9:
Continuam os cálculos, fundados num texto bíblico (Jr 25,8.11.12.) Como na oração de Esdras (Ne 9) Daniel confessa os pecados da história 9,4-19, é uma liturgia, celebrada em tempo de perseguição.. O livro não menciona o nome de Javé, em vez fala do Deus do céu (2,18 ss.) e “Senhor, Deus de nossos pais” (3,26; 3,52). Agora Javé é o Deus universal que entrega seu domínio aos príncipes (bons ou maus) dos diferentes povos.  No final Gabriel avisa a devastação do templo por Antíoco.

Capitulo 10 – 12: A grande visão final:

 Uma aparição angelical cap. 10
 Aparece um homem, vestido de linho (10,5) que transmite a mensagem: chega o combate contra o príncipe da Pérsia e depois contra o príncipe da Grécia. Quem dá a força ao povo contra esses impérios é Mikael (quem como Deus?) ele é o príncipe de Israel.
Os que são atentos cap. 11
 Relato da história do tempo dos Persas até o reinado de Antíoco IV, começando no versículo 21.  Ao retorno do Egito Antíoco pilha o Templo (vers.28), e se alia com aqueles que abandonam a Aliança Santa, quer dizer com os judeus helenizantes (11,31-33). Eles farão cessar o sacrifício perpetuo e instalarão a abominação devastadora: o culto é interrompida no outono de 167, o Templo é consagrado ao culto de Zeus Olímpico em 7 de dezembro 167 (2 Mc 5,15 – 6,17) “Com lisonjas ele (Epífanes) perverterá os que violam a aliança, mas o povo dos que conhecem o seu Deus agirá com firmeza. Os que são ‘atentos’(maskilim) do povo fazem muitos atentos” por isso os atentos serão perseguidos. Há mártires: cairão pela espada e o fogo (2 Mc 6,18-7,42). Antíoco abandona o culto dos deuses sírios¨(11,37) se diviniza. Em suas moedas está escrito:¨Antíoco, deus manifestado (epifanes)¨.

O combate final cap. 12:
Mikael (Quem como Deus?) se levantará e protegerá o povo. Muitos que dormem no pó despertarão,  primeira referência à ressurreição (12,1-4), mais explícita em 2 Mc 7.
Mas ainda é tempo de perseguição: “muitos serão separados... os ímpios não entenderão, mas os “atentos” compreenderão” (12,10)
Em 12,11 se fala de 1.290 dias ou um período, dois períodos e meio período, são três anos e meio. O ano foi contado 360 dias, serão exatamente 1290 dias. Isto significa o tempo desde a cessão do culto de outono 167 a.C. a 14 de Dezembro 164 com a purificação do templo. Na realidade o culto helenístico demorou 3 anos e dez dias. Porque em 12,12 mais 45 dias? Para Daniel a dedicação do templo pelo Macabeu Jeudá não podia ser o final, mas só uma etapa. O Macabeu  Jonatan apesar de ser Rei se fez sacerdote, isto é para os fiéis da Torá, os Chassidim, um sacrilégio e por isso estão em oposição aos Macabeus e não tratam a dedicação do templo como o final, por isso terá mais um tempo de 45 dias.
 (Hans de Witt: ¨Brilharão os entendidos¨ Ribla 35/36 p.136)

          Apêndice: Historia de Susana (Dn 13 em grego) e contas sobre Daniel (Dn 14).

6) Os Deuterocanônicos


Entre 80 e 100 d.C. os mestres judaicos de obediência farisáica excluíram os Deuterocanônicos da lista oficial (Canôn) em Jâmnia: Ester (grego), Judite, Tobit, 1 e 2 Macabeus, Sabedoria, Sirácida, Baruc, Epístola de Jeremias.
  
