terça-feira, 21 de janeiro de 2014

VIDA DE MARTIN HUTHMANN

Vida de Martin Huthmann 

         Data do Nascimento: 27 de dezembro de 1931 Local: Offenbach/ Main – Alemanha.
Filho de: Dr. Pihlipp Huthmann e da Anna Maria Oster.  Quando eu olhei a luz do mundo eu já tinha duas irmãs, Helena com três anos e Ursula com um ano, agora o grande orgulho dos pais:  “Um menino nasceu”.    
1934 – Mudança para Hildesheim, onde me lembrei de Adolf Hitler passando a cidade. Até hoje eu  guardo a imagem desse  novo líder “Adolf Hitler” como ele passava num carro aberto pela rua e todos gritavam: “Heil Hitler”, nas mãos nas mãos bandeiras com a suástica dos nazistas, as guardas da costa ¨SS¨  em marcha , fanfarrões. Este foi o primeiro encontro com os “Nazistas”, devia ser no ano 1935. Os Nazistas tinham roubado a história dos imperadores da idade média, para se identificar com a glória daquele tempo.
1936 – Mudança para Berlin,. Em 1936 nos mudamos para Berlin – Bairro  Lichterfelde, visitei os 4 anos da 1º série escolar,  no início numa escola católica num outro bairro.
Um dia não tinha o ônibus para a volta da escola. Com o meu amigo voltamos a pé. De repente uma aglomeração numa rua: Muita gente, policia, soldados SS.  Vidros de lojas foram quebrados. Eu vejo um menino triste e perdido com um manto preto com a estrela judaica. Foi o dia após “a noite dos cristais”, a noite em que as lojas dos judeus foram destruídas, foi o dia 09 de novembro de 1938. Em pouco tempo eu completaria sete anos. Este menino ficou gravado em minha memória, ainda não entendia o que estava acontecendo. Mas tudo formou a minha convicção contra o poder do estado. 
A mãe rezava conosco de manhã e à noite, nós fomos para as  missas e celebrações na igreja da Sagrada Família, muito mais ainda no tempo do Advento. Uma vez eu não quis ir para a missa dominical. Mas meu pai que não era católico e não frequentava a nossa igreja, falou para me: “Se você prometeu uma coisa, você precisa cumprir”. Estas palavras marcaram minha vida.
Nossa igreja “Sagrada Família” estava encostada ao quartel dos guarda-costas de Hitler: “SS”. Eu estava confrontado com dois sistemas: a igreja e o Nazismo. O que eu escolheria? Anos depois minha mãe me lembrou, que eu sempre tinha falado: “Lá estão os meus inimigos.”
            Minha primeira comunhão foi no ano de 1940. Naquele dia eu prometi a Jesus, só pertencer a Ele e a Igreja e um dia ser presbítero. Claro que não falei a ninguém este segredo.
Como todos os jovens eu entro num grupo do Jungvolk (povo jovem) – Juventude dos Nazistas – brincadeiras, marchas na rua, esportes, tudo o que um jovem gosta. No outono de 1939 começou a secunda guerra mundial, primeiro contra a Polônia,
 Na casa, onde nós morávamos, havia também uma família judia Simon. Eles nos apareceram bastante estranhos, tínhamos certo medo deles, foram diferentes. Um dia o Senhor Simon sumiu, havia muitos boatos, mas não sabíamos que ele foi sequestrado para um campo de concentração, onde ele morreu. As filhas dele podiam fugir para a Inglaterra. Toda a perseguição dos Judeus marcou inconscientemente a minha admiração pelo povo de Israel e pela  Bíblia.
           Nasceu a minha vocação presbiteral em confronto com  a ideologia nazista, representada pela caserna de guardas costas (SS) de Hitler em frente da igreja. Houve várias tentativas de “Hitler-Jugend (juventude)” de me puxarem para o lado deles.
1943 Evacuação para a Alemanha Este (Hinterpommern) por causa dos bombardeios dos Ingleses e  Americanos. Lá sempre nós passamos as férias de verão numa fazenda de parentes e ficamos lá.
            Complicado foi o caminho para a escola. Levantar às cinco horas, 4 km de bicicleta para a estação, uma hora de viagem no trem, depois para a escola. Almoço não tinha, às 16 horas foi a volta. A vantagem: sobrou bastante tempo no tremo  para fazer as tarefas escolares
            .Em janeiro de 1945 liga o pastor evangélico: “Se os Huthmanns querem fugir, façam isso logo, pois os Russos começam a cercar a nossa região”.  Na mesma noite minha mãe  buscava o necessário e de madrugada fomos para a cidade de Stolp. A distância de Stolp a Berlim é mais ou menos de 300 km, mas a viagem demorou ao menos dois  ou três dias por causa dos ataques aéreas.
     9 de Maio 1945 fim da guerra, Berlin estava destruída e mudamos para Colônia onde meu avô ainda tinha sua casa intacta. 4 vezes tive que mudar de escola no 2º Grau. A cidade estava ao menos 90% destruída, não existem mais estradas, só montes de destroços. Graças a Deus meu avô organizou carvão para a casa, não precisamos passar frio. A maioria dos habitantes roubou o carvão destinado para os ingleses. Mas o Cardeal Frings declarou que isto não era pecado. Agora a gente foi “fringsen” (organizar, não roubar).
Eu ajudava ao meu avô na casa e no jardim. Ele era médico e visitava de bicicleta os seus pacientes. Nos domingos muitas vezes nós dois fomos juntos para a missa. Ele profetizou que eu um dia seria Arquiteto, mas sempre me chamou de sumo sacerdote, como ele tinha razão! Uma vez ele confessou para mim: “eu nunca falei ¨Heil Hitler¨, mas eu não lutei ativamente contra os nazistas. Isto é a minha falta”, eu achei isto fantástico.
 No verão de 1949 nós mudamos para a cidade de Memmingen na região de Allgäu. Novamente um caminho complicado para chegar até a escola em Kempten, quase doze horas fora de casa. Antes de iniciar a aula sempre achei tempo para participar de uma missa. Os colegas me perguntavam: “porque você não está namorando, você tem tantas chances?”, eles não sabiam o por que.
No verão 1951 terminou o tempo de estudos, foram quase 13 anos e eu tinha a mudar as escolas sete vezes durante este tempo de estudo. Sempre novos professores, colegas e o quadro de estudos.
Agora revelei aos meus pais: vou estudar teologia.  Será que eles já imaginavam isto?
1952-1958: Eu comecei os estudos na cidade de Munique com a filosofia e teologia, um tempo gostoso, aproveitei da liberdade da Universidade, mas eu preciso buscar um Bispo e decidi me incorporar na diocese de Colônia. Estudo da Teologia em Bonn e no Seminário Grande em Bensberg. Durante as férias eu trabalhava: na construção como pedreiro, nas minas de carvão 800 metros abaixo da terra, na fábrica de carros da empresa Ford, tudo para conhecer a vida dos trabalhadores.