 Judite:

Uma novela subversiva: a viúva Judite quer chamar os diferentes grupos para a verdadeira aliança. Ela mora em Bet-úlia (casa de Deus), localizada na Samaria. É o tempo da dinastia dos Asmoneus 142 a.C. O livrinho está escrito em grego, que é um midrash, um comentário à Torá, no qual um núcleo, que pode ser real, é tratado com muita liberdade, pode se falar de parábola (TEB).
 Nabuchodonosor, aqui como rei em Ninive e Holofernes, nome persa, seu general  representam os grandes conquistadores do passado. Alerta e orações na Judéia e Samaria (4,1-15). Holofernes convoca seus conselheiros. Entre eles está Aquior, comandante dos filhos de Amon, informa sobre a história de Israel (5,1-21). Aquior foi expulso para Betúlia (6,10-21) que foi sitiada e bloqueada por Holofernes (7,1). Os sitiados não tinham mais água e gritam “súplicas ao Senhor Deus” (7,21-32).
  Judite se levanta e critica os chefes de Betúlia. Ela é como Mirjam (Ex 15), e Débora (Jz 4-5), ela como verdadeira profetiza desmascara os pecados dos responsáveis do povo que colocam Deus à prova, ela vai agir (8,11 -36).
“Quem como Deus”?  Na sua oração (9,2-14) ela reza: ”Senhor Deus... Tua força não está no número, nem tua autoridade nos guerreiros. Tu és o deus dos humildes, o socorro dos oprimidos, o protetor dos fracos, o abrigo dos abandonados”.
Ela passa de Betúlia para os inimigos. No banquete de Holofernes ela cortou-lhe a cabeça (12,10-13,10).
 O sumo sacerdote viera de Jerusalém para saudar Judite (15,8).. Em Jerusalém ofereceram holocaustos (16,18-20).


Tobit e Tobias:

Por meio da história de Tobit e Tobias, deportados para a cidade Ninive, deportados típicos, o autor quer fornecer aos seus irmãos isolados um ensinamento religioso. uma romance popular, inspirada na tradição sapiencial.  A observação das numerosas analogias com Sirácide pode dar visos de probabilidade a uma data situada por volta de 200 a.C. (TEB)
 Já no início foi colocado o ensinamento de Tobit: “Segui os caminhos da verdade e pratiquei boas obras” (1,3). Ele pratica a Torá, “o guia do caminho”. Aicar, sobrinho de Tobit, é na verdade um sábio de origem assíria. . Tobit cita a máxima, chamada “regra de Ouro”: “O de que não gostas, não o faças a ninguém” (4,15), é a sabedoria de Aicar, conhecida no Budismo e Hinduísmo
Tobias busca um companheiro para a viagem (5,4-10).  Os executores dos desígnios de Deus são os anjos, agora com aspecto humano. Rafael significa: Deus cura. No caminho pegam um peixe e recolhem o fel, coração e fígado que servem para a cura (6,1-9). Eles encontram Ragüel com a filha Sara da qual sete maridos tinham morrido (6,14-19). A noite das núpcias (7,15-8,5). A cura de Tobit:11,1-13
A família é a célula na qual se transmite a herança do povo. Trata-se da realização da justiça no meio dos povos: louvor a Deus e pratica de misericórdia (14,8).
O ambiente do livro é dos antecedentes: como Isaac, Jacó, Josè, Abraão (Gn). Tobit relê o seu destino á luz dos profetas. Jerusalém será reconstruída, tornar-se-á o centro das nações (14,5-7)..

Sirácida:

 O autor se chama Ben Sirac e vivia por volta de 200 a.C. em Jerusalém, sua obra remonta a 180 a.C. Ben Sirac foi um escriba tomado desde a juventude pelo amor à lei e preocupado em comunicar os frutos de sua meditação aos outros, até abrindo uma escola (51,23). Tem devoção evidente ao Templo, ao sacerdócio e ao culto 50,1-24.
  Seu neto traduziu o livro para o grego em volta de 132 a.C. O livro começa com um  prólogo ou introdução 1 a 35.  Ele conhece a distribuição da bíblia em três partes: Lei, Profetas e os que os seguiram, os escritos (1. 8. 24.).
   Ben Sirac sabe do perigo do Helenismo, que quer acabar com a religião dos judeus, por isso defende a cultura judaica. Reconhece-se em Sirac a influência de Jô e dos Provérbios. O livro está ao menos dividido em duas partes: 1-23 e 24-50.
 Tema central é a Sabedoria com o temor a Deus (1,1-30 e cap.24). A sabedoria é personificada e pergunta: “Em que território poderia eu instalar-me?” Proposta para todos os povos: a Sabedoria instalou-se em Israel 24,7. A Sabedoria identificada com a Lei é a Shekiná “a presença divina” no Judaísmo.  Para os rabinos a sabedoria é pré-existente (veja João 1,14).

   A Sabedoria está com os escribas e estudiosos não com os trabalhadores 38, 24-33. Deus é Pai 17, 17 e 24, 12 o homem é a fonte do mal 15,11-13 e 21, 27.
  O trabalho intelectual é superior ao trabalho manual (Sr. 38,24 até 39,11). O intelectual além de ser rico será sábio e guiado por Deus. O que este livro fala sobre a mulher é puro machismo 25,13-26,18; e 42, 9-1;. Ao menos cap. 26,13-‘8; e 36,26-31; falam do valor da mulher.
 Cap.28, 1-7 fala do perdão, já vislumbra que todos os homens são irmãos. A exegese judaica antiga compreendeu às vezes Lv 19,18 da seguinte maneira: “Amarás o teu próximo como a outro tu mesmo”. (TEB na introdução de Sirácida)
Os versículos do cap. 34,21-27 que criticam sacrifícios de injustiça motivaram Las Casas para defender os Índios.
 A partir do cap.42,15 começa o elogio da das obras de Deus e de 44 até 50 o elogio dos antepassados até o Sumo Sacerdote Simão, pai de Onias III que foi o último sacerdote sadoquita.
 Falta a esperança na ressurreição, porque ainda não houve a perseguição por Antíoco Epifanes, falta reverência às idéias messiânicas.
 O livro foi muito usado pelos Judeus nas festas litúrgicas (Kippurim perdão), contem 18 bênçãos 36, 1-17. Porém o livro não foi reconhecido no cânon em Jâmnia no ano 90 d.C.

Baruc surge de uma comunidade da diáspora (Antioquia?) depois 164 a.C.

                                       Os livros dos Macabeus:

              1.Macabeus:
  O autor é um judeu, o original do livro é semítico e escrito em volta de 100.
 Antíoco IV Epífanes (175 -164) castiga Jerusalém por causa de uma revolta. Em 167 promulga um decreto, ordena-se a abolição do culto no templo e a anulação da lei judia. Foi erigido no templo o altar do deus Zeus: ¨a abominação da devastação ¨(1,54;) (ídolo abominável (Dn 11,31). Agora Jerusalém também se tornou diáspora. 1 Mc 1,41-63.
No pós-exílio a casa de Sadoc manteve o cargo do sumo-sacerdócio por sucessão hereditária até Onias III (175 a.C.). Jasão usurpou o pontificado, havendo prometido ao rei Antíoco Epífanes IV  dinheiro (2 Mc 4,7-10).
   Mas a fé no único Deus depende da sobrevivência da comunidade. Muitos desceram ao deserto, são as grutas do deserto de Judá, a oeste do mar Morto, deu origem aos Essênios (1Mc 2,29-38). Os heróis são os combatentes e diplomatas que desejam que nenhum hebreu seja submetido ao martírio. O tema é a resistência contra a nova cultura helenista. Quem salva Israel, é “o céu“, não se fala de Deus.
   Matatias, um sacerdote, cujo avô se chamava Asmoneu, com cinco filhos (João, Simeão, Judas Macabeu, Eleazar e Jônatan), começou com a resistência contra Antíoco IV (2,1).
 Judas Macabeu, 3 anos depois (166-160), purificou o Templo (4,36-61; e 2 Mc 9 e 10,1-8);) após a morte de Antíoco.  Celebra-se a festa da dedicação do templo: Hanuká, por volta de 14 de Dezembro 164 a.C. No livro de Daniel (12,11;) se fala de 1.290 dias ou um período, dois períodos e meio período, são três anos e meio. O ano foi contado 360 dias, serão exatamente 1290 dias. Isto significa o tempo desde a cessão do culto de outono 167 a.C. a 14 de Dezembro 164 com a purificação do templo. Na realidade o culto helenístico demorou 3 anos e dez dias.
 Sob Jônatan (160-143), constituído sumo sacerdote (1 Mc 10,20;) já tinha fariseus, saduceus e essênios. Simão o sucede. Como Sumo sacerdote e etnarca (caps 13-16), ele renovava a aliança com Esparta e Roma (14,16-24). Até 153 os Selêucidas nomearam os sumos sacerdotes.