      
. A igreja tinha perdida o mundo dos trabalhadores e eu queria conhecer a vida deles. Mais cansativo foi um trabalho durante a noite num moinho de ossos.
             Nos 24 de fevereiro do ano 1958 fui ordenado presbítero na Catedral de Colônia.
1958-61:  Vigário em Bonn.  Naquela época ainda existia um catolicismo intacto. A missa  foi rezada com as costas ao povo. Para a pregação o pregador subiu um púlpito, bem em cima do povo. De lá a voz do sacerdote podia atingir toda a comunidade denunciando os pecados do povo.  (O púlpito significa em alemão “ Kanzel”, a palavra ”cancelar”  explica bem esta situação).  O celebrante podia pecar cinqüenta vezes durante a missa, se não observasse as leis do rito (assim aprendemos no Seminário)
1962-71: O bispo transferiu-me para a pastoral militar. Eu fui chamado pelo Vigário Geral da pastoral militar Werthmann: ele me explicou: Eu preciso de um Padre que acompanha os marinheiros dos destróier. Os marinheiros são evangélicos ou ateus, longe de sua pátria andando no mar. Provavelmente você não poderá celebrar a Missa nem dar sacramentos. Simplesmente você vai representar a igreja que não esquece os afastados. “Seja um irmão e companheiro deles” Werthmann conhecia a vida de Charles de Foucauld, como ele anunciou o Evangelho pela vida. De lá veio a intuição dele.. Aceitei essa missão, não foi isso exatamente a vocação  da nossa Fraternidade Jesus Caritas viver no meio do mundo dos mais afastados? 
              Fui nomeado Capelão da Marinha Alemã assistindo mais do que 20 “destróyers” com 220 tripulantes por  navio. As vezes andava 400 km para celebrar a eucaristia num navio com 3 ou 4 homens, não tinha mais nenhum poder. 1968-71:  Capelão de uma escola da Marinha em Plön.
    1972-82:  Vigário dos estudantes da universidade de Bonn.  Meu desejo era morar  com estudantes, como aconteceu na marinha.. Paul  Epping, membro do grupo das famílias, foi o secretário de obras da cidade e sabia o que fazer: Um dia visitamos o antigo prisão para mulheres, este prédio tem mais do que cem anos, no tempo dos  nazistas foi  usada para torturar os comunistas. Agora asilo para os sem teto. O porão, antigamente usado para punição ou tortura dos presos, agora cheio de lixo e ratos, entrada sem porta, três andares, alguns quartos queimados, e sótão, onde choveu dentro, sem piso. Falei sim, eu vou morar nesta casa. A reforma custaria muito dinheiro. Pedi ajuda da diocese, mas ela me deu cartão vermelho, No sótão construí uma capela, onde nós fundamos a primeira comunidade de base que até hoje existe. No ano de 1982 compramos a casa e dedicamos a Oscar Romero para viver e trabalhar no seu espírito.
         Na comunidade existiam muitos grupos de trabalho sobre os problemas da sociedade, da política, sobre o rearmamento, religião, bíblia. Aprendi trabalhar em grupos, não tinha clericalismo. Todos nós formamos  uma verdadeira comunidade de base, que decidiu tudo em comum. Num final de semana refletimos sobre a teologia e prática da libertação O Evangelho de Solentiname de Ernesto Cardenal foi o nosso alimento espiritual. Nós nos perguntamos: Não é um desafio ir para El Salvador ou para o Brasil, para o terceiro mundo? Mas queremos lutar contra as estruturas capitalistas em Europa. 
No grupo dos pacifistas lutamos energicamente contra o rearmamento com foguetes de médio alcance. Com procissões na praça da cidade, em frente Martin com a cruz. Isto foi demais para os estudantes da direita e os católicos conservadores da cidade de Bonn. Discussões com o Cardeal Höffner: “Vocês só são um pequeno grupo, o Papa João Paulo II mostra o caminho certo, tudo deve acontecer de cima para baixo: bispo, pároco, professores e finalmente os estudantes. Assim a igreja atinge a todos”. (Ou ninguém). O bispo não tinha mais confiança em mim. A minha despedida estava decidida, foi o início do ano 1982.
Quem seria o meu sucessor Os estudantes nem podiam dar uma sugestão sobre um sucessor. O Cardeal argumentou: “Se eu quero padres que não podem casar, preciso dar para eles poder”.  O   candidato do Bispo casou meio ano depois.
Na minha despedida me doaram uma mochila argumentando eu iria para a América Latina. Como eles podiam falar isso? Meu futuro estava incerto. A comunidade continuou lutando, até que a diocese de Colônia acabou com tudo.
 O trabalho dos pacifistas continuou, mas, agora na casa Oscar Romero. Várias discussões até meia noite, como nós poderíamos organizar a resistência. Os grupos cristãos tinham medo que poderíamos usar  violência.  Eu sempre devia liderar as discussões. Finalmente decidimos, ocupar a avenida para o Ministério da Defesa com flores e pães nas mãos. Nós fomos pacíficos demais.  Eu fiz cinqüenta e um anos.
Fomos uma comunidade profética nas cruzilhadas do mundo.  A igreja não está mais em cima do mundo com a sua doutrina, ela acompanha a sociedade do mundo na luz do Evangelho (Paulo VI).