    2  Macabeus:
    O autor do segundo livro é um judeu da diáspora, ele não identifica a religião com patriotismo e se mostra bastante frio aos Asmoneus. Ele serve-se de duas cartas para preconizar a celebração da Dedicação do Templo (10,1-8), a data da carta mais recente corresponde a 124 a.C.
 Seus pensamentos estão próximos das crenças dos fariseus. Todos os acontecimentos da história são interpretados como efeitos da vontade de Deus. A criação é feito de nada (2Mc 7,28) A concepção da ressurreição, corpo e alma, é dos fariseus: o martírio dos sete irmãos (6,18 – 7,42).
 De grande importância é o templo e a eficácia da oração e do sacrifício para expiar os pecados dos  mortos ( 12, 40 - 45 ).
 Parece que os Rabinos de Jâmnia em torno de 80 d.C. não aceitaram os livros na lista canônica por causa à frieza aos Macabeus.

Com ajuda de Roma os Macabeus  ganham  independência dos Selêucidas, os Sírios 142 - 64:  Os Asmoneus são reis e sacerdotes na mesma pessoa, o que os chassidim (partido da Torá) não aceitaram.  Os fariseus e o outro grupo dos Essênios se separaram dos Macabeus e se retiraram para o deserto esperando um messias. Os Romanos se aproveitaram dos Macabeus para apaziguar a Síria. No ano 64 em Antioquia Pompeu rebaixou a Síria a província romana e 63 tomou Jerusalém.    
A partir de lá, sob os Herodes, entronizado 37 a.C. pelos Romanos, (seus filhos: Arquelau, Herodes Antipas e Agripa) reina até 4 d.C.  O Sumo Sacerdote recebeu maior valor político. Anãs foi nomeado sumo sacerdote 6 a.C. e deposto 15 d.C. 5 filhos e o genro dele, Caifás, foram sumos sacerdotes.


Sabedoria
O livro foi escrito em torno de 50 a.C. O autor é um poeta, que conhece profundamente os textos bíblicos, sem usar muitas citações. Ele conhece a filosofia grega, parece conhecer Homero e Platão: seus pensamentos são característicos dos judeus alexandrinos.

 O livro começa com uma advertência aos governantes:“Amai a justiça, vós que governais a terra”. Os ímpios dizem: “A nossa força será regra da justiça”. 1,16 – 2,11.
 O justo pobre incomoda os ricos: ¨Condenemo-lo a uma morte infame¨ (Sb 2, 12-20).
 Pela inveja do diabo a morte entrou no mundo (2,21- 24).
A justiça é o ideal israelita, os justos esperam a imortalidade (3,4), pela primeira vez surge a imortalidade, um termo da filosofia grega.
A imortalidade da alma dos justos parece dar uma resposta às perguntas de Jô: as almas (3,1-12)  perseguidas na terra gozam de tranqüilidade perfeita junto de Deus e no dia de juízo serão com Deus.  A doutrina da ressurreição corporal (Dn 12,2 e 2 Mc 7,9) parece presente em 3,7 e 5,15.            
Personificação da Sabedoria: O autor retoma o texto dos Pr 7 - 9.  A Dona Sabedoria é artífice (construtor) do Universo (7, 22), ela é uma esposa ideal (8,2) A Sabedoria  prefigura da Espírita Santa (1,6; 7,7.22-23; 9,17). Ela ensina moderação, prudência, justiça e coragem, que são as quatro virtudes gregas cardeais, a única citação na Bíblia.



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