           Outubro1983: Ao convite do Bispo Dom Osório de Rondonópolis mudei para Jaciara - MT/Brasil no final de Outubro para ajudar o Padre Günther Lenbradl. Demoraram 7 anos até conseguir o visto permanente. Problema principal: aprender e entender a língua portuguesa: “Eu não entendo nada o que o povo fala, e o povo entende absolutamente nada o que eu falo”, fiquei desesperado. Eu me senti como uma criança, totalmente dependente, não sabendo nada. Precisava começar de novo, com 52 anos. Comecei a conhecer a paróquia com suas diferentes comunidades nos bairros e no campo. Não foi a intenção do Padre Günther de presidir um centro poderoso na matriz, mas sim servir às comunidades de base.
Em 1989 Pe Günther foi transferido para ser Orientador Espiritual no Seminário em Campo Grande-MS.   Eu estava admirado que o Bispo me colocou agora como Pároco de Jaciara. Tinha ele tanta confiança em mim? O tempo da minha ajuda durante cinco anos já se tinha esgotado. O Bispo tinha confiança!
            “O que sou para vocês me assusta”. Pela primeira vez na minha vida fui Pároco com todos os direitos e poderes. Eu que nunca quis poder, tentei não abusar do poder, minha vida devia ser um servirço. Os Presbíteros no Brasil definiram bem o papel do padre: o Presbítero não é dono da Comunidade, ele deve coordenar os diferentes dons que existem em cada comunidade. “O que sou com vocês me consola”. O povo de Deus, a comunidade de base é a graça. A base é o povo dos empobrecidos que não tem voz nem vez, que são objetos e não sujeitos da história. A Igreja antiga disse “fora da Igreja não tem salvação”. João Sobrino num livro diz assim: “fora dos pobres não tem salvação”. Nunca esqueço as palavras Dom Elder Câmara: “Não para o povo, mas com o povo e como o povo”.

            Cursos bíblicos Eu comecei a organizar cursos bíblicos para a Diocese de Rondonópolis em Fátima de São Lourenço, três vezes por anos no final de semana. De Jaciara participavam  na maioria jovens. Foi para se divertir no final de semana? Mas sempre caíram algumas migalhas da mesa da Palavra de Deus. Os cursos começaram no ano de 1989, sem falhar um ano sequer, depois passamos os cursos Bíblicos para Jaciara na Comunidade Nossa Senhora Aparecida.
              “Se soubéssemos ouvir a tua voz não iríamos andar, somente 1 km, mais 2 km. Muito obrigado por fazer nos entender  a Bíblia Do Gênesis o Apocalipse.” Estas palavras foram  da Argene da comunidade São Sebastião na minha despedida como pároco.
Pedro Casaldáliga falou sobre Oscar Romero: “O povo te ensinou a entender a bíblia.” Aconteceu comigo a mesma coisa, apesar dos meus estudos aprendi com o povo o sentido das palavras de Deus. Os exegetas  da classe média em Europa pensam diferente, porque não entendem a vida dos pobres na Bíblia. Os estudos da Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana (Ribla) me  ajudaram na interpretação.

Mudança para a ARCA da Aema; a Associação ecológica e meio ambientalista: A Arca se encontra num lugar afastado no Bosque de Jaciara. Eu decidi morar na Arca em abril de 2006 para guardar o prédio durante a noite contra assaltos..
           Porque dei a este sede o nome ARCA da AEMA? É impressionante, como na Bíblia o ser humano está ligado à natureza, faz parte da criação. O que Deus fez, foi muito bom (Gn 1). Só homem e mulher não atuam semelhantes a Deus, os crimes deles afetam a terra. Um mito conta como Noé, o justo, imagem de Deus, se salva numa arca junto com os animais (Gn 6,9ss). ¨Pois, por causa dos homens, a terra está repleta de violência e eu vou destruí-los junto com a terra
 Nós, os sócios da AEMA, queremos ser como Noé na Arca para preservar a nossa  grande casa, a Mãe Terra, alertando os danos, que o neoliberalismo produz. O clima está aumentando por causa da emissão do CO2, as geleiras dos pólos estão descongelando.  A monocultura do agronegócio polui a terra e aumenta as pragas, os transgênicos extinguem a biodiversidade. O veneno polui os rios e a águas subterrâneas. Nós desmatamos as florestas, que produzem o oxigênio. A nossa cultura descartável enche a terra com plásticos e pilhas,com lixo nuclear, os recursos naturais estão acabando, os alimentos estão manipulados por transgênicos e venenos.
            No dia 27.12.2006, fiz 75 anos e devia entregar a paróquia nas mãos de um novo pároco.

          Escrevi durante muito tempo três apostilas; a primeira trata da Bíblia usei a edição ¨Traduction Oecuménique de la Bíblia¨ em português ¨Tradução Ecumênica da Bíblia¨ (TEB)  eu não garanto que todas as citações são corretas, podiam acontecer erros. A Bíblia hebraica está dividida em Torá (Ta), Profetas (Na) e Escritos (K), chamada TaNaK. Segue a postila sobre a catequese para ajudar às catequistas e adultos,  depois vêm alguns aspectos da história das igrejas e religiões.No final coloquei uma alternativa aos Hinos da Semana que eu fiz.

A:A Bíblia
I A Torá ,II os Profetas e III os Escritos,
IV O Novo Testamento
.
B:  A catequese
I  História da Bíblia
II Símbolo da fé
III Os sacramentos.

C: História
I. Origens
II Idade média
III Tempos modernos  .

D: Os hinos da semana